CARACTERIZAÇÃO DOS ANÉIS DE CRESCIMENTO E DENSIDADE DA MADEIRA DE ÁRVORES DE CANDEIA Eremanthus erithropappus PELA DENSITOMETRIA DE RAIOS X

Documentos relacionados
AVALIAÇÃO DA DENSIDADE DA MADEIRA DE ÁRVORES DE Gmelina arborea PELA APLICAÇÃO DA DENSITOMETRIA DE RAIOS X

X-RAY DENSITOMETRY IN WOOD AND CHARCOAL OF CLONE OF Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden X Eucalyptus urophylla S.T. Blake

5 Simpósio de Pós-Graduação em Ciências Florestais Brasília, de agosto de 2008

Caracterização dos anéis de crescimento de árvores de Araucaria angustifolia (Bert.) O. Ktze, através da microdensitometria de raios X

CORRELAÇÕES ENTRE CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DA MADEIRA E A PRODUÇÃO DE CARVÃO: 2. DENSIDADE DA MADEIRA X DENSIDADE DO CARVÃO

Perfil de densidade do lenho utilizando métodos radiográficos. Wood density profile of pine trees using radiographic methods

CORRELAÇÃO ENTRE A DENSIDADE BÁSICA DA MADEIRA E A DENSIDADE APARENTE DO CARVÃO VEGETAL EM HÍBRIDOS DE EUCALYPTUS

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

Análise da Produção Energética e de Carvão Vegetal de Espécies de Eucalipto

Microdensitometria de Raios X Aplicada na Determinação da Variação da Densidade do Lenho de Árvores de Eucalyptus grandis W. Hill

Características gerais da Madeira Prof. Dr. Umberto Klock.

MANUAL DE CLASSIFICAÇÃO VISUAL

Resumo Público do Plano de Manejo Florestal da Fazenda Citróleo

CIRCULAR TÉCNICA N o 150. Outubro/1982 ESTIMATIVA DA DENSIDADE A GRANEL DO CARVÃO VEGETAL A PARTIR DE SUA DENSIDADE APARENTE

II Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia da Madeira Belo Horizonte - 20 a 22 set 2015

Variação do diâmetro tangencial de poros no lenho de tensão e oposto em Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg.

ESTIMATIVA DE CRESCIMENTO EM DIÂMETRO E VOLUME

CORRELAÇÕES DENDROCLIMATOLÓGICAS DO

POTENCIALIDADE DE PRODUÇÃO DE ÓLEOS DE ESPÉCIES FLORESTAIS. I-CANDEIA

NÚMERO DE ANÉIS DE CRESCIMENTO COMO PARÂMETRO PARA A ESTIMATIVA DA MASSA ESPECÍFICA DE TRÊS ESPÉCIES FLORESTAIS

CIRCULAR TÉCNICA N o 104. Junho/1980 INFLUÊNCIA DAS PRÁTICAS SILVICULTURAIS NA PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL

VARIAÇÃO DA UMIDADE E DENSIDADE BÁSICA EM Eucalyptus sp EM DUERÉ - TO

INFLUÊNCIA DA IDADE E ALTITUDE NAS CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS, QUÍMICAS E DE DENSIDADE BÁSICA DA MADEIRA DE CANDEIA - Eremanthus erythropappus

Variation of wood density and relationship with the tree-ring width of mahogany trees, Swietenia macrophylla, from Amazonian tropical forest of Peru

INTRODUÇÃO - MADEIRA. Mestranda Daniele Potulski Disciplina Química da madeira I

Prof. Dr. Umberto Klock Curso de Engenharia Industrial Madeireira 22/04/ AT 073 INTRODUÇÃO A ENGENHARIA INDUSTRIAL MADEIREIRA

(Eremanthus erythropappus (DC.) Macleish) ANATOMICAL, CHEMICAL AND PHYSICAL CHARACTERIZATION OF CANDEIA WOOD (Eremanthus erythropappus (DC.

