As classes subalternas de Londres no século XIX: Miseráveis, operários, criminosos e



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prostitutas. As classes subalternas de Londres no século XIX: Miseráveis, operários, criminosos e Fernanda Epaminondas Soares O pioneirismo inglês em fazer sua Revolução Industrial em meados do século XVIII, trouxe mudanças drásticas sob o ponto de vista tecnológico, voltados para o processo de produção industrial. Tais modificações, impactaram a economia e a sociedade ao longo do século XIX. Desse modo, o trabalho manual foi substituído pela máquina embora fosse necessário a mão humana para operá-la o que trouxe novas relações entre trabalhador, capital e trabalho. Com isso, o capitalismo tornou-se o sistema econômico dominante, no qual o liberalismo, a acumulação de capital e o desenvolvimento tecnológico, foram fatores fundamentais para que ele se consolidasse. Assim, o maquinário representou uma nova relação econômica entre os homens e um novo sistema de produção, que gerou um novo ritmo de vida e sociedade num novo momento histórico. Além disso, enquanto a maquinaria diminuía a força do homem, o capital ganhava sobre o trabalho e criava uma nova forma de servidão. Logo, as máquinas e a divisão do trabalho fizeram diminuir a força e a inteligência que são necessárias às massas, e a concorrência, fez diminuir seus salários à subsistência. Ainda sobre isso, quando havia crises de mercados saturados, os salários diminuíam ainda mais, fazendo com que as massas de miseráveis, ficassem a mercê de todo o tipo de privação. Vale lembrar, que as fábricas inspiravam uma visão do trabalhador desumanizada e diminuída à condição de peça antes que ele seja totalmente substituído pela máquina. A fábrica era uma forma nova de trabalho, na qual tinha sua especificidade junto a uma peça especializada. Ambos ligados pelo ritmo desumano e disciplinador da indústria. A industrialização, portanto, gerou trabalhadores sub-remunerados e criou os exércitos de famintos e tuberculosos chegando até a sensibilizar a classe média tão insensível naquele período. Os trabalhadores perdiam a sua independência e por isso, contratava-se, de preferência, mulheres e crianças que acreditavam ser mais dóceis. Em 1838, apenas 23% dos trabalhadores das fábricas de tecidos eram homens adultos. Também com a Revolução Industrial, cresceram as obras de urbanização, o que fez eregir e nascer novas grandes cidades, pois à medida em que novas oportunidades de emprego nos centros urbanos ascendiam, aumentava-se também o contingente de migrantes provenientes do campo, instalando-se em áreas urbanas. Do mesmo modo, os avanços tecnológicos também tiveram papel fundamental no desenvolvimento das cidades, pois permitiram a criação das grandes fábricas e de ferrovias que

geravam emprego e atraíam uma grande quantidade de pessoas do campo para as cidades, nas quais as fábricas estavam localizadas. Londres, desde o início do século XIX, se fez uma megalópole. Desenvolveu o setor de transportes e aumentou o espaço público com os grandes subúrbios-dormitórios. A população triplicou e a cidade não planejada, fez com que se acumulasse um grande número de obras públicas nos anos de 1850. Portanto, a industrialização das cidades gerou mudanças drásticas na vida urbana, visto que os produtos que anteriormente, os artesãos levavam muito tempo para produzir, agora eram produzidos em tempo proporcionalmente menor nas fábricas, em grande quantidade e à preços mais baixos. Com isso, os artesãos passaram a sofrer dificuldades em encontrar e manter clientes dispostos a comprar seus produtos, já que esses, passaram a ser produzidos por preços menores nas fábricas. Por isso, muitos dos artesãos e dos trabalhadores que tinham negócio próprio, desistiram de seus ofícios e ficaram desempregados. Muitos deles se viram forçados a incorporar o sistema fabril a favor da sua subsistência. Outro ponto importante, é que a população das cidades industrializadas cresceu em demasiado. Antes pelo fato de que as taxas altas de crescimento populacional da época já eram aceleradas e, pelo novo fato de que se atingiu um forte êxodo rural, no qual um crescente número de agricultores passaram a sair dos campos procurando melhores condições de vida nas cidades. Mais um ponto que vale ser destacado, é a instabilidade do mercado de trabalho que aumentava a extrema exploração do trabalhador, fazendo com que esse, passasse a morar próximo de seu local de trabalho, ou seja, das fábricas. Nessas áreas, a superpopulação convivia com as péssimas condições de higiene das casas e com as más condições de moradia, tidas como constantes dos bairros operários londrinos. O rápido crescimento populacional gerava problemas urbanos como a pobreza, a poluição, a desorganização e além disso, com a grande quantidade de mão-de-obra para trabalhar nas fábricas, começa-se a explorar mais o trabalhador com as altas jornadas de trabalho; com as péssimas condições do mesmo; a ausência de direitos trabalhistas, dentre outros fatores. Com a entrada das máquinas, criou-se um mal-estar entre os trabalhadores, já que o ritmo do trabalho agora era imposto por ela. Além do desemprego que ela oferecia, pois era crescente a substituição do homem pela máquina, o alto crescimento populacional e tecnológico urbano, provocou revoltas, o que veremos com mais atento no decorrer desse artigo. Logo, a capital vive um momento de riqueza que contrasta com a miséria. Londres reúne todos os vícios, do jogo à prostituição e à droga. Assim, com a riqueza e as tentações dessa sociedade de consumo, a delinquência e o crime são atraídos. Esses por serem numerosos e

