Comunicado 210 Técnico

Documentos relacionados
Desempenho de Clones de Cajueiro-comum em Pacajus, CE COMUNICADO TÉCNICO

Método para Estimar a Oferta de Lenha na Substituição de Copa em Cajueiros COMUNICADO TÉCNICO. Afrânio Arley Teles Montenegro José Ismar Girão Parente

Severidade da Mancha- -de-septória em Clones de Cajueiro-Anão COMUNICADO TÉCNICO

O produtor pergunta, a Embrapa responde

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Agroindústria Tropical Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento AGRONEGÓCIO CAJU

Morfologia floral (unissexuais ou hermafroditas) Processos de fecundação e fertilização

Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 128

Comunicado 201 Técnico

Escola: Nome: Turma: N.º: Data: / / FICHA DE TRABALHO 1A. estigma proteção suporte. antera reprodução carpelos. filete ovário estames

Ciências Naturais, 6º Ano. Ciências Naturais, 6º Ano FICHA DE TRABALHO 1A. Escola: Nome: Turma: N.º: Escola: Nome: Turma: N.º: Conteúdo: Flor: Órgãos

Tipos de flores e frutificação de cajueiro anão precoce irrigado 1

COLETA DE GERMOPLASMA DE CAJUEIRO COMUM EM PLANTIOS SEGREGANTES INTRODUÇÃO

Cruzamentos interespecíficos no gênero Psidium

LGN 313 Melhoramento Genético

18/04/2017. relações Melhoramento melhoramento. Exemplos. Por possuírem diferentes estruturas. genéticas, existem diferentes métodos para

Respostas Preliminares de Progênies de Cajueiro-anão à Infestação da Broca-das-pontas e da Traça-da-castanha

MÉTODO DE HIBRIDAÇÃO NA CULTURA DA SOJA

Reprodução das Plantas

Estimativa da viabilidade polínica de diferentes genótipos de aceroleiras cultivadas no Vale do São Francisco

Eng. Agr., Aluno de Mestrado em Fitotecnia, Universidade Federal do Ceará, Cep , Fortaleza-CE, Brasil. yahoo.com.br.

Escola do 2º Ciclo do Ensino Básico - Cód Benedita Ciências Naturais - 6ºANO Ficha informativa Nº

Comunicado Técnico Embrapa Agroindústria Tropical

Sistemas Reprodutivos. Sistemas Reprodutivos. Sistemas Reprodutivos. Reprodução x Melhoramento 27/02/2016. Principais fatores que condicionam a:

Florescimento e Frutificação

Sistemas reprodutivos

Aula 4 Sistemas Reprodutivos das Plantas Cultivadas e suas Relações com o Melhoramento

2. (Ufrgs 2016) No processo evolutivo das Angiospermas, ocorreram vários eventos relacionados à reprodução.

Melhoramento genético do cajueiro.

GLOSSÁRIO FRUTIFICAÇÃO

U6 - REPRODUÇÃO ES JOSÉ AFONSO 09/10 PROFª SANDRA NASCIMENTO

Comunicado 197 Técnico

Sistemas reprodutivos das plantas

Manejo da Irrigação na Produção Integrada do Cajueiro-Anão Precoce

SELEÇÃO DE CLONES DE CAJUEIRO-ANÃO PARA O PLANTIO COMERCIAL NO ESTADO DO CEARÁ 1

EXERCÍCIOS PARA A PROVA 2º TRIMESTRE

Plantio do amendoim forrageiro

Aula 5 Melhoramento de Espécies Alógamas

HÍBRIDOS EM ESPÉCIES AUTÓGAMAS

Hortaliças Leguminosas

PRODUÇÃO DO COQUEIRO ANÃO-VERDE IRRIGADO NA REGIÃO LITORÂNEA DO CEARÁ: CARACTERÍSTICAS DOS FRUTOS

Angion = u r n a Sperma = semente

Melhoramento de espécies autógamas

Melhoramento de Espécies Alógamas. Melhoramento de Espécies Alógamas 06/06/2017 INTRODUÇÃO

Melhoramento de Espécies Alógamas

ANGIOSPERMAS. Professor Fernando Stuchi

A polinização é um fenômeno essencial para a manutenção da biodiversidade e imprescindível para a propagação de muitas espécies.

