DIFÍCIL RENEGOCIAR. Em setembro de 2016, 58,2% das famílias brasileiras CAPA

Documentos relacionados
METODOLOGIA Consumidores Público alvo: Método de coleta Tamanho amostral da pesquisa Bancos Pesquisa qualitativa Público alvo Método de coleta

Quatro em cada dez brasileiros que tiveram nome sujo atribuem negativação ao desemprego, mostra SPC Brasil e CNDL

O Sistema Financeiro que Queremos

CRÉDITO PARA NEGATIVADOS MARÇO 2017

O CONCEITO DO ENDIVIDAMENTO E AS CONSEQUÊNCIAS DA INADIMPLÊNCIA

CNC - Divisão Econômica Rio de janeiro

Pelo terceiro ano seguido, desemprego é a principal causa da inadimplência, mostra levantamento do SPC Brasil e CNDL

IMPACTO DAS COMPRAS DE FIM DE ANO NO ORÇAMENTO NOVEMBRO 2017

RECUPERAÇÃO DE CRÉDITO Empréstimo de nome

Para limpar o nome, 36% dos inadimplentes recorrem a acordo com credor, aponta pesquisa do SPC Brasil e CNDL

Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor

PEIC Fecomércio Março 2016 Pesquisa de Endividamento, Intenção de Consumo e Confiança do Consumidor de Aracaju/SE

Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina PEIC. Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor

Assunto: Resolução n 4.549/17 sobre as regras para parcelamento do saldo devedor da fatura do cartão de crédito

PEIC Fecomércio Setembro 2015 Pesquisa de Endividamento, Intenção de Consumo e Confiança do Consumidor de Aracaju/SE

Inadimplentes Brasileiros 2016 Habilidades Financeiras e Restrições ao Consumo. Agosto de 2016

Oito em cada dez inadimplentes conseguem quitar as dívidas renegociando com os bancos

Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina PEIC. Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor

CNC - Divisão Econômica Rio de janeiro

PESQUISA. Endividamento da população economicamente ocupada no Acre. Realização: FECOMÉRCIO/AC (IFEPAC) Rio Branco/AC, 30 de julho de 2012.

Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina PEIC. Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor

O perfil do endividamento das famílias brasileiras em 2015

CNC - Divisão Econômica Rio de janeiro Agosto/2013

CNC - Divisão Econômica Rio de Janeiro. Setembro de 2016

O perfil do endividamento das famílias brasileiras em 2016

CNC - Divisão Econômica Rio de janeiro

Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina PEIC. Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor

COBRANÇA E NOTIFICAÇÃO DE DÍVIDAS EM ATRASO MARÇO 2017

VILÕES DA INADIMPLÊNCIA Setembro/15

Indicador de Uso do Crédito e de Propensão ao Consumo

O CENÁRIO ECONÔMICO ATUAL NA VISÃO DOS CONSUMIDORES

Redução no Endividamento das famílias evidencia a queda nas vendas do varejo e reflexo da instabilidade econômica e política no País.

PESQUISA PERFIL DO CONSUMIDOR INADIMPLENTE

O perfil do endividamento das famílias brasileiras em 2014

PESQUISA. Endividamento da população acriana economicamente ocupada. Realização: FECOMÉRCIO/AC (IFEPAC) Rio Branco/AC, 02 de maio de 2013.

Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina PEIC. Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor

CNC - Divisão Econômica Rio de Janeiro

CNC - Divisão Econômica Rio de Janeiro

Consumidor escolhe modalidade de crédito considerando a menor taxa de juros disponível

46% dos inadimplentes não têm condições financeiras de pagar as dívidas em atraso nos próximos três meses, mostra SPC Brasil

CNC - Divisão Econômica Rio de Janeiro

ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR Belo Horizonte - Junho/2018

PESQUISA EMPRÉSTIMO PARA NEGATIVADOS JUNHO 2018

SOLUÇÕES DE COBRANÇA. Fellipe Maciel Lume Numata

ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR Belo Horizonte - Março/2019

ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR Belo Horizonte - Maio/2018

ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR Belo Horizonte - Dezembro/2018

Pesquisa de inadimplência e endividamento dos consumidores Divinopolitanos

ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR Belo Horizonte - Junho/2017

CNC - Divisão Econômica Rio de Janeiro

ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR Belo Horizonte - Julho/2018

Treinamento IMPULSIONE A SUA RECUPERAÇÃO DE DÍVIDAS

Endividamento e Inadimplência do Consumidor PEIC/Maceió Jan 2016

ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR Belo Horizonte - Fevereiro/2017

ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR Belo Horizonte - Agosto/2018

INADIMPLÊNCIA NAS FARMÁCIAS EM HORIZONTINA-RS

Sondagem Conjuntural do Comércio Varejista

CNC - Divisão Econômica Rio de Janeiro. Novembro de 2016

CNC - Divisão Econômica Rio de Janeiro. Dezembro de 2016

Indicador de Dívidas em Atraso Belo Horizonte PESSOA FÍSICA SPC CDL/BH. Dezembro 2016

ENDIVIDAMENTO E IMPACTOS NAS FINANÇAS DO CONSUMIDOR FEVEREIRO 2018

PERFILINADIMPLENTE BELOHORIZONTE

INADIMPLENTES NO BRASIL 2017 PERFIL E COMPORTAMENTO FRENTE ÀS DÍVIDAS AGOSTO 2017

Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina PEIC. Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor

Quantidade mensal incluída no pacote (A) Quantidade de serviços gratuitos por mês (B) Saque de conta de depósitos à vista - Presencial ou pessoal

ENDIVIDAMENTO E IMPACTOS NAS FINANCAS DO CONSUMIDOR

52% dos brasileiros fizeram alguma compra por impulso nos últimos três meses, revela SPC Brasil

HABILIDADES FINANCEIRAS E RESTRIÇÕES AO CONSUMO DOS INADIMPLENTES NO BRASIL

Educação Financeira DÍVIDAS E CRÉDITO. Agosto de 2015

CONTRATAÇÃO DE EMPRESA PARA LIMPAR O NOME ABRIL 2017

SONDAGEM DATAS COMEMORATIVAS PÁSCOA ABRIL 2017

Indicador de Inadimplência de Pessoas Jurídicas Belo Horizonte SPC CDL/BH. Abril/2016

Indicador de Inadimplência Pessoas Jurídicas Belo Horizonte SPC CDL/BH. Dezembro 2016

COBRANÇA E NOTIFICAÇÃO DE DÍVIDAS EM ATRASO MARÇO 2018

ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR Belo Horizonte - Agosto/2017

conturbado Início Osetor financeiro está entre os

CRÉDITO PARA NEGATIVADOS. Março de 2017

ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR Belo Horizonte - Abril/2018

Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina PEIC. Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor

TAXA DE JUROS PARA PESSOA FÍSICA

Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) BLUMENAU

CNC - Divisão Econômica Rio de Janeiro

CNC - Divisão Econômica Rio de janeiro Outubro/2013

CNC - Divisão Econômica Rio de Janeiro

CNC - Divisão Econômica Rio de janeiro

A cesta mais cara é a Select Unique (para clientes de alta renda), do Santander, que tem custo mensal de R$ 99.

Quantidade mensal incluída no pacote (A) Quantidade de serviços gratuitos por mês (B)

USO DO CHEQUE ESPECIAL JUNHO 2018

Pesquisa Perfil do Inadimplente 1º trimestre de Copyright Boa Vista Serviços 1

O Perfil do Endividamento das famílias brasileiras em 2013

Pesquisa Perfil do Inadimplente 3º TRIMESTRE 2012

PESQUISA DE JUROS. As taxas de juros das operações de crédito voltaram a ser reduzidas em abril/2018, sendo esta a segunda redução consecutiva.

ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR Belo Horizonte - Abril/2017

positivo cadastro Apesar da propaganda que Um tal

CENÁRIO DO EMPRÉSTIMO NO BRASIL: Aquisição, Finalidade e Critérios de Escolha

PERSPECTIVAS PARA OS PRÓXIMOS MESES

Indicador de Inadimplência de Pessoas Jurídicas Belo Horizonte SPC CDL/BH. Outubro 2016

PESQUISA DE JUROS PERSPECTIVAS PARA OS PRÓXIMOS MESES

Indicador de inadimplência de Pessoas Jurídicas SPC Brasil e CNDL

SUPERENDIVIDAMENTO SÃO PAULO AGOSTO 2014 RICARDO MORISHITA WADA

Transcrição:

DIFÍCIL DE RENEGOCIAR Pesquisa do Idec revela que 60,8% dos consumidores não conseguem renegociar dívidas. Experiências dos clientes contradizem discurso dos bancos, que alegam ter políticas para acolher endividados Em setembro de 2016, 58,2% das famílias brasileiras estavam endividadas, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada pela Fecomercio, a federação do comércio do Estado de São Paulo. Ainda segundo a pesquisa, as dívidas tinham variadas origens: cartão de crédito, cheque especial, crediário etc. e 9,6% dos endividados afirmaram não ter como quitá-las. Você provavelmente conhece alguém que está ou já esteve nessa situação. E a pergunta inevitável é: o que fazer para sair dela? Uma possibilidade é renegociar as dívidas, direito previsto nos artigos 360 e 367 do Código Civil. Para saber como se dá, na prática, o acesso a essa alternativa, o Idec fez uma pesquisa para apurar as experiências dos consumidores em relação à renegociação e às políticas dos bancos para tratar seus clientes endividados. Assim, levou adiante dois questionários: um para os consumidores, realizado pela internet, que recebeu 1.815 respostas; e outro para os cinco bancos mais citados por eles como credores: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander. Veja detalhes da metodologia no quadro da página 16. 16 JAN-FEV 2017 l REVISTA DO IDEC

PERFIL DOS CONSUMIDORES Veja as características de quem respondeu a pesquisa Rendimento mensal familiar Até R$ 1 mil Entre R$ 1 mil e R$ 2 mil Entre R$ 2 mil e R$ 4 mil Entre R$ 4 mil e R$ 6 mil Entre R$ 6 mil e R$ 10 mil Acima de R$ 10 mil Fotos Shutterstock Escolaridade Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Pós Graduação Gênero Feminino Masculino

