UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA JAVIER JEREZ ROIG PREVALÊNCIA DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA E FATORES ASSOCIADOS EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS Natal/RN 2014

JAVIER JEREZ ROIG PREVALÊNCIA DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA E FATORES ASSOCIADOS EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Orientador: Prof. Dr. Kenio Costa Lima Natal/RN 2014

Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia Biblioteca Setorial de Odontologia Profº Alberto Moreira Campos. Jerez-Roig, Javier. Prevalência de incontinência urinária e fatores associados em idosos institucionalizados / Javier Jerez Roig. Natal, RN, 2014. 121f. : il. Orientador: Prof. Dr. Kenio Costa de Lima. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. 1. Idoso Dissertação. 2. Estudos Transversais Dissertação. 3. Incontinência Urinaria Dissertação. 4. Instituição de Longa Permanência para Idosos Dissertação. I. Lima, Kenio Costa de. II. Título. RN/UF/BSO Black D56

JAVIER JEREZ ROIG PREVALÊNCIA DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA E FATORES ASSOCIADOS EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Aprovada em: / /. Prof. Dr. Kenio Costa Lima UFRN Orientador Profª. Drª. Maria Ângela Fernandes Ferreira Departamento de Odontologia da UFRN Membro Interno Prof. Dr. Renato Peixoto Veras Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI) Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Membro Externo

DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha família, por tudo o que representa na minha vida, especialmente aos meus pais, pelo apoio nos meus estudos.

AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Professor Kenio Lima, pela orientação e grande apoio recebido. Aos alunos voluntários da UFRN que participaram na coleta dos dados deste trabalho. Aos diretores e profissionais das instituições que permitiram a realização do estudo. Aos professores e colegas de Pós-Graduação pelo enorme aprendizado e bom recebimento. À Biblioteca Virtual de Ciències de la Salut de les Illes Balears por facilitar os artigos. Ao meu colega, Marquiony dos Santos, pelas contribuições neste trabalho. A Dyego e Maria Messias pelos ânimos durante este período cheio de desafios. A minha amiga, Daniela Pessoa, pelo grande apoio recebido. Aos meus familiares, pelo apoio em minhas decisões. À CAPES, pelo auxílio financeiro.

Terra Natal Arrelar, com un arbre, dins la terra: no ser núvol endut d un poc de vent. Sobre els camps coneguts de cada dia, veure un cel favorable i diferent. Mirar com cau, quotidià, el crepuscle, cada cop renovant-me el sentiment. Damunt la terra nostra i estimada, del cor neixen el pi, l aire i l ocell. El blanc record de la infantesa hi sura, i ha de fer bo, aquest sol, als ossos vells. Vull escoltar-hi aquest parlar que arriba de mot antic als llavis de la gent. El meu amor, la ferma companyia, vull somniar-hi, entre la mar i el vent. Marià Villangómez i LLobet (Ibiza, 1913-2002)

RESUMO A incontinência urinária (IU) é uma síndrome geriátrica especialmente prevalente em indivíduos institucionalizados, que gera um forte impacto econômico e social derivado principalmente dos custos de tratamento e da sobrecarga dos cuidadores. Além disso, acarreta consequências físicas à saúde do idoso, como infecção urinária ou úlceras por pressão, entre outros agravos à saúde. No entanto, os trabalhos realizados no país sobre este agravo à saúde são escassos e contêm sérios vieses metodológicos. Sendo assim, o objetivo do presente trabalho é verificar a prevalência de incontinência urinária e fatores associados em idosos institucionalizados. Trata-se de um estudo transversal realizado entre outubro e dezembro de 2013 e desenvolvido em 10 instituições de longa permanência para idosos da cidade do Natal. A IU foi aferida mediante o Minimum Data Set versão 3.0, que também se utilizou para avaliar a incontinência fecal, os dispositivos urinários e as medidas de controle da IU. Foram coletadas variáveis sociodemográficas, de caracterização da IU e relacionadas à instituição e às condições de saúde (comorbidades, medicação, cirurgias do assoalho pélvico, Índice de Barthel de capacidade funcional e Teste de Pfeiffer de capacidade cognitiva). Foi realizada a análise bivariada mediante os testes qui-quadrado de Pearson (ou teste de Fisher) e o teste quiquadrado de tendência linear, calculando a razão de prevalência com intervalo de confiança de 95%. Por fim, as variáveis com valor de p menor que 0,20, foram incluídas na análise múltipla, realizada mediante regressão logística do tipo Stepwise Forward. A permanência das variáveis no modelo final deu-se segundo o teste da razão de verossimilhança, ausência de multicolinearidade e teste de Hosmer and Lemeshow. Foi considerado o nível de significância estatística de 0,05. Foram excluídos 6 (1,8%) indivíduos hospitalizados, 1 (0,3%) em fase terminal e 1 (0,3%) menor de 60 anos. A amostra foi composta por 321 idosos, a maioria do sexo feminino e com média de idade de 81,5 anos. A prevalência de IU foi de 58,88% (IC 95%: 53,42-64,13) e o modelo multivariado mostrou associação estatisticamente significativa da IU com a raça branca, inatividade física, acidente cerebrovascular, restrição da mobilidade e declínio cognitivo. O tipo mais frequente foi a IU funcional por incapacidade física ou cognitiva, e as medidas de controle da incontinência foram aplicadas apenas em uma minoria dos residentes (aproximadamente 8%). Pode-se concluir que a IU é um agravo à saúde que afeta a mais da metade dos idosos institucionalizados, e que está associado à raça branca, inatividade física, acidente vasculocerebral e outras síndromes geriátricas como a imobilidade e incapacidade cognitiva. A maior parte destes fatores associados são modificáveis e, portanto, os achados deste estudo alertam para a importância de ações de prevenção e

tratamento da IU no âmbito das instituições, que incluam medidas gerais, como atividades físicas e psicossociais, e específicas, como a evacuação precoce. Palavras-chave: Estudos Transversais. Idoso. Incontinência Urinária. Institucionalização. Instituição de Longa Permanência para Idosos.