VARIAÇÃO RADIAL DA DENSIDADE BÁSICA EM ESTRUTURA ANATÔMICA DA MADEIRA DO Eucalyptus globulus, E. pellita E E.acmenioides

PROGRAMA ANALÍTICO DISCIPLINA NOME: ANATOMIA DA MADEIRA CÓDIGO: IF 301 CRÉDITOS: 04 (T-02 P-02) DEPARTAMENTO DE PRODUTOS FLORESTAIS

Anais do II Seminário de Atualização Florestal e XI Semana de Estudos Florestais

Entre as características físicas da madeira, cujo conhecimento é importante para sua utilização como material de construção, destacam-se:

OBJETIVO. Objetivos específicos

TÉCNICAS RADIOGRÁFICAS, TOMOGRÁFICAS E DE ANÁLISE DE IMAGENS PARA ESTUDO DA MADEIRA

Dendronutrição como ferramenta para avaliação da produtividade e da qualidade da madeira de Pinus taeda.

CARACTERÍSTICAS DA MADEIRA JUVENIL DE ÁRVORES DE Eucalyptus grandis

IPEF, n.30, p.37-41, ago.1985 DENSIDADE ANUAL DA MADEIRA DE EUCALYPTUS GRANDIS

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O RIPPLE MEDIDO EM UM EQUIPAMENTO DE RAIOS X E O RIPPLE CALCULADO

1 Estrutura da Disciplina. 2 Justificativa. 3 Objetivos. 1.1 Instituição onde a Disciplina será Ministrada. 1.2 Organização da Disciplina

As dificuldades que o melhorista encontra ao trabalhar com qualidade podem ser resumidamente descritas da seguinte forma:

ANÁLISE de REGISTROS NATURAIS EM ÁRVORES COM RELAÇÃO PARÂMETROS METEOROLÓGICOS LOCAIS

A INFLUÊNCIA DA UMIDADE NAS ANÁLISES DA QUALIDADE DA MADEIRA DE PINUS CARIBAEA MORELET POR TOMOGRAFIA DE IMPULSO

VARIAÇÃO DA MASSA ESPECÍFICA APARENTE DA MADEIRA DE Artocarpus heterophyllus

EFEITO DA APLICAÇÃO DE POTÁSSIO E SÓDIO NAS CARACTERÍSTICAS DO LENHO DE ÁRVORES DE Eucalyptus grandis W.HILL, AOS 24 MESES DE IDADE

DETERMINAÇÃO DA FRIABILIDADE DO CARVÃO VEGETAL EM FUNÇÃO DO DIÂMETRO DAS ÁRVORES E TEMPERATURA DE CARBONIZAÇÃO

Correlações entre propriedades da madeira e do carvão vegetal de clone de Eucalyptus urophylla

Avaliação do perfil radial do lenho de árvores de Pinus (Pinus caribaea var. hondurensis Barr. et Golf.) por densitometria de raios X

Química da Madeira. MADEIRA - Material heterogêneo

RESTOS VEGETAIS DA CULTURA DA MAMONA COMO MATÉRIA-PRIMA PARA CELULOSE ( 1 )

L C F Recursos Florestais em Propriedades Agrícolas

CIRCULAR TÉCNICA N o 62 AGOSTO/79 AVALIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS DE EXPLORAÇÃO FLORESTAL DO EUCALIPTO PARA FINS ENERGÉTICOS

Teste de raios X: princípio e interpretação

Avaliação tecnológica da madeira e de painéis MDF de eucalipto por densitometria de raios X

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

CIRCULAR TÉCNICA N o 113. Setembro/1980

CARACTERIZAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E COMPARAÇÃO DA MADEIRA DE Pinus patula, P. elliottii E P. taeda ATRAVÉS DE SUAS PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS.

A madeira foi um dos primeiros materiais a ser utilizado pela humanidade e continua a ser um dos materiais mais utilizados na actualidade.