O resultado revelou uma discrepância entre as vivências dos consumidores e o discurso dos bancos. De um lado, os endividados apontam que não conseguem renegociar as dívidas que não estão atrasadas ou antes de ficar com o nome sujo, e que os bancos são inflexíveis em suas propostas. De outro, as instituições afirmam ter políticas para renegociação e tratamento de dívidas vencidas e vincendas, além de acolherem os endividados e orientá-los sobre educação financeira e uso responsável do crédito. Além de o discurso dos bancos ser posto à prova pelos relatos dos consumidores, em suas respostas aos questionários não há evidências de ações efetivas para tratar o endividamento. Todas as respostas foram bastante genéricas e contrastam com a posição dos consumidores entrevistados, diz Ione Amorim, economista do Idec responsável pela pesquisa. Há um estímulo e uma banalização da oferta de crédito pelos bancos, como já mostraram pesquisas anteriores. Contudo, quando esse crédito, em vez de resolver, piora a situação financeira, os consumidores ficam desamparados, analisa Amorim. A economista ressalta ainda que o perfil dos consumidores que responderam a pesquisa é majoritariamente de classe média com ensino superior, o que destoa da média dos brasileiros. Para um público de menor poder aquisitivo e nível de escolaridade, a tendência é que o quadro seja ainda pior, diz. SEM ACORDO Dos 1.815 consumidores que participaram da pesquisa, 53,6% já tentaram renegociar uma dívida, mas, destes, apenas 39,2% tiveram sucesso. Mais de 60%, portanto, não conseguiram um acordo. Entre os motivos apontados para o insucesso estão: transferência da dívida para outra empresa (29,1% dos casos); e impossibilidade de renegociar dívidas que ainda não estão inadimplentes (24,2%) ou seja, o consumidor apertado, que sabe que pode não conseguir pagar a parcela no mês seguinte, não consegue renegociação antes de virar devedor de fato. Dos consumidores que tentaram renegociar a dívida, 56,7% consideram que a instituição financeira não avaliou a sua capacidade de pagamento na proposta de acordo. Esse dado é parecido com o resultado de uma enquete realizada no Portal do Idec entre junho e BASTIDORES DA PESQUISA A pesquisa foi realizada entre julho e setembro de 2016, divida em duas etapas. A primeira foi um questionário online, em formato múltipla escolha, direcionado aos consumidores. Aos que já tinham tentado renegociar dívida, foram feitas 19 perguntas sobre sua experiência; aos demais, as questões foram relacionadas a seu conhecimento sobre crédito. A segunda parte consistiu de um questionário enviado aos cinco maiores bancos do País (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander), apontados pelos internautas como os maiores credores. A eles, foram enviadas 22 questões qualitativas, com respostas abertas, a respeito das condições oferecidas para renegociação de dívidas e de como tratam o problema do superendividamento. Esta pesquisa é a segunda de uma série de três e faz parte do projeto Guia dos Bancos Responsáveis (GBR), realizada com apoio da Sida/Oxfam Novib. A primeira, sobre concessão de crédito, foi publicada na edição n o 206 (maio/ junho de 2016). SEGUNDO DADOS DO BANCO CENTRAL, O ÍNDICE DE INADIMPLÊNCIA DE DÍVIDAS RENEGOCIADAS É DE 18,11% 18 JAN-FEV 2017 l REVISTA DO IDEC

setembro: dos 556 internautas que participaram, 38% disseram que não conseguiram renegociar uma dívida porque não tinham condições de pagar o acordo proposto pela empresa. A economista do Idec aponta que essa inflexibilidade e a falta de avaliação real da capacidade de pagamento do consumidor resultam em atraso ou descumprimento do acordo feito com o banco. Segundo os dados mais recentes do Banco Central, relativos a outubro do ano passado, o índice de inadimplência de dívidas renegociadas é de 18,1% o segundo maior, atrás apenas do cartão de crédito, com 36,1%. Esse cenário evidencia que as operações de renegociação são realizadas em condições desfavoráveis para os consumidores e que elas resultam em novo ciclo de inadimplência, critica. O QUE DIZEM OS BANCOS De acordo com as respostas dos bancos ao questionário feito pelo Idec, tudo funciona muito bem quando os assuntos são renegociação de dívidas e superendividamento. As cinco instituições avaliadas afirmaram ter políticas para renegociação e para tratar o endividamento. A renegociação pode ser feita pelo internet banking em todos os bancos, exceto no Bradesco. Além disso, todos disponibilizam ferramentas de simulação e informam o custo efetivo total da nova dívida. Quando questionados sobre a transferência das dívidas a escritórios especializados em cobrança um problema que atrapalha muito a renegociação, segundo os consumidores, quase nenhum banco informou em que situações isso ocorre. O Banco do Brasil disse apenas que as dívidas são repassadas para empresas do grupo e que são elas que notificam os endividados. Saiba no quadro da página 20 quais são as regras para esse tipo de procedimento e os direitos do consumidor inadimplente. Em relação aos motivos do aumento da inadimplência em operações renegociadas, os bancos fizeram mea-culpa. Eles admitiram que a reincidência é decorrente de acordos protelatórios ou seja, quando eles sabem que os clientes não terão capacidade de cumprir o acordo, mas também culparam o cenário macroeconômico, com elevado índice de desemprego e redução da renda. No entanto, mesmo antes da crise econômica, o índice de endividamento já era elevado Renegociação frustrada Motivos que impediram a renegociação (60,8% do total) A dívida foi transferida para outra empresa Não consegui novo prazo para pagar O banco não renegocia dívidas cujo pagamento ainda não está atrasado Os juros eram elevados, não tinha como pagar Outros motivos Como conseguiu renegociar (39,2% do total) Fui ao banco pessoalmente Fiz pelo site do banco Pedi ajuda ao Procon Outras formas