Comunicado 206 Técnico

Hibridação. Hibridações naturais Hibridações artificiais ou dirigidas

PRODUTIVIDADE DE CLONES COMERCIAIS DE CAJUEIRO ANÃO PRECOCE

HETEROSE EM CAJUEIRO ANÃO PRECOCE HETEROSIS IN PRECOCIOUS DWARF CASHEW

Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 85

ESTADO NUTRICIONAL EM OITO GENÓTIPOS DE CAJUEIRO ANÃO PRECOCE

MELHORAMENTO DE PLANTAS ALÓGAMAS

LGN 313 Melhoramento Genético

Qualidade Pós-colheita de Pedúnculos de Clones de Cajueiro-anão Precoce em Sete Estádios de Desenvolvimento BRS 265 BRS 189 CCP 76 CCP 09

Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 95

UN.2 -PATRIMÓNIO GENÉTICO E ALTERAÇÕES AO MATERIAL GENÉTICO

Aspectos da biologia reprodutiva das culturas de manga (Mangifera indica Anacardiaceae) variedade Tommy Atkins

Produção e qualidade de pedúnculos de clones de cajueiro anão precoce sob cultivo irrigado

SELEÇÃO DE CLONES DE CAJUEIRO-ANÃO PARA O PLANTIO COMERCIAL NO ESTADO DO CEARÁ 1

Sistemas reprodutivos

EFEITO DE INSETICIDAS COMERCIAIS E DE PRODUTOS NATURAIS SOBRE A TRAÇA-DA-CASTANHA, Anacampsis phytomiella Busck, EM CAJUEIRO

Seleção de clones de cajueiro-anão precoce para plantio comercial no Município de Aracati, CE 1

CAJU--I liinformatival

CARACTERIZAÇÃO DO CRESCIMENTO DE PROGÊNIES DE CAJUEIRO

Reprodução nas plantas. Apresentação feita por Prof. Mónica Moreira

Ficha 6 - Pantas vasculares com flor

Melhoramento de Alógamas

Comunicado Técnico 170

INFLUÊNCIA DA IRRIGAÇÃO E DA LOCALIZAÇÃO DA INFLORESCÊNCIA SOBRE A EXPRESSÃO DO SEXO EM CAJUEIRO-ANÃO PRECOCE 1

PRÉ-MELHORAMENTO DE MANDIOCA: HIBRIDAÇÃO INTERESPECÍFICA ENTRE CULTIVARES COMERCIAIS E ESPÉCIES SILVESTRES DE Manihot

304 Técnico. Comunicado. Informações meteorológicas de Passo Fundo, RS: novembro de Aldemir Pasinato 1 Gilberto Rocca da Cunha 2.

Documentos ISSN Agosto, Monitoramento de Doenças na Cultura do Cajueiro

Documentos 138. Recomendação de clones de cajueiro-anão-precoce para a região Meio-Norte do Brasil

Germinação de grãos de pólen de diferentes cultivares de oliveira

MELHORAMENTO DE PLANTAS. 1. Bases genéticas do melhoramento 2. Sistemas reprodutivos em plantas cultivadas

PRODUÇÃO DE SEMENTES Ai de ti, se por tua causa semente morrer semente.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Agroindústria Tropical Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Monitoramento de Doenças na Cultura do Cajueiro

Retrocruzamento. Allard, Cap. 14 Fehr, Cap. 28

MELÃO. Pós-Colheita. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Agroindústria Tropical Ministério da Agricultura e do Abastecimento

Boletim de Pesquisa REPETIBILIDADE E NÚMERO DE AVALIAÇÕES NECESSÁRIAS À SELEÇÃO DE CLONES DE CAJUEIRO ANÃO PRECOCE. Número 23

Ministério da Agricultura

O aumento da produtividade nas lavouras de Girassol (Helianthus annuus L.) através da polinização apícola

Angiospermas. É o grupo de plantas que contêm o maior número de espécies, sendo caracterizado pela presença de fruto envolvendo a semente.