INFLUÊNCIA DA MARCHA DE CARBONIZAÇÃO NOS RENDIMENTOS GRAVIMÉTRICOS DO CARVÃO, LICOR PIROLENHOSO E GASES NÃO CONDENSÁVEIS, DA MADEIRA DE JUREMA-PRETA

Dois grupos de árvores

COMPARAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INICIAL DE HÍBRIDOS DE EUCALYPTUS UROPHYLLA X EUCALYPTUS GRANDIS 1 INTRODUÇÃO

ESTRUTURAS DE MADEIRA

11 APENDICE B - INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS DE CRESCIMENTO NA RESISTÊNCIA.

Ensaios de Retração de Argamassas nos Estados Fresco e Endurecido Contribuição para a normalização brasileira

Avaliação dos valores de taxa de kerma no ar dos sistemas de radiação X utilizados na calibração de instrumentos de medida em radiodiagnóstico

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E INCREMENTO EM DIÂMETRO DE Matayba elaeagnoides Radlk. EM FLORESTA OMBRÓFILA MISTA ALUVIAL

Figura 12 Procedimentos realizados para a determinação da espessura e proporção de casca, teor de umidade e peso específico da madeira.

Aplicação da fluorescência molecular e da colorimetria para discriminar espécies madeireiras

VARIAÇÕES DA DENSIDADE BÁSICA DA CASCA E DA MADEIRA DO BARBATIMÃO (Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville)

Profª. M.Sc.: Josiane Silva Araújo

Assunto: Diâmetro. Estatísticas associadas ao diâmetro. 3. Diâmetro equivalente (deq)

VARIAÇÃO RADIAL E LONGITUDINAL DA DENSIDADE BÁSICA DA MADEIRA DE Pinus elliottii ENGELM. COM DIFERENTES IDADES

DETERMINAÇÃO DA MATURAÇÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR CULTIVADA NO MUNICÍPIO DE JOÃO PINHEIRO

DETERMINAÇÃO DO CONTEÚDO DE ÁGUA DE SOLO PELO MÉTODO DA FRIGIDEIRA EM UM LATOSSOLO VERMELHO ESCURO

Propriedades físicas de painéis de partículas de média densidade de Sequoia sempervirens

EFEITO DA RADIAÇÃO POR FEIXE DE ELÉTRONS SOBRE AS PROPRIEDADES MECANICAS DO POLIETILENO DE ALTA DENSIDADE

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 112

ENSAIO RADIOGRÁFICO Princípios e Tendências

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS CAMPUS DE BOTUCATU

AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE CUBAGEM COM NÚMERO IGUAL DE SEÇÕES DO TRONCO DE ÁRVORES DE EUCALIPTO

TOMOGRAFIA DE IMPULSO PARA AVALIAÇÃO DO INTERIOR DO LENHO DE ÁRVORES

MADEIRAS. Prof. Roberto Monteiro de Barros Filho. jul. 2014

Rendimento do carvão vegetal de Mimosa tenuiflora em diferentes temperaturas de carbonização

Variação das características das árvores de Eucalyptus saligna Smith em função da altura do tronco

Resinagem: uma atividade que vale a pena repensar

Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

RESUMO. PALAVRAS-CHAVE: Mimosa scabrella, bracatinga, densidade básica, carvão vegetal, energia. ABSTRACT

Identificação botânica de cinco amostras de material vegetal carbonizado Cova da Baleia, Cabeço do Pé da Erra e Barranco do Farinheiro

CORRELAÇÕES ENTRE CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DA MADEIRA E A PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL: I. DENSIDADE E TEOR DE LIGNINA DA MADEIRA DE EUCALIPTO

Análise da eficiência de diferentes adesivos para a confecção de painéis de bambu laminado

PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA DE Araucaria angustifolia PROCEDENTE DA REGIÃO CENTRO OESTE DO PARANÁ

