Prevalência de Anemia em Crianças e Adolescentes Portadores de Enteroparasitoses

Documentos relacionados
Uériton Dias de Oliveira 1 Simone Jurema Ruggeri Chiuchetta 2

PREVALÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM ESCOLARES NO MUNICÍPIO DE SÃO JOAQUIM, SC *

FREQUÊNCIA DE PARASITOS INTESTINAIS EM CRIANÇAS E MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO CREI SANTA CLARA (CASTELO BRANCO) NA CIDADE DE JOÃO PESSOA-PB.

FREQUÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS DE PONTA GROSSA PR

FREQUENCIA DE ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS DE CINCO INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO DE PONTA GROSSA PR DURANTE OS ANOS DE 2014 A 2016

Ocorrência de enteroparasitose na população do município de Goioerê, PR

PARASITOSES INTESTINAIS INFANTIS E SUA ASSOCIAÇÃO COM ESTADO ANÊMICO- REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA

CIÊNCIA EQUATORIAL ISSN

Ocorrência de parasites intestinais em escolares da Escola Estadual de l. Grau Dom Abel, em Goiânia

Prevalência de Parasitos Intestinais no Município de Sananduva/RS. Keywords: Enteric parasites, helmintos, intestine parasites

AVALIAÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARASITOSE INTESTINAL EM INDIVÍDUOS ATENDIDOS EM UM LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS NA REGIÃO CENTRAL DE MOGI GUAÇU

DIAGNÓSTICO DE PARASITOS PATOGÊNICOS E NÃO PATOGÊNICOS EM CRIANÇAS DO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA PR ( )

PREVENÇÃO DE ENTEROPARASITOS EM CRIANÇAS E MANIPULADORES DE ALIMENTOS NA CRECHE FABIANO LUCENA DA CIDADE DE JOÃO PESSOA-PB.

ISSN ÁREA TEMÁTICA:

OCORRÊNCIA DE HELMINTOS E PROTOZOÁRIOS INTESTINAIS EM IDOSOS

A FREQUÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS DE PONTA GROSSA: UM PANORAMA DE 10 ANOS DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

J. Health Biol Sci. 2017; 5(2): doi: / jhbs.v5i p

ANEMIA ASSOCIADA ÀS PARASITOSES INTESTINAIS DE PACIENTES ATENDIDOS EM UM LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS NO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO DO NORTE-CE

OCORRÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES EM ALUNOS DE DUAS ESCOLAS NO DISTRITO DE ITAIACOCA EM PONTA GROSSA - PARANÁ

PALAVRAS-CHAVE Enteroparasitoses. Prevalência. Trabalho Extensionista. Saúde.

16º CONEX - Encontro Conversando sobre Extensão na UEPG Resumo Expandido Modalidade B Apresentação de resultados de ações e/ou atividades

TÍTULO: AUTORES: INSTITUIÇÃO ÁREA TEMÁTICA

FREQUÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS DE PONTA GROSSA PR NO ANO DE 2017

PREVALÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO DE ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS DE TRÊS CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL EM TERESINA-PIAUÍ

ACADEMIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA RODRIGO LUPINO LINHARES DE CASTRO AVALIAÇÃO DE PARASITOSES INTESTINAIS EM ALUNOS DE ESCOLA

PARASITAS INTESTINAIS E DESEMPENHO ESCOLAR DE CRIANÇAS DE ESCOLA MUNICIPAL EM TERESINA-PI

ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE ABRIGAMENTO

INVESTIGAÇÃO DE ENTEROPARASITOSES EM PRÉ- ESCOLARES NO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ

ENTEROPARASITOSES COMO FATOR DE INTERFERÊNCIA NEGATIVA NOS PROCESSOS EDUCATIVOS DE ESCOLAS DA ZONA URBANA DE SANTANA DO IPANEMA, AL.

PREVALÊNCIA DE PARASITOSES EM PACIENTES ATENDIDOS EM LABORATÓRIOS DE PALMAS (TOCANTINS)

IgA SÉRICA, SECRETORA, IgE TOTAL E ESTADO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS COM INFECÇÕES POR ENTEROPARASITAS

QUALIDADE DE VIDA DE ENTEROPARASITADOS POR MEIO DO SF-36

EDUCAÇÃO PREVENTIVA DA ANCILOSTOMÍASE ABORDANDO ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS EM ESCOLA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA

PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS EM IDOSOS

PREVENÇÃO DE ENTEROPARASITOS EM CRIANÇAS E MANIPULADORES DE ALIMENTOS EM CRECHES DA CIDADE DE JOÃO PESSOA - PB - PROBEX 2012

PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS EM ESCOLARES DA REGIÃO DE PONTA GROSSA PARANÁ,

PALAVRAS-CHAVE Enteroparasitos. Exames coproparasitológicos. Educação em saúde.

PREVALÊNCIA DE PROTOZOÁRIOS INTESTINAIS EM ESCO- LARES DOS SUBÚRBIOS DE PLATAFORMA E PERIPERI, SALVADOR - BAHIA * ** JOÃO A.

PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITAS EM CRIANÇAS DE CRECHES DA PERIFERIA DO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS ES

ANÁLISE DO ÍNDICE DE PARASITOSES INTESTINAIS E ESQUITOSSOMOSE NA ZONA RURAL RIBEIRINHA DO MUNICIPIO DE MOGEIRO, PARAÍBA

INVESTIGAÇÃO DA INCIDÊNCIA DE PARASITOSES EM PARÁ DE MINAS-MG E REGIÃO

OCORRÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES EM ALUNOS DA ESCOLA MUNICIPALIZADA DEPUTADO SALIM SIMÃO EM SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA (RJ)

INQUÉRITO PARASITOLÓGICO NA CECAP * DISTRITO-SEDE DE BOTUCATU, ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL

PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ENTEROPARASITOSES EM ESCOLARES DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA PB

Palavras-chave: Enteroparasitoses. Parasitoses Intestinais. Doenças Negligenciadas.

ANALISE MICROBIOLÓGICA E PARASITOLÓGICA DA ÁGUA DE TUPARETAMA 1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B

TERESA CRISTINA CÉSAR OGLIARI 1 JAQUELINE THOMÉ PASSOS 2

INCIDÊNCIA DE ENTEROPARASITOS EM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL (2º AO 5º ANOS) DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE SÃO LUÍS MA.

PARASITISMO INTESTINAL EM UMA COMUNIDADE CARENTE DO MUNICÍPIO DE BARRA DE SANTO ANTÔNIO, ESTADO DE ALAGOAS

INCIDÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM CRIANÇAS DE UMA COMUNIDADE NAS PROXIMIDADES DE UM AÇUDE NO SERTÃO CENTRAL DO CEARÁ

COMISSÃO ORGANIZADORA

ENTEROPARASITOSES EM ESCOLARES RESIDENTES NA PERIFERIA DE PORTO ALEGRE, RS, BRASIL

Prevalência de parasitas intestinais em crianças de Descanso Santa Catarina Brasil

Contaminação enteroparasitária em cédulas de dinheiro provenientes das cantinas de um Centro de Educação Superior em Belo Horizonte Minas Gerais.

ASPECTO EPIDEMIOLOGICO DAS ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS DE DUAS CRECHES EM MARIALVA-PR

FREQUÊNCIA DE PARASITAS OBTIDOS DE AMOSTRAS FECAIS IDENTIFICADAS EM UM LABORATÓRIO PÚBLICO E OUTRO PRIVADO NO MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS, RJ

INTRODUÇÃO. 15. CONEX Resumo Expandido - ISSN

Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária Belo Horizonte 12 a 15 de setembro de 2004

PREVALÊNCIA DE INFECÇÕES POR ENTEROPARASITOS NO MUNICÍPIO DE EMBU DAS ARTES E TABOÃO DA SERRA - SP

IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO DE ENDOPARASITOSES EM PACIENTES DA TERCEIRA IDADE

PREVALÊNCIA DE PARASITOSES EM CRIANÇAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA EM UMA CRECHE DO AGRESTE PERNAMBUCANO.

a to ARTIGO ORIGINAL INTRODUÇÃO

UM QUADRO DE PARASITOSES INTESTINAIS EM ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA), DE ESCOLAS PÚBLICAS, BOA VISTA, RORAIMA.

PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITAS EM HORTALIÇAS NA CIDADE DE SANTOS SP BRASIL

Eloísa da Silva* Mônica Frighetto** Nei Carlos Santin***

CONTROLE DE PARASITOSES INTESTINAIS ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE CASCAVEL PR

PERFIL PARASITOLÓGICO DE ESCOLARES DA LOCALIDADE DE SANTA MARIA, ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS/ES, BRASIL

OCORRÊNCIA DE PARASITOSE INTESTINAIS EM MUNICÍPIOS DO ESTADO DO PIAUÍ: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

OCORRÊNCIA DE ENTEROPARASITOS EM CENTROS DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE PATOS DE MINAS, MG, BRASIL

EPIDEMIOLOGIA DAS PARASITOSES INTESTINAIS EM PRÉ-ESCOLARES E ESCOLARES DE DUAS CRECHES EM MARIALVA-PR

OCORRÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM CRIANÇAS DE UMA INSTITUIÇÃO MUNICIPAL DA CIDADE DE SANTO ÂNGELO (RS, BRASIL)

Anemia e parasitoses em crianças de 6 a 59 meses freqüentadoras da creche Prof a. Silvia Ferreira Farah, periferia do município de Osasco, São Paulo

PREVALÊNCIA DAS PARASITOSES INTESTINAIS NO MUNICÍPIO DE IBIASSUCÊ BAHIA

PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITAS EM CRIANÇAS DE UMA COMUNIDADE CARENTE DO MUNICÍPIO DE GUARATINGUETÁ/SP.

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ANÁLISES CLÍNICAS PLANO DE ENSINO SEMESTRE 2016/2

A AVALIAÇÃO DO PERFIL FÉRRICO DOS PACIENTES ATENDIDOS NO CENTRO HEMATOLÓGICO E LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLINICAS (HEMOCLIN)

12. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1

ENTEROPARASITOSIS IN A CHILDREN S EDUCATION CENTER IN IRETAMA / PR

P R E V A L Ê N C IA DE EN T ER O PARASITAS NA POPULAÇÃO U RBAN A DE SAO TOMÉ - RN. Carlos Alberto Moreira C am pos* e Cláudio Moreira C am p o s**

PRINCIPAIS ENTEROPARASITOSES INTESTINAIS EM CRIANÇAS NO BRASIL

Relações Parasitas e Hospedeiros. Aula 03 Profº Ricardo Dalla Zanna

ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS ATENDIDAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE, RIO GRANDE, RS

ANEMIA FERROPRIVA NO LACTENTE EM RELAÇÃO O AO ALEITAMENTO MATERNO E SUPLEMENTAÇÃO O DE FERRO

OCORRÊNCIA DE PROTOZOÁRIOS EM CRIANÇAS MENORES DE 10 ANOS NA CIDADE DE TEFÉ, AMAZONAS, BRASIL.