Desempenho Agronômico de Clones de Cajueiro no Litoral do Ceará

Melhoramento de espécies alógamas

Mankets!! Angiospermas

Melhoramento de autógamas por hibridação. João Carlos Bespalhok Filho

GENÉTICA MENDELIANA TRANSMISSÃO DE CARACTERÍSTICAS HEREDITÁRIAS

Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 103

Melhoramento Genético do Milho

COMUNICAÇÃO. POLINIZAÇÃO ARTIFICIAL EM FEIJÃO CAUPI (Vigna unguiculata ( L.) Walp) ARTIFICIAL POLLINATION IN COWPEA (Vigna unguiculata (L.

DEPRESSÃO POR ENDOGAMIA EM PROGÊNIES DE CAJUEIRO ANÃO PRECOCE VAR. NANUM 1

Influência do porta-enxerto no desempenho de clones de cajueiro-anão em cultivo irrigado 1

FOLHA. Conceito: É um órgão laminar. Possui grande superfície. Dotado de clorofila. Função: realizar a fotossíntese.

Avaliação da performance agronômica do híbrido de milho BRS 1001 no RS

Transcrição:

Comunicado 210 Técnico ISSN 1679-6535 Dezembro, 2013 Fortaleza, CE Foto: Dheyne Silva Melo Hibridação Artificial em Cajueiro Dheyne Silva Melo 1 Francisco das Chagas Vidal Neto 2 Maraisa Crestani Hawerroth 3 Luiz Augusto Lopes Serrano 4 Fernando José Hawerroth 5 Levi de Moura Barros 6 O melhoramento genético tem contribuído de forma expressiva para o desenvolvimento da cultura do cajueiro (Anacardium occidentale L.) no Brasil. Os trabalhos desenvolvidos, principalmente a partir da década de 1980, foram responsáveis pelo significativo incremento na produção de frutos e no aproveitamento comercial do caju, em decorrência do desenvolvimento e da seleção de clones superiores, com destaque especial para o clone CCP 76, o mais plantado no País. O cajueiro é uma planta andromonoica, apresentando, numa mesma panícula, flores perfeitas ou completas (hermafroditas) e estaminadas (masculinas), sendo que a quantidade dessas flores e a proporção entre elas variam entre genótipos, plantas e entre panículas de uma mesma planta (BARROS, 1988). Independentemente do sexo, todas as flores do cajueiro são pentâmeras (com cinco sépalas e cinco pétalas) e diplostêmones (o número de estames é o dobro do de pétalas) (OLIVEIRA et al., 2001). As flores estaminadas apresentam cerca de 10 estames (órgão masculino da flor), sendo que um dos estames se apresenta mais desenvolvido que os demais (Figura 1). Já nas flores hermafroditas, além dos estames, há também uma estrutura denominada pistilo, que corresponde ao conjunto 1 Engenheiro-agrônomo, D.Sc. em Melhoramento Genético de Plantas, pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, CE, dheyne.melo@embrapa.br 2 Engenheiro-agrônomo, D.Sc. em Fitotecnia, pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, CE, vidal.neto@embrapa.br 3 Engenheira-agrônoma, D.Sc. em Melhoramento Genético de Plantas, bolsista DCR-CNPq/Funcap da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, CE, maraisacrestani@gmail.com 4 Engenheiro-agrônomo, D.Sc. em Fitotecnia, pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, CE, luiz.serrano@embrapa.br 5 Engenheiro-agrônomo, D.Sc. em Fitotecnia, pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, CE, fernando.hawerroth@embrapa.br 6 Engenheiro-agrônomo, D.Sc. em Melhoramento Genético de Plantas, pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, CE, levi.barros@embrapa.br