COMUNICADO TÉCNICO. DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS RADIOGRÁFICOS EM AMOSTRAS DE MADEIRA DE Eucalyptus dunnii E DE Pinus elliottii

ESTUDOS DE VIABILIDADE DE SEMENTES DE CANDEIA Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish POR MEIO DE TESTES DE GERMINAÇÃO E RAIOS X

Revista Árvore ISSN: Universidade Federal de Viçosa Brasil

SENSIBILIDADE DOS ENSAIOS DE ULTRA-SOM À ORTOTROPIA ELÁSTICA DA MADEIRA

VARIABILIDADE NO SENTIDO RADIAL DE MADEIRA DE Pinus elliottii

Físicos: densidade, coloração, textura, comprimento de fibras. Químicos: extrativos, teores de homocelulose, lignina.

Eucalyptus urophylla S. T. Blake

Metalurgia do Pó. Introdução

3. Propriedades físicas da madeira

POLPA E PAPEL. Propriedades do papel AT105 Prof. Umberto Klock

Transcrição:

2005 International Nuclear Atlantic Conference INAC 2005 Santos, SP, Brazil, August 28 to September 2, 2005 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA NUCLEAR ABEN ISBN: 85-99141-01-5 CARACTERIZAÇÃO DOS ANÉIS DE CRESCIMENTO E DENSIDADE DA MADEIRA DE ÁRVORES DE CANDEIA Eremanthus erithropappus PELA DENSITOMETRIA DE RAIOS X TREE-RINGS CHARACTERIZATION AND WOOD DENSITY OF CANDEIA Eremanthus erithropappus TREES BY X-RAY DENSITOMETRY Matheus P. Chagas 1, Mário Tomazello F o1, Cláudio S. Lisi 1, J.O. Brito 1 and José R. Scolforo 2 1 Departamento de Ciências Florestais (LCF/ESALQ-USP) Universidade de São Paulo Laboratório de Anéis de Crescimento Caixa Postal 9 - CEP 13418.900 - Piracicaba-SP mtomazel@esalq.usp.br 2 Departamento de Ciências Florestais(DCF/UFLA) Universidade Federal de Lavras Campus Universitário Caixa Postal 3037 - CEP 37200.000 Lavras - MG scolforo@ufla.br RESUMO As árvores de candeia, Eremanthus erithropappus (Asteraceae), são recomendadas para programas de restauração florestal, aplicação do seu lenho na construção civil e síntese de óleo essencial (alfa-bisabolol). Pela sua importância o presente trabalho objetivou (i)a caracterização dos anéis de crescimento e (ii)a determinação da variação radial da densidade da madeira visando estudos de dendrocronologia e de qualidade da madeira. Foram selecionadas 11 árvores (4 classes de diâmetro) e coletados discos do lenho na região basal do tronco. As amostras do lenho foram analisadas sob (i) microscópio estereoscópico para a descrição da estrutura macroscópica dos anéis de crescimento e (ii) densitometria de raios X para a determinação da densidade do lenho. As amostras do lenho foram acondicionadas e irradiadas em aparelho de raios X Hewlett Packard Faxitron sobre filmes radiográficos. As radiografias dos lenhos foram digitalizadas e analisadas em softwares específicos (CRAD e CERD). Os resultados mostraram o lenho da candeia caracterizado por anéis de crescimento distintos e delimitados por parênquima marginal e zonas fibrosas, indicando a sua sazonalidade e anualidade. O perfil da densidade do lenho evidenciou variações intra e inter-anéis de crescimento e 3 modelos de variação radial da densidade. A aplicação dos resultados na datação e determinação da taxa de crescimento das árvores de candeia é discutida no trabalho.

