RESUMOS EXPANDIDOS Página 28 de 93 USO DE PLANTAS MEDICINAIS NA PREVENÇÃO E NO COMBATE DE DOENÇAS NOS MUNICIPIOS DE CRATO E NOVA OLINDA- CE Márcia Jordana Ferreira Macêdo 1 ; Maria Aurea Soares de Oliveira 1 ; Cihelio Alves Amorim 1 ; Maria Sleyde Fernandes Ferreira Silva 1. Palavras-chave: Plantas medicinais. Conhecimento Tradicional. INTRODUÇÃO A utilização de plantas medicinais é uma das mais antigas práticas, sendo utilizada pelo homem desde os tempos mais remotos, nos primórdios das civilizações. Desde cedo, o homem ao longo de sua história foi descobrindo que determinadas plantas exerciam efeitos sobre o organismo, que quando utilizadas sobre determinadas enfermidades revelavam seu poder curativo, sendo durante muito tempo principal meio terapêutico para tratamento de saúde de muitas pessoas (BADKE et al, 2011). O uso de plantas medicinais em comunidades rurais ainda é bastante comum, mesmo com os avanços tecnológicos ocorridos, como o incentivo por medicamentos industrializados. Grande parcela da população rural ainda recorre a essas ervas como medicina alternativa e seu uso está associado aos baixos custos, a fácil obtenção ou até mesmo por ser o único recurso disponível, onde muitos não detêm de um poder de aquisição alto para suprir suas necessidades com a indústria farmacêutica (SOUZA; PASA, 2013). O uso de plantas medicinais apesar de vasto e de grande importância para as populações rurais ou urbanas ainda merece ser valorizada e difundida pelas novas gerações. Diante de tal percepção essa pesquisa fundamenta-se no resgate do conhecimento tradicional, bem como no saber botânico da população, servindo de contribuição para o conhecimento científico a fim de comprovar sua validade e garantir a segurança para os usuários, já que é preciso um conhecimento prévio em relação aos seus riscos. Este trabalho teve como objetivo geral conhecer os motivos que levam a população ao uso de plantas medicinais na prevenção e no combate de doenças nos municípios de Crato e Nova Olinda- CE. Nos objetivos específicos buscou-se traçar o perfil da população que faz uso de plantas medicinais, bem 1 Universidade Regional do Cariri, URCA
RESUMOS EXPANDIDOS Página 29 de 93 como listar as principais plantas utilizadas na medicina popular e compreender os resultados esperados pelas pessoas que fazem uso destas. MÉTODO A abordagem metodológica adotada foi qualitativa e descritiva. O presente trabalho envolveu informantes de dois municípios do estado do Ceará: Crato e Nova Olinda, mais precisamente de dois sítios localizados na zona rural destes, o sitio Baixio das Palmeiras e o sitio Pedra Branca, respectivamente. A pesquisa foi realizada no mês de Março de 2014. A primeira etapa nesse campo de estudo para realização da pesquisa foi um estudo prévio acerca das duas localidades citadas, com o objetivo de promover uma sondagem cultural sobre a questão do conhecimento dos moradores a respeito das ervas medicinais. O critério de seleção dos informantes foi baseado após a familiarização com as duas localidades a ser estudada, onde foram aplicados pré-testes para ver a questão do conhecimento dos mesmos sobre as ervas. As informações sobre o conhecimento dos entrevistados foram concedidas após a leitura, permissão e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. No presente estudo houve a realização de entrevistas semiestruturadas com a população. As entrevistas foram direcionadas de forma bem clara e objetiva, abrangendo os seguintes itens: identificação do entrevistado, plantas medicinais utilizadas e suas aplicações, forma de utilização, parte da planta utilizada e os motivos que levam ao uso. Fez-se uso de anotações para as respostas fornecidas. Foram entrevistados 30 moradores referentes aos dois municípios, em dia, local e horário previamente acordados com o entrevistado. Foram direcionadas perguntas abertas a partir de um roteiro preliminar para a entrevista, a fim que o entrevistado discorresse sobre o tema. O tempo de duração das entrevistas variou de 15 a 30 minutos. Os dados dessa pesquisa foram qualitativos e primários. Foram submetidos a uma análise de conteúdo, no qual foram analisados e confrontados com os autores referentes à temática em questão. Os dados foram divididos em categorias e subcategorias. A análise de dados se procedeu em duas etapas. Uma que objetivou situar, entender e compreender sobre o uso de plantas medicinais, através das respostas dos informantes que fazem uso destas. Essa etapa envolveu uma exploração do material. Na segunda etapa, os dados foram organizados e tabulados com as seguintes informações obtidas: nome da planta medicinal mais citada pelos informantes, uso popular, formas de utilização, parte do vegetal utilizada e os motivos que levam ao uso.
