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Transcrição:

Efeitos do BAP e do AIA na indução e no crescimento in vitro de brotos de dez clones de palma forrageira 1 Effects of BAP and IAA on in vitro shoot initiation and growth of ten clones of palm grass Hamilton Melo Frota 2, Maria Socorro de Souza Carneiro 3, Rômulo Marino Llamoca Zárate 4, Francisco de Assis Paiva Campos 5, Márcio José Alves Peixoto 6.......... RESUMO A palma forrageira - Opuntia ficus-indica (L.) Mill, é uma cactácea exótica, natural do México, adaptada às condições áridas e semi-áridas do Nordeste brasileiro. A pesquisa foi conduzida nos Departamentos de Bioquímica e Biologia Molecular, e Zootecnia da Universidade Federal do Ceará, com o objetivo de determinar protocolos para indução e crescimento in vitro de brotos dessa espécie. Os explantes dos dez clones de palma forrageira foram inoculados em meio de cultura com sais e vitaminas MS, suplementado com 5% de sacarose, 0,8% de ágar e ph 5,85. No primeiro experimento, para a indução de brotos, gemas axilares de cladódios jovens foram inoculados no meio de cultura completo, contendo diferentes combinações de concentrações de 6-benzilaminopurina (BAP) e de ácido indolacético (AIA). O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso em um arranjo fatorial de 10 x 5 com três repetições. No segundo experimento, o crescimento dos brotos foi induzido através da inoculação em meio de cultura completo adicionado de diferentes combinações de BAP e AIA. O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso em um arranjo fatorial de 10 x 3 com três repetições. Concluiu-se que os melhores protocolos para indução e crescimento de brotos foram, respectivamente: BAP 2,00 mg/l + AIA 0,25 mg/l e BAP 0,50mg/ L + AIA 0,25 mg/l. Termos para indexação: Broto, cladódio, explante, Opuntia ficus-indica, meio de cultura, protocolo. ABSTRACT Palm grass - Opuntia ficus-indica (L.) Mill. is an exotic cacteceae originated from Mexico and well adapted to the arid and semi-arid conditions of the northeast of Brazil. The study was carried out at Universidade Federal do Ceará, Biochemistry-Molecular Biology and Animal Science departments, and aimed to establish protocols for in vitro initiation and growth of palm grass shoots. The excised explants of ten clones of palm grass were placed into a media containing salts and vitamins MS, supplied with 5% sucrose and 0.8% agar. The final ph was 5.85. In the first experiment, shoot initiation, axyllary buds of yang cladodios were placed into a media containing different combinations of 6-benzylaminopurine (BAP) and Indol-3-acetic acid (IAA) concentrations. The experiment was designed as a 10 X 5 factorial, with three replications, in a randomized system. In the second experiment, shoot growth was induced by placing the shoots into a media supplied with different combinations of BAP and IAA. The experiment was designed as a 10 X 3 factorial, with three replications, in a randomized system. The results show that BAP 2,00 mg/ L + IAA 0,25 mg/l and BAP 0,50mg/L + IAA 0,25 mg/l are, respectively, the best concentrations for in vitro initiation and growth of palm grass shoot. Index terms: Shoot, cladodio, explante, culture media, Opuntia ficus-indica, protocol. 1 Recebido para publicação em 14/08/2003. Aprovado em 17/05/2004. Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor. 2 Mestre em Zootecnia, Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará CEP 60335-970. 3 Profª Dra., Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará. 4 Prof. Dr., Departamento de Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba. 5 Prof. Dr., Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Ceará. 6 Mestrando em Zootecnia, Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará. Revista Ciência Agronômica, Vol. 35, Número Especial, out., 2004: 279-283 279

