Morfometria de testículos escrotais, abdominais e inguinais de eqüinos criptórquios unilaterais

Documentos relacionados
Criptorquismo em eqüinos: aspectos clínico-cirúrgicos e determinação da testosterona sérica

CRIPTORQUIDISMO EM EQÜINOS: ANÁLISE DE 61 CASOS

ARTIGO REVISÃO DE LITERATURA CLÍNICA E CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS

Aspectos histológicos e morfométricos dos testículos de gatos domésticos (Felis catus) 1

EFEITOS DOS DIFERENTES NÍVEIS DE PROTEÍNA SOBRE A ESPERMATOGÊNESE DE CODORNA (Coturnix coturnix japonica) 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE PATOS-PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA MONOGRAFIA

CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS DO CAVALO PURO SANGUE LUSITANO NO BRASIL

CRIPTORQUIDISMO EM CAVALOS - REVISÃO

Introdução à Histologia e Técnicas Histológicas. Prof. Cristiane Oliveira

ASPECTOS MORFOMÉTRICOS DA MUCOSA DO CÓLON DESCENDENTE DE EQÜINOS

RESUMOS COM RESULTADOS

Fechamento parcial do anel inguinal externo em eqüinos: avaliação pós-operatória e influência na morfologia testicular

TERMORREGULAÇÃO TESTICULAR EM BOVINOS

CRIPTORQUIDISMO EM EQÜINO - RELATO DE CASO

SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

IDENTIFICAÇÃO MORFOMÉTRICA DE LARVAS INFECTANTES DE CIATOSTOMÍNEOS (NEMATODA: CYATHOSTOMINAE) DE EQUINOS PSI

Sistema reprodutor masculino e feminino: origem, organização geral e histologia

Sistema Reprodutor Masculino. Acadêmica de Veterinária Gabriela de Carvalho Jardim

Após a administração da dose de 2000 mg/kg do MTZ-Ms em ratas, não ocorreu morte

Introdução. Graduanda do Curso de Medicina Veterinária FACISA/UNIVIÇOSA. hotmail.com. 2

Introdução a Histologia. Profa. Dra. Constance Oliver Profa. Dra. Maria Célia Jamur

CRIPTORQUIDISMO EM EQÜINOS

GABARITO OFICIAL. Área de concentração: ANESTESIOLOGIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA VINÍCIUS WAGNER SILVA

ARTIGO ORQUIODOPEXIA INTRODUÇÃO MATERIAIS E MÉTODOS

HISTOLOGIA E MORFOMETRIA DOS TESTÍCULOS DE GATOS DOMÉSTICOS ADULTOS.

INFLUÊNCIA DOS MESES DO ANO SOBRE A MOTILIDADE DO SÊMEN BOVINO FRESCO NO CERRADO MINEIRO

ULTRASSONOGRAFIA TESTICULAR NA AVALIAÇÃO DA IDADE À PUBERDADE DE BOVINOS EM CRESCIMENTO

Parâmetros morfofisiológicos testiculares de camundongos (Mus musculus) suplementados com geleia real

LESÕES ISQUÊMICAS DO TESTÍCULO DE CÃES MEDIANTE GARROTEAMENTO TEMPORÁRIO DO CORDÃO ESPERMÁTICO

ASPECTOS HISTOQUÍMICOS DO PLEXO MIENTÉRICO NA DOENÇA DE CHAGAS EXPERIMENTAL

CARACTERÍSTICAS SEMINAIS E PERÍMETRO ESCROTAL DE TOUROS NELORE E TABAPUÃ CRIADOS NA REGIÃO NORTE DO PARANÁ

Resultados. Grupo SK/aids

GABARITO OFICIAL. Área de concentração: ANESTESIOLOGIA

ESTUDO HISTOQUÍMICO DA MATRIZ EXTRACELULAR DE NEOPLASIAS TESTICULARES DE CÃES. (Canis familiares Linnaeus, 1758)

Anatomia Comparada do Sistema Reprodutor Masculino nos Animais Domésticos (Equinos, Bovinos, Suínos, Ovinos e Caninos)

Estratégia efetiva de fixação do testículo de ratos Wistar para avaliar os parâmetros morfológicos e morfométricos do epitélio seminífero

Avaliação histológica dos testículos de ovinos da raça Santa Inês nascidos em diferentes estações do ano