2 Hibridação Artificial em Cajueiro de órgãos femininos da planta (estigma, estilete e ovário), o qual geralmente é mais comprido que o estame mais desenvolvido (Figura 1). Desse modo, como as flores hermafroditas apresentam tanto o gameta masculino (grão de pólen, localizado nas anteras) como o gameta feminino (óvulo, localizado no interior do ovário), são essas flores que, quando fecundadas, originarão os frutos. Fotos: Luiz Augusto Lopes Serrano Figura 1. Flores masculinas e hermafroditas do cajueiro. Com relação ao horário de abertura das flores, Barros (1988) relata que as estaminadas iniciam a abertura por volta das 6h, enquanto a abertura das hermafroditas concentra-se entre as 10h e 12h. O período ótimo para que ocorra a polinização coincide com o período de abertura das flores hermafroditas. Devido ao tipo de estrutura da flor hermafrodita do cajueiro, com o estigma localizado no ápice do pistilo, acima das anteras dos estames (Figura 1), sugere-se que naturalmente há um favorecimento da polinização cruzada (entre flores diferentes) em relação à autofecundação, conferindo um comportamento de alogamia. Na literatura, existem alguns trabalhos conflitantes quanto ao aspecto reprodutivo no cajueiro, pois, enquanto alguns autores relatam a ocorrência tanto de fecundações cruzadas como de autofecundações nas quais o óvulo de uma flor hermafrodita de um determinado genótipo pode ser fertilizado por pólen proveniente da mesma flor, de flores da mesma planta ou de flores de plantas diferentes (BARROS, 1988; WUNNACHIT et al., 1992; FOLTAN; LUDDERS, 1995; ALIYU, 2008), outros relatam a ocorrência de algum grau de autoincompatibilidade (WUNNACHIT et al., 1992). Assim como em outras espécies alógamas, a realização de hibridações artificiais entre genitores

3 Hibridação Artificial em Cajueiro elite de cajueiro constitui a forma mais eficiente para a ampliação da variabilidade genética e formação de populações iniciais de seleção. Os cruzamentos artificiais realizados com o controle parental apresentam a grande vantagem de oportunizar a tentativa de associar, em um único genótipo, genes favoráveis herdados dos genitores, já caracterizados em relação aos caracteres de interesse. O processo recombinatório torna possível a reorganização de toda a variabilidade genética característica dos genitores envolvidos no cruzamento, de modo que a seleção possa atuar como instrumento de preservação de formas mais vantajosas e adaptadas aos distintos ambientes de cultivo. Vale salientar que o sucesso dessas hibridações artificiais é diretamente dependente das peculiaridades de condução dos cruzamentos dirigidos. O presente trabalho teve como objetivo descrever o método de hibridação artificial atualmente utilizado pelo Programa de Melhoramento do Cajueiro da Embrapa Agroindústria Tropical. Método tradicional de hibridação artificial em cajueiro O início das atividades ocorre a partir das 6h, com a marcação das flores hermafroditas das plantas que serão utilizadas como genitores femininos. Como as flores ainda se encontram fechadas, pois a antese (abertura das flores) ocorre a partir das 9h, as flores hermafroditas são identificadas na panícula por possuírem a região basal intumescida (mais alargada devido à presença do ovário), diferindo das flores masculinas (mais estreitas). Essa marcação é realizada com a amarração de um fio de cor vibrante, como o vermelho, em torno das flores selecionadas (Figura 2). A B C D Figura 2. Escolha da panícula e marcação das flores hermafroditas do cajueiro: (A) escolha da panícula, (B) detalhe da flor hermafrodita, (C e D) marcação da flor hermafrodita.

4 Hibridação Artificial em Cajueiro Após a marcação das flores hermafroditas ainda fechadas, faz-se uma limpeza na panícula, retirando todas as flores que se encontram abertas. O objetivo desse procedimento é minimizar o risco de ocorrência de cruzamentos não desejados (polinização natural) e diminuir as fontes de dreno dentro da panícula. Logo em seguida, faz-se a proteção da panícula utilizando uma sacola plástica (Figura 3). Essas práticas são realizadas até aproximadamente às 9h, horário em que as flores hermafroditas começam a desabrochar. Antes do início da antese, são coletadas as flores masculinas do genitor que será utilizado como pai. Essas flores são acondicionadas em placas de Petri (Figura 4), de forma a ficarem protegidas contra o vento e expostas à radiação solar. Com isso, é otimizada a liberação dos grãos de pólen acondicionados nas anteras. Um detalhe importante é que o pólen só começa a ser liberado após as anteras apresentarem uma coloração acinzentada (Figura 5). A B C D Figura 3. Limpeza da panícula do cajueiro por meio da retirada das flores já abertas (A) e proteção da panícula (B, C e D). Figura 4. Acondicionamento das flores masculinas do cajueiro em placas de Petri.