terríveis, fazem com que seja acionada a polícia metropolitana. No século XIX, um grande dos grandes personagens, é o cotidiano das ruas. A questão do tempo útil, único capaz de gerar riqueza, colocava o trabalho como o responsável pela constituição da sociedade, onde o homem é colocado no tempo útil de seu patrão. Além disso, a multidão é vista como sinônimo de promiscuidade e violência, causando medo e insegurança. Portanto, a multidão passa a ser considerada tanto como causa do progresso, como também causa da degradação do ser humano, pois as ruelas e casas miseráveis se cruzavam com as largas ruas compostas de casarões, misturando opulência com a pobreza. Nas ruelas, havia crianças doentes, mulheres famintas, pessoas que viviam imundas e em más condições de moradia, causada pela superpopulação dos bairros pobres. Por isso, a aglomeração foi vista como questão social e, ideias sanitaristas ganharam força nesse período, pois entendia-se que limpando a cidade, o desenvolvimento poderia se estabelecer. Vale ressaltar também, que os bairros reservados aos trabalhadores, eram tidos em situações precárias nos quais a saúde e a alimentação eram inexistentes. O que agravava esse quadro, era o aumento populacional desenfreado desses bairros. Em Inglaterra, o pobre era visto como questão de ordem moral e, os vagabundos por não estarem trabalhando, eram vistos como uma classe inferior ao pobre, pois estavam quebrando com o ideal de civilização. Por isso, a necessidade de enquadrá-los na ordem social, ou então, eliminá-los em favor do progresso. Os vadios também são necessários à medida em que geravam para a burguesia, o ideal de caridade. Os bairros operários se agigantavam, tornando quase cidades dentro da cidade principal, onde a degradação se misturava entre trabalhadores, bêbados e criminosos. Os trabalhadores pobres e famintos, eram vistos como bárbaros e por isso, deviam ser mantidos em seus guetos. No sul de Londres, os guarda-civis chegam a formar grupos grandes para defender o público contra os ladrões profissionais que infestavam a capital.

"E os pobres! Espetáculo cujo horror o nevoeiro e a lama de Londres, por mais espessos, não conseguem ocultar! O que diríamos, sob o sol da França, em Paris, se subitamente, em pleno bulevar, víssemos passar esses miseráveis: piolhos da sargeta, aranhas dos muros, sapos dos pântanos! (No corpo do pobre de Londres) a roupa parece uma pele que se descama, uma lepra que cai. É esfarrapada, como se os ratos devorassem o homem que a veste, como se tivesse recebido golpes de forcado. E há nos rostos uma tal exprtessão de fadiga e terror! Em Londres, essa miséria passeia pelas ruas, sem que ninguém se detenha, com espanto ou piedade." (Jules Vallés exilado francês sobre a cidade de Londres. In: CHARLOT, Monica. "O spleen dos exilados franceses" (p.41-42) In: Charlot, Monica & Marx, Roland (org.). Londres, 1851-1901: a Era Vitoriana ou o Triunfo das Desigualdades. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.) Londres também era vista pelos estrangeiros com impressões de horror e admiração. Um deles colocou que nos bairros pobres, encontra-se famílias inteiras que dormem no lixo durante meses, e que para eles, um refúgio para essas más condições era cair na embriaguez, o que era verdade. "Os únicos sons de voz humana que atravessavam o nevoeiro de Londres saem dos peitos queimados pelo veneno das 'public-houses' 1. Essa gente só fala alto na rua quando está bêbada." (Jules Vallés exilado francês sobre a cidade de Londres. In: CHARLOT, Monica. "O spleen dos exilados franceses". (p.41) In: Charlot, Monica & Marx, Roland (org.). Londres, 1851-1901: a Era Vitoriana ou o Triunfo das Desigualdades. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.) Nos bairros pobres, o mau cheiro era tamanho que Londres foi tida como a cidade mais fétida da Europa. Havia detritos produzidos por pessoas aglutinadas em lugares insalubres, nos quais era impraticável viver, fazer comida ou lavar roupa. Além disso, as atividades da vida privada, eram realizadas na rua, como as atividades ligadas às necessidades fisiológicas. As doenças demonstravam a presença de cadáveres em decomposição, mortos por crimes ou mesmo suicidas. As águas eram negras, nas quais os esgotos eram despejados, fazendo 1 As "public-houses, também conhecidas como "pubs", são estabelecimentos fechados, com acomodações, licenciados para servir bebidas alcoólicas, originalmente em países e regiões de influência britânica.