ABSTRACT Urinary incontinence (UI) is a geriatric syndrome that is especially prevalent in institutionalized individuals, and that causes economic and social impacts derived from treatment costs and overload of caregiver. UI also entails physical consequences to the health of the elderly, such as urinary tract infections or pressure ulcers, among other health problems. However, the existing national research on this condition is still scarce and comprises serious methodological biases. Therefore, the objective of this study is to determine the prevalence of urinary incontinence and associated factors in institutionalized elderly. A cross-sectional study is presented herein, conducted between October and December, 2013 and carried out in 10 nursing homes in the city of Natal (Northeast Brazil). UI was verified through the program Minimum Data Set version 3.0, which was also used to assess fecal incontinence, urinary devices and UI control programs. Data collection included sociodemographic information, UI characterization, as well as variables related to the institution itself and to health conditions (comorbidities, medication, pelvic floor surgery, Barthel Index for functional capacity and Pfeiffer test for cognitive status). Bivariate analysis was performed using the Chi-Square Test (or Fisher s Exact Test) and the Linear Chi-Square Test, calculating the prevalence ratio with 95% confidence interval. Variables with p value under 0.20 were included in the multivariate analysis, which was performed using the Stepwise Forward logistic regression. The inclusion of variables in the final model depended on the likelihood ratio test, absence of multicollinearity and on the Hosmer-Lemeshow test. A statistical significance level of 0.05 was considered. Six (1.8%) hospitalized elderly, one individual in palliative care (0.3%) and one (0.3%) individual under the age of 60 were excluded from the study. The final sample consisted of 321 elderly, mostly females, with a mean age of 81.5 years. The prevalence of UI was 59.43% and the final model revealed statistically a significant association between UI and white race, physical inactivity, stroke, mobility constraints and cognitive decline. The most frequent UI type was functional UI due to physical or cognitive disability, and incontinence control measures were applied only to a minority of residents (approximately 8%). It is concluded that UI is a health issue that affects more than half of the institutionalized elderly, and is associated with white race, physical inactivity, stroke and other geriatric syndromes such as immobility and cognitive disability. Most of these associated factors are modifiable and therefore the findings of this study highlight the importance of UI prevention and treatment in nursing homes, which include

general measures, such as physical and psychosocial activities, and specific measures, such as prompted voiding. Keywords: Aged. Cross-Sectional Studies. Homes for the Aged. Institutionalization. Urinary Incontinence.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Determinantes da IU em idosos institucionalizados. 28 Quadro 1 Equações de busca nas bases de dados. Natal, RN, 2013. 34 Quadro 2 3 Fontes bibliográficas identificadas, tipo de estudo, características da amostra (número de idosos, sexo e idade média), número de instituições pesquisadas y lugar de realização do estudo. Natal, RN, 2013. 35 Quadro 3 Resumo dos objetivos, medidas de avaliação, frequência da IU, resultados e conclusões dos estudos identificados. Natal, RN, 2013. 36 Quadro 1 Variáveis que caracterizam a IU. 52 Quadro 2 Variáveis relacionadas à IU. 53 Quadro 3 Variáveis independentes sociodemográficas. 53 Quadro 4 Variáveis independentes relacionadas à instituição. 54 Quadro 5 Variáveis independentes relacionadas às condições de saúde. 55

LISTA DE TABELAS Tabela 1 Volume das perdas urinárias referida pelos idosos institucionalizados do Brasil. Natal, RN, 2013. 41 Tabela 2 Impacto da incontinência urinária na qualidade de vida dos idosos institucionalizados do Brasil. Natal, RN, 2013. 43 Tabela 1 Características sociodemográficas. Natal/RN, 2014. 63 Tabela 2 Análise descritiva das variáveis relacionadas à instituição. Natal/RN, 2014. 64 Tabela 3 Análise descritiva das variáveis socioeconômicas. Natal/RN, 2014. 65 Tabela 4 Análise descritiva das variáveis referidas ao estilo de vida. Natal/RN, 2014. 66 Tabela 5 Análise descritiva das variáveis referidas aos antecedentes de quedas, infecção urinária e cirurgias do assoalho. Natal/RN, 2014. 67 Tabela 6 Análise descritiva das variáveis referidas às comorbidades. Natal/RN, 2014. 68 Tabela 7 Análise descritiva das variáveis referidas à mobilidade, capacidade funcional para as atividades da vida diária e capacidade cognitiva. Natal/RN, 2014. 69 Tabela 8 Análise descritiva das variáveis referidas à medicação e medidas de controle da incontinêncianatal/rn, 2014. 70 Tabela 9 Características dos idosos com IU (n=189). Natal/RN, 2014. 72 Tabela 10 Associação entre a IU e as variáveis sociodemográficas. Natal/RN, 2014. 73 Tabela 11 Associação da IU com o motivo de institucionalização do idoso. Natal/RN, 2014. 75 Tabela 12 Associação entre a IU e as variáveis referidas ao estilo de vida. Natal/RN, 2014. 76 Tabela 13 Associação entre a IU e o tempo de institucionalização, relação de idosos por cuidador e medicação. Natal/RN, 2014. 77 Tabela 14 Associação entre IU e as comorbidades. Natal/RN, 2014. 78 Tabela 15 Associação entre IU e as demais comorbidades. Natal/RN, 2014. 79