H. M. Frota et al. Introdução A maior diversidade do gênero Opuntia encontra-se no México, conhecida por figueira-da-índia e pão-de-pobre (Tapia, 1983), faz parte do folclore e da mesa dos mexicanos, juntamente com o milho, o feijão e a batata. A pecuária nas regiões áridas e semi-áridas do mundo, inclusive na região Nordeste do Brasil, tem como principal problema a alimentação. A escassez de pastagem nativa e o mau manejo de gramíneas na época de estiagem deixam os animais debilitados e susceptíveis às doenças. O clima semiárido do Nordeste brasileiro favorece o desenvolvimento da palma forrageira, alimento de alto valor energético, rico em água e sais minerais com participação em até 40% de matéria seca na dieta de bovinos (Santos et al., 1997). A palma forrageira é propagada por sementes, mudas, enxertia e estaquia (Krulik, 1980). A reprodução por sementes resulta em segregação genética, longa fase juvenil, diminuição na velocidade de crescimento das plantas (Mondragon-Jacobo e Pimienta-Barrios, 1995; Llamoca-Zárate et al., 1999) e as sementes apresentam baixo potencial de germinação. Para solucionar esses problemas as forrageiras têm sido geneticamente melhoradas através das técnicas de cultura de tecidos (Spangemberg, 2001). No decorrer dos últimos quinze anos, foram desenvolvidas técnicas de cultivo in vitro para mais de mil espécies, incluindo as de cactáceas. As Opuntias se multiplicam por estacas dos cladódios demandando um grande número de propágulos, o que acarreta um sério problema por exigirem grandes áreas para o seu cultivo. Por essa razão, lançou-se mão da técnica de cultivo de tecido para se obter um sistema eficiente de multiplicação em grande escala (Villalobos, 2001). Desta forma, objetivou-se determinar protocolos para indução e crescimento in vitro de brotos de dez clones da palma forrageira (Opuntia ficus-indica (L.) Mill). Material e Métodos O experimento foi conduzido nos Departamentos de Zootecnia e, Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Ceará. Os dez clones (C14, C19, C33, C34, C43, C44, C61, C63, C64 e C81) da espécie Opuntia ficus-indica (L.) Mill, cedidos pela Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária, em Arco Verde, Pernambuco, foram plantados em vasos plásticos com capacidade para 20 L, contendo areia e adubo orgânico na proporção de 1:1, e acondicionados em casa de vegetação. O trabalho foi conduzido em duas etapas: indução e crescimento dos brotos. Em cada experimento foi utilizado o meio de cultura completo MS (Murashige e Skoog, 1962), suplementado com 5% de sacarose, 0,8% de ágar e ph 5,85. A esse meio de cultura foram adicionados diferentes combinações de concentrações dos reguladores de crescimento 6-benzilaminopurina (BAP) e ácido indolacético (AIA). Tanto no experimento I quanto no experimento II os explantes foram mantidos sob as mesmas condições da câmara de crescimento. Experimento I - Indução de brotos: Para indução de brotos foram coletados cladódios jovens de dez clones de palma forrageira mantidos em casa de vegetação, com tamanhos variando entre 8-12 cm. No laboratório, foram descontaminados pela primeira vez com água corrente e sabão líquido neutro, constando de três lavagens com duração de três minutos no intuito de se reduzir a contaminação superficial. Em seguida, os cladódios foram levados para a câmara de fluxo laminar, onde foi feita a assepsia em uma solução de hipoclorito de sódio a 2% e água destilada autoclavada. Nesta solução, os cladódios foram imersos durante três minutos sob constante agitação, depois lavados com água destilada autoclavada para retirar o excesso de hipoclorito, seccionados