com que se criasse um ambiente propício à doenças contagiosas, como a cólera, varíola e escarlatina, além de doenças epidêmicas, como o tifo. Os bairros nobres em 1860, também eram sujos mas não como os bairros miseráveis e muito barulhentos. A maioria das ruas dos bairros nobres, aglomeravam veículos com rodas de ferro que faziam um barulho ensurdecedor. Já, nos bairros pobres, vendia-se alimentos e bebidas aos gritos, o que contribuía para o barulho e a poluição sonora. Na capital, o espírito do progresso é dominante e, consequentemente, a sede por todas as inovações técnicas. Uma herança disso, a miséria, ficou sendo associada ao vício, à preguiça e aos excessos e que portanto, criou-se repulsa ao vício e à abordagem de assuntos tabu, como o sexo e o valor da família na era vitoriana. Nesse momento, nunca as prostitutas foram tão diversificadas, indo da mulher das ruas à mais sedutora das mundanas. Londres era a capital da prostituição, tida como uma praga, pois era lá onde todas as ferrovias chegavam, levando muitos soldados e marinheiros, atraindo as prostitutas de todo o país. A prostituição não era ilegal, porém uma lei em 1839, previa o afastamento da prostituição dos bairros nobres, mas as empurrava para outros locais. Além disso, muitas esposas que não trabalhavam e mulheres solteiras que não encontram emprego regular, viam na prostituição uma saída, ou seja, era um problema tipicamente urbano. "É terrível dizer! Aqui, é o vício que consola a miséria; e o Wapping com suas prostitutas é menos lamentável de se ver do que os bairros onde ficam apenas os pobres e não os depravados; onde só estão famílias constituídas, esposos associados para o atroz sofrimento!" (Jules Vallés exilado francês sobre a cidade de Londres. In: CHARLOT, Monica. "O spleen dos exilados franceses" (p.42) In: Charlot, Monica & Marx, Roland (org.). Londres, 1851-1901: a Era Vitoriana ou o Triunfo das Desigualdades. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.) As prostitutas podiam ser reconhecidas por usar muito rouge e pó no rosto. Além de usarem roupas muito próximas à moda, mesmo que produzidas com tecidos de má qualidade. As barras dos vestidos sempre estavam sujas e, também usavam chapeus de plumas espalhafatosas. Os habitantes londrinos cientes disso, aconselhavam primas e familiares a usarem chapeus simples. Já em relação às prostitutas dos