ESTUDO DOS CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DOS TUMORES MISTOS MAMÁRIOS CANINOS

SEMINOMA E TUMOR DE CÉLULAS INTERSTICIAIS NO MESMO TESTÍCULO DE UM CÃO RELATO DE CASO

TUMOR DAS CÉLULAS DE LEYDIG EM UM EQUINO CRIPTORQUIDA - RELATO DE CASO

J. Health Biol Sci. 2018; 6(1):17-22 doi: / jhbs.v6i p

IMOBILIZAÇÃO DA ARTICULAÇÃO FÊMORO-TIBIAL DE RATOS DA LINHAGEM WISTAR: ESTUDOS EM MICROSCOPIA DE LUZ DA CARTILAGEM ARTICULAR

TRIORQUIDISMO EM COELHO RELATO DE CASO TRIORCHIDISM IN A RABBIT CASE REPORT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA MARIANA DUARTE SCHIABEL

CRIPTORQUIA: E A FERTILIDADE? Lisieux Eyer de Jesus/ HFSE-HUAP, RJ

Demonstração de efeito citopático induzido por alguns vírus em células cultivadas "in vitro" e de corpúsculos de inclusão em tecido infectado

EFEITO DA DOXICICLINA NO COMPARTIMENTO INTERTUBULAR TESTICULAR DE RATOS WISTAR: morfometria e volumetria

Agenesia renal unilateral e criptorquidismo ipsilateral em um felino: relato de caso

5. DISCUSSÃO Ganho de peso corporal

Anatomia das veias testiculares em caprinos da raça Saanen recém-natos

CONGRESSO BRASILEIRO DE FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL 08 a 10 DE NOVEMBRO 2012 RECIFE PE MODALIDADE TEMA LIVRE 1

ESTUDO DE NEOPLASMAS MAMÁRIOS EM CÃES 1

Revista Ceres ISSN: X Universidade Federal de Viçosa Brasil

AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA E HISTOQUÍMICA DE MASTOCITOMA CANINO

LUIZ CARLOS CHIEREGATTO

Embriologia e Histologia Animal I

Aluna: Bianca Doimo Sousa Orientador: Prof. Dr. Jaques Waisberg. Hospital do Servidor Público Estadual

hepatócitos, com provável localização em canalículos biliares (Fig. 06- C). Visualmente, houve um aumento no número de infiltrados

ESTUDO MORFOLÓGICO COMPARATIVO DOS OVÁRIOS DE VACAS E NOVILHAS DA RAÇA NELORE (Bos taurus indicus)

CARACTERIZAÇÃO DE UM MODELO DE PARALISIA CEREBRAL EM RATOS: COGNIÇÃO E ESTRUTURA DO HIPOCAMPO E AMÍGDALA

ROTINA DO LABORATÓRIO DE PATOLOGIA DA FOA / UNESP

PATRICIA MAGNAGO ALTOÉ

ESTUDO DE NEOPLASMAS MAMÁRIOS EM CÃES 1 STUDY OF MAMMARY NEOPLASMS IN DOGS

OBSERVAÇÕES SORRE O QUADRO ESPERM ÁTICO E CARAC TERÍSTICAS TÉRM ICAS DE CARNEIROS NO RM AIS E CRIPTORQUÍDEOS U N ILA T E R A IS

Colheita e Avaliação Seminal

CORRELAÇÃO ENTRE A CITOLOGIA ASPIRATIVA COM AGULHA FINA E HISTOPATOLOGIA: IMPORTÂNCIA PARA O DIAGNÓSTICO DE NEOPLASIAS MAMÁRIAS EM CADELAS 1

Perfil Hematológico de ratos (Rattus novergicus linhagem Wistar) do Biotério da Universidade Luterana do Brasil

BIOLOGIA Módulo 1 12º CTec GRUPO I

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE ARMAZENAMENTO DA AMOSTRA SOBRE OS PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DE CÃES

Universidade Federal do Amazonas ICB Dep. Morfologia Disciplina: Tópicos Especiais em Biotecnologia

PLANO DE CURSO NÚMERO DATA CONTEÚDO PROFESSOR

Medidas lineares de eqüinos da raça Mangalarga criados na região de Itapetinga-Ba

MORFOLOGIA DOS ÓRGÃOS GENITAIS MASCULINOS DO PUNARÉ (THRICHOMYS LAURENTIUS THOMAS, 1904)