PESQUISA DE LARVAS E OVOS DE ANCILOSTOMÍDEOS EM LOCAIS PÚBLICOS DE SERINGUEIRAS, RONDÔNIA.

PARASITOS INTESTINAIS E ASPECTOS SOCIOSSANITÁRIOS EM COMUNIDADES DO SEMIÁRIDO BAIANO

Interdisciplinar: Revista Eletrônica da UNIVAR ISSN X Ano de publicação: 2014 N.:12 Vol.:2 Págs.

ESTUDO COPROLÓGICO DE ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS DE 1 A 5 ANOS DO BAIRRO PRIMAVERA, PARACATU-MG RESUMO

PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES, NO MUNICÍPIO DE PARELHAS, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL

COMPARAÇÃO ENTRE VALORES HEMATOLÓGICOS (HEMOGLOBINA, HEMATÓCRITO E FERRO SÉRICO) DA PARTURIENTE E DO RECÉM-NASCIDO

PREVALÊNCIA DE ENTEROPARSITAS EM CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS DE IDADE DE UMA CRECHE DO MUNICÍPIO DE TAUBATÉ - SP.

ANÁLISE COMPARATIVA DA SENSIBILIDADE DA TÉCNICA DE WILLIS, NO DIAGNÓSTICO PARASITOLÓGICO DA ANCILOSTOMÍASE

UTILIZAÇÃO DOS ÍNDICES HEMATIMÉTRICOS NO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE ANEMIAS MICROCÍTICAS

ANÁLISE DAS CRECHES: AMBIENTE EXPOSITOR OU PROTETOR DAS ENTEROPARASITOSES E SUA PREVALÊNCIA

TRANSMISSÃO DE PARASITOSES PELA ÁGUA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Parasitologia clínica Curso: Ciências Biológicas Modalidade Médica. Professora Rose

PLANO DE ENSINO I IDENTIFICAÇÃO CURSO: NUTRIÇÃO MODALIDADE: - DISCIPLINA: PARASITOLOGIA ( X ) OBRIGATÓRIA ( ) OPTATIVA DEPARTAMENTO: PARASITOLOGIA

PERFIL DE PARASITAS GASTROINTESTINAIS ENCONTRADOS EM EQUINOS DE ESPORTE DE DUAS CABANHAS DE CAVALOS CRIOULOS

Prevalência de enteroparasitoses em crianças de um bairro de baixa renda de Londrina Paraná

Transcrição:

Artigo Prevalência de Anemia em Crianças e Adolescentes Portadores de Enteroparasitoses Gracy Kelly Atalliba de Miranda Rocha 1, Jorge André de Paiva Cavalcante 1, Priscila Flávia dos Santos 1, Gilca Júlia Alves da Rocha 2, Tereza Maria Dantas de Medeiros 3 1 - Aluno(a) do Curso de Farmácia - Habilitação Farmacêutico Bioquímico Analista Clínico, Universidade Federal do Rio Grande do Norte 2 - Farmacêutica Bioquímica - Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte 3 - Prof. Adjunto da disciplina Hematologia Aplicada, Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte Resumo A associação entre anemia e enteroparasitoses constitui um tema de crescente interesse no âmbito da Saúde Pública, principalmente em crianças em idade escolar. O presente trabalho teve como objetivo principal verificar a prevalência de anemia em portadores de enteroparasitoses. Foram analisadas 355 amostras de sangue e de fezes de crianças e adolescentes de ambos os sexos, usuários das Unidades de Saúde dos bairros de Mãe Luíza (n = 177) e Cidade da Esperança (n = 178), Natal RN. Utilizou-se a concentração de hemoglobina como parâmetro para definir a presença de anemia seguindo os limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde para cada faixa etária. Das 177 crianças e adolescentes de Mãe Luíza, 53,7% apresentaram enteroparasitos sendo o Ascaris lumbricoides (36,8%) e o Trichuris trichiura (35,8%) os mais freqüentemente encontrados. Na Cidade da Esperança, a prevalência de enteroparasitoses foi de 39,9% e os parasitos mais encontrados foram o Ascaris lumbricoides (40,8%) e a Endolimax nana (39,4%). Houve maior prevalência de anemia nos menores de seis anos de idade independente da presença ou não de enteroparitoses. Apesar de não ter havido associação entre a anemia e as enteroparasitoses e considerando as condições socioeconômicas da população estudada, os resultados observados reforçam a necessidade da implantação de medidas de prevenção e tratamento da anemia ferropriva. Palavras-chave: Anemia, parasitoses intestinais, hemoglobina Summary The association between anemia and enteroparasitoses represents an important subject of Public Health, mainly in children at school age. The main aim of this study was to verify the anemia s prevalence in carriers of intestinal parasites. For this we analyzed 355 blood and feces samples of children and adolescents of both sexes that were using the Health Units from Mãe Luiza (n = 177) and Cidade da Esperança (n = 178), Natal RN. The hemoglobin concentration was used as a parameter to define the presence of anemia following the limits that were established by WHO to each age group. From the 177 children and adolescents who lived in Mãe Luiza 53,7% presented enteroparasitos being Ascaris lumbricoides (36,8%) and Trichuris trichiura (35,8%) the most frequently found. In Cidade da Esperança the prevalence of enteroparasitoses was 39,9% and the most found parasitos were Ascaris lumbricoides (40,8%) and Endolimax nana (39,4%). The larger prevalence of anemia happened in children with less than 6 years of age independent of the presence or not of enteroparasitoses. Although there was no association between anemia and enteroparasitoses and considering the socio economical conditions of the studied population, the findings show the need of introduce prevention measures and treatment of iron deficiency anemia. Key-words: Anemia, intestinal parasites, hemoglobin 172