5 Hibridação Artificial em Cajueiro Foto: Luiz Augusto Lopes Serrano A B Figura 5. Flores estaminadas (masculinas) do cajueiro, sendo que a da direita apresenta antera acinzentada, característica ideal para a obtenção de grãos de pólen maduros. Após o começo da liberação dos grãos de pólen, iniciam-se os procedimentos para a realização dos cruzamentos artificiais. Primeiramente, realiza-se a retirada da sacola plástica que estava protegendo a panícula e faz-se a emasculação (retirada de todos os estames) das flores hermafroditas, marcadas anteriormente. A emasculação é realizada com o auxílio de uma pinça. Em seguida, é realizada a polinização do estigma com o pólen do genitor selecionado, sendo essa ação caracterizada pelo contato direto dos grãos de pólen da flor masculina com o estigma da flor hermafrodita emasculada (esfregação) (Figura 6). Vale salientar que, em cada panícula, é utilizado apenas um genitor. C Figura 6. Realização do cruzamento (hibridação artificial) entre flores de cajueiro: obtenção do pólen (A) e esfregação (B e C).

6 Hibridação Artificial em Cajueiro Terminada a polinização artificial de todas as flores marcadas, a panícula é novamente coberta por uma sacola plástica, a qual é identificada quanto ao cruzamento (Figura 7), passando-se, então, para a próxima panícula. O isolamento das panículas polinizadas artificialmente (utilizando sacolas plásticas) é realizado no sentido de assegurar a ausência de polinização cruzada natural, sendo que a panícula permanece protegida por aproximadamente 3 A B C D Figura 7. Retorno da sacola plástica para proteção da panícula de cajueiro (A, B e C) e identificação do cruzamento (D). a 4 horas após o cruzamento. Deve-se tomar cuidado nas fases de colocação e retirada da sacola plástica, recomendando-se que ela seja fixada à panícula contendo grande quantidade de ar, a fim de minimizar o contato da sacola com a panícula, evitando a queda das flores marcadas e/ ou polinizadas artificialmente. Os cruzamentos são geralmente realizados no período compreendido entre 9h e 11h, ficando para o período vespertino (a tarde) apenas a retirada das sacolas plásticas, uma vez que temperaturas elevadas não favorecem a efetividade dos cruzamentos. Após a prática dos cruzamentos (hibridações) artificiais, é recomendável que seja realizado o acompanhamento diário das flores polinizadas, avaliando a efetividade da fertilização artificial e, principalmente, monitorando a formação do fruto. Deve-se ter o cuidado de não permitir o estrangulamento das flores cruzadas pela linha de marcação, fato que pode prejudicar o desenvolvimento dos frutos jovens (maturis) e provocar a queda precoce deles. Quando o maturi atingir cerca de 30 dias de idade, ele deverá ser identificado quanto ao respectivo genitor masculino, utilizando-se uma caneta especial (tinta permanente), pois, caso o fruto venha a se desprender da planta-mãe antes da colheita (entre 45 e 55 dias após o cruzamento), a sua identificação estará assegurada (Figura 8).