ESTUDO DA FREQÜÊNCIA DE PARASITAS E DE OVOS NAS CAVIDADES APENDICULARES DAS APENDICITES AGUDAS *

Determinação da expressão de proteínas no sítio epitélio-mesênquima do Tumor Queratocístico Odontogênico: importância no comportamento tumoral

1 INTRODUÇÃO DAOIZ MENDOZA* CÁCIO RICARDO WIETZYCOSKI**

Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.57, n.2. p , 2005

LÍGIA VIEIRA LAGE DOS SANTOS

Sistema Reprodutor 1

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

LUCIANA QUADRADO MENDES

Bloco X- Testes- Células germinativas

Visando à melhor compreensão sobre os resultados desse trabalho, assim. como foi realizado para demonstrar os materiais e métodos, os resultados das

PERFIL METABÓLICO E ENDÓCRINO DE EQUÍDEOS

ANÁLISE HISTOQUÍMICA DE TUMORES DE PELE EM CÃES NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO 1

Medicina Veterinária

Resumo. Introdução. Materiais e Métodos

uterino com o objetivo de promover a redução volumétrica do leiomioma e GnRH. No entanto, CAMPUSANO et al.(1993), referem maior facilidade na

ATLAS CITOLÓGICO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE CITOLOGIA CLÍNICA E LABORATORIAL DA ACADEMIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGICA DE SÃO JOSÉ DE RIO PRETO SP

RELATO DE CASO: DEGENERAÇÃO TESTICULAR EM CÃO PELO USO DE DORAMECTINA RESUMO

Espermatogênese de catetos (Tayassu tajacu)

A ORGANIZAÇÃO CELULAR DOS TESTÍCULOS DE MAMÍFEROS CELLULAR ORGANIZATION OF MAMMALIAN TESTICLES

Biometria e alterações histopatológicas em testículos de catetos (Tayassu tajacu) criados em cativeiro no semi-árido nordestino

Curso Gestão Períodos Formação Turno Vagas Anuais. Medicina Veterinária Alessandra Sayegh Arreguy Silva 10 períodos Bacharel Manhã ou Tarde 100 vagas

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Transcrição:

Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.57, n.2, p.217-222, 2005 Morfometria de testículos escrotais, abdominais e inguinais de eqüinos criptórquios unilaterais [Morphometry of scrotal, abdominal and inguinal testes of unilateral cryptorchid horses] J.W. Cattelan 1, I.C. Boleli 2, E.B. Malheiros 2, P.A. Barnabé 3 1 Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias UNESP Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n 14884-900 - Jaboticabal, SP 2 FCAV UNESP - Jaboticabal, SP 3 Doutoranda FCAV- UNESP - Jaboticabal, SP RESUMO Foi realizado um estudo morfométrico de testículos escrotais e retidos de 10 eqüinos criptórquios unilaterais, sendo cinco abdominais e cinco inguinais. As características avaliadas foram espessura da albugínea testicular, área dos túbulos seminíferos e número de células de Leydig. A espessura da albugínea testicular mostrou-se reduzida (P 0,05) nas gônadas criptórquias abdominais quando comparadas às escrotais contralaterais. Também foram observadas diferenças (P 0,01) nas áreas dos túbulos seminíferos dos testículos abdominais e inguinais, que se apresentaram diminuídas quando comparadas às dos escrotais contralaterais. A diminuição foi de, aproximadamente, 45% nos testículos abdominais e de 31% nos inguinais. Não foram verificadas diferenças (P>0,05) na contagem de células de Leydig das gônadas criptórquias comparadas às escrotais contralaterais. Nos eqüinos, o criptorquismo afetou com maior intensidade a área dos túbulos seminíferos dos testículos abdominais e inguinais e a espessura da albugínea daqueles retidos no abdome. Palavras-chave: cavalo, criptorquismo, morfometria, testículo ABSTRACT Morphometrical study was performed in scrotal and retained testes of 10 unilateral cryptorchid horses, five abdominal and five inguinal. Thickness of the testicular albuginea, area of seminiferous tubules and number of Leydig cells were evaluated. Abdominal retained testes showed a reduction in the thickness of testicular albuginea in comparison to the contralateral scrotal testes (P 0.05). Significant reduction (P 0.01) in the area of the seminiferous tubules was observed for the retained testes. These reductions were approximately 45% in the abdominal testes and 31% in the inguinal ones. No differences (P>0.05) were observed in the Leydig cell count of the retained testes in comparison to the contralateral scrotal testes, justifying that testosterone production in the cryptorchid horses was similar to the normal stallion. The equine cryptorchidism affected with major intensity the area of seminiferous tubules of abdominal and inguinal testes and the thickness of testicular albuginea of the abdominal testes. Keywords: horse, cryptorchism, morphometry, testis Recebido para publicação em 26 de abril de 2004 E-mail: cattelan@fcav.unesp.br