transversalmente e acondicionados em placas de Petri. A seguir, foram cortados retirandose os explantes na forma de retângulo, com aproximadamente 0,50-0,80 cm 2 contendo as aréolas (meristema mais gema axilar). Cada cladódio jovem deu origem a 50 explantes que foram distribuídos individualmente em cada tubo de ensaio contendo 10 ml dos meios de cultura de acordo com os tratamentos: BAP 0,00 mg/l + AIA 0,00 mg/l; BAP 2,00 mg/l + AIA 0,00 mg/l; BAP 2,00 mg/l + AIA 0,10 mg/l; BAP 2,00 mg/l + AIA 0,25 mg/l e BAP 2,00 mg/l + AIA 0,50 mg/l. Após a inoculação foram mantidos em câmara de crescimento, onde ficaram por 15 a 18 dias. Após esse período, os explantes foram transferidos para novo meio de brotação (idêntico ao meio de cultura inicial) devido ao excesso de calo, ou oxidação dos tecidos, ou suberização dos ferimentos, retornando à câmara de crescimento por mais 12 a 15 dias. Durante os 30 dias esses per- 280 Revista Ciência Agronômica, Vol. 35, Número Especial, out., 2004: 279-283

Efeitos do BAP e do AIA na indução e no crescimento in vitro de brotos de dez clones de palma forrageira maneceram em uma temperatura de 28 ± 2 C e um fotoperíodo de 16 horas e intensidade luminosa de 25,3 µmol.m -2.s -1. O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso em arranjo fatorial de 10 x 5 com três repetições, onde foram estudados dez clones de palma forrageira e cinco meios de cultura. A unidade experimental constou de dez explantes acondicionados em dez tubos de ensaio. Durante o experimento, foram observados e anotados os resultados semanais de brotação de cada tratamento. Experimento II - Crescimento de brotos: Os brotos oriundos do experimento I foram levados para câmara de fluxo laminar em condições assépticas, colocados em uma placa de Petri estéril e seccionados transversalmente na base para a retirada de calo ou oxidação dos tecidos. Para este experimento foram necessários 90 brotos-explantes selecionados por tamanho (0,2-1,5 cm). A seguir, foram inoculados individualmente em cada tubo de ensaio contendo os meios de cultura. Os tratamentos para indução do crescimento de brotos dos dez clones de palma forrageira foram realizados através de três combinações de reguladores de crescimento: BAP 0,50 mg/l + AIA 0,10 mg/l; BAP 0,50 mg/l + AIA 0,25 mg/l e BAP 0,50 mg/l + AIA 0,50 mg/l. Em seguida foram incubados na câmara de crescimento, onde ficaram por quatro semanas. Nesse período permaneceram em uma temperatura de 28 ± 2ºC e fotoperíodo de 16 horas e intensidade luminosa de 25,3 µmol.m -2.s -1. O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso em arranjo fatorial de 10 x 3 com três repetições, estudando-se dez clones de palma forrageira e três meios de cultura, com unidade experimental constando de um broto. Durante a incubação foram observados e anotados o crescimento em centímetros dos brotos de cada tratamento. Resultados e Discussão Experimento I Indução de brotos: Verificou-se diferença significativa, ao nível de 5% pelo teste de Tukey, quanto à brotação entre clones e entre meios de culturas, não havendo significância (P>0,05) na interação clone versus meio de cultura (Tabela 1). O meio de cultura utilizado com BAP e AIA nas concentrações de 2,00 e 0,25 mg/l, respectivamente, favoreceu a indução de brotos nos explantes dos dez clones de palma forrageira estudados. Não houve diferença estatística (P>0,05) entre a porcentagem média de brotação quando o meio de cultura foi suplementado com BAP 2,00 mg/l + AIA 0,00 mg /L e BAP 2,00 mg/l + AIA 0,50 mg/l. Quando se utilizou o meio de cultura completo, suplementado Tabela 1 Percentagem média de brotação in vitro de dez clones de palma forrageira (Opuntia ficus-indica (L.) Mill.), 30 dias após inoculação no meio de cultura. Meio de cultura