173

Introdução A anemia é uma condição que pode ser definida como a redução patológica da taxa de hemoglobina circulante a um valor inferior a 13g/dL, 12 g/dl e 11 g/ dl para homens, mulheres e crianças, respectivamente (12). A deficiência de ferro é considerada a carência nutricional mais prevalente em todo o mundo, afetando principalmente lactentes, pré-escolares, adolescentes e gestantes (14). Dentre as causas da anemia ferropriva, destaca-se o aumento da demanda de ferro observado em gestantes e lactentes e a dieta pobre em ferro que ocorre principalmente nas classes sócio-econômicas de baixa renda acometendo principalmente crianças e idosos (6). No Brasil, a anemia ferropriva constitui a carência nutricional mais prevalente em crianças com menos de três anos, superando até mesmo a desnutrição energético-protéica (2). A associação entre anemia e enteroparasitoses constitui um tema de crescente interesse no âmbito da Saúde Pública, principalmente em crianças em idade escolar. Nesta faixa etária, a presença de alguns parasitas costuma determinar o aparecimento de anemia, em especial a ferropriva (18). Os ancilostomídeos (A. duodenale e N. americanus) são os helmintos mais associados à esta patologia, porém outras espécies como A. lumbricoides, T. trichiura e S. mansoni também apresentam relação com a anemia. A intensidade da manifestação depende da idade, estado nutricional, carga parasitária e associação com outras espécies de parasitas (10). Vários trabalhos já foram realizados acerca da prevalência de enteroparasitoses ocorrendo isoladamente ou associada a anemias (3, 9, 20). As regiões de baixo nível socioeconômico e precárias condições de saneamento básico têm elevada prevalência de enteroparasitoses. Nestas áreas a população infantil é intensamente acometida, de modo que tais parasitoses podem ser a causa de uma anemia que não responde ao tratamento clínico rotineiro (18). O presente trabalho teve como objetivo principal verificar a prevalência de anemia em crianças e adolescentes portadores de enteroparasitoses. Material e Métodos No período de novembro de 2002 a abril de 2003, foram analisadas 355 amostras de sangue e de fezes de crianças e adolescentes de ambos os sexos e faixa etária compreendida entre zero e dezoito anos, usuários de Unidades de Saúde de dois bairros da periferia da cidade do Natal, RN. De 355 amostras analisadas, 178 pertenciam aos usuários da Unidade Mista da Cidade da Esperança e 177 aos usuários da Unidade Mista de Mãe Luíza. O critério adotado para seleção dos pacientes foi a solicitação conjunta de hemograma e parasitológico de fezes. De cada indivíduo foram coletadas amostras de sangue obtidas por punção venosa e colocadas em frascos contendo anticoagulante (EDTA). Todas as amostras foram submetidas às seguintes análises laboratoriais: determinação do hematócrito pelo micrométodo, dosagem de hemoglobina pelo método da cianometahemoglobina e cálculo da concentração da hemoglobina corpuscular média (CHCM). As amostras de fezes foram analisadas pelo método de sedimentação espontânea de acordo com a técnica de Hoffman, Pons e Janer (15). A análise estatística foi realizada mediante o cálculo da média e desvio padrão das variáveis analisadas. Para comparação entre os grupos foi realizado o teste t com nível de significância de 5%. Resultados e Discussão Entre as 177 crianças e adolescentes pertencentes ao bairro de Mãe Luíza, 66 tinham idade inferior a 6 anos, 37 apresenta- 174

175

vam-se na faixa etária de 7 a 14 anos e 74 tinham idade compreendida entre 15 e 18 anos. Do total de amostras, 95 (53,7%) apresentaram enteroparasitoses sendo observada uma maior prevalência (64,9%) na faixa etária de 7 a 14 anos (Tabela 1). A Tabela 2 apresenta os valores absolutos e percentuais referentes às 178 amostras de crianças e adolescentes do bairro Cidade da Esperança assim distribuídos: 56 crianças menores de 6 anos, 60 na faixa etária de 7 a 14 anos e 62 com idade entre 15 e 18 anos. A prevalência de enteroparasitoses foi de 39,9% e a faixa etária mais atingida foi a de 15 a 18 anos (51,6%). Analisando-se a Tabela 3, observa-se que em Mãe Luíza o parasito mais prevalente entre as 95 amostras com enteroparasitoses Tabela 1 Valores absolutos e percentuais da presença ou ausência de enteroparasitoses nas 177 crianças e adolescentes de Mãe Luíza de acordo com a faixa etária Faixa Nº amostras Com enteroparasitoses Sem enteroparasitoses etária analisadas n % n % Até 6 anos 66 35 53,1 31 46,9 7 a 14 anos 37 24 64,9 13 35,1 15 a 18 anos 74 36 48,6 38 51,4 Total 177 95 53,7 82 46,3 Tabela 2 - Valores absolutos e percentuais da presença ou ausência de enteroparasitoses nas 178 crianças e adolescentes da Cidade da Esperança de acordo com a faixa etária Faixa Nº amostras Com enteroparasitoses Sem enteroparasitoses etária analisadas n % n % Até 6 anos 56 17 30,4 39 69,6 7 a 14 anos 60 22 36,7 38 63,3 15 a 18 anos 62 32 51,6 30 48,4 Total 178 71 39,9 107 60,1 Tabela 3 - Prevalência de enteroparasitos nas 95 amostras de crianças e adolescentes de Mãe Luíza de acordo com a faixa etária Faixa etária Enteroparasitos Até 6 anos 7 a 14 anos 15 a 18 anos Total (n=35) (n=24) (n=36) (n=95) n % n % n % n % G. lamblia 8 22,9 3 12,5 2 5,6 13 13,7 E. coli 5 14,3 4 16,7 9 25,0 18 18,9 E. histolytica 4 11,4 3 12,5 2 5,6 9 9,5 E. nana 6 17,1 3 12,5 1 2,8 10 10,5 A.lumbricoides 10 28,6 9 37,5 16 44,4 35 36,8 T. trichiura 11 31,4 9 37,5 14 38,9 34 35,8 176