bairros pobres, eram tidas apenas como mulheres fáceis, que muitas vezes adquiriam doenças venéreas. Nesse sentido, as estatísticas médicas, colocam que em 1864, 1/3 das doenças do exército eram de cunho venéreo. Por isso, em algumas cidades, houveram leis que obrigaram as prostitutas a fazerem exames médicos. No entanto, o médico responsável pela saúde em Londres, colocou tais leis como não aplicáveis lá. Já que colocava a responsabilidade das doenças apenas nas mulheres, uma vez que, apenas elas eram submetidas aos exames obrigatórios. Nesse período, outro destaque é a figura do detetive como fundamental. Uma vez que se vivia num ambiente de crimes como nunca se vira antes. Portanto, nota-se que a segurança oferecida pela polícia oficial era precária. Os policiais recebiam pouco e a vigilância regular se fazia melhor nos bairros nobres, enquanto os bairros populares era o refúgio dos criminosos. O crescimento da criminalidade foi percebida pelo do crescimento do número de policiais e pelo o aumento de assassinatos e outros crimes, como assaltos e roubos feitos por batedores de carteiras. "Ainda não estou há oito dias na Inglaterra e já fui apresentado ao tribunal como queixoso. Fui roubado. A justiça inglesa deu razão ao ladrão, a pretexto de que ele me enganara e não roubara. A trapaça é permitida aqui e o tribunal me dispensou dizendo que eu era um imbecil por ter-me deixado enganar. Aprendi essa lição por quarenta francos." (Stéphane Mallarmé poeta francês que viaja a Londres para estudar inglês. In: CHARLOT, Monica. "O spleen dos exilados franceses" (p.44) In: Charlot, Monica & Marx, Roland (org.).londres, 1851-1901: a Era Vitoriana ou o Triunfo das Desigualdades. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.) O descontentamento dos pobres em relação à nova vida industrial, proporcionando uma vida desumana, fez com que durante a pior das depressões do século XIX (1841-1842), o Cartismo 2 provocasse uma greve geral enchendo as ruas de trabalhadores famintos, obrigando o governo a tomar novas medidas. Tal movimento, trazia os insatisfeitos com a nova ordem industrial vigente, posto que, artesãos e trabalhadores de indústrias domésticas e de ofícios manuais especializados, entravam em declínio por conta da novidade das fábricas. 2 Caracteriza-se como um movimento social inglês do século XIX que a priori buscou através da luta de inclusão política da classe operária, representada pela associação Geral dos Operários de Londres. Teve como principal base a carta escrita pelos radicais William Lovett e Feargus O Connor intitulada Carta do Povo, e enviada ao Parlamento inglês.

Nesse período de industrialização, juntamente com o Cartismo, o Ludismo também ganhara força. Esse era um movimento de revolta dos trabalhadores contra as máquinas, uma vez que essas, substituíam a força de trabalho humana, aumentando o desemprego. Por isso, esse movimento pode ser entendido como sindical, já que objetivava pressionar os patrões à concessões. Mas, na maioria das vezes, o movimento de revolta era reprimido pela violência. Tais movimentos decorreram por conta das más condições de trabalho; da exploração diária com jornadas exaustivas; dos acidentes e mutilações provocados pelo cansaço excessivo; pela morte de crianças no trabalho; pelos abusos sexuais sofridos pelas mulheres nas fábricas e pelo fato de os operários não terem com o que se alimentar, devido às sub-remunerações que recebiam. Portanto, a insatisfação era gritante e o ambiente de revolta ascendente. Por isso, se algo não fosse feito, as massas pobres poderiam se revoltar e, com isso, viu-se na Europa uma ameaça do comunismo 3. Embora menos temido em Inglaterra, os empresários não deixavam de se preocupar. Alguns cristãos nesse período, tentaram devolver a alma dos pobres, pregando a palavra de Deus e fazendo caridades. Com isso, há a criação de um Exército da Salvação 4 que ensinava métodos contra o vício e a preguiça. Os ricos, como bons cristãos, deveriam fazer doações voluntárias aos miseráveis. A partir de 1871, foi concedido ao trabalhador o descanso semanal, mas em geral, o salário e as condições de trabalho variavam de acordo com as negociações entre patrões e empregados. Ainda assim, quando esses perdiam o emprego, não tinham a que recorrer a não ser às suas economias, aos sindicatos, amigos, conhecidos, associações de amparo ou a Lei dos Pobres 5 e, quando ficavam doentes ou envelheciam, os seguros de pensão não os ajudava, pois não eram concedidos à todos. Mesmo a reforma sanitária a partir de 1850 com a construção de esgotos e o suprimento de água, o impulso do comércio e as ferrovias adentrando nas áreas centrais da cidade, empurrava a população para outros cortiços. Com isso, a cidade continuou a ser um lugar péssimo de se viver, pois além da poluição das fábricas e da sujeira tida com a população miserável de rua, havia o escasso planejamento de melhoria urbana e uma expansão desenfreada. "Gosto desse ceu, sempre cinzento, não há necessidade de pensar. O azul e as 3 O comunismo pode ser definido como uma doutrina ou ideologia (propostas sociais, políticas e econômicas) que visa a criação de uma sociedade sem classes sociais. De acordo com esta ideologia, os meios de produção (fábricas, fazendas, minas, etc) deixariam de ser privados, tornando-se públicos. No campo político, a ideologia comunista defende a ausência do Estado. 4 Religiosos que tentavam resgatar através da fé a alma das classes subalternas, como bêbados, prostitutas e criminosos. Com isso, se faziam bons cristãos por cederem à caridade. 5 O Estado através dessa lei concedia auxílio financeiro aos pobres.

