Análise Da Distribuição Espacial Do Programa Bolsa Verde Em Minas Gerais Com Técnicas De Geoprocessamento Jéssica Costa de Oliveira (1) ; Priscila Silva Matos (1) ; Hugo Henrique Cardoso Salis (1) (1) Estudante; Instituto Federal do Norte de Minas Gerais Câmpus Salinas; jessicataiocosta2010@hotmail.com; priscilamatos2008@hotmail.com; hugo_henrique001@hotmail.com. RESUMO O incentivo por meio da Bolsa Verde se constitui como uma política pública de cunho não apenas econômico e ecológico, mas também social, dado que se priorizam classes de agentes rurais, como agricultores familiares e pequenos proprietários. Desse modo, o objetivo do presente trabalho foi fazer uma breve análise da distribuição espacial do programa bolsa verde no estado de Minas Gerais, segundo dados do IEF, 2012. Utilizou-se como banco de dados, uma tabela contendo nome do município, cobertura vegetal nativa, coordenadas geográficas do centro do município (latitude e longitude) e número de beneficiários por município. A elaboração do mapa foi realizada utilizandose o software Arc view Gis 3.2 ESRI. Com base nos dados e na interpretação do mapa observa-se que, as regiões mais beneficiadas financeiramente pelo programa concentram-se nas regiões norte e centro de Minas. Desse modo, pode-se identificar que o programa está concentrado em algumas regiões no território mineiro, é pouco conhecido no universo de possíveis participantes e o total de pagamentos financeiros satisfaz uma quantidade irrisória de estabelecimentos. Palavras-chave: Políticas públicas, preservação ambiental, análise espacial. INTRODUÇÃO As atividades desenvolvidas no meio rural mantêm correlação estreita com o ambiente natural, onde encontramos os sistemas biológicos e toda a gama de recursos naturais fundamentais para a manutenção da sustentabilidade dos habitantes do meio rural e urbano. A forma de ocupação e uso do solo no meio rural pode ocasionar prejuízos ao meio ambiente, ou pelo contrário, manter a água no sistema e a biodiversidade intacta. Assim, deve o empresário rural, como todos os demais produtores, levarem em conta a função social da propriedade, cujo princípio se expande além do caráter individualista do proprietário, um caráter social e responsável com a natureza. Neste contexto a propriedade adquire a função ambiental/social e o proprietário deve proteger os recursos naturais de seu imóvel obedecendo às leis ambientais que limitam o seu direito de propriedade. Assim, a função protetora da propriedade garante além da produtividade da terra, interessante ao produtor rural, a preservação do ambiente, de interesse de todos. Atualmente as políticas públicas não são apenas punitivas, mas vêm ampliando os benefícios aos produtores, pelos serviços ambientais, tais como, Bolsa Verde que beneficia os produtores que preservaram matas além do que as leis exigem. O programa Bolsa Verde, instituído pela Lei 17.727, - Resumo Expandido - [36] ISSN: 2318-6631
de 13 de agosto de 2008, prevê a concessão de incentivo financeiro aos proprietários e posseiros rurais por meio de pagamento por serviços ecossistêmicos. Por meio deste pagamento, são favorecidos aqueles que preservam ou que se comprometem em recuperar a cobertura vegetal de origem nativa em seus próprios territórios. Assim sendo, tem-se ganho para os fornecedores de serviços, através do apoio recebido para que empreguem melhores práticas de uso da terra. Potencializando-se a conservação, são gerados benefícios à coletividade, por meio da oferta de serviços ecossistêmicos, como os serviços hídricos e de absorção de gases-estufa, que são apropriados por uma quantidade imensurável de agentes. O incentivo por meio da Bolsa Verde se constitui como uma política pública de cunho não apenas econômico e ecológico, mas também social, dado que se prioriza classes de agentes rurais, como agricultores familiares e pequenos proprietários. Geralmente, estes estão em condições menos favoráveis na geração de renda própria, quando comparado com os maiores proprietários, que possuem maior poder de inserção no mercado de produtos agropecuários e melhor representação de interesses na esfera política (ANDRADE et al., 2011). Para efetuar a análise espacial