Cattelan et al. INTRODUÇÃO Testículos criptórquios de eqüinos são menores que os escrotais (Bishop et al., 1964; Arighi et al., 1987; Al-Bagdadi et al., 1991; Aupperle et al., 1999) e, histologicamente, são semelhantes aos testículos com hipoplasia total ou degeneração avançada do epitélio seminífero (Nascimento e Santos, 2003). Mostram vacuolização dos túbulos seminíferos (Arighi et al., 1987; Al-Bagdadi et al., 1991), aumento do conjuntivo intersticial (Al-Bagdadi et al., 1991; Nascimento e Santos, 2003) e, às vezes, discreta hiperplasia das células intersticiais de Leydig (Nascimento e Santos, 2003), mais evidente nas gônadas retidas no abdome (Arighi et al., 1987). As gônadas apresentam redução no diâmetro dos túbulos seminíferos (Coryn et al., 1981; Arighi et al., 1987) e no número de camadas de células espermatogênicas (Arighi et al., 1987), sendo afuncionais sob o ponto de vista espermatogênico (Coryn et al., 1981; Arighi et al., 1987; Aupperle et al., 1999; Cattelan, 2002; Nascimento e Santos, 2003). Apesar da interrupção da espermatogênese observada nos testículos criptórquios de eqüinos (Coryn et al., 1981; Arighi et al., 1987; Aupperle et al., 1999; Cattelan, 2002), suas células de Leydig mantêm aspecto histologicamente normal (Bishop et al., 1964; Coryn et al., 1981; Arighi et al., 1987; Aupperle et al., 1999) e a concentração sérica de testosterona é similar à de garanhões normais (Coryn et al., 1981; Arighi et al., 1986; Cattelan, 2002), inclusive nos criptórquios unilaterais, cujo testículo escrotal foi removido cirurgicamente (Coryn et al., 1981; Arighi et al., 1986). A carência de informações a respeito das alterações morfológicas a que os testículos escrotais e retidos de eqüinos criptórquios estão submetidos enseja investigações sobre o assunto. Assim, os objetivos deste estudo incluíram a mensuração da espessura da albugínea testicular, da área dos túbulos seminíferos e do número de células de Leydig nas gônadas criptórquias e nas escrotais contralaterais. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados 10 eqüinos portadores de criptorquismo unilateral, cinco abdominais e cinco inguinais, de diferentes raças e idades (Tab. 1), que não haviam sofrido orquiectomia da gônada escrotal. Somente foram considerados criptórquios inguinais animais cujo testículo retido encontrava-se no canal inguinal. Tabela 1. Animais usados no estudo morfométrico conforme classificação do criptorquismo, raça e idade Classificação do criptorquismo Raça Idade Abdominal unilateral direito Puro Sangue Inglês 5 anos Abdominal unilateral esquerdo Mangalarga 2 anos e 6 meses Abdominal unilateral esquerdo Quarto de Milha 4 anos Abdominal unilateral esquerdo Quarto de Milha 4 anos e 2 meses Abdominal unilateral esquerdo Sem raça definida 3 anos Inguinal unilateral direito Mangalarga 5 anos Inguinal unilateral direito Puro Sangue Andaluz 4 anos Inguinal unilateral direito Brasileiro de Hipismo 2 anos e 11 meses Inguinal unilateral direito Sem raça definida 5 anos Inguinal unilateral esquerdo Sem raça definida 5 anos Os testículos abdominais foram removidos por laparotomia paramediana paraprepucial, conforme Wright (1960), os inguinais extirpados por criptorquidectomia inguinal e os escrotais por orquiectomia convencional segundo Bishop et al. (1964). Foram colhidos fragmentos de, aproximadamente, 2 1 1cm na face abepididimal dos testículos extirpados, imediatamente após a criptorquidectomia e orquiectomia. As amostras foram imersas em solução de Bouin por 24 horas para fixação e, em 218 Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.57, n.2, p.217-222, 2005