pela falta de educação financeira e pela oferta de crédito sem critérios, critica a economista do Idec. EDUCAÇÃO CONTRA O ENVIDAMENTO Os bancos também foram questionados sobre a oferta de educação financeira aos seus clientes, de forma a evitar o superendividamento. Todos disseram ter essa prática em suas diretrizes, apesar de, concretamente, citarem apenas a existência de sites com orientações e dicas para o consumidor sobre o tema. Por outro lado, 46% dos consumidores entrevistados afirmaram não ter recebido educação financeira. TRANSFERÊNCIA DE DÍVIDA: ATENÇÃO AOS SEUS DIREITOS É relativamente comum que bancos e outros fornecedores repassem as dívidas de seus clientes para escritórios especializados em cobrança. A chamada cessão de crédito é legalmente prevista no Código Civil e não depende de autorização do consumidor, mas este precisa ser informado sobre a transferência. Apesar de legal, a cessão de crédito costuma ser abusiva em função da abordagem das empresas de cobrança, que frequentemente assediam e constrangem o cliente endividado. Essa prática caracteriza cobrança vexatória e é ilegal de acordo com o artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Outra prática abusiva é a cobrança de taxas, muitas vezes denominadas honorários ou encargos. Se o banco decidiu repassar a dívida para um escritório de cobrança, os custos não podem ser transferidos ao cliente. Isso é extremamente abusivo, pois exige do consumidor vantagem manifestamente excessiva, de acordo com o artigo 39, V, do CDC, afirma Claudia Pontes Almeida, advogada do Idec. A empresa de cobrança também não pode alterar a taxa de juros prevista no contrato inicial (do consumidor com o banco ou outro fornecedor). Fique atento a isso! Você já conseguiu renegociar uma dívida? Sim, apresentei uma proposta, e ela foi aceita pela empresa Sim, aceitei a proposta que foi feita pela empresa Não, minha proposta foi recusada pela empresa, e não chegamos a um acordo Não, a proposta feita pela empresa estava fora das minhas condições de pagamento 17% 20% 25% 38% Enquete realizada no Portal do Idec de 28 de junho a 19 de setembro de 2016, que recebeu 556 respostas. Somente 0,7% disseram ter participado de oficinas promovidas pelo banco com esse intuito. A educação financeira é imprescindível num país em que mais da metade das famílias estão endividadas. Segundo José Geraldo Brito Filomeno, advogado e professor de direito do consumidor, há dois remédios para o superendividamento: a prevenção e o tratamento da dívida. Faz parte da prevenção coibir as práticas, ofertas e publicidade enganosa, assim como fornecer educação à população com princípios elementares de finanças pessoais e consumo responsável, ele explica. Porém, para Filomeno, são as entidades de defesa do consumidor, como o Idec, que têm cumprido esse papel não os bancos. Elas têm se esmerado na publicação de cartilhas e informativos pela internet sobre o superendividamento, principalmente, como preveni-lo, observa. Para o Idec, é fundamental aprofundar as discussões sobre o tema e, inclusive, pensar em uma regulação que possibilite aos bancos formas mais eficientes de tratar o consumidor endividado. O foco exclusivo na renegociação limita o enfrentamento do superendividamento, pois perpetua o uso do crédito com longos parcelamentos, pontua Amorim. Faltam mecanismos de educação financeira, mas também faltam alternativas para a etapa posterior, quando o quadro de endividamento já está consolidado, conclui. 20 JAN-FEV 2017 l REVISTA DO IDEC