COSTA, Maria Izabel Mestre em Engenharia de Produção PPGEP UFSC Profa Design Têxtil- UDESC

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Transcrição:

DO DIFERENCIAL AO ESSENCIAL a contribuição do design têxtil à indústria de confecção pela transformação da matéria-prima. COSTA, Maria Izabel Mestre em Engenharia de Produção PPGEP UFSC Profa Design Têxtil- UDESC bellcosta@intercorp.com.br 1 Introdução Frente ao atual quadro de dificuldades encontrado por nossa indústria têxtil e de confecção, causada, entre outros fatores, pelo processo de globalização, o design tem se colocado como estratégia pró-ativa voltado para a racionalização e diferenciação do produto. Soluções novas devem ser buscadas, pois a concorrência do mercado está cada vez mais acirrada. Os consumidores estão mais exigentes e mais conscientes de sua responsabilidade com o meio ambiente. A moda, por natureza, está captando as novas mudanças de valores e comportamento das pessoas e da sociedade de forma geral e, conseqüentemente, está atenta para atuar diretamente nessas questões contemporâneas. Partindo desse contexto, buscou-se aplicar alguns procedimentos de transformação têxtil em tecidos comerciais utilizados pela indústria de confecção e até mesmo utilizar as aparas têxteis que sobram dos processos de corte, bem como utilizar de forma otimizada os têxteis esquecidos em estoque por terem saído de moda, visando facilitar o processo criativo na busca de produtos diferenciados. Desta forma, procura-se apresentar a metodologia de aplicação de procedimentos de transformação têxtil, que estabelece modificações na estrutura ou superfície de diversos tecidos: plano, malha, nãotecido, resultando em substratos têxteis diferenciados e com valor agregado, para aplicação em diversas áreas de moda. Apresenta-se também, resultados de pesquisa desenvolvida em algumas empresas com intenção de introduzir o tema da intervenção criativa do designer têxtil na transformação do produto industrial. Palavras-chave: design têxtil, procedimentos de transformação têxtil, Indústria de confecção 2 Transformação têxtil A tecnologia têxtil está muito avançada e todos os dias surgem no mercado os mais diferentes tipos de tecidos que apresentam as mais surpreendentes funções. Porém, a facilidade de diversificar rapidamente o produto têxtil, segundo as exigências da moda contemporânea, não está ao alcance de muitas empresas quer por falta de tecnologia apropriada, ou experiências criativas de otimização do maquinário, ou de inovação no processo de desenvolvimento do produto ou, ainda, por falta de criatividade na utilização da matéria-prima. Como pesquisa experimental na área do design têxtil, surge a proposta de transformação dos têxteis, já testada em nível artesanal, que proporcionam ao consumidor, um tecido único, diferente e, além de tudo, criativo. Entende-se por transformação têxtil, as mudanças artesanais ou industriais, ocasionadas na estrutura do substrato têxtil (tecido), ou em seu relevo, ou na coloração ou combinação destas. A designação de procedimentos Estrutural, Construtivo, Colorístico e Combinado surge a partir de pesquisa desenvolvida no Curso de Bacharelado em Moda da Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC (COSTA,2003) e adotada como metodologia na disciplina de Desenho Têxtil, que propiciou ainda, a organização da prática experimental e serviu como instrumento desencadeador do processo criativo. O laboratório experimental resultou na produção de uma variedade de bandeiras têxteis de 0,50 cm X 0,40 cm. Assim, estes procedimentos são recursos que, dentre outros, viabilizam o processo criativo, sistematizado, de construção de novos produtos têxteis a partir de um determinado tecido base. A idéia aqui, não é apresentar o processo de design têxtil abordando as fases de desenvolvimento projetual, e sim, socializar resumidamente alguns dos conhecimentos resultantes da aplicação da metodologia de transformação artesanal de tecidos planos, naotecidos e tecidos de malha com vistas a sua discussão para a adaptação futura em procedimentos de transformação têxtil industrial.

