DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

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DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPEIS PÚBLICOS. SUJEITO ATIVO: trata-se de CRIME COMUM, podendo ser praticado por qualquer pessoa.

Transcrição:

DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL 1. Usurpação de função pública O crime é, em regra, praticado por particular (aquele que não exerce função pública), mas parte da doutrina também entende ser possível o funcionário público praticá-lo ao exercer função que não lhe pertence (ex. escrevente que pratica atos próprios de Juiz). Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: A conduta prevista no tipo é a de USURPAR, que significa desempenhar indevidamente (uma atividade pública). Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. FORMA QUALIFICADA Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Se o agente efetivamente exercer de forma indevida a atividade pública e auferir vantagem, estará diante da forma qualificada. Caso limite-se a mentir sobre condição de funcionário público que não ostenta para obter tal vantagem, estará diante do crime de estelionato (art. 171, CP). 2. Resistência Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: O tipo exige que o particular oponha-se a ato a ser executado por funcionário público utilizando-se de violência ou ameaça. Assim, a chamada resistência passiva (com ao simples fuga) não será considerada crime. ATENÇÃO: não é necessário que a ameaça seja grave. Não exige-se que a resistência seja praticada por aquele contra quem o ato será executado, podendo ser cometida por terceiro. O ato a ser executado pelo funcionário deve ser legal. Se ilegal, não tipificará a figura da resistência. Além disso, a autoridade deve ser competente para executá-lo. Se incompetente, não poderá ser sujeito passivo do crime.

Pena - detenção, de dois meses a dois anos. FORMA QUALIFICADA 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos. CONCURSO DE CRIMES Se da violência resultar lesão corporal (ainda que de natureza leve) ou morte, o agente responderá pelos dois crimes em concurso material (resistência + lesão corporal ou resistência + homicídio), com as penas somadas (concurso material). 3. Desobediência Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: A conduta prevista é DESOBEDECER, que significa não cumprir, dolosamente, a ordem recebida. Pode ser praticada por AÇÃO, quando a ordem determinar um não-fazer por parte do agente, ou por OMISSÃO, quando tratar-se de ordem que determina uma ação positiva. Deve ainda ser legal, e emanar de funcionário competente. Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. 4. Desacato Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: A conduta prevista pelo tipo é DESACATAR (desrespeitar, ofender) o funcionário público. A ofensa deve ser feita na presença do funcionário, que esteja no exercício da função ou em razão dela (ainda que esteja de folga, licença, férias, etc.). Caso seja feita ao funcionário em sua ausência, caracterizará injúria qualificada (art. 140 c/c 141, II, CP). Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. ATENÇÃO: a pena de multa é aplicada de forma alternativa à pena privativa de liberdade. 5. Tráfico de influência Pode ser praticado inclusive por funcionário público, que diz ter influência sobre outro.

Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função: As condutas previstas no tipo são SOLICITAR, EXIGIR, COBRAR ou OBTER vantagem ou promessa de vantagem, para si ou para terceira pessoa. Trata-se de uma modalidade especial do delito de estelionato, uma vez que o agente diz ter influência sobre um funcionário público para obter vantagem da vítima (ex. certa pessoa diz ter amizade com um fiscal, que pode deixar de cobrar multa de certo estabelecimento comercial se o dono lhe pagar certa quantia em dinheiro). Se a influência realmente existir e for praticada, incidir-se-ão em outros dois crimes: corrupção ativa (por parte de quem oferece/paga a vantagem), e corrupção passiva (pelo funcionário público que pratica a conduta indevida). Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa. CAUSA DE AUMENTO Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário. No exemplo anterior, se o agente diz que parte do dinheiro será entregue ao fiscal e parte ficará com ele, incidirá na causa de aumento. 6. Corrupção ativa Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: As condutas previstas pelo tipo são OFERECER ou PROMETER (vantagem indevida). Pune-se o particular que toma a iniciativa de oferecer ou prometer alguma vantagem indevida ao funcionário público a fim de se beneficiar de uma conduta ou omissão deste (dolo específico). Caso o funcionário público aceite a vantagem, incidirá em corrupção passiva (art. 317, CP). Não é necessário que qualquer valor ou bem seja efetivamente entregue ao funcionário público para a ocorrência do crime, consumando-se com a simples oferta ou promessa. Pena reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.

CAUSA DE AUMENTO Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. 7. Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar concorrência pública ou venda em hasta pública, promovida pela administração federal, estadual ou municipal, ou por entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem oferecida. REVOGADO pela lei 8.666/93. 8. Inutilização de edital ou de sinal Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto: A primeira figura refere-se ao edital, comunicado oficial que tem por finalidade dar conhecimento a todos de determinado fato. As condutas possíveis são RASGAR (cortar, lacerar), INUTILIZAR (tornar ilegível), CONSPURCAR (sujar, rabiscar). Já a segunda figura refere-se a obstáculo representado por selo ou sinal público (ex. identificação de pacotes, envelopes, etc.). As condutas possíveis são INUTILIZAR ou VIOLAR (transpor). Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. A pena de multa aplica-se de forma alternativa. 9. Subtração ou inutilização de livro ou documento Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público: As condutas possíveis são SUBTRAIR (retirar sem autorização) ou INUTILIZAR (tornar imprestável).

Os OBJETOS MATERIAIS são: livro oficial (usado para escriturações ou registros); processo (judicial ou administrativo); documento (público ou privado). O tipo em tela diferencia-se do crime de supressão de documento (art. 305, CP) porque naquele exige-se a presença de dolo específico, qual seja, destruir, suprimir ou ocultar documento em benefício próprio ou alheio. Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui crime mais grave.