Tabela 16 Associação entre a IU e partos, antecedentes de quedas, infecção urinária, IF e cirurgias do assoalho pélvico. Natal/RN, 2014. 80 Tabela 17 Associação entre a IU e a mobilidade, capacidade funcional e 81 cognitiva. Natal/RN, 2014. Tabela 18 Resultados da análise multivariada. Natal/RN, 2014. 82

14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 15 2 REVISÃO DE LITERATURA... 17 2.1 O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL... 17 2.2 INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS... 21 2.3 A INCONTINÊNCIA URINÁRIA: UMA SÍNDROME GERIÁTRICA... 24 2.4 A INCONTINÊNCIA URINÁRIA NAS ILPI E SEUS FATORES ASSOCIADOS... 26 3 OBJETIVOS... 50 3.1 OBJETIVO GERAL... 50 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 50 4 METODOLOGIA... 51 4.1 DESENHO... 51 4.2 AMOSTRA... 51 4.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO... 51 4.4 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO... 51 4.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO... 51 4.6 TREINAMENTO E PREPARAÇÃO DAS EQUIPES... 56 4.7 ESTUDO PILOTO... 57 4.8 COLETA DE DADOS... 57 4.8.1 Formulário de dados sociodemográficos... 57 4.8.2 Formulário de dados do prontuário... 57 4.8.3 Formulário dirigido ao cuidador direto... 58 4.8.4 Avaliação cognitiva... 60 4.9 ANALISE DE DADOS... 60 4.10 QUESTÕES ÉTICAS... 61 5 RESULTADOS... 62 6 DISCUSSÃO... 83 7 CONCLUSÕES... 96 REFERÊNCIAS... 97 ANEXOS... 106

15 1 INTRODUÇÃO O envelhecimento é um processo sistêmico, dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a redução da capacidade de manutenção da homeostasia, levando à perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente (MENEZES et al., 2011). O envelhecimento populacional, que faz parte da realidade da maioria das sociedades, representa um dos desafios da saúde contemporânea, isto é, dar o atendimento necessário para o controle das patologias crônicas e a manutenção da capacidade funcional e da qualidade de vida de um grupo populacional em crescimento (TAMANINI et al., 2009). Segundo critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS), nos países em desenvolvimento é considerado idoso o habitante com 60 anos ou mais. Nessa faixa etária, se espera que a população idosa na América Latina se duplique ou triplique durante o período de 1980 a 2025. Consequentemente, esse rápido crescimento tem provocado um forte impacto nas demandas sociais, econômicas e de saúde, especificamente nas instituições asilares, como modalidade importante de assistência social ao idoso, em parte devido às doenças crônicas e às síndromes geriátricas, como a incontinência urinária (IU) (TAMANINI et al., 2009). A IU é definida como a perda involuntária de urina objetivamente demonstrável que origina um problema social e higiênico (MENEZES et al., 2011; SANTOS; BARROS, 2008; FREIRE JÚNIOR; TAVARES, 2006). Tal situação pode produzir alterações emocionais como desconforto, vergonha e perda de autoestima e, portanto, pode afetar a qualidade de vida e gerar diferentes formas de incapacidade no idoso (MARTINEZ AGULLO et al., 2009). Além disso, trata-se de um problema sanitário com importantes repercussões econômicas. Calcula-se que cada paciente incontinente gera um custo adicional de quase 5 mil dólares por ano. Nos Estados Unidos o custo anual do tratamento da condição nos idosos institucionalizados é superior a três bilhões de dólares (MENEZES et al., 2011; HATTA et al., 2011). No entanto, não existem dados nacionais sobre o custo sanitário gerado pela IU. No Brasil, estima-se que 11 a 23% das mulheres sejam incontinentes (SHIH; HARTZEMA; TOLLESON-RINEHART, 2003; OUSLANDER, 2007). Sabe-se que a prevalência em mulheres é mais alta que em homens nas idades mais jovens, principalmente por causas anatômicas. Entretanto, o risco de sofrer perdas urinárias aumenta com a idade e a diferença na prevalência entre homens e mulheres diminui (LAZARI; LOJUDICE; MAROTA, 2009). Aproximadamente 50% dos idosos institucionalizados de ambos os sexos são incontinentes, o dobro que na comunidade, devido às comorbidades e ao processo de

16 atenção à saúde (tratamento farmacológico, nutrição, redução da mobilidade, sobrecarga de trabalho dos cuidadores, e outros) (HATTA et al., 2011). Atualmente a IU é considerada um indicador de fragilidade e de qualidade do atendimento, porém, geralmente não é avaliada corretamente e os profissionais de saúde e cuidadores tendem a considerá-la um problema geriátrico menos importante do que outros, como as úlceras por pressão, a perda de peso ou as quedas (BOYINGTON et al., 2007). Além disso, a maioria dos idosos não procura tratamento para a incontinência, porque acreditam que o problema faz parte do processo normal de envelhecimento (OUSLANDER, 2007; LAWHORNE et al., 2008; VINSNES et al., 2012). Por isso, a identificação de fatores associados à IU é de fundamental importância para planejar medidas assistenciais e abordar a IU de maneira adequada. Os estudos epidemiológicos sobre esse agravo à saúde no Brasil e nas suas diferentes regiões geográficas são escassos, principalmente com idosos institucionalizados (ASLAN et al., 2009; COFFEY et al., 2007). Assim, este trabalho espera contribuir à ampliação do conhecimento científico sobre a IU no âmbito asilar, aspecto inicial e básico para poder, posteriormente, desenvolver ações de combate ao problema.

