Síndroma ovo -ave na criança. Um caso clínico

Documentos relacionados
Alergia ao dióspiro. Allergy to persimmon CASO CLÍNICO

Aquisição de tolerância às proteínas do peixe: Alteração do padrão de sensibilização identificado por immunoblotting

Asma factor de risco para hipersensibilidade aos anti-inflamatórios não esteróides?

Sensibilização a tropomiosina em doentes alérgicos a ácaros

A prevenção primária da alergia alimentar é possível? Caso clínico

Síndrome de Eczema/Dermatite Atópica em Portugal - Perfil de Sensibilização

Padrões de sensibilização na hipersensibilidade a leguminosas. Estudo numa população da região Centro.

Anafilaxia à semente de girassol

Alergia a carne de aves na criança

Asma e eczema atópico numa criança: Tratamento eficaz com omalizumab

Alergia ao leite de cabra e de ovelha com tolerância ao leite de vaca

Controvérsias em Imunoalergologia. Venenos, alergia sem IgE?

Anafilaxia recorrente numa criança

Microarray -immuno solid -phase allergen chip na avaliação do perfil de sensibilização às proteínas do leite de vaca

Índice. Índice... ii Sumário... iii Abstract... v

Influência da exposição precoce à proteína do leite de vaca no aparecimento da doença alérgica

Padrões clínicos e laboratoriais na hipersensibilidade ao camarão e reactividade cruzada com Dermatophagoides pteronyssinus

Provas. Diagnóstico. em Alergia

Avaliação do desempenho do teste de rastreio de alergia alimentar FP5 (DPC-Amerlab)

ALERGIA x INTOLERÂNCIA. Mariele Morandin Lopes Ana Paula Moschione Castro

Síndrome gato-porco: A propósito de um caso clínico

RINITE ALÉRGICA E CONTROLE DA ASMA GRAVE: UM ESTUDO. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi avaliar o papel da rinite alérgica em

Potencial da Telemedicina Dentária no diagnóstico oral infantil

Hipersensibilidade mediada por IgE ao paracetamol Caso clínico

Alergia alimentar em idade pediátrica

Exposição a animais domésticos, sensibilização e doença alérgica

Cow milk allergy and bronchial asthma

Exposições acidentais na alergia alimentar

Embora tenhamos coisas em comum, não somos iguais

Sensibilização aos pólenes em crianças com idade inferior a 8 anos

FORMAÇÃO AVANÇADA EM ALERGOLOGIA PEDIÁTRICA PROGRAMA. Módulo 1 Conceitos Gerais de Imunologia e Doença Alérgica

Índice anual / Annual index

MATRIZ DE COMPETÊNCIAS ALERGIA E IMUNOLOGIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

LINA MONETTA ANÁLISE EVOLUTIVA DO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO EM ÚLCERAS DIABÉTICAS, DE PRESSÃO E VENOSAS COM USO DE PAPAÍNA

FORMAÇÃO AVANÇADA EM ALERGOLOGIA PEDIÁTRICA PROGRAMA. Módulo 1 Conceitos Gerais de Imunologia e Doença Alérgica

A epidemia de alergias Fabio Carmona

Diagnosis and treatment of asthma in childhood: a PRACTALL consensus report. Allergy Global Initiative for Asthma

Papel da IgE sérica específica no diagnóstico da alergia a epitélio e proteínas de animais

Estudo comparativo de métodos de rastreio de atopia em doentes com rinite (ImmunoCAP Rapid versus Phadiatop e testes cutâneos em picada)

Estágio no Serviço de Alergologia e Imunologia Pediátrica do Hospital Mount Sinai Manhattan, NY, USA

Anafilaxia à maçã. Anaphylaxis to apple CASO CLÍNICO. Natacha Santos, Ângela Gaspar, Graça Pires, Mário Morais -Almeida RESUMO

Perfil de Sensibilização num hospital do litoral norte de Portugal

Um caso peculiar de anafilaxia a maçã e feijão verde

PEDIATRIA 1 AULAS TEÓRICAS. DOENÇAS ALÉRGICAS EM PEDIATRIA José António Pinheiro

Lucas de Assis Soares, Luisa Nunes Ramaldes, Taciana Toledo de Almeida Albuquerque, Neyval Costa Reis Junior. São Paulo, 2013

ASMA EM IDADE PEDIÁTRICA

Hipersensibilidade aos AINES na Criança: Aspectos Clínicos e Diagnóstico

Síndrome ave-ovo. Haverá novos alérgenos envolvidos?