177

foi o Ascaris lumbricoides (36,8%) seguido do Trichuris trichiura (35,8%) e Endolimax nana (18,9%). O maior percentual de A. lumbricoides foi observado na faixa etária dos 15 aos 18 anos. Entre os menores de 6 anos foi observada uma maior prevalência de Trichuris trichiura (31,4%). O Ascaris lumbricoides foi também o enteroparasito mais prevalente (40,8%) entre as 71 crianças e adolescentes da Cidade da Esperança que apresentaram enteroparasitoses (Tabela 4). A Endolimax nana esteve presente em 28 amostras (39,4%) seguida da E. coli com prevalência de 33,8%. Com relação à faixa etária, o A. lumbricoides foi predominante nos menores de 6 anos e na faixa etária dos 15 aos 18 anos, enquanto a Endolimax nana foi mais freqüentemente encontrada na faixa etária dos 7 aos 14 anos. Resultados semelhantes foram obtidos em estudos anteriores realizados por diversos autores em diferentes bairros da cidade do Natal (4, 9, 11, 17). As helmintoses intestinais representam um grave problema de saúde pública, principalmente nos países do terceiro mundo, onde se verificam condições precárias de saneamento básico e higiene. A transmissão desses parasitos, geralmente é oro-fecal, através de alimentos, água ou mesmo de qualquer outro objeto contaminado com fezes que se coloque na boca. Os helmintos mais encontrados em crianças em idade escolar são Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura. A alta prevalência de enteroparasitoses em crianças deve-se principalmente ao contato mais estreito com as formas infectantes e a imunidade ainda deficiente para eliminação destes parasitos (8). Um estudo realizado por Silva et al. (16) numa amostra populacional da cidade de Santa Cruz (RN) revelou uma baixa prevalência de helmintos em relação aos protozoários. Os parasitos intestinais mais freqüentemente encontrados foram Entamoeba coli (26,30%), Entamoeba histolytica (24,13%) e Endolimax nana (23,85%). Os autores relatam que esses resultados se devem provavelmente a fatores edáficos que limitam a infestação de geohelmintos. Dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (5) revelam que o bairro da Cidade da Esperança apresen- Tabela 4 - Prevalência de enteroparasitos nas 71 amostras de crianças e adolescentes da Cidade da Esperança de acordo com a faixa etária Faixa etária Enteroparasitos Até 6 anos 7 a 14 anos 15 a 18 anos Total (n=17) (n=224) (n=32) (n=71) n % n % n % n % G. lamblia 5 29,4 4 18,2 1 3,1 10 14,1 E. coli 7 41,2 7 31,2 10 31,3 24 33,8 E. histolytica 1 5,9 1 4,5 8 25,0 10 14,1 I. butschlii 0 0 1 4,5 1 4,5 2 2,8 E. nana 6 35,3 10 45,5 12 37,5 28 39,4 A.lumbricoides 8 47,0 7 31,2 14 43,8 29 40,8 T. trichiura 0 0 1 4,5 6 18,8 7 9.9 S. stercoralis 0 0 0 0 1 3,1 1 1,4 178