17 2 REVISÃO DE LITERATURA O presente capítulo contém o referencial teórico e conceitual que subsidia a compreensão do tema deste trabalho. O primeiro tópico, O envelhecimento populacional, introduz o fenômeno demográfico e apresenta o cenário passado recente, atual e futuro no Brasil. Diante dessa situação, o segundo tópico, Instituições de longa permanência para idosos, trata desses entes com função híbrida social e de saúde, com vistas a contextualizar o âmbito da pesquisa. Como consequência da transição epidemiológica, as doenças crônicas e síndromes geriátricas ganharam protagonismo como principal causa de morbidade e mortalidade na atual sociedade. No tópico A incontinência urinária: uma síndrome geriátrica é explicado este agravo à saúde, altamente prevalente entre os idosos, e que corresponde ao objeto do presente estudo. Por fim, A incontinência urinária nas ILPI e seus fatores associados trata a condição no âmbito institucional, inicialmente em nível mundial e finalmente em nível nacional. Esta última parte é complementada com o artigo Incontinência urinária em idosos institucionalizados no Brasil: uma revisão integrativa, por Jerez-Roig, Souza e Lima, publicado no número 4 do ano 2013 da Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. 2.1 O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL Diante da situação provocada pela baixa taxa de fecundidade e mortalidade, o aumento da população idosa tem se tornado um dos maiores desafios da saúde pública contemporânea (MENEZES et al., 2011). Segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), o contingente de indivíduos de 60 anos ou mais passará, em nível mundial, de aproximadamente 850 milhões de pessoas no ano 2014 para 2000 milhões no ano 2050, sendo o maior crescimento esperado aquele correspondente aos países em desenvolvimento (CORTELLETI; CASARA; HERÉDIA, 2004). O envelhecimento populacional, embora seja considerado um fenômeno mundial, não se dá de forma homogênea em todos os países, nem indivíduos (FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS; 2012). Ao contrário do que aconteceu nos países desenvolvidos, o aumento da população idosa no Brasil se deu de forma acelerada, a partir da queda da fecundidade na década de 1960 e 1970, com crescimento de aproximadamente 700% durante os últimos 50 anos (CORTELLETI; CASARA; HERÉDIA, 2004). Enquanto a Europa levou

18 aproximadamente um século para envelhecer, esse processo ocorreu em 30 anos no Brasil (VERAS, 2009). Esse fenômeno pode ser explicado pelas mudanças econômicas e sociais ocorridas durante meados do século XX no país, com a rápida transformação de uma sociedade rural a maioritariamente urbana, caracterizada por menor fecundidade e mortalidade (CORTELLETI; CASARA; HERÉDIA, 2004; INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2011). Além disso, as melhorias nas condições de vida e os avanços médicos e tecnológicos têm aumentado a vida média do brasileiro, e segundo projeções do IBGE, no ano 2050, a idade média será de 81,29 anos, semelhante à encontrada nos países desenvolvidos (VASCONCELOS; GOMES, 2012). Nos anos mais recentes, ainda cabe levar em consideração os movimentos migratórios, motivados pelo momento econômico nacional favorável, tanto estrangeiros e nacionais, quanto do interior à capital, à procura de melhores serviços e qualidade de vida (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2008). No ano 2002, o país possuía aproximadamente 16 milhões de pessoas de 60 anos ou mais e, em 2025, estima-se que haverá 34 milhões de idosos, o que levará o país à sexta posição em números de idosos (ARAÚJO et al., 2012). As projeções indicam que em 2050 haverá 172,7 idosos de 65 anos ou mais para cada 100 crianças de 0 a 14 anos, em comparação a 24,7 idosos em 2008 (DAVIM et al., 2004). Além disso, espera-se um crescimento da população de 80 anos ou mais, como resultado das altas taxas de natalidade no passado recente e da redução da mortalidade nas idades avançadas ((INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2008). No Brasil, o alto contingente de crianças associado a esse aumento dos indivíduos de 60 anos ou mais tem transformado o padrão tradicional da pirâmide etária, que tende a uma forma retangular (CAMARANO; KANSO, 2010). As estimativas para o futuro próximo são de crescimento das taxas de população idosa e muito idosa, como consequência da entrada da coorte dos denominados baby boomers na última fase de vida (elderly boomers), assim como a diminuição da mortalidade nas idades avançadas (BRASIL, 2008). Ademais, atualmente a taxa de fecundidade brasileira apresenta valores em torno do nível de reposição, e não há perspectiva de retorno a índices mais elevados (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2008a). Diante deste processo de transição demográfica, o Brasil é atualmente denominado país jovem de cabelos brancos (VERAS, 2009). No entanto, o ritmo desse fenômeno não ocorre de maneira homogênea em âmbito nacional. As profundas desigualdades socioeconômicas entre as regiões brasileiras refletiram