Dificuldades práticas na realização de imunoterapia para alimento

Achados epidemiológicos de alergia alimentar em crianças brasileiras: análise de 234 testes de provocação duplo-cego placebo-controlado (TPDCPCs)

Imunologia Clínica e Esofagite Eosinofílica

Saúde e Desenvolvimento Humano

Alergia alimentar em crianças numa consulta de imunoalergologia

Vendors Enquiries for RFP 003/2015

Alergia alimentar a rosáceas e frutos secos. A propósito de um caso clínico

Prova de Seleção Mestrado LINGUA INGLESA 15/02/2016

Brazilian Journal of Development

COLÉGIO SHALOM Ensino Fundamental 7º Ano Profª: Ludmilla Vilas Boas Disciplina: Inglês. Estudante:. No. "Foco, Força e Fé

Conforme referido nas Notícias do n.º 3 da

Factores de risco para asma activa em idade escolar: estudo prospectivo com oito anos de duração

Introdução: O transplante renal é a melhor forma de substituição da função. renal em termos de esperança de vida e qualidade de vida.

Índice anual / Annual index

Exposição a Fluoretos com Origem na Pasta Dentífrica em Crianças em Idade Pré-escolar. Índice

FORMAÇÃO AVANÇADA EM ALERGOLOGIA PEDIÁTRICA PROGRAMA

Alergia alimentar e a ácaros em crianças com dermatite atópica

Alergia a perceves no contexto da síndrome ácaros-crustáceos- -moluscos-baratas

Alergia ao látex em profi ssionais de saúde hospitalares

Glomerulonefrite Membranosa Idiopática: um estudo de caso

UNIVERSIDADE PAULISTA CENTRO DE CONSULTORIA EDUCACIONAL DELANE CRISTINA DA SILVA AVALIAÇÃO CITOLÓGICA DO PAPILOMAVÍRUS HUMANO-HPV

Não existe uma única resposta!!

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

As doenças alérgicas são um importante problema. Curso sobre alergia alimentar da EAACI. Training course in food allergy of EAACI

[Título do documento]

Índice anual / Annual index

ASSUNTO: PALAVRAS-CHAVE: PARA: CONTACTOS: NÚMERO: 004/2012 DATA: 15/11/2012

Imunoterapia específica: estudo de melhoria clínica

RESUMO ANÁLISE DO TROPISMO DE LEISHMANIA BRAZILIENSIS

Anafilaxia. Pérsio Roxo Júnior. Divisão de Imunologia e Alergia Departamento de Puericultura e Pediatria

Sílvia Silvestre 08/11/2017. Asma : abordagem e como garantir a qualidade de vida a estes pacientes

Frequência da anafi laxia induzida pelo exercício numa consulta de Imunoalergologia

Inovação na indução de tolerância oral específica em crianças com anafilaxia às proteínas do leite de vaca

What is TIA? Monitoring Production and Adoption of OFSP: Lessons from TIA. by MINAG/Direcção de Economia. Trabalho de Inquérito Agrícola

Utilidade do teste de provocação oral aberto no diagnóstico de alergia alimentar

Mediadores pré-formados. Mediadores pré-formados. Condição alérgica. Número estimado de afetados (milhões) Rinite alérgica Sinusite crônica 32.

Sensibilização a ácaros domésticos e de armazenamento: o aumento da prevalência a Lepidoglyphus destructor

NORMAS DE FUNCIONAMENTO DOS CURSOS DE LÍNGUAS (TURMAS REGULARES E INTENSIVAS) 2015/2016

Provas de provocação oral a fármacos em Pediatria - casuística 2015

oral allergy syndrome : OAS IgE 17kDa OAS oral allergy syndrome : OAS Amolt IgE OAS Uehara OAS OAS OAS Bet v2 14kDa OAS OAS

Comportamentalismo-ou-Behaviorismo-

Aspectos Multidisciplinares das Artes Marciais: 1 (Portuguese Edition)

Alergia à proteína do leite de vaca (APLV)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA DOUTORADO EM PRÓTESE DENTÁRIA

Vacinas contra influenza em alérgicos ao ovo

Como redigir artigos científicos QUINTA AULA 03/10/11. Primeiro passo. Revisão da literatura. Terceiro passo. Segundo passo

Alergia. Risco de desenvolvimento de alergia em pacientes com parentes com antecedentes alérgicos. Nenhum membro da família com alergia 5 a 15 %

APLV - O que é a Alergia à Proteína do Leite de Vaca: características, sinais e sintomas. Dra. Juliana Praça Valente Gastropediatra

Estágio no Serviço de Alergologia do Hospital Universitário La Paz, em Madrid

INFLUÊNCIA DOS CANCROS GINECOLÓGICOS E DE MAMA NO AJUSTAMENTO CONJUGAL

Transcrição:

CASO CLÍNICO / CASE REPORT Síndroma ovo -ave na criança. Um caso clínico Egg-bird syndrome in childhood. A case report Data de recepção / Received in: 15/12/2008 Data de aceitação / Accepted for publication in: 02/04/2009 Rev Port Imunoalergologia 2009; 17 (3): 283-292 Isabel Costa Silva 1, Ana Margarida Romeira 1, Borja Bartolomé 2, Paula Leiria Pinto 1 1 Serviço de Imunoalergologia / Immunoallergology Department,, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE 2 Bial -Aristegui, R&D Department, Bilbao, Espanha RESUMO A síndroma ovo -ave é uma entidade clínica rara, em especial em idade pediátrica. Descreve -se o caso de criança de sexo masculino, 5 anos, que habita zona rural, com clínica sugestiva de alergia ao ovo e à carne de frango desde os 7 meses. Aos 2,5 anos apresenta queixas de asma brônquica, rinite alérgica e eczema atópico. Os testes cutâneos foram positivos para extractos de clara e gema de ovo. Dosearam -se IgE específi cas para clara e gema de ovo (>100 ku/l), carne de frango (1,0 ku/l), α -livetina (0,7 ku/l), penas de frango (15,3 ku/l). O estudo de immunoblotting evidenciou ligação de IgE a bandas com peso molecular entre 30-66 kda e 32-45 kda para clara e gema, respectivamente, 38/39/42 kda para carne de frango e 33-45 kda para penas de frango. Em doentes com alergia a carne de aves, expostos a factores ambientais de risco e sensibilização elevada a gema de ovo, dever -se-á suspeitar da síndroma ovo -ave. Palavras -chave: Alergia, ovo, carne de frango, penas de aves, síndroma ovo -ave. 283

Isabel Costa Silva, Ana Margarida Romeira, Borja Bartolomé, Paula Leiria Pinto ABSTRACT Egg-bird syndrome is a rare clinical entity, especially in the paediatric age groups. We describe the case of a 5-year-old boy from a rural environment who presented symptoms suggestive of egg and chicken meat allergy since the 7 th month of life. He had a history of asthma, allergic rhinitis and atopic dermatitis since the age of 2.5 years. Skin prick tests were positive for egg white and yolk. Serum specifi c IgE assays for egg white and yolk (> 100 ku/l), chicken meat (1.0 ku/l), α-livetin (0.7 ku/l) and chicken feathers (15.3 ku/l) were determined. The immunoblotting assay revealed IgE-binding bands of 30-66 kda for egg white, 32-45 kda for egg yolk, 38/39/42 kda for chicken meat and 33-45 kda for chicken feathers. In patients with avian meat allergy exposed to environmental risk factors and with a high sensitisation to egg yolk, egg-bird syndrome should be suspected. Key-words: Allergy, egg, chicken meat, bird feathers, egg-bird syndrome. INTRODUÇÃO A sensibilização a proteínas do ovo é uma causa frequente de alergia alimentar em idade pediátrica 1. Embora a gema contenha diversas proteínas, a clara é a porção do ovo mais frequentemente responsável pelo desencadeamento de sintomas alérgicos, sendo reconhecida como fonte de alergénios major 2. Foram identificadas e sequenciadas ovomucóide (Gal d 1), ovalbumina (Gal d 2), ovotransferrina/conalbumina (Gal d 3) e lisozima (Gal d 4) 3. Estão descritos casos, sobretudo em adultos (predomínio no sexo feminino), que documentam uma relação entre reacções de hipersensibilidade tipo I a antigénios de aves com sintomas respiratórios (asma e/ou rinite) e alergia alimentar ao ovo (particularmente à gema) 4,5. Esta associação, designada síndroma ave -ovo (bird-egg syndrome) 6, resulta da sensibilização primária por via inalatória aos antigénios presentes nas penas, excrementos, soro e carne de aves. Posteriormente, por um mecanismo de reactividade cruzada envolvendo a albumina sérica da galinha (α-livetina ou Gal d 5) 7 presente nas aves, o doente desenvolve um quadro de hipersensibilidade alimentar ao ovo INTRODUCTION Sensitisation to egg protein is a frequent cause of food allergy in the paediatric age groups. While the egg yolk contains a series of proteins, the white is more frequently responsible for triggering allergic symptoms and it is recognised as a source of major allergens 2. Ovomucoid (Gal d 1), ovalbumin (Gal d 2), ovotransferrin/conalbumin (Gal d 3) and lysozyme (Gal d 4) have been identifi ed and sequenced 3. There are references to cases predominantly in adults (mainly in women) which document a relation between type I hypersensitivity reactions to bird antigens with respiratory symptoms (asthma and/or rhinitis) and allergy to egg, particularly to yolk 4,5. Subsequently, the association known as bird -egg syndrome 6 stems from primary respiratory sensitisation to the antigens found in avian feathers, excrement, serum and meat. Then by cross -reactivity involving the chicken serum albumin (α-livetin or Gal d 5) 7 present in birds, the patient develops food hypersensitivity to egg (oral allergy syndrome, gastrointestinal or respiratory symptoms) 2. 284