Desta forma, apresenta-se aqui os procedimentos de transformação têxtil; a metodologia empregada para a transformação artesanal dos tecidos planos, nãotecido e tecidos de malha e faz-se uma projeção das vantagens e desvantagens de adaptação dessa metodologia para aplicação na indústria de confecção. 2-Procedimentos de Transformação Têxtil 2.1-Procedimento Estrutural Caracteriza-se pela mudança de estrutura têxtil. Segundo Ribeiro (1984, p. 63) Tecido é um produto manufaturado, em forma de lâmina flexível resultante, do entrelaçamento, de forma ordenada ou desordenada, de fios ou fibras têxteis entre si. Em seu conceito, engloba outros sistemas de obtenção de tecidos além do entrelaçamento de fios. O autor classifica os tecidos quanto à estrutura (formação) em Tecidos comuns; Tecidos de Malha; Tecidos de Laçada; Tecido Nãotecidos; Tecidos Especiais. Desta forma, se estará aplicando este procedimento quando se atua na transformação de uma destas formas de construção têxtil para a outra, como vemos a seguir: 2.1.1. - Tecido Plano: se um tecido é formado pelo entrelaçamento de fios em ângulo reto, que é o caso dos tecidos planos, o primeiro passo é recortá-lo para transformá-lo em outra estrutura. No caso da transformação da chita (COSTA, 2005), esta foi cortada em tiras, círculos, ou outras formas para ser utilizada como matéria-prima no emprego de técnicas artesanais como o tricô, tecelagem, malimo artesanal, macramé, fuxico, etc. A nova bandeira têxtil não apresentará mais a característica de uma chita, e sim, o de uma estrutura têxtil modificada, passando a constituir um tecido tricotado, tramado, amarrado, etc. Para a construção destas novas estruturas, deve-se cortar o tecido, observando o sentido de orientação do fio, visando proporcionar maior resistência às tiras cortadas para evitar o seu rompimento. 2.1.2 - Nãotecido: conforme a NBR13370 pela ABNT (2002, p. 4), Nãotecido é uma estrutura plana, flexível e porosa, constituída de véu ou manta de fibras ou filamentos orientados direcionalmente ou ao acaso, consolidadas por processo mecânico (fricção) e/ou químico (adesão) e/ou térmico (coesão) ou combinação destes. Para este substrato, os procedimentos de transformação estrutural adotados são os mesmos do tecido plano. Pode-se cortá-lo em tiras, círculos, quadrados ou outras formas para ser utilizado como matéria-prima no emprego de técnicas artesanais. A nova bandeira têxtil não apresentará mais a característica de um substrato nãotecido, pois terá sua estrutura têxtil modificada passando a constituir um tecido tricotado, tramado, amarrado, que por sua vez origina em uma estrutura mais resistente e com características estéticas diferenciadas. Ao ser cortado, o nãotecido não desfia. Portanto, é bastante indicado para ser utilizado neste procedimento. 2.1.3 - Malha: é o tecido construído por agulhas, entrelaçando os fios diversas séries de laçadas (malhas), às quais se ligam uma as outras. Existem duas maneiras dessas laçadas se ligarem, o que resulta em dois processos distintos: malha de Trama ( onde um mesmo fio alimenta todas as agulhas, formando-se as malhas no sentido da largura) e malha de urdume ( onde cada agulha é alimentada por um fio diferente, formando-se as malhas no sentido do comprimento). A aplicação do Procedimento Estrutural, em um tecido de malha, deve atuar no sentido de descaracterizá-la enquanto estrutura em forma de laçada. Sendo assim, as intervenções como recorte em tiras para posterior emprego de técnicas como a tecelagem, malimo, macramé, fuxico, entre outras, são válidas. Observa-se que pelo fato da malha por trama apresentar a característica de ser desmalhável, é possível tirar vantagens estéticas desta característica para a formação de novas estruturas. 2.2- Procedimento Construtivo: Utiliza-se neste procedimento, a sobreposição do mesmo tecido ou do tecido base sobre outros substratos têxteis ou, ainda, modifica-se a superfície dos tecidos visando dar ênfase ao relevo, textura e reforço aos substratos de baixa gramatura. Para a construção das novas estruturas, pode-se utilizar algumas das técnicas a seguir explicitadas: a) Sobreposição/apliques: consiste no corte do tecido em formas pré-determinadas por moldes (quadrados, círculos, em forma de escamas, franjas etc.) que serão aplicados sobre uma base, podendo ser de mesmo ou outro material. A aplicação realizada através de costura reforça o tecido aumentando sua resistência ao rasgão e os apliques seriados acrescentam volume, textura e valor estético ao produto final. Pelo fato de o tecido nãotecido ser bem apropriado para o recorte (pois não desfia) possibilita a criação de uma grande variedade de formas (recortadas) para serem aplicadas. Além disso, a maneira como estes apliques são fixados à base também proporcionam tecidos diferenciados. b) Dublagem: refere-se à sobreposição de tecidos, um sobre o outro, em disposição perpendicular ou de mesmo sentido, podendo ou não apresentar materiais decorativos no meio deles como fios fantasias, laminados, miçangas etc. Esta técnica é mais eficiente quando aplicada em tecidos que apresentam adesivos termocolantes em uma das superfícies, pois facilita o processo de adesão dos substratos têxteis.