19 um ritmo mais lento de transição demográfica nas regiões menos desenvolvidas, como a Nordeste, onde a queda da fecundidade aconteceu tardiamente, na década de 1970 (VERAS, 2009). No Estado do Rio Grande do Norte (RN), o processo de envelhecimento populacional assemelha-se ao ocorrido em nível regional e nacional, porém de forma mais acelerada, com forte redução da base da pirâmide etária. Em 1970, a população idosa constituía aproximadamente 5% do total, enquanto essa proporção superou 10% em 2010 (ARAÚJO et al., 2012). Nesse período, essa proporção praticamente dobrou, sendo o crescimento mais acentuado a partir da década de 1980 (ARAÚJO et al., 2012; INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2008a). Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), no RN, o grupo etário de 60 anos ou mais aumentou de 10,6% em 2008-2009 para 11,9% em 2011, e o número de crianças de 9 anos ou menos passou de 16,4% em 2008-2009 para 14,1% em 2011. Esses dados estatísticos confirmam o envelhecimento populacional do Estado do RN, situando-o como o terceiro da região nordeste com maior proporção de idosos (ARAÚJO et al., 2012). Destaca-se, ainda, o predomínio das mulheres em relação aos homens, com proporções mais elevadas do que a média do país, sugerindo uma velhice mais feminilizada (BARBOSA et al., 2012; INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2008b). Em 2010, quase a metade dos municípios potiguares encontravam-se com indicadores de envelhecimento elevados, ou seja, em estágio avançado no processo de transição demográfica (BARBOSA et al., 2012). Cabe destacar, entre estes municípios, os do interior da Região Central e Oeste Potiguar, assim como os centrais da Região Metropolitana do Natal, que apresentam elevados índices de envelhecimento e sobreenvelhecimento (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Quanto à capital do Estado do RN, ainda se observa um aumento expressivo da população idosa em um curto período. No município de Natal essa população representava 4,5% do total de habitantes em 1970, 6,8% em 1991 e no ano 2010 já superou 10%. Ao comparar o contingente de idosos com a população ativa, quinze bairros natalenses apresentaram valores superiores às razões de dependência nacionais e estatais (ARAÚJO et al., 2012). Dentre eles, cabe citar Areia Preta, Cidade Alta, Barro Vermelho e, sobretudo, os bairros mais centrais e tradicionais de Petrópolis, Lagoa Seca, Lagoa Nova, Alecrim e Tirol, que são os mais envelhecidos (ARAÚJO et al., 2012; PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL, 2013). Já aqueles nos quais residem os mais idosos são Areia Preta, Petrópolis e Ribeira (ARAÚJO et al., 2012). Em contrapartida, os bairros periféricos possuem menores

20 indicadores de envelhecimento, pois concentram menor proporção de idosos e maior de jovens (ARAÚJO et al., 2012; PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL, 2013). Portanto, dentro da cidade existem diferenciações quanto às fases da transição demográfica entre os bairros da capital, embora em todos se observe o processo de pequena, média ou grande intensidade (ARAÚJO et al., 2012). A velocidade do envelhecimento populacional vivido no país traz uma série de responsabilidades para o Estado, sociedade e família, pois traz associada uma série de mudanças do perfil epidemiológico da população, caracterizadas pelo aumento das doenças crônico-degenerativas em detrimento das infecto-parasitárias, próprias do passado recente. Esse processo tem sido denominado como transição epidemiológica e constitui um importante desafio para a saúde pública, pois precisa do controle da carga de incapacidades (ROSSET et al., 2011). Tal situação é acentuada pela desigualdade social e a fragilidade das instituições, especialmente na Região Nordeste, que possui baixos índices de desenvolvimento e saúde. Desta maneira, a situação socioeconômica de parte da população brasileira é precária e as desigualdades sociais acentuam a heterogeneidade do processo individual de envelhecimento (CORTELLETI; CASARA; HERÉDIA, 2004). Diante deste contexto, o Governo Federal sancionou uma série de leis voltadas aos direitos da população idosa, a fim de assegurar maior autonomia, cidadania e dignidade. Na década de 1990 a Política Nacional de Saúde do Idoso foi a primeira política pública brasileira específica para o envelhecimento. Em 2003, foi instituído o Estatuto do Idoso e, mais recentemente, foi editada a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (2006), em cujas diretrizes se inclui o apoio ao desenvolvimento de pesquisas em Gerontologia (AGUIAR et al., 2011). Essa legislação brasileira prioriza o cuidado do idoso pelas famílias, ao invés de institucionalizá-lo. No entanto, fatores sociais como a queda da taxa de fecundidade, o aumento generalizado da escolaridade feminina e a participação das mulheres no mercado laboral reduzem a disponibilidade de cuidadores domiciliares e aumentam a demanda por instituições de longa permanência para idosos (ILPI) (DAVIM et al., 2004; CHAIMOWICZ; GRECO, 1999). Além disso, cabe destacar que durante as últimas décadas têm ocorrido mudanças no padrão de nupcialidade e dos arranjos familiares (mulheres sozinhas, mães solteiras, filhos que emigram), bem como do sistema de valores que podem enfraquecer os laços de solidariedade intergeracionais (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2011).

21 2.2 INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS Diante desse processo de transição demográfica e epidemiológica, tem sido observado, em âmbito nacional, um incremento da demanda por cuidados de longa duração para idosos e uma das alternativas existentes de cuidados não-familiares corresponde às ILPI (CAMARANO; KANSO, 2010; DEL DUCA et al., 2012). Fatores como a idade avançada, o isolamento social e a inatividade física aumentam a demanda por estas instituições, que surgiram originalmente da necessidade social de assistir os indivíduos em situação de carência de recursos socioeconômicos (DEL DUCA et al., 2012; CREUTZBERG; GONÇALVES; SOBOTTKA, 2008). No entanto, o envelhecimento populacional e o aumento da sobrevida de pessoas com redução da capacidade física, cognitiva e mental estão requerendo que as instituições ofereçam não apenas assistência social como também assistência à saúde. Como resultado da função híbrida dessas residências, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia sugeriu a denominação Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) (CAMARANO; KANSO, 2010). No Brasil, atualmente, não há consenso sobre o que seja uma ILPI. Para a Anvisa, são instituições governamentais ou não-governamentais, de caráter residencial, destinadas a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania. Camarano e Kanso (2010) entendem a ILPI como uma residência coletiva que atende tanto idosos independentes em situação de carência de renda e/ou de família quanto aqueles com dificuldade para o desempenho das atividades diárias, que necessitem de cuidados prolongados (CAMARANO; KANSO, 2010). A origem das ILPI está ligada aos asilos, que constituem a modalidade mais antiga de atendimento ao idoso fora do convívio familiar. Historicamente essas instituições eram mantidas por organizações religiosas, fato que faz com que ainda atualmente exista um grande número de instituições sem fins lucrativos no país. O número de instituições para idosos no Brasil começou a crescer a partir das últimas décadas do século XX, como resposta às demandas de uma sociedade em que se observa um aumento da expectativa de vida e diminuição da disponibilidade de recursos familiares para o cuidado de idosos (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2011). Ao mesmo tempo, foi desenvolvida uma estrutura legal para regular as atividades das ILPI. A partir da Constituição Brasileira de 1988, se promulgaram diversas leis para assegurar