SÍNDROMA OVO -AVE NA CRIANÇA. UM CASO CLÍNICO / CASO CLÍNICO (síndroma de alergia oral, sintomas gastrintestinais ou respiratórios) 2. Por vezes, em especial na criança, a sensibilização ao ovo precede a sensibilização inalatória a proteínas de aves, designando -se neste caso síndroma ovo -ave 2. A alergia a carne de aves é raramente descrita, surgindo habitualmente em contexto de exposição ocupacional ou de síndroma ave -ovo 2,8. Sometimes, especially in children, sensitisation to egg precedes respiratory sensitisation to bird proteins, known as the egg-bird syndrome 2. Allergy to bird meat is rarely described and it usually occurs due to occupational exposure or egg-bird syndrome 2,8. CASO CLÍNICO Criança do sexo masculino, 5 anos, natural e residente em Famalicão (contacto diário desde o 1.º ano de idade com galinhas e canários, no quintal), referenciado à consulta de Imunoalergologia aos 2 anos por quadro de anafilaxia com ingestão de ovo e urticária com ingestão de carne de aves. Fez aleitamento materno exclusivo até aos 4 meses, altura em que iniciou diversificação alimentar. Ingeria, desde os 6 meses, alimentos contendo pequenas quantidades de ovo (bolachas e bolos), sem qualquer reacção. Aos 7 meses, imediatamente após a 1.ª ingestão de carne de frango, desenvolveu um quadro de urticária facial com resolução espontânea (em 30 minutos). Aos 9 meses, após ingestão de massa de bolo crua contendo ovo (gema e clara), desencadeou -se anafilaxia (grau II, segundo classificação de Mueller) 9, com início súbito de urticária da face e tronco, angioedema labial e vómitos, de resolução rápida com cetirizina (tratamento efectuado no centro de saúde). Estes sintomas foram reprodutíveis em três contactos posteriores com ovo cru ou cozido, razão porque deixou de ingerir este alimento. Aos 18 meses reintroduziu carne de aves (frango, peru e pato) com sintomas reprodutíveis e imediatos de urticária da face. Iniciou, também, evicção de carne de aves. Aos 2 anos, após primeira ingestão de sopa de ervilha, desencadeou -se anafi laxia grau II, com urticária facial, angioedema labial e vómitos de instalação imediata, que resolveu rapidamente com cetirizina (tratamento efectuado no centro de saúde). Teve mais dois episódios reprodutíveis com este alimento, pelo que deixou de o ingerir. CASE REPORT A 5-year-old boy, born and living in Famalicão, with contact with chickens and canaries in the backyard since the fi rst year of life, was referred to our Immunoallergology Clinic at the age of 2 for anaphylaxis following intake of egg and urticaria following ingestion of avian meat. The child was breast fed up to the age of 4 months and then a variety of foods were introduced. Since the age of 6 months, foods containing small traces of egg (biscuits and cakes) were ingested without any reaction. At 7 months, immediately after his fi rst intake of chicken meat, he developed facial urticaria with spontaneous resolution in 30 minutes. At 9 months, ingestion of uncooked cake mix containing raw egg (yolk and white) triggered grade II anaphylaxis, as classifi ed by Mueller 9, with sudden onset of urticaria of the face and trunk, labial angiooedema and vomiting, that was rapidly resolved by cetirizine administered at the local health centre. These symptoms were reproducible in 3 posterior episodes with raw or cooked egg and so egg was eliminated from the diet. Avian meat (chicken, turkey and duck) was reintroduced at 18 months, with immediate facial urticaria. Avian meat was then also eliminated. The fi rst intake of pea soup, at the age of 2 years, triggered grade II anaphylaxis with immediate facial urticaria, labial angiooedema and vomiting, which were rapidly resolved with cetirizine administered at the local health centre. The patient had two more reproducible episodes with this food. which was then avoided. 285