c) Matelassê: do francês, a palavra matelassê, significa acolchoado, estofado. Segundo Motta (1995,p.167), refere-se a um tecido acolchoado, com desenhos pespontados. A técnica tem por objetivo proporcionar um efeito de costura obtido com pespontos sobre três camadas de tecidos, sendo que a do meio é formada por uma manta mais espessa para proporcionar volume entre as costuras. Os pespontos podem criar desenhos geométricos ou não e se aplicam a tecidos estampados ou lisos na decoração (colchas, edredons, almofadas) e no vestuário, principalmente em jaquetas. Tendo em vista a variedade de gramaturas encontradas nos produtos, principalmente nos nãotecidos, esta técnica pode ser bastante explorada, sempre empregando as mantas nãotecidas mais espessas ao meio. O desenho proporcionado pelo pesponto de costura, que já serve para unir as camadas, é o elemento principal de possibilidades criativa desta técnica. Muda-se o desenho, e obtêm-se bandeiras diferenciadas. d) Bordado: técnica que consiste em adornar o tecido com fios (e /ou outros materiais como pérolas, miçangas, fios de ouro, etc.), através de diversas formas de penetração da agulha, que determina os diversos tipos de pontos sobre uma base têxtil. O emprego do bordado, na extensão total das bandeiras, tem como objetivo mudar o tecido original, tanto no aspecto estético como no funcional pois os fios utilizados nos bordados contribuem para aumentar a resistência ao tecido. O bordado interfere também no volume e na textura do tecido. Ressalta-se que uma infinidade de pontos e desenhos podem ser combinados para obter-se novos efeitos e produtos diferenciados. A variedade possível vai além da aplicação deste ou daquele ponto. Ela é limitada à imaginação humana de agrupar, criar e combinar desenhos e pontos. e) Esculpimento: consiste no tratamento a quente dos substratos têxteis formados de fibras químicas termoplásticas para a obtenção de superfícies em relevo ou estruturas em três dimensões. A partir de amarrações do tecido em pequenos objetos de materiais duráveis como a pedra, a cerâmica, o vidro, o metal, obtém-se a forma dos mesmos deformando ou esculpindo o tecido (que foi primeiramente umedecido em água), através de aquecimento. Após a retirada dos objetos, o substrato têxtil pode ser lavado, permanecendo a forma alterada termofixada. (ARC DESIGN, 1999). Verifica-se que este procedimento construtivo pode ser utilizado para os três substratos têxteis analisados tecido plano, tecido de malha e tecido nãotecido - observando-se sempre as suas características próprias. Por exemplo, ao se lidar com o nãotecido, observa-se que este não apresenta o problema de desfiar como no tecido plano. Da mesma forma, há de se ter cuidado com a utilização de apliques na malha onde, em geral, ocorre percentual de encolhimento maior que nos demais tecidos. 2.3-Procedimento Colorístico Caracteriza-se pela transformação da matéria-prima têxtil pela agregação de cor. Neste procedimento estão agrupadas as técnicas que objetivam colorir os tecidos, através de tingimento (coloração total do tecido) ou aplicar desenhos através de estamparia (coloração parcial). Segundo Brossard (1997, p.263) na tinturaria deve-se observar o tipo de corante a ser utilizado, pois cada corante possui afinidades específicas para determinados substratos. Várias são as técnicas de estamparia e de tingimento que, associadas ou não, produzem os mais variados efeitos estéticos que podem ser realizados aos diversos tipos de tecidos acrescentando-lhes desenhos e/ou cores. A maior preocupação deve estar voltada, então, não ao tipo de tecido envolvido, mas sim ao tipo de composição deste: fibras empregadas. 2.4 - Procedimento Combinado Como o próprio nome indica, caracteriza-se pela utilização de mais que uma das técnicas descritas anteriormente. Se os procedimentos anteriores já possibilitam o desenvolvimento de uma grande quantidade de bandeiras, com este (Procedimento Combinado), as possibilidades criativas se ampliam ao máximo. A interferência de uma técnica em outra, somadas aos conhecimentos técnicos/estéticos proporcionados pelas bandeiras confeccionadas com os procedimentos anteriores, geram, quase que automaticamente, uma imensidão de idéias. Para organizar o processo criativo e melhor visualizar as possibilidades de utilização deste procedimento, elaborou-se o quadro Formação do Procedimento Combinado (Costa,2003) onde o cruzamento da quadrícula pode dar-se entre técnicas do mesmo procedimento e entre técnicas de procedimentos diferentes. Todas as quadrículas são possíveis de serem combinadas, com exceção das quadrículas que correspondem ao cruzamento da mesma técnica, conforme figura abaixo: Fonte: COSTA, 2003