22 os direitos dos idosos, como o Estatuto do Idoso de 2003 e a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PINTO; VON SIMSON, 2012). O Decreto nº 1.948 de 03 de julho de 1996, frisa, no artigo 3º, que a instituição asilar tem por finalidade atender, em regime de internato, o idoso sem vínculo familiar ou sem condições de prover a própria subsistência, de modo a satisfazer suas necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência social. Embora a Lei 8.842, de janeiro de 1994, priorize o atendimento ao idoso pelas famílias ao invés da institucionalização, isso se torna difícil em função da redução da fecundidade, das mudanças na nupcialidade e da crescente participação da mulher no mercado de trabalho (DAVIM et al., 2004; CAMARANO; KANSO, 2010). A decisão de internar o idoso em uma instituição geralmente representa uma alternativa em situações como a ausência temporária de cuidador domiciliar, estágios terminais de doença, alto grau de dependência ou a necessidade de cuidados de reabilitação (FREIRE JÚNIOR; TAVARES, 2006). Um estudo realizado no Rio Grande do Sul observou que os fatores mais fortemente associados à institucionalização foram a idade igual ou maior que 80 anos, viver sem companheiro, incapacidade funcional para as atividades básicas da vida diária e ser fisicamente inativo (DEL DUCA et al., 2012). Grande parte dos indivíduos que residem em instituições asilares são portadores de doenças crônicas ou demência senil e necessitam, portanto, de cuidados especiais, às vezes permanentes. Além disso, os problemas de saúde podem ser agravados por fatores socioeconômicos, como a diminuição do suporte social, o abandono, as perdas ou o baixo nível econômico, entre outros. Esta necessidade de oferecer atendimento à saúde nos residentes faz com que a maior parte dos cuidados sejam realizados pela própria equipe de saúde das instituições (CORTELLETI; CASARA; HERÉDIA, 2004). Contudo, a proporção de residentes independentes é maior nas ILPI sem fins lucrativos, onde a institucionalização está mais relacionada a fatores socioeconômicos como a carência de renda e/ou residência. Por outro lado, nas instituições privadas se observa maior percentual de idosos dependentes com maior renda (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2011). Desde uma perspectiva social, as ILPI podem ser consideradas como sistemas sociais organizacionais que assistem pessoas em situação de vulnerabilidade social, ou seja, sem vínculo familiar ou sem condições de garantir sua subsistência e necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência social (CREUTZBERG et al., 2011). Portanto, as ILPI não são apenas estabelecimentos voltados à clínica, ainda que os serviços médicos e de fisioterapia sejam os mais frequentes. Também existem atividades que geram renda, de lazer

23 ou cursos diversos para ajudar aos residentes a exercer um papel social (CAMARANO; KANSO, 2010). No ano 2009 foram identificadas 3.549 ILPI no Brasil, sendo a maior parte de natureza filantrópica, porém a maioria das instituições criadas na primeira década do século XXI foi de caráter privado, o que significou uma mudança no perfil das ILPI. Essas instituições vivem principalmente dos recursos provenientes dos residentes, mediante os recursos da aposentadoria, e dos seus familiares (CAMARANO; KANSO, 2010). Além disso, as ILPI geralmente têm parcerias ou convênios com as secretarias municipais, estaduais ou associações e, portanto, ocasionalmente recebem auxilio econômico público ou de organizações religiosas e sociais (CORTELLETI; CASARA; HERÉDIA, 2004; INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2008b). Atualmente a demanda tende a aumentar devido à insuficiência de serviços públicos de cuidado domiciliar e apoio à família, concentração de idosos em grandes centros urbanos e crescente aumento da longevidade dos idosos com tendência à fragilização (BORN; BOECHAT, 2006). Contudo, a taxa de institucionalização do idoso no Brasil é aproximadamente 1%, taxa menor que a encontrada nos países desenvolvidos, em torno de 10% (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2011). Cabe destacar que a maior parte dos municípios brasileiros, aproximadamente 70%, carece de ILPI e a maioria das existentes é do tipo filantrópico (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2011). Chaimowicz e Greco (1999 apud DAVIM et al., 2004) sugerem que a baixa taxa de institucionalização se deve à escassez de vagas e seu estudo mostrou uma elevada lotação, lista de espera, rígidos critérios para admissão e uma baixa mediana de estadia (3 anos) devido à elevada taxa de mortalidade. No Estado do Rio Grande do Norte (RN), apesar do acelerado processo de envelhecimento da população, apenas 9% dos 167 municípios conta com a modalidade de ILPI. No entanto, desde o seu surgimento, na década de 1940, observa-se um importante aumento do número de entes, especialmente a partir de 2000, provavelmente devido ao crescimento da demanda por essa modalidade de cuidado. A média de residentes por instituição do RN é de 26,9, porém a variabilidade de tamanhos entre elas é grande. A infraestrutura também é heterogênea e diversificada; a maioria dispõe de espaços como posto de enfermagem, refeitório, lavanderia, jardim ou pátio e sala de TV, assim como quartos com 1 ou 2 leitos. Além disso, frequentemente são oferecidos serviços de fisioterapia, terapia ocupacional, assistência social e nutrição (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2008b).