da distribuição desse programa no estado de Minas Gerais, há uma necessidade de organizar os dados ambientais e socioeconômicos referentes ao mesmo. A tecnologia de SIG integra operações convencionais de bases de dados, como captura, armazenamento, manipulação, análise e apresentação, com possibilidades de seleção e busca de informações e análise estatística, conjuntamente com a possibilidade de visualização e análise geográfica oferecida pelos mapas. A análise espacial é composta por um conjunto de procedimentos encadeados cuja finalidade é a escolha de um modelo inferencial que considere explicitamente os relacionamentos espaciais presentes no fenômeno. Em geral o processo de modelagem é precedido de uma fase de análise exploratória, associada à apresentação visual dos dados sob forma de gráficos e mapas e a identificação de dependência espacial no fenômeno em estudo (CÂMARA et al., 2005). No caso da análise de padrões de pontos, o objeto de interesse é a própria localização espacial no fenômeno em estudo (CÂMARA et al., 2005). No caso da análise da distribuição do programa Bolsa Verde em Minas Gerais, o objetivo é estudar a distribuição espacial desses pontos, testando hipóteses sobre o padrão observado: se é aleatório ou, ao contrário, se contém aglomerados ou está regularmente distribuído. Diante do exposto, o principal objetivo desse trabalho foi fazer uma breve análise do programa bolsa verde no estado de Minas Gerais, segundo dados do Instituto Estadual de Florestas (IEF), 2012. MATERIAL E MÉTODOS Para realização da análise espacial da distribuição do programa Bolsa Verde no estado de Minas Gerais escolheu-se o processo de modelagem análise de padrões de pontos, cujo objeto de interesse é a própria localização espacial no fenômeno em estudo. No sítio eletrônico do IEF foi disponibilizado um arquivo em formato Excel com os dados relativos aos beneficiados pelo programa. A partir desses dados foi realizada uma análise estatística descritiva tendo em vista apreender a lógica que guiou a distribuição dos recursos do Bolsa Verde para a segunda etapa de implementação da política (2012). As coordenadas geográficas de cada município foram obtidas através da tabela de distribuição das localidades mineiras disponíveis no site do IBGE. Com essas informações gerou-se uma tabela contendo: nome do município, cobertura vegetal nativa (ha), coordenadas geográficas do centro do município (latitude e longitude) e número de beneficiários por município. O shape de mesorregiões do estado de Minas Gerais foi obtido no site do IBGE (www.ibge.gov.br) (Figura 1). É importante ressaltar que todos os shapes apresentavam tabelas de atributos, o que possibilitou as operações no programa. - Resumo Expandido - [37] ISSN: 2318-6631
Com o banco de dados, todas as operações para elaboração do mapa foram realizadas no software Arc view Gis 3.2 ESRI. Figura 1 - Mesorregiões do estado de Minas Gerais. Datum horizontal: SIRGAS 2000; Datum vertical: IBITUMBA. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 mostra um resumo dos dados disponibilizados pelo IEF sobre as 962 propostas aprovadas na seleção para participação no programa Bolsa verde. Tabela 1 - Número de propostas e municípios contemplados, área total das propriedades, área total de vegetação nativa e valor total destinado ao Programa Bolsa Verde por mesorregião de Minas Gerais (2012). Mesorregião Número de beneficiários Número de municípios Área total das propriedades (em ha) Área total de vegetação nativa (em ha) Valor total (em RS) Percentual sobre o valor total Norte de Minas 399 34 829.135,03 18.490,03 3.698.006.78 59,55 SSM* 208 12 15.245,74 4.397,69 879.537,76 14,37 Vale do Rio Doce 85 19 5.362,70 2.367,85 453.568,46 7,41 Metropolitana de BH 87 8 5.998,61 2.110,25 442.050,12 6,8 Jequitinhonha 35 6 3.025,43 1.176,68 235.336,56 3,79 Oeste de Minas 38 7 1.976,40 685,78 137.156,34 2,21 - Resumo Expandido - [38] ISSN: 2318-6631