Morfometria de testículos escrotais... seguida, mantidas em álcool 70% até seu processamento histológico de rotina para inclusão em parafina. Cortes histológicos de 6µm de espessura foram corados pela hematoxilinaeosina ou tricrômico de Masson, segundo Behmer et al. (1976). O estudo morfométrico foi realizado em microscópio óptico adaptado a um sistema de análise de imagens 1. Foram avaliados três cortes de cada testículo para mensuração da espessura da albugínea testicular (µm), da área média total de túbulos seminíferos (dada como percentual em relação aos campos microscópicos analisados) e do número de células de Leydig (n /15.134µm 2 ). Em cada corte foram obtidas cinco medidas de espessura da albugínea testicular, oito campos de leitura das áreas dos túbulos seminíferos e 15 campos de contagem de células de Leydig, totalizando, respectivamente, 15, 24 e 45 análises de cada um dos parâmetros pesquisados por testículo examinado. As mensurações foram realizadas em campos selecionados aleatoriamente. As comparações entre as gônadas escrotais com as criptórquias abdominais ou inguinais contralaterais para as médias das variáveis estudadas foram feitas pelo teste t. RESULTADOS E DISCUSSÃO As médias obtidas para espessura da albugínea, área dos túbulos seminíferos e número de células de Leydig, juntamente com o resumo da análise estatística, encontram-se na Tab. 2. Tabela 2. Média, desvio-padrão (DP) e estatística t, com respectiva probabilidade (P), da espessura da albugínea testicular, área dos túbulos seminíferos e número de células de Leydig de testículos escrotais, abdominais e inguinais de cavalos criptórquios unilaterais Variável Testículo Média± DP Comparação t P TE 1759,6±399,6 TE TC 2,67 0,025* Espessura da albugínea (µm) Área dos túbulos seminíferos (%) TC 1438,1±472,6 TEA 1983,8±210,0 TCA 1475,0±217,5 TEI 1535,3±435,4 TCI 1401,1±672,2 TE 12,2±3,9 TC 7,4±3,4 TEA 13,0±4,6 TCA 7,0±3,1 TEI 11,4±3,1 TCI 7,8±3,6 TEA TCA 3,11 0,036* TEI TCI 0,93 0,40NS TE TC 13,82 0,0001** TEA TCA 11,87 0,0001** TEI TCI 7,94 0,0001** TE 10,5±3,0 TC 10,7±3,9 TE TC - 0,16 0,88NS Células de Leydig TEA 11,0±4,2 (n/15,134µm 2 ) TCA 8,4±2,6 TEA TCA 1,58 0,19NS TEI 11,0±1,7 TCI 13,0±3,8 TEI TCI - 1,97 0,12NS NS = não significativo (P>0,05); * = significativo (P 0,05); ** = significativo (P 0,01); TC = testículo criptórquio; TCA = testículo criptórquio abdominal; TCI = testículo criptórquio inguinal; TE = testículo escrotal; TEA = testículo escrotal do criptórquio abdominal; TEI = testículo escrotal do criptórquio inguinal. 1 Videoplan Kontron Elektronik, Germany Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.57, n.2, p.217-222, 2005 219