179

ta uma população aproximada de 20.235 habitantes e, o de Mãe Luíza, 16.058 habitantes. Os dois bairros apresentam semelhante situação de abastecimento de água potável e recolhimento de lixo, ambos correspondendo a 99%. Estes se distinguem por sua área sendo o primeiro aproximadamente o dobro do segundo. O esgotamento sanitário na Cidade da Esperança corresponde a 75% do território e em Mãe Luíza a apenas 5%. Quanto à situação educacional, apenas 12% da população da Cidade da Esperança não possui qualquer tipo de formação educacional comparado aos 23% dos moradores do bairro de Mãe Luíza. Provavelmente essas diferenças entre os bairros justifiquem a maior prevalência de enteroparasitoses observada no bairro de Mãe Luíza. Os enteroparasitos encontrados com mais freqüência foram aqueles em que a transmissão do homem ocorre por via oral, pela contaminação do solo, água ou alimentos com ovos de helmintos e/ou cistos de protozoários. O elevado índice de enteroparasitoses encontrado no presente trabalho é um reflexo da precária condição de saneamento básico e de medidas de educação em saúde associada ao baixo nível socioeconômico da população estudada. Entretanto, esse valor pode estar subestimado em detrimento da técnica empregada, que apesar de ser um método que pesquisa cistos de protozoários, ovos e larvas de helmintos, não é eficaz para indivíduos que eliminam pequena quantidade de cistos de protozoários e ovos leves de helmintos. Para um diagnóstico mais preciso necessita-se da execução de outras técnicas específicas para os demais enteroparasitos, como a técnica de Baermann para a pesquisa de larvas de S. stercoralis e Ancilostomídeo e a técnica de Faust para a pesquisa de cistos de protozoários e ovos leves de helmintos (10). A concentração de hemoglobina, o valor do hematócrito e a concentração de hemoglobina corpuscular média são os parâmetros hematológicos utilizados para avaliar a ocorrência de anemia. Estima-se que a anemia afeta metade dos escolares e adolescentes dos países em desenvolvi- Tabela 5 - Valores médios de hemoglobina (Hb), hematócrito (Hto) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) nas 177 amostras da população de Mãe Luíza de acordo com a faixa etária e a presença ou não de enteroparasitas Sem enteroparasitoses Com enteroparasitoses Faixa Etária (n = 82) Faixa Etária (n = 95) Hto Hb CHCM Hto Hb CHCM (%) (g/dl) (g/dl) (%) (g/dl) (g/dl) Até 6 anos Até 6 anos (n = 31) 34,3 ± 3,4 10,3 ± 1,4 30,0 ± 2,2 (n = 35) 36,1 ± 2,9 10,8 ± 1,2 29,8 ± 1,8 7 a 14 anos 7 a 14 anos (n = 13) 38,9 ± 4,2 11,5 ± 0,8 29,8 ± 2,7 (n = 24) 39,2 ± 3,3 12,2 ± 1,1 31,0 ± 1,6 15 a 18 anos 15 a 18 anos (sexo feminino) 38,0 ± 3,3 11,9 ± 1,4 31,2 ± 2,8 (sexo feminino) 38,2 ± 3,1 12,0 ± 1,3 31,5 ± 2,7 (n = 26) (n = 27) 15 a 18 anos 15 a 18 anos (sexo masculino) 44,8 ± 2,8 13,8 ± 1,0 30,7 ± 1,5 (sexo masculino) 40,7 ± 4,6 12,4 ± 1,8 29,3 ± 3,6 (n = 12) (n = 09) 180

181

Tabela 6 - Valores médios de hemoglobina (Hb), hematócrito (Hto) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) nas 178 amostras da população da Cidade da Esperança de acordo com a faixa etária e a presença ou não de enteroparasitas Sem enteroparasitoses Com enteroparasitoses Faixa Etária (n = 107) Faixa Etária (n = 71) Hto Hb CHCM Hto Hb CHCM (%) (g/dl) (g/dl) (%) (g/dl) (g/dl) Até 6 anos 34,7 ± 3,8 10,7 ± 1,6 29,7 ± 5,0 Até 6 anos 36,0 ± 4,0 10,7 ± 1,1 29,9 ± 2,6 (n = 39) (n = 17) 7 a 14 anos 38,9 ± 2,4 12,1 ± 1,2 31,0 ± 2,6 7 a 14 anos 39,5 ± 3,3 12,4 ± 0,8 31,5 ± 2,1 (n = 38) (n = 22) 15 a 18 anos 15 a 18 anos (sexo feminino) 38,4 ± 3,3 12,1 ± 1,1 31,7 ± 2,0 (sexo feminino) 38,8 ± 3,6 11,9 ± 1,5 30,7 ± 2,3 (n = 23) (n = 25) 15 a 18 anos 15 a 18 anos (sexo masculino) 41,6 ± 3,6 13,6 ± 1,3 32,7 ± 1,4 (sexo masculino) 43,3 ± 3,2 13,2 ± 1,4 31,2 ± 1,9 (n = 07) (n = 07) mento. As principais causas são enteroparasitoses, malária e/ou baixa ingesta de ferro (19). É importante considerar que as condições favoráveis para o agravamento da carência de ferro estão atreladas às condições sociais e econômicas das classes de renda mais baixa, seja por uma alimentação quantitativa e qualitativamente inadequada, seja pela precariedade de saneamento ambiental ou por indicadores que direta ou indiretamente poderiam estar contribuindo para a sua elevada prevalência (13). As enteroparasitoses mais comumente associadas com anemia são a ancilostomose, a esquistossomose, a tricuríase, e a ascaridíase, dentre outras. De modo geral é necessária a associação da parasitose com uma dieta inadequada ou deficiente em ferro para o estabelecimento da anemia (7). Os critérios indicados pela Organização Mundial de Saúde (12) para diagnosticar anemia baseiam-se na concentração de hemoglobina, considerando-se anêmicos homens com valores de hemoglobina inferiores a 13 g/dl, mulheres em idade fértil e crianças de 7 a 14 anos (valores inferiores a 12 g/dl) e crianças menores de 6 anos (valores inferiores a 11 g/dl). As Tabelas 5 e 6 apresentam os valores médios de hemoglobina, hematócrito e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) nas crianças e adolescentes dos dois bairros de acordo com a faixa etária e a presença ou não de enteroparasitoses. De acordo com os limites de concentração de hemoglobina aceitáveis estabelecidos pela OMS para cada faixa etária, observa-se que no bairro de Mãe Luíza entre os não parasitados todos apresentaram anemia com exceção dos indivíduos do sexo masculino com faixa etária compreendida entre 15 e 18 anos (Tabela 5). Entre os portadores de enteroparasitoses, apenas os menores de 6 anos apresentaram anemia. 182