24 No RN, onde existe a maior proporção de ILPI privadas da Região Nordeste, a maioria das instituições do Estado conta com serviços médicos próprios, embora ocasionalmente sejam complementados com o atendimento oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou pela rede privada, no caso dos residentes filiados a algum plano de saúde (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2008b). No entanto, o idoso institucionalizado é comumente excluído das ações programáticas do sistema de saúde e existe uma falta de comunicação e coordenação entre a ILPI e o SUS (CREUTZBERG et al., 2007). Quanto ao pessoal que trabalha nas instituições do RN, a maior parte são funcionários e uma minoria voluntários e estagiários. Cabe destacar o baixo número de profissionais especializados, como fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos, entre outros, e a elevada relação média de residentes por cuidador, que foi de 19 no ano 2008 (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2008b). Das 29 ILPI registradas no Estado, segundo a Vigilância Sanitária, responsável pela emissão e renovação do alvará de funcionamento das instituições, 14 estão localizadas na cidade do Natal. Estas são de natureza filantrópica (sem fins lucrativos) ou privada (com fins lucrativos), e não constam instituições públicas (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2008b). As ILPI da cidade do Natal possuem características socioeconômicas e de saúde semelhantes às encontradas em outros lugares do país, com predomínio claro do sexo feminino e problemas ocasionais como o baixo poder aquisitivo, contato familiar reduzido, atividades de lazer limitadas e restrito atendimento à saúde, entre outros (DAVIM et al., 2004). No que diz respeito às condições de saúde dos idosos, o paradigma atual focaliza a manutenção da capacidade funcional e a qualidade de vida, e para tal fim, é fundamental o controle das doenças crônicas não-transmissíveis e as síndromes geriátricas, como a incontinência urinária (IU) (MENEZES et al., 2011). 2.3 A INCONTINÊNCIA URINÁRIA: UMA SÍNDROME GERIÁTRICA A incontinência urinária (IU) é definida pela International Continence Society (ICS) como a queixa de qualquer perda involuntária de urina e está associada a causas multifatoriais (ABRAMS et al., 2003; TORREALBA; OLIVEIRA, 2010). O envelhecimento não é por si mesmo uma causa da IU (ASLAN et al., 2009). Não obstante, as mudanças relacionadas ao processo de envelhecimento, como as alterações hormonais, têm o potencial de afetar o trato urinário baixo e provocar sintomas que podem

25 aparecer sem patologia aparente. Algumas dessas mudanças fisiológicas são a presença de contrações involuntárias do músculo detrusor, em 10 e 30% das mulheres e homens respectivamente; o aumento do volume residual vesical; a diminuição da capacidade vesical e a pressão de fechamento uretral. Tudo isso pode causar noctúria (queixa de acordar uma ou mais vezes pela noite para urinar), aumento da frequência miccional e IU de Esforço. Nos homens, podem-se observar problemas miccionais devido à hiperplasia da próstata, presente em aproximadamente 50% aos 50 anos de idade (ASLAN et al., 2009; MAGALHÃES; DUARTE; NUNES, 2010). Enquanto nas mulheres, os fatores anatômicos, a obesidade, os antecedentes obstétricos e a menopausa são fatores específicos para o desenvolvimento da IU (BRASIL, 2007). Em ambos os sexos, a força de contração da musculatura do assoalho pélvico pode diminuir com o envelhecimento, assim como a habilidade de adiar a micção (MAGALHÃES; DUARTE; NUNES, 2010). Considera-se a IU como uma das mais importantes e comuns síndromes geriátricas. Sua prevalência aumenta com a idade e é de aproximadamente 30% nos idosos não institucionalizados e de 50% nos institucionalizados (AGUILAR-NAVARRO et al., 2012). No entanto, as pessoas geralmente não relatam sofrer IU, ao menos que sejam investigadas, devido à vergonha e por considerar uma situação normal do envelhecimento. Em idosos também, o aumento no número de comorbidades e medicamentos, alguns dos quais são diuréticos, contribui para manifestação da IU que, por sua vez, pode produzir infecções urinárias e genitais, perda da função renal e disfunção sexual. As perdas de urina também levam ao desenvolvimento de dermatite perineal, presente em 73% dos incontinentes nas ILPI, maceração da pele, e finalmente facilitam a formação de úlceras por pressão, muito frequentes em idosos acamados. Além disso, a IU tem um grande impacto na qualidade de vida do idoso: induz ao isolamento social, autopercepção negativa de saúde e depressão, entre outros (BRASIL, 2007; BLISS et al., 2006). A IU de Urgência é o tipo mais prevalente, seguida da IU de Esforço e IU mista. A IU de Urgência muitas vezes se associa a noctúria, de maneira que a qualidade do sono do idoso é afetada, e o risco de quedas e fraturas aumenta (LEE et al., 2011; MASUI et al., 2011). Em um estudo prospectivo, Hasegawa et al. (2010) identificaram a IU como fator de risco de quedas recorrentes (HASEGAWA; KUZUYA; IGUCHI, 2010). Coll-Planas et al. (2008) explicam a relação entre IU e incapacidade funcional através de 5 vias, segundo a evidência científica atual (COLL-PLANAS; DENKINGER; NIKOLAUS, 2008):