INTRODUÇÃO A candeia, Eremanthus erithropappus (DC.) Macleish, Asteraceae, é uma árvore que atinge 10 m de altura e ocorre na Argentina, Paraguai e vastas áreas do Brasil (Estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Bahia, etc.). As árvores de candeia têm sido utilizadas como base de sustentação econômica de vários municípios mineiros, constituindo-se em importante fonte de geração de mão-de-obra. As árvores dessa espécie, pelas características de crescimento, podem ser recomendadas para programas de restauração florestal, além da aplicação do seu lenho face a elevada durabilidade natural, resistência e poder energético, como moirões de cerca, esteios, lenha de ótima qualidade, caibros, carvão vegetal, postes, tacos, dormentes, vigas, etc. [4]. Atualmente, a extração de óleo essencial (alfa-bisabolol) do lenho, como matéria prima para fabricação de medicamentos e cosméticos, com propriedades antibacterianas, antimicóticas, dermatológicas e espasmódicas tem sido a principal utilização [7]. As árvores em condições naturais mostram uma reação às variáveis ambientais (temperatura, precipitação, etc.) que afetam os processos fisiológicos (respiração, fluxo de seiva, transpiração, etc.) e refletem na atividade cambial, qualidade do lenho e formação dos anéis de crescimento, que registram os eventos ocorridos no passado e no ano corrente [8]. Os métodos de anatomia e de densitometria de raios X em madeiras têm significativa aplicação na dendrocronologia (datação das árvores, taxa de crescimento e eventos) ao definir com precisão os limites dos anéis de crescimento e o perfil da variação da densidade no sentido medula-casca [5]. Pelo exposto, o presente trabalho teve como objetivos a aplicação de métodos de anatomia da madeira e de densitometria de raios X na (i) caracterização dos anéis de crescimento para posterior datação e análise da taxa de crescimento das árvores e (ii) determinação da densidade da madeira, como suporte para o manejo sustentado das árvores de candeia nas populações naturais. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. COLETA, PREPARO E EXAME DAS AMOSTRAS DO LENHO Foram selecionadas 11 árvores de candeia, com base da distribuição do diâmetro do tronco, em sua área de ocorrência natural na Fazenda Bela Vista, Baependi-MG, área experimental da Universidade Federal de Lavras. As árvores de candeia foram caracterizadas em classes diamétricas, como 1 (1-9 cm, 3 exemplares), 2 (>9-18 cm, 2 exemplares), 3 (>18-27 cm, 2 exemplares), 4 (> 27 cm, 4 exemplares) e coletados discos do lenho na região basal dos seus troncos. Na seção transversal dos discos do lenho foram demarcadas amostras diametrais e cortadas seções transversais (2 mm de espessura) com equipamento de dupla serra. As amostras do lenho foram identificadas (tinta nanquim, por não interferir nos exames densitométricos) e acondicionadas em câmara de climatização (18 o C, 50% UR, 12 h) atingindo 12% de umidade. As amostras do lenho foram examinadas sob microscópio estereoscópio para a caracterização da estrutura anatômica macroscópica e definição dos limites dos anéis de crescimento.