7 Hibridação Artificial em Cajueiro Na campanha de cruzamentos realizada em 2012, no Campo Experimental de Pacajus (CEP), utilizando o método de hibridação descrito anteriormente, foram utilizados como genitores os clones de cajueiro CCP 1001, PRO 555/1, CCP 76 e BRS 226. De acordo com a Tabela 1, constatou-se uma baixa porcentagem média de frutos colhidos (8,5%); no entanto, o cruzamento entre os clones CCP 1001 e PRO 555/1 atingiu uma média de 19,7%, sugerindo uma maior compatibilidade entre esses genótipos. É válido lembrar que, em condições naturais, o cajueiro também apresenta essa característica de baixo pegamento de frutos em relação ao número de flores hermafroditas e ao número de maturis formados (PINHEIRO et al., 1993; VIEIRA et al., 2005). Figura 8. Identificação individual dos maturis quanto ao cruzamento realizado (genitores). Os resultados apresentados, além de mostrarem o comportamento diferencial em relação à compatibilidade entre genótipos, sugerem que mais estudos devem ser realizados nessa área, a fim de aumentar a efetividade dos cruzamentos. Tabela 1. Efetividade de cruzamentos entre clones de cajueiros. Pacajus, CE, 2012. Cruzamento Quantidade de cruzamentos Sementes colhidas Porcentagem de pegamento (%) CCP 1001 x PRO 555/1 1.612 318 19,7 CCP 1001 x CCP 76 2.535 61 2,4 CCP 1001 x BRS 226 1.518 97 6,4 CCP 76 x BRS 226 2.248 119 5,3 Referências ALIYU, O. M. Compatibility and fruit-set in cashew (Anacardium occidentale L.). Euphytica, v. 160, p. 25-33, 2008. BARROS, L. M. Biologia floral, colheita e rendimento do cajueiro. In: LIMA, V. P. M. S. (Org.). A cultura do cajueiro no Nordeste do Brasil. Fortaleza: BNB/ETENE, 1988. p. 301-319. BARROS, L. M. Botânica, origem e distribuição geográfica. In: ARAÚJO, J. P. P.; SILVA, V. V. (Org.). Cajucultura: modernas técnicas de produção. Fortaleza: EMBRAPA-CNPAT, 1995. p. 55-71. FOLTAN, H.; LUDDERS, P. Flowering, fruit set and genotype compatibility in cashew. Angew Botanic, v. 69, p. 215-220, 1995. OLIVEIRA, J. M. S.; MARIATH, J. E. A.; BUENO, D. M. Desenvolvimento floral e estaminal no clone CCP 76 de Anacardium occidentale L. cajueiro-anão-precoce (Anacardiaceae). Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v. 24, n. 4, p. 377-388, 2001. PINHEIRO, F. F. M.; CRISÓSTOMO, J. R.; PARENTE, J. I. G.; MELO, F. I. O.; ALMEIDA, J. I. L. Desenvolvimento de caracteres da panícula e frutificação de duas populações de cajueiros comum e anão precoce (Anacardium occidentale). Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 1993. 24 p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Boletim de pesquisa, 8). VIEIRA, L. L.; OLIVEIRA, V. H.; SILVA, F. P.; TÁVORA, F. J. A. F.; PITOMBEIRA, J. B. Tipos de flores e frutificação de cajueiroanão-precoce irrigado. Revista Ciência Agronômica, v. 36, n. 3, p. 358-363, 2005. WUNNACHIT, W.; PATTISON, S. J.; GILES L.; MILLINGTON, A. J.; SEDGLEY, M. Pollen tube growth and genotype compatibility in cashew in relation to yield. Journal of Horticultural Science, v. 67, n. 6, p. 67-75, 1992.

Comunicado Técnico, 210 Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Embrapa Agroindústria Tropical Endereço: Rua Dra. Sara Mesquita 2270, Pici, CEP 60511-110 Fortaleza, CE Fone: (0xx85) 3391-7100 Fax: (0xx85) 3391-7109 / 3391-7141 E-mail: cnpat.sac@embrapa.br 1 a edição (2013): on-line Comitê de Publicações Expediente Presidente: Marlon Vagner Valentim Martins Secretário-Executivo: Marcos Antônio Nakayama Membros: José de Arimatéia Duarte de Freitas, Celli Rodrigues Muniz, Renato Manzini Bonfim, Rita de Cassia Costa Cid, Rubens Sonsol Gondim, Fábio Rodrigues de Miranda. Revisão de texto: Marcos Antônio Nakayama Editoração eletrônica: Arilo Nobre de Oliveira Normalização bibliográfica: Rita de Cassia Costa Cid