Cattelan et al. Quanto à espessura da albugínea testicular, verificaram-se diferenças (P 0,05) entre as gônadas escrotais e as criptórquias (TE TC) e entre as escrotais e as abdominais dos criptórquios abdominais (TEA TCA). Como no criptorquismo há diminuição no tamanho do testículo (Bishop et al., 1964; Arighi et al., 1987; Al-Bagdadi et al., 1991; Aupperle et al., 1999), é possível que a redução da espessura da albugínea testicular ocorra simultaneamente à da gônada e contribua para a maior predisposição do testículo retido aos efeitos deletérios da temperatura mais elevada da cavidade abdominal. Este fato pode justificar a maior severidade das alterações degenerativas encontradas nas células espermatogênicas dos túbulos seminíferos de testículos criptórquios por Al-Bagdadi et al. (1991) e Aupperle et al. (1999), as quais foram mais evidentes nos testículos abdominais que nos inguinais. Foram observadas diferenças (P 0,01) entre gônadas quanto às áreas dos túbulos seminíferos que se mostraram reduzidas nas gônadas criptórquias em todas as comparações feitas. A redução foi de aproximadamente 45% nos testículos abdominais e de 31% nos inguinais. Este resultado confirma os já descritos por Coryn et al. (1981) e Arighi et al. (1987), que também verificaram redução no tamanho dos túbulos seminíferos de testículos criptórquios e no número de camadas de células espermatogênicas (Arighi et al., 1987), o que possivelmente explica a redução da área dos túbulos seminíferos observada. Todavia, diferente dos resultados desta pesquisa, Al-Bagdadi et al. (1991) observaram que os túbulos seminíferos dos testículos abdominais eram maiores do que os dos inguinais. Não houve diferença entre gônadas quanto ao número de células de Leydig (P>0,05). Este resultado difere dos apresentados por Arighi et al. (1987) e Nascimento e Santos (2003), que relataram aumento do número dessas células em testículos criptórquios. No exame histológico das gônadas criptórquias verificouse diminuição acentuada do tamanho dos túbulos seminíferos, que se apresentaram aglomerados e circundados por células de Leydig, as quais apareceram concentradas ao redor dos túbulos, causando no observador a impressão de que o número delas estava aumentado (Fig. 1). Contudo, os resultados indicaram que essa observação não foi condizente, pois não houve diferença (P>0,05) no número de células de Leydig (n /15.134µm 2 ), quando se fez a comparação entre os grupos. Esse fato, associado ao aspecto histológico normal das células de Leydig (Bishop et al., 1964; Coryn et al., 1981; Arighi et al., 1987; Aupperle et al., 1999), pode justificar a produção de testosterona nos cavalos criptórquios, similar à de garanhões normais, conforme Coryn et al. (1981), Arighi et al. (1986) e Cattelan (2002). Portanto, nos eqüinos, o criptorquismo afeta com maior intensidade a área dos túbulos seminíferos dos testículos abdominais e inguinais e a espessura da albugínea testicular das gônadas retidas no abdome. AGRADECIMENTO Ao técnico de laboratório Orandi Mateus, pela confecção das lâminas usadas neste estudo. 220 Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.57, n.2, p.217-222, 2005

Morfometria de testículos escrotais... A B Figura 1. Testículo escrotal (A) e criptórquio inguinal (B) de cavalo Puro Sangue Andaluz de quatro anos de idade. Notar células de Leydig (setas) ao redor dos túbulos seminíferos. Hematoxilina-eosina. Objetiva 20X. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.57, n.2, p.217-222, 2005 221

Cattelan et al. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AL-BAGDADI, F.; HOYT, P.; KARNS, P. et al. The morphology of abdominal and inguinal cryptorchid testes in stallions: a light and electron microscopic study. Int. J. Fertil., v.36, p.57-64, 1991. ARIGHI, M.; BOSU, W.T.K.; RAESIDE, J.I. Hormonal diagnosis of equine cryptorchidism and histology of the retained testes. In: ANNUAL CONVENTION OF THE AMERICAN ASSOCIATION OF EQUINE PRACTITIONERS, 31., 1986, Toronto. Proceedings... Toronto: American Association of Equine Practitioners, 1986. p.591-602. ARIGHI, M.; SINGH, A.; BOSU, W.T.K. et al. Histology of the normal and retained equine testis. Acta Anat., v.129, p.127-130, 1987. AUPPERLE, H.; GERLACH, K.; BARTMANN, C.P. et al. Histopathological findings in the cryptorchid testes of stallions. Pferdeheilkunde, v.15, p.515-522, 1999. BEHMER, O.A.; TOLOSA, E.M.C.; FREITAS NETO, A.G. (Eds.). Manual de técnicas para histologia normal e patológica. São Paulo: Edart, 1976. 256p. BISHOP, M.W.H.; DAVID, J.S.E.; MESSERVY, A. Some observations on cryptorchidism in the horse. Vet. Rec., v.76, p.1041-1048, 1964. CATTELAN, J.W. Aspectos de casuística, morfométricos, morfológicos e de testosterona sérica no criptorquismo em cavalos. 2002. 64f. Tese (Livre-Docência em Clínica Cirúrgica de Grandes Animais) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, SP. CORYN, M.; De MOOR, A.; BOUTERS, R. et al. Clinical, morphological and endocrinological aspects of cryptorchidism in the horse. Theriogenology, v.16, p.489-496. 1981. NASCIMENTO, E.F.; SANTOS, R.L. (Eds). Patologia da reprodução dos animais domésticos. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. p.93-104. WRIGHT, J.G. Laparo-orchidectomy in the horse with abdominal cryptorchidism. Vet. Rec., v.72, p.57-60, 1960. 222 Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.57, n.2, p.217-222, 2005