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Transcrição:

A galinha da Dona Gertrudes Aquele jornalista das perguntas, que já conhecem, foi entrevistar uma galinha, mas uma galinha especial. Propunha-se a cacarejante criatura entrar para o Guinness, o livro dos recordes. E a fazer o quê? A pôr um ovo de ouro? Não, que ideia, que vulgaridade. Essa é uma história muito antiga e já foi contada, há que tempos. O fito dela era outro. Teimava a galinácea que seria capaz de chocar de uma só vez trinta ovos e de fazer assim nascer, sem tirar nem pôr, trinta pintainhos, trinta irmãozinhos pipilantes, cor de gema de ovo. Vai precisar de alguma preparação especial? perguntou-lhe o jornalista, passando a cabeça por cima da rede do galinheiro. Cacracá, cacracá, cacracá respondeu-lhe a galinha. Queria ela dizer na dela que, estando choca, só precisava de muita paciência, porque a natureza faria o resto. E tem a certeza que os ovos estão todos em condições de ser chocados? insistiu o jornalista. Respondeu a galinha: Cacracá, cacracá, cacracá. Ao que o galo da capoeira, muito senhor de si, acrescentou: Cocrocó, cocrocó, cocrocó. O que ambos queriam dizer percebe-se. Estavam seguros, seguríssimos, da impecável qualidade dos ovos, dispostos para o choco.

Quem os acondicionara no ninho, que a galinha cobria, tinha sido a Dona Gertrudes, dona da galinha, do galo e do galinheiro todo, onde também estanciavam outros bicos, patas e patos, peruas e perus, como se pertencessem à mesma família. Em quanto está o último recorde? quis saber o jornalista. Consta-me que pertence a uma galinha australiana que deu à luz vinte e nove pintos, num único choco. Confirma? Cacracá. A galinha confirmava. Estava bem informado o jornalista. Foi para o jornal e escreveu a notícia com o seguinte título: Galinha portuguesa vai derrotar galinha australiana. Era um bocado exagero ou precipitação, mas este jornalista deixava-se levar pelo entusiasmo, que nem sempre é bom conselheiro de quem redige notícias. Lá que a galinha se esforçava ninguém duvida. Fazia-se leve e alargava as asas o mais que podia, para dar a todos os ovos calor por igual. Quando ela ia depenicar qualquer coisinha, o galo revezava-a no choco, o que não era desprimor nenhum. Os dias iam passando. No jornal, que era diário, o jornalista ia mantendo viva a atenção dos leitores. Já entrevistara por diversas vezes a Senhora Gertrudes, o marido da Senhora Gertrudes, vizinhos da Senhora Gertrudes e até tentara obter, em primeira mão, um depoimento do peru. Glu, glu, glu dissera-lhe ele, meneando a cabeça com alguma inquietação. Não era muito optimista o peru, o que se compreende. A aproximação do Natal trazia-o muito apreensivo. As cascas dos ovos começaram a estalar. O jornalista, avisado, trouxe fotógrafo para o grande acontecimento. Recorde mundial: Trinta pintos para uma galinha, já via ele, em grossas letras, na primeira página. Portugal derrota Austrália, no jogo da capoeira..., assim começaria a notícia.

Afinal, não começou. Afinal, não derrotou. Ficaram empatados. Eu explico. Os pintainhos foram nascendo, um a um, a trocar o passo, molhados e tiritantes. Mal se desembaraçavam da casca, fugiam outra vez para o calor da mãe. O pai galo, muito enternecido, ia-os contando: Cocrocó... Cocrocó... Cocrocó... Cocrocó... O jornalista e o fotógrafo e a Senhora Gertrudes e o marido da Senhora Gertrudes e os vizinhos e as vizinhas da Senhora Gertrudes também, em coro afinado, contavam: Vinte e seis, vinte e sete, vinte e oito, vinte e nove... Só falta um! Só falta um! gritava, exaltado, o jornalista, que mais parecia um locutor de um relato de futebol. O residente do último ovo resistia. Ou fosse ele mais preguiçoso ou fosse a casca mais grossa, não havia meio. Finalmente... craque, craque, craque... partiu-se. E ouviu-se, à roda, um Oh! de desapontamento geral. Não era um pinto, o que o último ovo escondia. Era um pato, um patinho vacilante, que logo foi esconder-se e juntar-se aos seus irmãos do choco. Ai que troquei este ovo. Cabeça a minha! exclamou a Senhora Gertrudes, dando uma palmada na testa. E foi assim que esta esforçada galinha não entrou no Guinness, o livro dos recordes. Dizem-me que está a ensaiar-se para nova tentativa! Ela e o galo, como não podia deixar de ser. António Torrado www.historiadodia.pt