RESUMOS EXPANDIDOS Página 30 de 93 Na apresentação dos dados de pesquisa, os sujeitos serão representados da seguinte maneira: E-1: Entrevistado 1 E-2: Entrevistado 2 e assim sucessivamente. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistados 30 moradores, 15 usuários de cada localidade, sendo em um total de 80% do sexo feminino e 20% do sexo masculino, não havendo similaridade entre os gêneros usuários de plantas medicinais. Pfeiffer & Butz (2005) apud Lopes & Lobão (2013) afirmam que a variação do conhecimento sobre as plantas entre os gêneros está baseada no componente cultural de cada comunidade, por isso essa divergência. No que se refere a faixa etária dos entrevistados a idade variou de 20 a 84 anos, assim distribuídas, 56,66% com menos de 60 anos e 43,33% com idade maior ou igual a 60 anos. De acordo com as informações obtidas, 56,66% dos entrevistados possuem estado civil casado (a), sendo a 20% solteiro (a) e 23,33% viúvo (a). O grau de instrução varia entre analfabetos (20%), Ensino Fundamental Incompleto (43,33%), Ensino Médio Completo (23,33%), e Ensino Médio Incompleto (10%), havendo apenas (3,33%) registro de curso superior em andamento. A baixa escolaridade dos informantes pode ser atribuída pelas dificuldades financeiras vivenciadas por estes (LOPES & LOBÃO, 2013). Quanto à profissão dos usuários variou entre aposentados (3,33%), agricultores (80%), domésticos (10%) e pedreiros (6,667%). De acordo com o tempo de vivencia no local, 73,33% dos entrevistados residem na localidade desde que nasceu, enquanto 26,67% da população residem na localidade há mais de nove anos. O fato dos usuários se valerem das ervas para cura ou combate de suas doenças está nessa forte ligação que eles têm com essas plantas, pelo conhecimento adquirido, seja com os pais ou avós, até porque é importante compreender que desde a antiguidade o homem sempre buscou na natureza a cura para seus males, conhecendo os benefícios dessas ervas e descobrindo suas utilidades, suas aplicações e até mesmo seus efeitos tóxicos, sendo essa cultura repassada de geração a geração. Como afirma Santos (2013) a utilização dessas ervas sempre existiu na história da humanidade, sendo um hábito bastante comum. Um fato também bastante notório em ambas as comunidades estudadas, é a confiança e a segurança no que diz respeito ao uso destas ervas, onde 100% dos usuários asseguram que não existem efeitos colaterais, por se tratar de um meio natural. Para Oliveira et al (2012) o desconhecimento da
RESUMOS EXPANDIDOS Página 31 de 93 população sobre a toxicidades dessas plantas podem trazer consequências sérias a saúde desses usuários, já que existe número cada vez maior de estudos científicos que comprovam as toxicidades presentes em diversas plantas de uso medicinal, deixando bastante claro a relevância dos estudos farmacológicos para a medicina popular. Outro motivo aliado a este está nos baixos custos, já que os usuários suprem suas necessidades recorrendo a essas ervas. Souza e Pasa (2013) afirmam que uma grande parcela da população de comunidades rurais por se não disporem de condições financeiras para tratamento de saúde, recorrem a essas plantas como um principal meio de tratamento de eventuais doenças. Os usuários revelam também a expressiva utilidade dessas plantas, já que por tê-las cultivadas em sua própria residência há uma maior acessibilidade e deste modo sua utilização se torna maior em virtude dessa fácil obtenção, o que garante para eles, segurança por ser um uso natural, preventivo e curativo de doenças. Oliveira et al (2011, p. 66) o quintal, além de ser um espaço que colabora para a subsistência da família, é utilizado para o cultivo das espécies medicinais [...]