Isabel Costa Silva, Ana Margarida Romeira, Borja Bartolomé, Paula Leiria Pinto Ingeria regularmente feijão, grão e amendoim, sem sintomas. Efectuou VASPR aos 2 anos de idade, sem reacção adversa. Nesta altura foi referenciado à nossa consulta, onde efectuou testes cutâneos por prick com extractos comerciais estandardizados (Stallergènes, França) positivos (diâmetro médio de pápula 3mm) para ovo (clara e gema) e ervilha e negativos para carne de frango, mistura de penas (galinha, ganso e pato) e amendoim. Efectuou, ainda, testes cutâneos com alimentos em natureza, negativos para feijão (cru e cozido) e positivos para grão e ervilha (crus e cozidos) (Quadro 1). As análises efectuadas revelaram sensibilização para clara e gema de ovo, carne de galinha, penas de ganso e galinha, ácaros, pólenes e pêlo de cão (Quadro 1). Posteriormente (2,5 anos), surgiu quadro cutâneo de carácter crónico -recidivante, sugestivo de eczema atópico. As lesões eritematosas, pruriginosas, com zonas descamativas e lesões de escoriação, localizavam -se na face, região cervical, retroauricular e sangradouro. Nesta altura, os pais reintroduziram a carne de frango na alimentação da criança, com referência a exacerbação do quadro cutâneo em duas ocasiões distintas. Por este motivo, deixou novamente de ingerir frango, mantendo a evicção a outras carnes de aves que já fazia. Na mesma altura, iniciou episódios de dispneia, tosse e pieira, associados a infecções respiratórias. Progressivamente, estas queixas começaram a ocorrer fora de contexto infeccioso, com periodicidade de 3-4 episódios/ano, acompanhadas de tosse desencadeada por esforço físico e, esporadicamente, tosse nocturna nos períodos intercrise. Há também referência a queixas respiratórias desencadeadas por exposição inalatória a proteínas de aves. Refere, desde os 3 anos, rinorreia seromucosa abundante e persistente, sem factor de agravamento identifi cado e sem outras queixas nasais ou oculares. Aos 4 anos foi reintroduzida a carne de frango na dieta da criança (após ingestão acidental que não provocou sintomas). Desde esta altura ingere carne de frango sem sintomas (sem relação entre a ingestão deste alimento e The patient regularly ate beans, chickpeas and peanuts without any symptoms. MMR vaccination at the age of 2 years was well tolerated. When the patient was referred to our Clinic, skin prick tests to standardised commercial extracts (Stallergènes, France) were performed. These were positive (mean wheal diameter 3mm) to egg white, yolk and pea and negative to chicken meat, feather mix (chicken, goose and duck) and peanut. He underwent further skin tests to the natural forms of foods, which were negative to bean (raw and cooked) and positive to chickpea and pea (raw and cooked) (Table 1). The laboratory work-up showed sensitisation to egg white and yolk, chicken meat, goose and chicken feathers, house dust mites, pollen and dog hair (Table 1). At the age of 2 and half years, the patient developed chronic-recurrent skin lesions suggestive of atopic eczema. The pruriginous, erythematous lesions with scaly patches and abrasive lesions were located on the face, neck and retroauricular region. At this time chicken meat was re- -introduced into the diet and the skin symptoms worsened on two separate occasions. Therefore, chicken meat was again eliminated from the diet as well as other avian meats. At the same time, the patient developed episodes of dyspnoea, cough and wheeze associated with respiratory infections. These episodes became progressively more associated with non -infectious situations, occurring at a rate of 3-4 bouts per year, accompanied by cough triggered by physical effort and, occasionally, nocturnal cough. The patient complained of respiratory symptoms triggered by inhalant exposure to avian protein. The patient also had a history of abundant and persistent rhinorrhea since the age of 3 without any apparent cause, and without any other nasal or ocular symptoms. Chicken meat was reintroduced at the age of 4 after an accidental intake, without any symptoms. Since then, he has ingested chicken meat without any symptoms and without any relation between ingestion and worsening of 286

SÍNDROMA OVO -AVE NA CRIANÇA. UM CASO CLÍNICO / CASO CLÍNICO Quadro 1. Testes cutâneos e doseamentos de IgE total e específi ca séricas (ImmunoCap carne e penas; Immulite restantes doseamentos; (*) método Enzyme AllergoSorbent Test EAST) Table 1. Skin tests and total and specifi c serum IgE assay (ImmunoCap meat and feathers; Immulite remaining measurements; (*) Enzyme AllergoSorbent Test EAST) method Testes cutâneos / Skin tests (diâmetro médio pápula / mean wheal diameter) (histamina / histamine 5 mm) IgE específica / Specific IgE (ku/l) 2 anos / 2 years 2 anos / 2 years 5 anos / 5 years* IgE Total 547 Dermatophagoides pteronyssinus Dermatophagoides farinae Lolium perenne (pólen / pollen) Phleum pratense (pólen / pollen) Olea europaea (pólen / pollen) Pêlo de cão / Dog dander Caspa de gato / Cat dander 7.83 6.94 >100 31.20 1.37 0.91 0.13 Gema de ovo / Egg yolk Clara de ovo / Egg white Ovalbumina / Ovalbumin Ovomucóide / Ovomucoid Lisozima / Lysozyme α -livetina / α-livetin 10 mm 12 mm 65.7 >100 100 >100 99.8 99.2 2.9 0.7 Carne de frango / Chicken meat Carne de galinha / Hen meat Carne de pato / Duck meat Carne de peru / Turkey meat Penas de galinha / Chicken feathers Penas de periquito / Budgerigar feathers Penas de ganso / Goose feathers Penas de pombo / Pigeon feathers Penas de frango / Chicken feathers Penas de pato / Goose feathers 1.05 1.7 0.12 1.12 <0.1 1.0 0.5 0.5 0.5 15.3 9.3 Ervilha / Pea Extracto comercial / Commercial extract Alimento em natureza / Natural food Grão -de -bico / Chickpea Alimento em natureza / Natural food Amendoim / Peanut Extracto comercial / Commercial extract Alimento em natureza / Natural food 9.5 mm 16 mm 8 mm 2.24 2.3 2.8 2.3 não efectuado / not performed as exacerbações cutâneas ou respiratórias). Faz evicção de carne de peru e pato por opção materna. Aos 5 anos (Julho/2008), refere episódio de crise esternutatória após contacto cutâneo acidental com clara cutaneous or respiratory symptoms. The patient s mother decided to eliminate turkey and duck meat. At the age of 5 (July 2008), the patient experienced intense sneezing following accidental cutaneous contact 287