2.2. OBTENÇÃO DE FILMES RADIOGRÁFICOS DAS AMOSTRAS DO LENHO A análise densitométrica dos lenhos das árvores de candeia, previamente acondicionados, foi realizada de acordo com os procedimentos descritos por Amaral [1] e Amaral & Tomazello F o [2]. As amostras dos lenhos e uma cunha-padrão de acetato de celulose (massa específica entre 0,5-1,5 g/cm³) foram dispostas sobre um suporte de madeira sobre um filme de raios X Kodak modelo T-MAT G/RA e irradiadas em aparelho de raios X Hewlett Packard Faxitron 43805N (16 kv tensão, 3 ma corrente de aquecimento do cátodo, 5 min). Os filmes radiográficos das amostras de madeira + cunha de calibração de acetato de celulose (densidade 1,48 g/cm 3 ) foram revelados em aparelho Macrotec MX-2. 2.3. ANÁLISE DOS FILMES RADIOGRÁFICOS DAS AMOSTRAS DO LENHO Os filmes radiográficos das amostras do lenho de candeia + cunha padrão foram digitalizados em scanner Hewllett Packard ScanJet 6100C/T a uma resolução de 1000 dpi (pixel por polegada) em escala de cinza de 256 degraus. Na imagem digitalizada foram feitas comparações entre a escala de cinza das amostras de madeira com a da cunha padrão (densidade: 1,48 g/cm 3 ), sendo os valores de densidade convertidos para o arquivo tipo DEN, através do software CRAD. Na seqüência, o arquivo DEN foi lido com auxílio do software CERD definindo os limites dos anéis de crescimento das amostras do lenho de candeia e o número de determinações de densidade em cada anel de crescimento, sendo 50 medidas/anel de crescimento. Como resultado final das análises das amostras do lenho foram gerados arquivos tipo TXT com os valores pontuais de densidade do lenho e gráficos do perfil radial da densidade [3]. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. CARACTERIZAÇÃO DOS ANÉIS DE CRESCIMENTO Os anéis de crescimento são distintos, demarcados por zonas fibrosas concêntricas associadas com finas linhas de parênquima marginal. A faixa de lenho mais escura (lenho tardio) é formada por fibras de parede mais espessa, menor freqüência e diâmetro dos vasos (isolados ou múltiplos de 2); a faixa de lenho mais clara (lenho inicial) formada por fibras de parede mais delgada, maior freqüência e diâmetro dos vasos (maioria múltiplos de 3, alguns em disposição radial) (Figura 1 A,B). A estrutura anatômica dos anéis de crescimento, formada em resposta a sazonalidade da atividade cambial e das variações de clima, permite definir a sua anualidade e a determinação da idade e da taxa de crescimento das árvores de candeia, informações básicas para aplicação de técnicas de manejo florestal sustentável das populações naturais da espécie.

A B Figura 1. Caracterização dos anéis de crescimento na seção transversal do lenho das árvores de candeia. A-B. Setas indicam o marcador dos anéis de crescimento. 3.2. VARIAÇÃO RADIAL DA DENSIDADE DO LENHO Os resultados da variação radial da densidade da madeira para as 11 amostras de candeia analisadas, obtidos pela aplicação da metodologia de raios X foram expressos através (i) dos valores pontuais de densidade aparente da madeira (g/cm 3 ) em relação aos anéis de crescimento e ao raio das amostras (cm) (Figura 1, ex.: amostra E18.R1) e (ii) valores de densidade aparente mínima, média e máxima das amostras e respectivas equações de regressão polinomial e coeficiente de determinação (R 2 ) em função da distância radial (Tabela 1).

0.8 Densidade aparente (g/cm 3 ) 0.7 0.6 0.5 0.4 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Distância m edula-casca (cm ) Figura 2: Variação radial da densidade aparente da amostra E18.R1. Tabela 1: Densidade do lenho, equações de regressão polinomial (Y) e coeficiente de determinação (R 2 ) em função da distância radial das árvores de candeia. Classe Número Densidade Aparente (g/cm 3 ) Equação Diamétrica Amostra Máxima Média Mínima Y = a + b 1 x 1 + b 2 x 2 R 2 1 E6.R2 0,864 0,749 0,620 Y = -0.0287x 2 + 0.0898x + 0.7055 0,620 E7.R2 0,882 0,664 0,532 Y = -0.029x 2 + 0.1286x + 0.5635 0,532 E9.R1 0,868 0,671 0,480 Y = -0.0112x 2 + 0.0569x + 0.6162 0,480 2 E2.R1 0,736 0,615 0,385 Y = -0.0033x 2 + 0.0212x + 0.5929 0,385 E8.R1 0,799 0,667 0,526 Y = -0.0086x 2 + 0.0303x + 0.6599 0,526 3 E23.R2 0,847 0,665 0,501 Y = 0.0004x 2-0.0051x + 0.6753 0,501 E25.R2 0,777 0,614 0,431 Y = -0.0015x 2 + 0.0037x + 0.6422 0,431 4 E4.R2 0,746 0,628 0,491 Y = 0.0009x 2-0.015x + 0.6759 0,491 E15.R2 0,829 0,659 0,455 Y = -0.001x 2 + 0.0213x + 0.5743 0,455 E18.R1 0,778 0,575 0,419 Y = 0.0002x 2-0.0025x + 0.58 0,419 E24.R1 0,688 0,570 0,407 Y = -0.0008x 2 + 0.0082x + 0.5618 0,407 Os resultados demostraram um perfil da densidade caracterizado pelas variações de densidade intra e inter-anéis de crescimento, com valores de 0,50-0,55 a 0,80-0,85 g/cm 3 nos lenhos inicial e tardio, respectivamente e 3 modelos de variação radial da densidade, sendo (i) constante com valores de 0,55-0,70 g/cm 3, (ii) crescentes de 0,50 (medula) a 0,70 g/cm 3 (casca) e (iii) decrescentes de 0,70 (medula) a 0,55 g/cm 3 (casca), evidenciando variabilidade dentro e entre árvores de candeia para esta propriedade física da madeira.