Legenda: combinação entre técnicas no Procedimento Estrutural combinação entre técnicas no Procedimento Construtivo combinação entre técnicas no Procedimento Colorístico combinação de técnicas entre procedimentos diferentes exploração e expansão da técnica 1 exemplo de uma primeira etapa: tingimento com sobreposição 2 combinação de 1 com técnica de bordado 2.5 Surge um novo procedimento. tratando-se de uma pesquisa realizada em laboratório experimental, no desenvolver das amostras, descampionando-se os tecidos planos, bem como desmalhando-se consideravelmente os tecidos de malha, obteve-se um novo procedimento que, por definição não se enquadrou em nenhum dos acima citados. Denominado de Procedimento Desconstrutivo,(COSTA, 2005) objetiva a transformação têxtil pela diminuição dos entrelaçamentos. 3-Metodologia Metodologicamente, a transformação têxtil apresenta as seguintes etapas: 3.1- Estudo das características e propriedades da matéria-prima a ser transformada. Nesta etapa, passa-se a conhecer cada substrato têxtil analisando e identificando, por meio de dados fornecidos pelas empresas, a composição, a gramatura, tipo de ligamento têxtil (tela, sarja ou cetim) se for um tecido plano; malha por urdume ou trama se for um tecido de malha; ou, se for um nãotecido, o processo de formação da manta e orientação das fibras no véu, o processo de consolidação das fibras, a sua forma de apresentação para comercialização, tipo de adesivo e condição de termocolagem, bem como o campo de aplicação original. 3.2- Experimentação dos procedimentos de transformação têxtil: Estrutural (elaboracão através de estruturas), Construtivo (elaboração através de sobreposições de materiais e/ou apliques), Colorístico (elaboração através de tingimento/estamparia )e Combinado (que emprega mais do que uma das técnicas encontradas nos procedimentos anteriores descritos ou outras). 3.3- Testes e adequação. Nesta etapa, as transformações foram testadas através de lavagens em máquina doméstica onde verificou-se a resistência dos procedimentos aplicados. 3.4- Elaboração e Preenchimento de Fichas de Registo Têxtil memorial descritivo e fotográfico do produto. Além das características técnicas, os apelos estéticos, dirigidos pela percepção, visão e tato mesmo sendo mais subjetivos e culturais, devem ser analisados e registrados, procurando-se como critério, a própria comparação entre as matérias estudadas. Assim, a cor, o desenho, o brilho, relevo e textura são os principais fatores visuais aos quais se juntam os fatores táteis. Estes, traduzidos em sensações de maciez e aspereza, de quente e de frio; de dureza e moleza, de flexibilidade e rigidez, de elasticidade; de volume (espessura), de peso e outros, compõem o atributo toque. 3.5- Aplicação em produtos de moda. Utilização dos tecidos criados em produtos de moda: vestuário, acessórios, etc. 4 Possibilidades de Aplicação dos Procedimentos de Transformação Têxtil na Indústria É prioridade da gestão do design junto com outros setores da empresa, definir estratégias de mercado, de criação e produção de uma nova linha de produtos a cada estação. Estar conectado as novas tendências de negócios e pensar sobre produtos e mercados de modo diferente do que se está acostumado é o primeiro passo para implementar novas estratégias e obter resultados positivos para um negócio. Não há porque ficar preso às tendências padronizadas e buscar o diferente torna-se um desafio ao desenvolvimento de uma coleção. Na confecção, o tecido base pode ser melhor explorado, valorizado antes de ser levado para o setor de corte. Isto é, um estudo de alternativas criativas de sua transformação pode ser uma nova função do design de moda ou do estilista. E muito mais ainda, o tecido ou sobras deste deve deixar de ser desperdiçado. A ousadia do designer deve prevalecer na hora da criação, fazendo valer o investimento em novos valores, como por exemplo, rapidez de resposta ao concorrente e criatividade na implementação de novas estratégias de produtos. Assim, considera-se que fazem parte da evolução das estratégias de negócios de moda de uma confecção :