Isabel Costa Silva, Ana Margarida Romeira, Borja Bartolomé, Paula Leiria Pinto a) SDS-PAGE Immunoblotting b) SDS-PAGE Immunoblotting Inibição (Extracto de penas de frango) c) SDS-PAGE Immunoblotting 1: Extracto de carne de frango; 2: Extracto de clara de ovo de galinha crua; 3: Extracto de gema de ovo de galinha crua; 4 Extracto de penas de frangos; P: Soro do doente; C: Soro controlo (mistura de soros de indivíduos não atópicos); M: Padrão de massas moleculares. C: Soro controlo (mistura de soros de indivíduos não atópicos); 1: Soro do doente; 2: Soro do doente pré -incubado com penas de frango (controlo positivo de inibição); 3: Soro do doente pré -incubado com extracto de carne de frango; 4: Soro do doente pré -incubado com extracto de gema de ovo de galinha; 5: Soro do doente pré -incubado com extracto de clara de ovo de galinha; 6: Soro do doente pré -incubado com extracto de carne de ovelha (cru); M: Padrão de massas moleculares. E: Extracto de ervilha; P: Soro do doente; C: Soro controlo (mistura de soros de indivíduos não atópicos); M: Padrão de massas moleculares. Figura 1. Estudo de immunoblotting de IgE com soro do doente. a) estudo de massa molecular de proteínas fi xadoras de IgE específi ca (carne de frango, gema e clara de ovo de galinha e extracto de penas de frango); b) estudo de reactividade cruzada: fase sólida extracto de penas de frango; fase inibitória carne de frango, clara e gema de ovo de galinha); c) estudo de massa molecular de proteínas fi xadoras de IgE específi ca para extracto de ervilha de ovo (no infantário), que resolveu em 20 minutos com cetirizina. Atendendo à persistência de sintomas e aos elevados valores de IgE específi ca, não se realizou prova de provocação oral com ovo, mantendo a evicção. Encontra -se actualmente medicado com salmeterol/ fl uticasona inalados, cetirizina oral e emolientes (terapêutica diária). Tem prescrito salbutamol inalador e betametasona PO (crise de asma) e furoato de mometasona creme (lesões de eczema) em SOS e kit de autoadministração de adrenalina (se reacção anafi láctica). Cumpre evicção de ovo e ervilha (manteve ingestão de grão e feijão, sem rewith egg white at preschool, which was resolved in 20 minutes with cetirizine. He did not undergo an oral challenge test with egg because of the persistent symptoms and the high specifi c IgE values, but maintained avoidance. The patient is currently medicated with daily inhaled salmeterol/fl uticasone, oral cetirizine and emollients and also inhaled salbutamol and oral betamethasone as rescue medication for asthma attacks, mometasone furoate cream for eczema lesions and an adrenaline auto-injector in case of anaphylaxis. He avoids egg and peas, but tole- 288

SÍNDROMA OVO -AVE NA CRIANÇA. UM CASO CLÍNICO / CASO CLÍNICO a) SDS-PAGE Immunoblotting b) SDS-PAGE Immunoblotting inhibition (Chicken feathers extract) c) SDS-PAGE Immunoblotting 1: Hen meat extract; 2: Egg white extract; 3: Egg yolk extract; 4: Chicken feathers extract; P: Patient s serum; C: Control serum (non-atopic donors); M: Molecular weight. C: Control serum (non-atopic donors); 1: Patient s serum; 2: Patient s serum preincubated with chicken feathers extract (positive control); 3: Patient s serum preincubated with hen meat extract; 4: Patient s serum preincubated with egg yolk extract; 5: Patient s serum preincubated with egg white extract; 6: Patient s serum preincubated with sheep meat extract (negative control); M: Molecular weight. E: Pea extract; P: Patient s serum; C: Control serum (non-atopic donors); M: Molecular weight. Figure 1. Immunoblotting assay with IgE from patient s serum. a) study of the molecular mass of specifi c IgE binding proteins (chicken meat, egg yolk and white from chicken egg and extract of chicken feathers); b) cross reactivity study: solid phase extract of chicken feathers; inhibition phase chicken meat, egg yolk and white from chicken egg); c) study of the molecular mass of specifi c IgE binding proteins to pea extract acções adversas) e medidas de controlo ambiental para aeroalergénios (ácaros e pólenes). Efectuou -se ainda estudo de immunoblotting, que evidenciou a ligação de IgE do doente a proteínas com peso molecular de 38, 39 e 42 kda no extracto de carne de frango; 30 a 66 kda no extracto de clara de ovo; 32 a 45kDa no extracto de gema de ovo; 33 a 45 kda no extracto de penas de frango (Figura 1a) e de 17, 19, 30, 32, 37, 50 e 70 kda no extracto de ervilha (Figura 1c). No estudo de reactividade cruzada, utilizou -se extracto de penas de frango na fase sólida do ensaio e na fase inibitória utilizou -se soro do doente pré -incubado com extractos de penas de frango (controlo positivo), carne de frango, gema de ovo e clara de ovo. O extracto de clara de ovo inibiu rates chick peas and bean ingestion and practices aeroallergen environmental control measures (house dust mites and pollens). Immunoblotting assays showed IgE -binding to proteins with molecular weights of 38, 39 and 42 kda in chicken meat extract, of 30 66 kda in egg white extract, of 32 45 kda in egg yolk extract, of 33 45 kda in chicken feathers extract (Figure 1a) and of 17, 19, 30, 32, 37, 50 and 70 kda in pea extract (Figure 1c). An extract of chicken feathers was used as the solid phase of the cross reactivity study and serum from the patient pre -incubated with extracts of chicken feathers, chicken meat, egg yolk and egg white (as a positive control) was used in the inhibition stage. The extract of egg white 289