estrelas amedrontam. Aqui, estamos em casa, e Deus não os vê. Seu espião, o sol, não ousa insinuar-se aqui." (Stéphane Mallarmé poeta francês que viaja a Londres para estudar inglês. In: CHARLOT, Monica. "O spleen dos exilados franceses" (p.43) In: Charlot, Monica & Marx, Roland (org.). Londres, 1851-1901: a Era Vitoriana ou o Triunfo das Desigualdades. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.) Supõe-se que cerca de 40% da classe trabalhadora, vivia na pobreza ou situação pior. Logo, havia uma massa de miseráveis que geralmente na velhice, viravam mendigos. Mesmo em fins do século XIX, em que houve melhoria de vida para a classe trabalhadora, o quadro das condições sociais da época mostrava uma classe de trabalhadores debilitada por um século de industrialização. Entre 1884 e 1885, o direito de voto deu à classe trabalhadora influência política maior sobre os partidos antigos. Por isso, pela primeira vez, as autoridades públicas e o Estado pensariam mais seriamente nas melhorias da sociedade. Mas, o setor público, na prática, ainda não tinha grande importância. Além disso, os benefícios de serviços sociais tidos com a Lei dos Pobres, não dava vazão ao gasto tido pelos impostos pagos. A Lei da Educação de 1902, tinha como principal função, tirar dos colégios superiores os filhos de operários que haviam conquistado o direito à educação primária universal em 1870. E em 1897, menos de 7% dos alunos de escolas secundárias, vinham da classe trabalhadora. Portanto, a intenção deste artigo, é mostrar que a Londres da Revolução Industrial do fim do século XVIII e o seu desenvolvimento no XIX, não trouxe apenas a tecnologia, a modernidade das fábricas e melhoria dos padrões de vida da classe média. Novas formas de vida foram impostas, nas quais a miséria e a discriminação eram constantes no cotidiano daquela nova realidade. Os que não eram enquadrados nesse novo sistema, tentavam sobreviver à margem da sociedade. Sugestão de filmes: Daens um grito de justiça (1992). Direção: Stijin Coninx Germinal (1993). Direção: Claude Berri Jack, o estripador (2001). Direção: Albert Hughes e Allen Hughes Oliver Twist - A vida de um rapaz do século XIX (2005). Direção: Roman Polanski Os miseráveis (1998). Direção: Bille August Tempos modernos (1936). Direção: Charles Chaplin

Bibliografia: BRESCIANI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza. São Paulo: Brasiliense, 1982. CHARLOT, Monica. "O spleen dos exilados franceses". In: Charlot, Monica & Marx, Roland (org.). Londres, 1851-1901: a Era Vitoriana ou o Triunfo das Desigualdades. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993. CHARLOT, Monica & MARX, Roland. "A sociedade 'dual' por excelência". In: Charlot, Monica & Marx, Roland (org.). Londres, 1851-1901: a Era Vitoriana ou o Triunfo das Desigualdades. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993. GERMAIN, Lucienne. "O East End de Yaacov Revinski". In: Charlot, Monica & Marx, Roland (org.). Londres, 1851-1901: a Era Vitoriana ou o Triunfo das Desigualdades. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993. HOBSBAWN, Eric J. Os trabalhadores pobres. In: A era das revoluções: 1789-1848. 25ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009. A cidade, a indústria, a classe trabalhadora In: A era do capital: 1848-1875. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. A Revolução Industrial, 1780-1840 In: Da revolução industrial inglesa ao imperialismo. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. Os Resultados Humanos da Revolução Industrial, 1780-1850 In: Da revolução industrial inglesa ao imperialismo. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. Padrão de Vida, 1850-1914 In: Da revolução industrial inglesa ao imperialismo. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. LACASSAGNE, Claude-Laurence & DAVIEL, Neil. "Luxo, algazarra e mau cheiro". In: Charlot, Monica & Marx, Roland (org.). Londres, 1851-1901: a Era Vitoriana ou o Triunfo das Desigualdades. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.

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