Desempenho Produtivo de Híbridos de Milho de Endogamia Parcial (S3 x S3 ) em Nove Locais do Estado de Goiás Previous Top Next SALIM NETO 1, A. A. MELO. de, PEDRO 2, H. E, RIBEIRO, JOSÉ 3, J. R de SOUZA e SEBASTIÃO FILHO 3, N. da ROSA. 1CNPMS/CNPAF (Estagiário). Cx. P. 349. CEP: 75900-000. Goiás salimabib@yahoo.com.br 2 CNPMS/CNPAF Cx. P. 179. CEP: 75375-00. Goiás pestevam@cnpaf.embrapa.br 3 CEFET de Morrinhos, BR 153, Km 1413, josejunio.souza@bol.com.br, sebastiaonunesf@ih.com.br. INTRODUÇÃO A região do cerrado, Centro-Oeste do Brasil, tornou-se um local de alta expressividade agrícola sobretudo na produção de milho em razão da altitude de suas chapadas. Entretanto, o milho é cultivado no Estado em altitudes que variam de 400 m a 1300 m. Vários estudos têm comprovado que a altitude interfere no metabolismo das plantas levando a uma maior ou menor produção de grãos. Afora a variável altitude, tem-se ainda variações de fertilidade dos solos, diferenças na épocas de semeadura, adubação e manejos diversos. Todas essas questões interferem nas fases de desenvolvimento e crescimento da cultura e consequentemente na produção de grãos (Nehmi Filho, 2003). Por essas razões os melhoristas têm cada vez mais se preocupado em testar as cultivares em um maior número possível de ambientes mesmo dentro de uma determinada região. Buscando com isso atenuar os efeitos da interação genótipos x ambientes que é um fator importante no sucesso do melhoramento por duas razões principais; primeiro por reduzir o progresso da seleção, e, segundo, por tornar a recomendação de cultivar difícil, pois é estatisticamente impossível interpretar seus principais efeitos. ( Kang, M. S.; Gauch, H. G., 1996; Ramalho,et al., 2001). A produção de milho nos Estados Unidos da América é superior a do Brasil, dentre outros fatores, por causa da estabilidade e previsibilidade climática que é mais comum nos países de clima temperado, o mesmo não acontece nas regiões tropicais, conseqüentemente, freqüentes estudos tem sido realizados no país, para constatar a real magnitude dessa interação na produtividade brasileira. Por outro lado,estudos de outros intervenientes como os relacionados a topografia, precipitações pluviométricas, e clima seco na colheita, têm sido comprovados como fatores positivos para a cultura nessas regiões, contribuindo para reduzir os custos de produção.( Nehmi Filho,p. 413, 2003). No Brasil, são utilizados basicamente dois tipos de cultivares comerciais de milho: variedades e híbridos de linhagem totalmente endogâmicas. Todavia, tem se aventado a utilização de híbridos de endogamia parcial, na segunda ou terceira geração de autofecundação, como forma alternativa para minimizar os problemas ligados a baixa produção de sementes de linhagens com endogamia avançada, o que onera o
custo da semente dos híbridos comerciais de milho, especialmente os híbridos simples. Nesse sentido, tem-se realizado vários trabalhos tentando verificar a viabilidade de produção e desempenho produtivo de híbridos sintetizados a partir de linhagens com endogamia parcial em S 2 ou S 3. (Souza Jr, 2003; Santos, 2002; Carvalho, 2003). Sendo assim, esse trabalho tem por objetivo avaliar o desempenho de híbridos obtidos de linhagem S 3 xs 3 em vários ambientes do Estado de Goiás. MATERIAL E MÉTODOS No ano agrícola 2002/2003 foram avaliados 121 híbridos de linhagens S 2 em seis municípios do Estado de Goiás. Com base no peso de espigas despalhadas e resistência a doenças foliares e ao acamamento, foram selecionados oito híbridos de melhor desempenho produtivo, os quais foram novamente sintetizados a partir de linhagens S 3 oriundas da autofecundação das S 2 dos melhores híbridos. Os 8 F 1 's (S 3 xs 3 ) assim obtidos foram avaliados em nove municípios do Estado de Goiás, no ano agrícola 2003/2004. Como testemunhas foram utilizadas 8 cultivares recomendadas e utilizadas no estado, sendo duas variedades, dois híbridos simples, dois híbridos triplos e dois híbridos duplos. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com três repetições. As parcelas foram constituídas de duas linhas de quatro metros espaçadas de 0,80m com cinco plantas por metro. Em todos os locais utilizou-se semeadoras para sistema de plantio direto para abertura do sulco e distribuição da adubação de plantio, 400kg/ha da fórmula 05-25-15 + 0,4 zinco (Zn). Como os experimentos foram instalados em áreas de produtores, escolas agrotécnicas, universidades e cooperativas, os demais tratos culturais, como controle de plantas daninhas e de insetos, foram realizados conforme cada instituição. A adubação de cobertura foi de 90kg/ha de nitrogênio (N) na forma de uréia, aplicados de uma só vez, quando as plantas apresentavam em torno de seis folhas abertas. As datas de