Isabel Costa Silva, Ana Margarida Romeira, Borja Bartolomé, Paula Leiria Pinto totalmente a fixação de IgE específica do doente ao extracto de penas de frango. Os extractos de gema de ovo e carne de frango só conseguiram uma inibição parcial (Figura 1b). completely inhibited the binding of the patient s specifi c IgE in the extract of chicken feathers. The extracts of egg yolk and chicken meat only attained a partial inhibition (Figure 1b). DISCUSSÃO O doente que apresentamos exibia anafilaxia ao ovo, com desenvolvimento imediato das manifestações alérgicas, predominando os sintomas mucocutâneos e gastrintestinais, demonstrando -se sensibilização para alergénios do ovo (gema e clara). Embora a criança só exibisse sintomas com a ingestão de ovo aos 9 meses, já ingeria este alimento em pequenas quantidades desde os 6 meses, estabelecendo -se, assim, a sensibilização. A sensibilização ao ovo justifica, possivelmente, os sintomas na primeira ingestão de carne de frango, traduzindo, provavelmente, um mecanismo de reactividade cruzada. Os sintomas de alergia alimentar a ovo, com sensibilização à clara e gema, níveis de IgE específi ca elevados para gema de ovo e que aumentam com a evolução do quadro, associados a sensibilização a penas e carne de aves, sintomas com ingestão de carne de aves e agravamento dos sintomas de asma brônquica com exposição inalatória a aves apoiam a síndroma ovo -ave (egg-bird syndrome). As análises permitiram detectar a presença de IgE anti -α- -livetina, alergénio implicado nos mecanismos de reactividade cruzada responsáveis pelos sintomas provocados pela ingestão de ovo e carne de ave e inalação de alergénios presentes nas penas de ave. No caso clínico descrito, a primeira manifestação da síndroma ovo -ave foi o quadro de urticária após ingestão de carne de frango, tratando -se de uma manifestação rara, particularmente na criança. O estudo laboratorial da reactividade cruzada mostrou que o extracto de clara inibia totalmente a fi xação de IgE específi ca do doente ao extracto de penas de frango e o extracto de gema de ovo só permitia uma inibição parcial. Haverá outras proteínas envolvidas neste quadro, para além da α -livetina? Pensamos que o estudo de reactividade cruzada tem que ser alargado, utilizando como fase DISCUSSION This patient presented anaphylaxis to egg with immediate onset of allergic symptoms, mainly mucocutaneous and gastrointestinal, and showed sensitisation to egg (yolk and white) allergens. Although the child only demonstrated symptoms on intake of egg at 9 months of age, he had ingested small amounts of this food since the age of 6 months, establishing sensitisation. Sensitisation to egg possibly accounts for the onset of symptoms on his fi rst ingestion of chicken meat, probably due to a cross reactivity mechanism. The symptoms of food allergy to egg, with sensitisation to white and yolk, high levels of specific IgE to egg yolk which increase as the picture progresses, associated with sensitisation to avian feathers and meat, symptoms on intake of avian meat and aggravation of bronchial asthma symptoms with inhalant exposure to birds, support a diagnosis of egg-bird syndrome. The laboratory work up showed IgE against α -livetin, an allergen involved in cross reactivity mechanisms responsible for the symptoms triggered by the intake of bird egg and meat and by the inhalation of allergens present in bird feathers. In our case, the first manifestation of egg-bird syndrome was urticaria on intake of chicken meat. This is an unusual manifestation, especially in children. The laboratory cross reactivity study showed that the extract of egg white completely inhibited binding of the patient s specific IgE to the extract of chicken feathers and the extract of egg yolk only allowed partial inhibition. Were other proteins beyond α -livetin involved in this case? We believe the cross reactivity study should be extended to 290