183

Analisando a Tabela 6 observa-se que na população da Cidade da Esperança, os menores de 6 anos apresentaram anemia independente da presença de enteroparasitoses. Nas demais faixas etárias, a presença de anemia foi evidenciada apenas entre os adolescentes do sexo feminino que apresentavam enteroparasitoses. A Tabela 7 apresenta os valores médios de hemoglobina em crianças e adolescentes com anemia de acordo com a faixa etária e a presença ou não de enteroparasitoses. Utilizando o teste estatístico de comparação de médias (teste t de Student) observou-se que em Mãe Luiza, nas diferentes faixas etárias, não houve diferença estatisticamente significativa entre os portadores de enteroparasitoses e os que não apresentavam nenhum tipo de enteroparasito (p > 0,05). Entre as crianças e adolescentes da Cidade da Esperança, observou-se diferença estatisticamente significativa (p < 0,05) entre os parasitados e os não parasitados com faixa etária entre 7 e 14 anos. Entretanto, os valores médios dos não parasitados foram inferiores aos dos portadores de enteroparasitoses. Os resultados observados permitem concluir que a presença de enteroparasitos não teve influência no grau de anemia. A análise da Figura 1 permite avaliar que na população de Mãe Luíza houve maior prevalência de anemia tanto entre os portadores de enteroparasitoses (52,6%) como entre os não parasitados (57,3%) enquanto na população da Cidade da Espe- rança a prevalência foi de 42,3% e 43,9 %, respectivamente. Esses dados refletem as melhores condições sanitárias do bairro da Cidade da Esperança que possui 75% de área saneada e mais de 80% da população alfabetizada. Considerando as diversas faixas etárias observou-se que tanto em Mãe Luíza como na Cidade da Esperança a maior prevalência de anemia ocorreu entre os menores de 6 anos independente da presença ou não de enteroparasitoses (Figura 2). Esses dados eram esperados tendo-se em vista que a anemia é mais prevalente nos dois primeiros anos de vida, devido às necessidades aumentadas de ferro durante essa fase de desenvolvimento rápido e à quantidade inadequada de ferro da dieta, Tabela 7 - Valores médios de hemoglobina (g/dl) em crianças e adolescentes com anemia de acordo com a faixa etária e a presença ou não de enteroparasitoses Faixa Etária Mãe Luíza Faixa Etária Cidade da Esperança Até 6 anos Sem enteroparasitoses (n = 21) 9,5 ± 0,9 Até 6 anos Sem enteroparasitoses (n = 18) 9,3 ± 1,0 Com enteroparasitoses (n = 20) 10,0 ± 0,8 Com enteroparasitoses (n = 10) 10,0 ±0,5 7 a 14 anos Sem enteroparasitoses (n = 08) 11,0 ± 0,5 7 a 14 anos Sem enteroparasitoses (n = 17) 11,0 ± 0,7(*) Com enteroparasitoses (n = 10) 11,3 ± 0,6 Com enteroparasitoses (n = 07) 11,7 ± 0,1(*) 15 a 18 anos Sem enteroparasitoses (n = 14) 10,8 ±0,8 15 a 18 anos Sem enteroparasitoses (n = 10) 11,1 ± 0,7 (sexo feminino) Com enteroparasitoses (n = 13) 10,9 ± 0,7 (sexo feminino) Com enteroparasitoses (n = 11) 10,7 ± 0,9 15 a 18 anos Sem enteroparasitoses (n = 02) 12,6 ± 0,3 15 a 18 anos Sem enteroparasitoses (n = 02) 12,1 ± 1,0 (sexo masculino) Com enteroparasitoses (n = 07) 11,6 ± 0,9 (sexo masculino) Com enteroparasitoses (n = 02) 11,4 ± 0,8 (*) p < 0,05 184

185

Figura 1 Representação gráfica da prevalência de anemia associada ou não à enteroparasitoses em crianças e adolescentes dos bairros de Mãe Luíza e Cidade da Esperança, Natal RN aliada ao desmame precoce, principalmente nas populações de baixa renda. Outros fatores de risco podem estar associados para agravar a situação nutricional referente ao ferro, tais como prematuridade, baixo peso ao nascer, sangramento perinatal, baixa hemoglobina ao nascimento, infecções freqüentes e infestação por ancilostomídeos (1, 2). Além disso, a maioria dos estudos demonstra que a proporção de crianças anêmicas é significativamente maior entre aqueles pertencentes às famílias com renda mais baixa, embora esta carência também seja encontrada em populações de altos níveis sócio-econômicos (13). Apesar de não ter havido associação entre anemia e as enteroparasitoses e considerando as condições socioeconômicas da população estudada, os resultados observados reforçam a necessidade da implantação de medidas de prevenção e tratamento da anemia ferropriva. Conclusões Figura 2 - Representação gráfica da prevalência de anemia associada ou não à enteroparasitoses entre as 355 crianças e adolescentes dos bairros de Mãe Luíza (n = 177) e Cidade da Esperança (n = 178) de acordo com a faixa etária Houve uma maior prevalência de enteroparasitoses (53,7%) entre as crianças e adolescentes do bairro de Mãe Luíza em comparação à Cidade da Esperança (39,9%). A faixa etária mais atingida foi a de 7 a 14 anos (64,9%) em 186