BAP 0,00 mg/l BAP 2,00mg/L BAP 2,00mg/L BAP 2,00 mg/l 2,00 mg/l BAP Clone + + + + + Média AIA 0,00 mg/l AIA 0,00 mg/l AIA 0,10 mg/l AIA 0,25mg/L 0,50 mg/l AIA C14 00 70 87 97 67 64 ABC* C19 00 80 87 97 83 69 AB C33 10 87 93 93 83 73 A C34 07 57 87 100 73 65 ABC C43 00 73 77 80 70 60 ABC C44 00 77 83 97 83 68 ABC C61 00 63 73 77 60 55 CD C63 00 50 77 90 67 57 BCD C64 00 43 80 90 63 55 BCD C81 00 50 60 70 37 43 D Média 02 d 65 c 80 b 89 a 69 c - *Médias seguidas da mesma letra maiúscula (na coluna) e minúscula (na linha) não diferem entre clones e concentrações de reguladores, respectivamente, pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Revista Ciência Agronômica, Vol. 35, Número Especial, out., 2004: 279-283 281

H. M. Frota et al. com BAP 2,00 mg/l + AIA 0,10 mg/l o percentual médio de brotação foi superior (P<0,05) aos verificados nos tratamentos BAP 2,00 mg/l + AIA 0,50 mg/l, BAP 2,00 mg/l + AIA 0,00 mg/l e BAP 0,00 mg/l + AIA 0,00 mg/l. Esses resultados corroboram com os relatos de Llamoca-Zárate et al. (1999) que inocularam brotos de palma forrageira cv. Gigante utilizando o meio de cultura MS idêntico ao desta pesquisa. Verificouse que o meio de cultura desprovido de BAP proporcionou pouco ou nenhuma brotação, concordando com as descrições de Pinto et al. (1994) e, que pode ser atribuído à presença de concentrações endógenas de citocininas nos explantes (Arello e Pinto, 1993). Verificando os resultados obtidos entre clones a maior média obtida foi no clone 33, com 73% de brotação, não diferindo estatisticamente (P>0,05) dos clones C14, C19, C34, C43, e C44 com 64%, 69%, 65%, 60% e 68%, respectivamente. O clone C81 foi o que menos respondeu aos tratamentos, com brotação média de 43%, sendo estatisticamente semelhante (P>0,05) aos clones C61, C63 e C64 com 55%, 57% e 55%, respectivamente. Experimento II Crescimento de brotos: Houve diferença significativa a 5% pelo teste de Tukey quanto ao crescimento, quando analisou-se os clones, os meios de cultura e a interação clones versus tratamentos (Tabela 2). O meio de cultura constituído da mistura basal de sais e vitaminas MS completo, suplementado com BAP 0,50 mg/l + AIA 0,25 mg/l, favoreceu o crescimento de brotos para os clones de palma forrageira estudados, embora apenas valores obtidos para os clones C14, C34 e C81 tenham diferido estatisticamente, quando comparados com o desempenho nos outros dois meios de cultura testados. Como pode ser observado na Tabela 2, quanto ao crescimento médio os clones C19, C33, C43, C44, C61, C63 e C64 não apresentaram diferença estatística entre os três meios de cultura testados. Não houve diferença estatística (P>0,05) entre os clones quando se utilizou o meio de cultura com BAP 0,50 mg/l + AIA 0,10 mg/l. Os clones C14, C34 e C81 com 1,46 cm, 1,43 cm e 1,39 cm, respectivamente, mostraram melhor desempenho (P<0,05) quando o meio de cultura foi suplementado com BAP 0,50 mg/l + AIA 0,25 mg/l em relação aos demais tratamentos. Quando se utilizou o meio de cultura adicionado com BAP 0,50 mg/l + AIA 0,50 mg/l, os clones C14, C34, C43, C63 e C81 apresentaram menor crescimento (P<0,05) que o clone C64. Tabela 2 Crescimento médio (cm) de brotos in vitro de dez clones da palma forrageira (Opuntia ficus-indica (L.) Mill.), 30 dias após inoculação no meio de cultura. Meio de cultura BAP 0,50 mg/l BAP 0,50 mg/l 0,50 mg/l BAP Clone + + + AIA 0,10 mg/l AIA 0,25 mg/l 0,50 mg/l AIA C14 0,31 Ab * 1,46 Aa 0,33 Bb* C19 0,89 Aa 1,08 ABa 0,86 ABa C33 0,89 Aa 0,97 ABa 0,74 ABa C34 0,23 Ab 1,43 Aa 0,20 Bb C43 0,27 Aa 0,50 Ba 0,26 Ba C44 0,49 Aa 0,68 ABa 0,62 ABa C61 0,99 Aa 1,36 Aa 0,77 ABa C63 0,28 Aa 0,95 ABa 0,26 Ba C64 0,53 Aa 1,01 ABa 1,52 Aa C81 0,22 Ab 1,39 Aa 0,30 Bb *Médias seguidas da mesma letra maiúscula (na coluna) e minúscula (na linha) não diferem entre clones e concentrações de reguladores, respectivamente, pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Esses resultados são semelhantes aos de Llamoca-Zárate et al. (1999) quando pesquisaram o crescimento de brotos da palma forrageira cv. Gigante utilizando as mesmas concentrações de BAP e AIA. Mohamed-Yasseen et al. (1995) obtiveram melhores resultados para o crescimento e desenvolvimento in vitro de uma cactácea, cultivar não descrita, ao suplementar o meio de cultura completo com BAP 2,00 mg/l + Ácido naftalenoacético 0,10 mg/l. Conclusões A maior percentagem média de indução de brotos foi obtida com a combinação de BAP 2,00 mg/l + AIA 0,25 mg/l, tendo como destaque o clone C34, que apresentou 100% de brotação. Os resultados obtidos na combinação de BAP 0,50 mg/l + AIA 0,25 mg/l foram numericamente superiores aos registrados nas demais combinações testadas, exceto para o clone C64. 282 Revista Ciência Agronômica, Vol. 35, Número Especial, out., 2004: 279-283

Efeitos do BAP e do AIA na indução e no crescimento in vitro de brotos de dez clones de palma forrageira Referências Bibliográficas ARELLO, E. F.; PINTO, J. E. B. P. Propagação in vitro de Kielmeyera coriaceae I. Efeito das diversas concentrações combinadas de benzilaminopurina e ácido naftalenoacético na multiplicação de brotos. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.28, n.1, p.23-31, 1993. KRULIK, G. Tissue culture of succulent plants. Natural Cactus Suculent Journal. v.35, p.14-17, 1980. LLAMOCA-ZÁRATE, R. M.; AGUJAR, L. F.; LANDSMANN, J.; CAMPOS, F. A.P. Whole Plant regeneration from the shoot apical meristem of Opuntia ficus-indica Mill.(Cactaceae). Journal of Apllied Botany-Angewandte Botanik. v.73, p.83-85, 1999. MOHAMED-YASSEEN, Y.; BARRINGER, S. A.; SPLITTSTOESSER, E.; SCHNELL, R. J. Rapid propagation of tuna (Opuntia ficus-indica) and plant establishment in soil. Pant Cell, Tissue and Organ Culture, v.42, p.117-119, 1995. MONDRAGON-JACOBO, C.; PIMIENTA- BARRIOS, E. Propagation of the cactus-pear. In: BARBERA, G.; INGLESE, P.; PIMIENTA-BARRIOS, E.; ARIASJIMÉNEZ, E. (Eds). Agro-Ecology, Cultivation and Uses of Cactus Pear. Roma: FAO Plant Production and Protection, 1995. Paper 132, p. 64-70. MURASHIGE, T.; SKOOG, F. A revised medium for rapid growth and bio assays with tobacco tissue cultures. Physiologia Plantarum, v.15, p. 473-497, 1962. PINTO, J. E. B. P.; ARELLO, E. F.; PINTO, C. A. B. P.; BARBOSA, M. H. P. Uso de diferentes explantes e concentrações de Benzilaminopurina na multiplicação in vitro de brotos de Killmeyera coriaceae. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.29, n.6, p.867-873, 1994. SANTOS, D. C.; FARIAS, I.; LIRA, M. de A.; TAVARES FILHO, J. J.; SANTOS, M. V. F. dos.; ARRUDA, G. P. de. A palma forrageira (Opuntia ficus-indica Mill e Nopalea cochenillifera Salm Dyck) em Pernambuco: Cultivo e Utilização. Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecária, Recife-PE. Instruções Técnicas do IPA. Documento n.25, 1997, 23p. SPANGEMBERG, G. Progress in biotechnology of forage species: transgenies and genomics in molecular breeding of forage plants. (Conference) In: REDBIO 2001, IV ENCONTRO LATINOAMERICANO DE BIOTECNOLOGIA VEGETAL, 4., Goiânia, Anais... Goiânia:BRASIL. 2001. p.23. TAPIA, C. C. Cultivo da Palma Forrageira e Figo-da-Índia. EMPARN Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte S/A, vinculada a Secretaria de Agricultura. Boletim Técnico n.14, 1983. 41p. VILLALOBOS, V. M. A. Aplicação do cultivo de tecidos para a micropropagação de Opuntia sp. In:. Agroecologia, Cultivo e Usos da Palma Forrageira, 132, SEBRAE/PB, 2001. p.72-78. Revista Ciência Agronômica, Vol. 35, Número Especial, out., 2004: 279-283 283