SÍNDROMA OVO -AVE NA CRIANÇA. UM CASO CLÍNICO / CASO CLÍNICO sólida do método a carne de frango, gema e clara de ovo, o que nos permitirá ter respostas mais completas. Embora o doente tivesse passado a tolerar carne de frango, não voltou a ingerir carne de outras aves, não se podendo excluir persistência de alergia a carne de aves. A alergia a ervilha (anafi laxia) foi confi rmada pelos sintomas reprodutíveis em diferentes ocasiões em que este alimento foi consumido e pela existência de IgE específi ca do doente para ervilha. Está descrita a existência de reactividade cruzada entre as espécies da família Fabaceae 10. No entanto, apesar de o doente ter sensibilização para grão e amendoim, tolera a ingestão destes alimentos. Os autores gostariam de realçar o facto dos quadros de anafi laxia verifi cados após a ingestão de ovo e ervilha não terem sido reconhecidos nem tratados como tal (adrenalina IM). Trata -se de uma situação preocupante, sobretudo se pensarmos que aconteceu no atendimento permanente do centro de saúde, primeiro local onde muitos doentes se dirigem em situação de urgência. include the use of chicken meat, egg yolk and egg white in the solid phase of the method, which will provide more complete answers. Although the patient later tolerated chicken meat, he did not re -introduce other avian meats and so a persistent allergy to bird meat cannot be ruled out. The allergy to peas (anaphylaxis) was confi rmed by reproducible symptoms on different occasions and by the specifi c IgE to pea. Cross reactivity among species of the Fabaceae family has been described 10. Although the patient is sensitised to chickpea and peanut, he tolerates their ingestion. We would like to highlight that the anaphylaxis that occurred upon ingestion of egg and pea were not recognised nor treated as such (adrenaline IM). This is of great concern because this took place at the local health cen ter and these facilities are the fi rst location patients go to for treatment of medical emergencies. CONCLUSÃO A síndroma ovo -ave é uma entidade clínica rara, em especial na criança. Apesar de a alergia ao ovo ser comum na infância, sempre que surjam sintomas de alergia a carne de aves dever -se-á excluir sensibilização a penas de aves, particularmente quando existem factores ambientais de risco e/ou sensibilização a gema de ovo elevada. Até se caracterizar melhor a evolução da alergia alimentar destes doentes, recomendamos, tal como a maioria dos autores, a evicção de ovo e de produtos derivados de aves. CONCLUSION Egg-bird syndrome is an unusual clinical entity, particularly in children. While allergy to egg is common in childhood, sensitisation to bird feathers should be ruled out when symptoms of allergy to bird meat appear, especially when there are environmental risk factors and/or sensitisation to egg yolk. Until there is a better characterisation of the development of food allergy in these patients, we, in agreement with the majority of authors, recommend the eviction of egg and bird-derived products. Declaração de potenciais conflitos de interesse: Nenhum declarado. Potential conflicts of interest disclosure: None declared. Contacto / Contact: Isabel Costa Silva Serviço de Imunoalergologia, Hospital Dona Estefânia Rua Jacinta Marto, 1169-045 Lisboa E -mail: isacostasilva@gmail.com 291

BIBLIOGRAFIA / BIBLIOGRAPHY 1. Sicherer SH, Sampson HA. Food Allergy. J Allergy Clin Immunol 2006;117 (suppl 2):S470-5. 2. Falcó SN, Ramisa R, Bellfi ll R. Bird -egg syndrome in children. Allergol et Immunopathol 2003;31:161-5. 3. Burley RW, Vadehra DV. Chromatoghraphic separation of the soluble protein s of hen s egg yolk: an analytical and preparative study. Anal Biochem 1979;94:53-9. 4. Maat -Bleeker F, Van Dijk AG, Berrens L. Allergy to egg yolk possibly induced by sensitisation to bird serum antigens. Ann Allergy 1985;54:245-8. 5. Añibarro B, Garcia -Ara MC, Ojeda JA. Bird -egg syndrome in childhood. J Allergy Clin Immunol 1993;92:628-30. 6. Mandallaz MM, De Weck AL, Dahinden CA. Bird egg syndrome. Cross- -reactivity between bird antigens and egg -yolk livetins in IgE -mediated hypersensitivity. Int Arch Allergy Appl Immunol 1998;87:143-50. 7. Szépfalusi Z, Ebner C, Pandjaitan R. Egg yolk α -livetine (chicken serum albumine) is de cross -reactive allergen in the bird -egg syndrome. J Allergy Clin Immunol 1994;93:932-42. 8. Bock SA, Sampson HA, Atkins FM, Zeiger RS, Lehrer S, Sanchs M, et al. Double -blind, placebo -controlled food challenge (DBPCFC) as an office procedure: a manual. J Allergy Clin Immunol 1988;82:986-97. 9. Biló BM, Rueff F, Mosbech H, Bonifazi F, Oude -Elberink JNG e EAACI Interest Group on Insect Venom Hypersensitivity. Diagnosis of Hymnoptera venom allergy. Allergy 2005;60:1339-49. 10. Ibáñez MD, Martínez M, Sánchez JJ, Fernández -Caldas E. Legume cross- -reactivity. Allergol Immunopathol (Madr) 2003;31:151-61. 292