- Ousadia, criatividade e visão de produtos e mercados por ângulos distintos do modo atual; - Informações de mercado e comportamento do homem contemporâneo; - Escolha e redimensionamento do público-alvo. - Desenvolvimento de produtos direcionados totalmente para atender características particulares do seu público-alvo; - Criação de um banco de talentos na sua empresa para sugerir e desenvolver novas oportunidades de negócios e produtos; - Capacidade de produção industrializada e parceria com grupos de desenvolvimento de trabalho manual (valorização social e diferenciação no produto);. - Perfeito entrosamento da empresa com a preocupação sócio/ambiental, seja na aquisição de matéria-prima não poluente, diminuição de energia e materiais, seja no reaproveitamento de sobras têxteis na criação de novos produtos. Desta forma, quando se está considerando o processo de desenvolvimento de produtos dentro da confecção, a inovação é uma idéia bem vinda. E, com ela, a tecnologia e o design, pois estes fatores asseguram as melhores respostas às necessidades identificadas pelo mercado e a capacidade de diferenciação dos produtos e das empresas. Como forma de divulgar, trocar experiências e incentivar a abertura das empresas às iniciativas mais radicais, apresentase a seguir apenas alguns passos metodológicos do projeto de transformação do substrato têxtil industrial, e não o relato ou conclusões finais, pois ainda encontra-se em fase de implantação em algumas empresas: 1º ) estudo da empresa 2º) conhecimento dos produtos e maquinário específicos 3º) seleção do produto a ser transformado face a disponibilidade e facilidade operacional (maquinário) 4º) estudo da viabilidade de transformação (equipe de criação e produção ) 5º) elaboração de protótipos empregando Procedimentos Construtivo, Colorístico, Desconstrutivo e Combinado. (obs.: dificilmente será aplicado o Procedimento Estrutural na indústria têxtil tendo em vista a necessidade de utilização de maquinários diferenciados da estrutura têxtil original, mas poderá ser trabalhado na indústria de confecção de forma artesanal ou em combinação com maquinários); 6º) verificação de intervenções artesanais posteriores visando valor agregado 7º) avaliação final. 5 Considerações Finais A aplicação dos procedimentos de transformação têxtil, diretamente na produção industrial, envolve uma série de ações que inicia na tomada de decisão estratégica da empresa em apostar no design de diferenciação. O projeto não deve ter como objetivo mudar a linha de desenvolvimento de produto da empresa como um todo, mas de construir, em paralelo, um laboratório de novas experiências que partiriam de princípios como o da otimização do maquinário e matéria prima; da aproximação com as tendências de moda de produto exclusivo desenvolvido em menor escala; da possibilidade de inclusão de materiais alternativos; da participação de intervenções artesanais (optativa); da compatibilidade ambiental, enfim, de transformações no produto base da empresa a partir do redesenho. Referências Bibliográficas ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBBR -13370. Coletânea de Normas Técnicas de Nãotecidos. Rio de Janeiro: ABNT, 2002. ARC DESIGN. Estrutura e Superfície: Tecidos Japoneses Contemporâneos. Arc Design, nº 9, p. 60-66, 1999. BAXTER, Mike. Projeto de Produto: guia prático para desenvolvimento de novos produtos. Tradução Itiro Iida, 1 edição. São Paulo: Edgard Blücher, 1998. BONSIEPE, Gui. A Tecnologia da Tecnologia. São Paulo: Edgard Blucher, 1983 BROSSARD, I. Technologie des Textiles. Paris: Dunad, 1997. COSTA, Maria Izabel. Chita Bacana: Aplicação dos Procedimentos de Transformação Têxtil em Tecido Plano. In: Anais 3 CONGRESSO INTERNACIONAL EM PESQUISA EM DESIGN, 2005, Rio de Janeiro/RJ, 2005., Maria Izabel. Transformação do Nãotecido: uma abordagem do design têxtil em produtos de moda. Dissertação de Mestrado. UFSC/SC, Florianópolis, 2003.. Criatividade no design têxtil: o nãotecido para aplicação em moda. In ModaPalavra-reflexões em moda. Florianópolis: Editora da UDESC & Insular, 2002. KELLER, Jaqueline.C. A gestão do Design na Moda: processos que agregam valor e diferencial ao produto de moda. Dissertação de Mestrado. UFSC/SC, Florianópolis, 2004. RIBEIRO, Luiz Gonzaga. Introdução à Tecnologia Têxtil. Rio de Janeiro: SENAI/ CETIQT, 1984