instalação dos experimentos foram concentradas entre os dias 3 e 15 de novembro de 2003. Foram tomados dados de peso de espigas despalhadas considerandose a produção total das duas fileiras de cada parcela. A umidade foi corrigida para 13% e tendo sido verificado que não houve efeito significativo para estande, fez-se a correção para 40 plantas por parcela utilizando-se o procedimento de covariância sugerido por Vencovsky e Barriga (1992). RESULTADOS E DISCUSSÃO Com base nos resultados das análises de variância para cada local verificou-se que não houve problemas de homogeneidade das variâncias. Por conseguinte, fez-se a análise de variância conjunta, cujo resumo encontra-se na Tabela 1. Para discriminação das médias entre cultivares e entre locais foi aplicado o teste de média de Scott & Knott (1974). O parâmetro normalmente utilizado, em trabalhos dessa natureza, para se aferir a precisão experimental é o coeficiente de variação (CV%). Considerando-se as sugestões de faixa de classificação de CV apresentadas por Scapim et al. (1995) para a cultura do milho, a estimativa média de 13,93%, obtida neste trabalho, demonstra boa precisão na condução dos experimentos. Observou-se efeito significativo a 1% de probabilidade pelo teste F para as fontes de variação cultivares e locais, todavia, não observou-se efeito para interação (cultivares x locais) ou essa interação só é percebida num nível de significância acima de 17,75%. Esta situação, embora muito rara de acontecer em virtude do número de locais e da diversificação entre os mesmos, é muito confortável para o melhorista, uma vez que basta recomendar o material mais produtivo. Essa não significância da interação pode ter uma explicação no fato de os híbridos de S 3 terem sido selecionados com base em seis dos nove locais em estudo e também em função das testemunhas que são
materiais muito adaptados à região. É bom salientar que um dos fatores que muito contribui para a performance das cultivares é a pluviosidade que neste ano agrícola foi muito uniforme em todos os locais. Neste aspecto, Ribeiro et al. (2000) avaliando cinco cultivares de cada grupo variedades (VAR), híbridos simples (HS), híbridos triplos (HT) e híbridos duplos (HD), em 36 ambientes verificou que a variável que mais influenciou no índice ambiental foi a ocorrência de número de dias sem chuva. Observa-se na Tabela 2 que o teste de Scott & Knott (1974) classificou as cultivares em cinco grupos, sendo que o grupo dos materiais mais produtivos variou de 11,14 a 10,47 kg/ha. Nota-se que dos quatro híbridos mais produtivos três são formados a partir de S 3 XS 3. A média dos híbridos S 3 xs 3 foi semelhante a média das testemunhas, 9463 e 9094 kg/ha respectivamente. Por outro lado, comparando-se a média dos três híbridos (S 3 xs 3 ) mais produtivos verifica-se que esta foi superior em 7,4%, 16,1%, 21,51% e 26,71% para os HS, HT, HD e VAR respectivamente. Tomando-se a maior média obtida com o híbrido (S 3 x S 3 ) verifica-se que esta foi no mínimo 1000kg/ha superior ao grupo do híbrido comercial mais produtivo. Em recente estudo, Carvalho, et al. (2003) avaliando 135 híbridos S 2 x S 2 em dois estados do Brasil, verificaram que 17 híbridos de endogamia parcial (S 2 x S 2 ) apresentaram desempenho estatisticamente superior ao melhor híbrido simples utilizado como testemunha. Observaram ainda, os autores, que 81% desses híbridos foram superiores as médias das testemunhas. Um questionamento que normalmente se faz quanto a utilização de híbridos de endogamia parcial é quanto a heterogeneidade entre as plantas das famílias endogâmicas, sobretudo em relação a ciclo, o que dificultaria de certa forma a produção dos F1's. Apesar de a preocupação ser válida existem relatos na literatura que mostram ser possível obter certa homogeneidade em famílias S 2 e especialmente em S 3 (Carlone e Russel, 1988). Davis (1992) comenta que já na geração S 2 ocorre fixação de alguns caracteres, inclusive produção de grãos em combinações híbridas. Também, a utilização de híbridos de endogamia parcial sempre é colocada como uma opção à programas de melhoramento em fase inicial ou como forma de reduzir o custo da semente por causa da maior produção de sementes desse tipo de linhagem em relação às linhagens em gerações mais avançadas de endogamia. Segundo Carlone e Russel (1988) as linhagens com endogamia parcial ainda apresentam menor interação com o ambiente sendo mais resistentes às variações ambientais. Com base nos resultados aqui obtidos pode-se concluir que híbridos sintetizados a partir de linhagens com endogamia parcial (S3xS3) apresentam desempenho produtivo equivalente ou superior a híbridos obtidos de linhagens totalmente endogâmicas.
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