Central Mineira 20 7 1.772,54 464,22 92.843,68 1,5 Zona da Mata 58 9 2.331,19 624,30 124.859,08 2,01 Noroeste de Minas 10 3 665,60 358,63 71.726,00 1,15 TMAP** 12 4 689,49 192,14 38.428,24 0,62 Campos das Vertentes 6 3 360,53 103,17 20.634,00 0,33 Vale do Mucuri 4 1 253,30 79,78 15.956,18 0,26 Total 962 113 866.816,56 31.050,52 6.210.103,20 100 Fonte: elaboração própria, com base em informações disponibilizadas pelo IEF. * Sul e Sudoeste de Minas; ** Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. A partir desses dados, percebe-se que as mesorregiões Norte e Sul/Sudoeste de Minas são aquelas que mais apresentam área preservada (22.887,72 ha; 73,7% da área total). Além disso, o mapa (Figura 2) evidencia que o Norte de Minas é a mesorregião mais privilegiada do programa em todos os aspectos, pois, além de ter o maior número de propostas aprovadas (com 113 municípios), também concentra maior percentual da vegetação nativa recompensada e do valor total pago. Através do mapa (Figura 2), é possível observar que as regiões mais beneficiadas financeiramente pelo programa concentram-se nas regiões norte e centro de Minas. A partir disso, pode-se identificar que, apesar de ser um programa estadual, os beneficiários estão concentrados em algumas regiões no território mineiro. Figura 2 - Localidades mineiras sob incentivo do programa Bolsa Verde. Fonte: Elaboração própria, com base em informações disponibilizadas pelo IEF. Escala: 1 : 1.200.000; Datum horizontal: SIRGAS 2000; Datum vertical: IBITUMBA; Projeção Policônica. A distribuição espacial dos pontos no mapa (Figura 2), mostra que são poucos os municípios mineiros participantes do Bolsa Verde. Assim sendo, fica evidente o fato de que o programa ainda é bastante desconhecido pelo universo de possíveis participantes, além do que, com base no número de beneficiários, observa-se que o montante total de pagamentos financeiros satisfaz a uma pequena quantidade de estabelecimentos. Portanto, evidencia-se a necessidade de maior quantidade de - Resumo Expandido - [39] ISSN: 2318-6631
recursos para maior abrangência do programa, além de mecanismos eficientes de disseminação de informações entre os próprios agentes rurais. CONCLUSÕES Pela análise do mapa, conclui-se, apesar do Bolsa Verde ser um programa estadual, os beneficiários estão mal distribuídos pelo território do estado. Além disso, fica evidente o fato de que o programa ainda é bastante desconhecido pelo universo de possíveis participantes, além do que mostra-se que o montante total de pagamentos financeiros satisfaz uma quantidade irrisória de estabelecimentos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, D. C. Lima., C. E. de. Garcia, J. R. Políticas de Pagamento por Serviços Ecossistêmicos: análise preliminar do programa Bolsa Verde no estado de Minas Gerais. In: SEMINÁRIO SOBRE SUSTENTABILIDADE, 6., Curitiba, 2011. Anais... Curitiba, Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, 2011. p. 96-98. Bolsa Verde: Manual de Princípios, Critérios e Procedimentos para a Implantação da Lei N. 17.727 /2008. Diretoria de Desenvolvimento e Conservação Florestal. Belo Horizonte: IEF 2010. Disponível em: http://www.ief.mg.gov.br/imagens/stories/bolsaverde/bolsa_verde_principios_procedimentos_2012 pdf. Acesso em: 15 de ago. de 2013. CÂMARA, G. et al. Introdução à Ciência da Geoinformação. São Jgilosé dos Campos, INPE, 2001 (2a. edição, revista e ampliada, disponível em www.dpi.inpe.br/gilberto/livro). IBGE INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 2006: Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. IBGE- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2011b. Indicadores de desenvolvimento sustentável: 2010. Rio de Janeiro. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IEF (Instituto Estadual de Florestas), 2010. Manual de Princípios, Critérios e Procedimentos para a Implantação da Lei n. 17.727, de 13 de agosto de 2008. Belo Horizonte, 2010. 47 p. Manual. MINAS GERAIS, Lei n 17.727 de 13 de agosto de 2008. Dispõe sobre a concessão de incentivo financeiro a proprietários e posseiros rurais, sob a denominação de Bolsa Verde, para os fins que especifica, e altera as Leis nº 13.199, de 29 de janeiro de 1999, que dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos, e 14.309, de 19 de junho de 2002, que dispõe sobre as políticas florestal e de proteção à biodiversidade no Estado. Belo Horizonte-MG, 2008. - Resumo Expandido - [40] ISSN: 2318-6631