. Observou-se que a utilização de plantas com finalidades terapêuticas é diversa, as plantas mais citadas foram: Erva Cidreira, Capim-santo, Hortelã, Malva do Reino, Aroeira e Malva Corama. Sendo a Malva do Reino e a Erva Cidreira as mais utilizadas sobre a forma de chá. Borba & Macedo (2006) apud Oliveira (2011) também relatam o uso preferencial das espécies na forma de chá. Para Matos (2002) apud Oliveira (2012) a Erva Cidreira tem ações comprovadas como calmante e antiespasmódica suave, apresentando também atividade analgésica. Com relação às partes da planta utilizadas, as folhas foram as mais citadas, em um total de (73,34%), assim como observado em demais estudos realizados em comunidades rurais (MACÍA et al., 2005; TOGOLA et al., 2005; BORBA & MACEDO, 2006; LIMA & SANTOS, 2006 apud OLIVEIRA, 2011). Ficou bastante claro que os problemas de saúde enfrentados por estes e tratados com as respectivas plantas medicinais já citadas anteriormente são: gripe, inflamação na garganta, febre, pressão, inflamações em geral, além de ansiedade. CONCLUSÃO As plantas medicinais são de extrema importância para ambas comunidades, por ser um conhecimento adquirido e repassado de geração a geração, pela fácil obtenção, pelos baixos custos, segurança e confiança nos remédios caseiros, onde apesar do desconhecimento de seus efeitos tóxicos, garante a preferência por essas ervas muito mais que por medicamentos
RESUMOS EXPANDIDOS Página 32 de 93 sintéticos. As plantas utilizadas pelos entrevistados são diversas e a maioria delas serve para o tratamento de mais de uma doença, sendo uma prática comum entre o gênero feminino. Ficou bastante claro também que o conhecimento popular adquirido vem desde seus antepassados, sendo este saber repassado para as gerações futuras, o que é de extrema necessidade para que valorizem e preservem esta cultura que é tão valiosa, para que essa prática possa se manter viva. No estudo, a população rural de ambas as comunidades ressaltam a inexistência de efeitos colaterais dessas ervas, mas é preciso compreender que assim como determinadas plantas podem promover o alívio ou cura de enfermidades, há aquelas que merecem um cuidado especial por apresentarem efeitos adversos à saúde humana. Portanto, é preciso um conhecimento prévio a respeito de seus riscos e benefícios. REFERÊNCIAS BADKE, M. R. Et al. Plantas Medicinais: O Saber Sustentado na Prática do Cotidiano Popular. Esc Anna Nery (impr.)2011 jan-mar; 15 (1):132-139. LOPES, L. C. M.; LOBÃO, A. Q. Etnobotânica em uma Comunidade de Pescadores Artesanais no Litoral Norte do Espirito Santo, Brasil. Bol. Mus. Biol. Mello Leitão (N. Sér.) 32:29-52. Setembro de 2013. OLIVEIRA, L. S. de. Et al. Plantas Medicinais como Recurso Terapêutico em Comunidade do Entorno da Reserva Biológica do Tinguá, Rj, Brasil- Metabólicos Secundários e Aspectos Farmacológicos. Revista Científica Internacional Indexada ISSN 1679-9844. Ano 4- Nº 17 Abril/ Junho- 2011. OLIVEIRA, E. P. de. Et al. Determinação do Efeito Aleopático, índice mitótico e utilização do Boldo, Capim- Cidreira e Hortelã no Bairro Boa Vista em Mandaguari (PR). Diálogos & Saberes, Mandaguari, V.8, N.1, 2012. SOUZA, M. D. de.; PASA, M. G. Levantamento Etnobotânico de Plantas Medicinais em uma Área Rural na Região de Rondonópolis, Mato Grosso. Biodiversidade - V.12, N1, 2013. SANTOS, R. A. O. dos. Utilização de plantas medicinais como estratégias de enfrentamento das doenças mais comuns no Sul do Estado de Roraima. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Porto Alegre/RS. Nov 2013.