6º Domingo do Tempo Comum Homilia meditada para a Família Salesiana P. J. Rocha Monteiro, sdb Se quiseres, podes curar-me... Quero, fica curado... Mc 1,40 Mc 1,40-45 1. Introdução Neste VI Domingo queremos meditar essencialmente em duas coisas. Em primeiro lugar, examinar o drama do leproso, a forma como Jesus o cura e as diferentes lepras da sociedade hodierna. Jesus quer e exige o amor sem limites para com os irmãos. Diz o padre Giovanni Vannucci: «O Cristianismo não é uma moral, mas uma inaudita libertação.» Em segundo lugar, gostaríamos de dar importância ao Salmo 32 já que não se trata de uma lição de moral mas de um testemunho de um convertido. É um hino de glória que expressa toda a alegria de regressar à casa paterna, ao amor do Senhor. 2. Um leproso que é tocado O mais doente dos doentes. A sua doença não é apenas física, é um homem que não existe, está presente, mas não existe. Não tem nome, não tem rosto. Diz a Lei: «Deverá morar à parte, fora do acampamento» (Lv 13,46). E Jesus, em vez de o deixar
sozinho, fora, como exigem a Lei e o medo, ultrapassa as regras, abate as fronteiras, acolhe-o, toca-lhe. O leproso ficava longe de Deus e dos homens. O leproso é cada homem. E em nome de cada criatura diz aquela frase densa de fé: «Se quiseres, podes curar-me!» Com toda a discrição de que é capaz: se quiseres. Todo o seu futuro fica suspenso deste se. Mas a lepra é apenas um símbolo de muitas outras doenças que, nos nossos dias, atingem as pessoas na sua dignidade, nos seus direitos, na sua cultura e que também levam ao ostracismo e mesmo à exclusão de indivíduos ou grupos minoritários. São tantas situações de marginalização... 3. Comportamento de Jesus. Com este Seu comportamento de radical proximidade física e afetiva, Jesus diz-nos que nos devemos abeirar de todas as pessoas, nomeadamente dos doentes e marginalizados, sempre incluindo e nunca excluindo quem quer que seja. O nosso próximo reveste-se da figura de Cristo. Garanto-vos que quem toma o Evangelho a sério tem dentro de si uma tal força que é capaz de mudar o mundo. 1 Cor 10, 31-11,1 4. O único ponto de referência é Cristo Na teologia de São Paulo aprendemos a vencer todas as discriminações humanas e a termos um comportamento igual para com todos. Cristo veio curar todas as lepras da humanidade: As de carácter pessoal, como o egoísmo, o medo e a violência; e as de carácter social, como o racismo, o fundamentalismo, o colonialismo económico e cultural. S. Paulo indica um princípio
supremo pelo qual devemos regular-nos: que tudo se faça para a maior glória de Deus. Sl 32, 1-2.5.7.11 5. Feliz daquele a quem foi perdoada a culpa e absolvido o pecado. O Salmo 32 não é uma abstrata lição de moral, mas o testemunho autobiográfico de um convertido que canta a felicidade do perdão. Retirada a culpa alude à imagem de um fardo, de um peso de que somos aliviados para podermos respirar de alívio. Santo Agostinho tinha em grande apreço este Salmo. Afixou uma cópia na parede do seu quarto, diante do seu leito. E lia-a entre lágrimas, o que lhe trazia grande paz e conforto, sobretudo durante os últimos tempos da sua doença de que veio a falecer. Lv 13, 1-2.44-46 6. Livro do Levítico Os capítulos 11 a 15 do livro do Levítico contêm as chamadas leis da pureza. O texto de hoje refere-se ao leproso. É fácil de imaginar o sofrimento psicológico, o sentido pesadíssimo de culpa, a perceção de ser rejeitado também pela parte de Deus. 7. Conclusão Queremos concluir com a temática do Salmo 32. Em primeiro lugar enfatizar a alegria dos homens cuja culpa Deus absolve.
Isaías descreveu esse Deus como inclinado ao perdão. Em segundo lugar, a razão pela qual viemos a este mundo foi para viver a experiência e a aventura da vida. Precisamos de crescer e de desenvolver como ensina a parábola dos talentos. Daí a nossa conclusão: não cedermos à obsessão do pecado nem do perdão; não nos assustarmos com os erros; não nos envergonharmos com as nossas limitações. Quem deixa de viver para não pecar, comete o maior dos pecados... Temos que assumir riscos. Arriscar-se para viver não é uma fórmula maravilhosamente tranquila, mas é a única válida para o homem. De outra maneira: aceitar esta vida como uma situação necessariamente limitada, é o grande desafio à nossa maturidade (Santos Benetti, Salmos).
À espera da nova vida Se quiseres, podes curar-me... Quero, fica curado... Mc 1,40 Teimosamente o Reino ali está. Sem vida, espreita o anoitecer No rosto desfigurado a escurecer. Jesus uma nova vida lhe dará. Cena comovente. O puro e o impuro Uma luta feroz onde o mal é o algoz. Senhor se quiseres podes curar-me Abraça o quero perfumada flor. Leprosos do mundo farinha humana Cansados pela neve fria raiana O cálice dos excessos já goteja Provai a alegria. Que os olhos vejam. Salmo trinta e dois magia, vida De amor e de perdão, sabedoria. Sagrada luz, um fogo que perdura Num corpo alegre como Deus queria. Cantai vós perdoados de Deus Soai com timbres vossa mente De transcendência e ressurreição. Levai a vida positivamente. Na experiência e aventura imensa Valorizai multiplicai vossos talentos O perfume do bosque vos envolverá Deus Pai, em Seus braços vos receberá. J. Rocha Monteiro in Palavra ardente