187

Mãe Luíza e a de 15 a 18 anos (51,6%) na Cidade da Esperança. Na população de Mãe Luíza o Ascaris lumbricoides o Trichuris trichiura e a Entamoeba coli foram os enteroparasitos mais prevalentes (36,8%, 35,8% e 18,9%, respectivamente) enquanto na Cidade da Esperança os mais predominantes foram o Ascaris lumbricoides (40,8%), a Endolimax nana (39,4%) e a Entamoeba coli (33,8%). A prevalência de anemia associada a enteroparasitoses entre as crianças e adolescentes de Mãe Luíza foi de 52,6% enquanto na Cidade da Esperança a prevalência foi de 42,3%. Entre os não parasitados, a prevalência de anemia foi de 57,3% e 43,9% entre a população de Mãe Luíza e Cidade da Esperança, respectivamente. Tanto em Mãe Luíza como na Cidade da Esperança houve maior prevalência de anemia nos menores de 6 anos independente da presença ou não de enteroparasitoses. Não houve relação entre a anemia e a presença de enteroparasitoses. Correspondência para: Tereza Maria Dantas de Medeiros Depto. Análises Clínicas e Toxicológicas Univ. Fed. Rio Grande do Norte Rua Gal. Cordeiro de Farias s/n 1º and. CEP 59010-180. Natal. RN Fone: (84)215-4226 E-mail: tdantas@ufrnet.br Referências Bibliográficas 1. Barbosa NR, Alves MS, Sampaio MRM, Almeida MAD. Carência Nutricional de Ferro: Levantamento diagnóstico. Disponível em: www.newslab.com.br/ferro.htm. Acesso em: 23 fev. 2003. 2. Brunken GS, Guimarães LV, Fisberg M. Anemia em crianças menores de 3 anos que freqüentam creches públicas em período integral. J. Pediatr., v.77, n.1, p.50-56. 2002. 3. Cerqueira EMM, Santos JF, Bringel JML, Correia JE, Luz LAC, Silva PC, Oliveira AS. Identificação de anemia ferropriva e parasitoses intestinais em um povoado de Feira de Santana Bahia (Matinha dos Pretos). Rev. Bras. Anál. Clín., v.34, n.1, p. 53-55, 2002. 4. Costa MSG, Nunes JFL, Silva EMA, Figueiredo LR, Lima FEM. Parasitoses intestinais: avaliação da prevalência em dois bairros de Natal / RN. Rev. Saúde, v.6, n.1/2, p.33-38, 1991. 5. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2000. Resultados preliminares da amostra. <http://www.ibge.gov.br. 6. Junior MC, Pineda RM. Anemia Ferropriva. Disponível em: http:// ioh.medstudents.com.br/aferro.htm. Acesso em: 16 jan. 2003. 7. Lee GR. Deficiência de ferro e anemia ferropriva. In: Lee GR, Bithell TC, Forester JW. Wintrobe Hematologia clínica. São Paulo: Manole, 1998. v. 1. 8. Marinho MS, Silva GB, Diele CA, Carvalho JB. Prevalência de enteroparasitoses em escolares da rede pública de Seropédica, município do estado do Rio de Janeiro. Rev. Bras. Anál. Clín., v.34, n.4, p.195-196, 2002. 9. Nascimento EG, Silva EMA, França JF. Prevalência de Parasitoses Intestinais em Crianças da Favela do Maruim Natal/RN. Rev. Saúde, v.13, n.1, p. 15-20, 1999. 10. Neves DP. Relação parasito-hospedeiro. In: Neves, DP, Melo, AL, Genaro, O, Linardi, PM. Parasitologia Humana. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 11. Nunes MPO, Nunes JFL, Silva EMA, Costa MSG. Ocorrência de parasitoses intestinais em crianças da creche Lar Menino Jesus, Natal RN. Rev. Bras. Anál. Clín., v.29, n.3, p.195-196, 1997. 12. Organizacion Mundial de la Salud. Anemias nutricionales. Ginebra. 1972. (Série de Informes Técnicos, nº 503) 13. Osório MM. Fatores determinantes da anemia em crianças. J. Pediatr., v.78, n.4, p.269-278, 2002. 14. Paiva AA, Rondó PHC, Guerra-Shinohara EM. Parâmetros para avaliação do estado nutricional de ferro. Rev. Saúde Pública, v.34, n.4, p. 421-426, 2000. 15. Rocha MO. Exame parasitológico de fezes. In: Neves, DP, Melo, AL, Genaro, O, Linardi, PM. Parasitologia Humana. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 16. Silva EMA, Nunes JFL, Costa MSG, Nunes MPO. Prevalência de parasitos intestinais na cidade de Santa Cruz RN: rotina copreoscópica do Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária. Rev. Saúde, v.8, n.1/2, p.28-34, 1993. 17. Silva EMA, Nunes MPO, Nunes JFL, Costa MSG. Incidência de parasitoses intestinais em servidores do Restaurante Universitário do Campus da UFRN. Rev. Bras. Anál. Clín., v.27, n.2, p.51-52, 1995. 18. Souza AI, Ferreira LOC, Filho MB, Dias MRFS. Enteroparasitoses, anemia e estado nutricional em grávidas atendidas em serviço público de saúde. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., v.24,n.4, p.253-259. 2002. 19. Tsuyuoka R, Bailey JW, Guimarães AMAN, Gurgel RQ, Cuevas LE. Anemia and intestinal parasitic infections in primary school students in Aracaju, Sergipe, Brazil. Cad. Saúde Pública, v.15, n.2, p.413-421, 1999. 20. Vituri CL, Barbieri DHP. Avaliação dos níveis de hemoglobina e ferritina sérica em escolares infectados por parasitas intestinais em Campinas, SP. Rev. Bras. Anál. Clín., v. 23, n.4, p.126-128. 1991. 188