CONCLUSÕES A análise dos resultados permitiram concluir que as árvores de candeia apresentaram (i) anéis de crescimento caracterizados pela alternância de lenhos inicial e tardio, demarcados por fina linha de parênquima marginal, (ii) perfis densitométricos distintos com variações nos valores de densidade mínima, máxima e média, (iii) variação radial da densidade relacionada com a estrutura anatômica dos anéis de crescimento, (iv) potencialidade para a dendrocronologia, como determinação da idade e da taxa de crescimento das árvores, do efeito silvicultural, da qualidade do sítio, incidência de fogo, etc. fundamentados pela sincronização e datação dos anéis de crescimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AMARAL, A.C.B. Implantação da metodologia de densitometria de raios X em madeira. Piracicaba. Dissertação (M.S.) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo. 143p. (1994). 2. AMARAL, A.C.B.; TOMAZELLO FILHO, M. Avaliação das características dos anéis de crescimento de Pinus taeda pela técnica de microdensitometria de raios X. Revista Ciência e Tecnologia, v.6, n.11-12, p.17-23. (1998). 3. MOTHE, F.; DUCHANOIS, G.; ZANNIER, B.; LEBAN. Analyse microdensitométrique appliquée au bois: une méthode de trautment des données aboutissant á la description synthétique et homogéne des profils de crenas (programe CERD). Ann. Sci. For. 55: 301-315(1998). 4. PÉREZ, J.F.M. Sistema de manejo para a candeia (E. erythropappus (DC.) McLeish). Lavras:UFLA. Dissertação Mestrado em Engenharia Florestal, 71p. (2001). 5. POLGE, H. L Analyse densitométrique de clichés radiographiques: une nouvelle méthode de determination de la texture du bois. Annales de l Ecole Nationale dês Eaux et Forêts de la Station de Recherches et Experiences. v. 20, p 530 581(1963). 6. SCHWEINGRUBER, F. H. Tree rings and environment. Dendroecology. Berna, Paul Haupt Publishers, 609 p (1996). 7. SCOLFORO, J.R.S; OLIVEIRA, A.D.de; DAVIDE, A.C; MELLO, J.M.de; ACERBI JUNIOR, F.W. Manejo sustentável da candeia Eremanthus erythropappus e Eremanthus incanus. Relatório Técnico Científico. Lavras. UFLA-FAEPE. 350p. (2002). 8. TOMAZELLO FILHO, M., BOTOSSO, P. C., LISI, C. S. Análise e aplicação dos anéis de crescimento das árvores como indicadores ambientais: dendrocronologia e dendroclimatologia. In: Indicadores ambientais: conceitos e aplicações. MAIA, N. B., MARTOS, H. L., BARRELLA, W. EDUC/COMPED/INEP, São Paulo - SP, p. 117-143 (2001).