26 1) A IU como um fator de risco de declínio funcional e atividade física reduzida devido ao risco aumentado de quedas e fraturas. 2) Declínio funcional e atividade física reduzida como fatores de risco para o surgimento de IU. 3) Fatores de risco comuns para a IU e o declínio funcional: AVC e outros problemas neurológicos. 4) A IU como parte da origem multifatorial das síndromes geriátricas. 5) A IU como indicador de fragilidade nos idosos. Portanto, o entendimento desses processos no idoso pode ajudar o planejamento e aplicação de intervenções precoces e apropriadas como medicação, terapia comportamental ou fisioterapia, para a prevenção e tratamento da IU (COLL-PLANAS; DENKINGER; NIKOLAUS, 2008). 2.4 A INCONTINÊNCIA URINÁRIA NAS ILPI E SEUS FATORES ASSOCIADOS A prevalência de IU nas ILPI varia de 43 a 77%, na literatura científica. Essa variação se deve às diferenças no método de pesquisa, nas diferentes definições de IU, caraterísticas da amostra e à atenção sanitária (VINSNES et al., 2012; OFFERMANS et al., 2009). A prevalência da IU é maior nos idosos institucionalizados devido à maior presença de comorbidades e também ao processo de cuidado do idoso, que introduz fatores de risco como o tratamento farmacológico ou as restrições físicas, que influenciam a mobilidade, nutrição e o uso do banheiro (OFFERMANS et al., 2009). No entanto, nos EUA, o país que realizou mais estudos sobre a prevalência de IU nas ILPI, apenas 1-2% dos idosos institucionalizados são diagnosticados com IU, mas a prevalência real é maior (ANGER et al., 2006). Consequentemente, a IU tende a não ser tratada nos residentes e apenas 7-8% dos incontinentes recebem tratamento farmacológico (NARAYANAN et al., 2007; JUMADILOVA et al., 2005). Segundo as causas, pode-se diferenciar entre IU Transitória e Estabelecida, que geralmente é associada à patologia neurológica, urológica ou ginecológica. A IU Transitória tem início súbito e geralmente é associada a alterações clínicas agudas como infeções do trato urinário, medicamentos ou restrições de mobilidade entre outras. Na IU Estabelecida a condição clínica é duradoura e as causas podem ser: hiperatividade ou hipoatividade do detrusor, flacidez da musculatura pélvica, alterações da pressão uretral, obstrução da via de saída ou distúrbios funcionais (TORREALBA; OLIVEIRA, 2010; OFFERMANS et al.,

27 2009). Os diversos tipos de IU Estabelecida apresentam diferentes etiologias e fisiopatologias e são: IU de Esforço, IU de Urgência e IU Mista (ABRAMS et al., 2003). É importante realizar uma avaliação funcional do idoso levando em conta a mobilidade, transferências e habilidade para ir ao banheiro, além de conhecer as causas da IU e as comorbidades, para planejar terapias comportamentais, como a evacuação precoce e a micção programada, que combinadas com exercícios podem diminuir a IU (ABRAMS et al., 2010). A IU em idosos é associada à deficiência, resistência física diminuída, autopercepção da saúde baixa, isolamento social, depressão, diminuição da qualidade de vida e aumento da carga de trabalho do cuidador. Além disso, a admissão em uma ILPI pode influir a continência nos novos residentes, aumentando a prevalência de IU após alguns anos de residência, devido em parte ao aumento da idade e fragilidade (BOYINGTON et al., 2007; OFFERMANS et al., 2009). Em uma revisão sistemática foram identificados 46 fatores associados à IU nas ILPI. Os mais importantes foram o sexo (mulher), idade, função cognitiva, demência, o fato de estar acamado e locomoção (OFFERMANS et al., 2009). No entanto, parece que a IU é mais fortemente associada aos fatores físicos como restrições físicas e limitações das atividades da vida diária que aos fatores mentais (OFFERMANS et al., 2009; LEUNG; SCHNELLE, 2008; KWONG et al., 2010). A IU também está associada à assistência à saúde, à fadiga dos cuidadores, de tal maneira que conhecimentos e habilidades inadequados, insuficiência de pessoal, inabilidade no uso de guias clínicos para o cuidado da IU e falta de comunicação dos profissionais de saúde são fatores que podem influenciar a incontinência do idoso. Offermans et al. (2009) recomendam incluir a avaliação do processo de cuidados nas ILPI, para poder explicar as diferenças nas taxas de IU (OFFERMANS et al., 2009). A Figura 1 mostra o mapa conceitual elaborado a partir da revisão da literatura sobre os determinantes da IU em idosos institucionalizados.

28 Figura 1 - Determinantes da IU em idosos institucionalizados. Fonte: própria.

29 No Brasil, os trabalhos realizados acerca desta condição são limitados, de amostra reduzida e contêm sérios vieses metodológicos. Os diferentes métodos de aferição empregados podem explicar, em parte, a diferença nas taxas de IU relatadas na literatura científica brasileira, que variam entre 22 e 100% (MENEZES et al., 2011; LAZARI; LOJUDICE; MAROTA, 2009; MAGALHÃES; DUARTE; NUNES, 2010; HUEBRA et al., 2010; LACERDA et al., 2011; PICCOLI; SEBBEN; GUEDES, 2012). O estudo de maior rigor metodológico e amostra verificou uma prevalência de 57,3%, e encontrou associação significativa da condição com o declínio da mobilidade e a função cognitiva (BUSATO; MENDES, 2007). Trabalhos que estudaram a qualidade de vida encontraram um impacto entre leve e grave das perdas urinárias, porém um estudo observou menor impacto destas nas idosas institucionalizadas que nas pacientes ambulatoriais (LAZARI; LOJUDICE; MAROTA, 2009; LACERDA et al., 2011; PICCOLI; SEBBEN; GUEDES, 2012; ZLOTNIK, 2008). São necessárias mais pesquisas que incluam o estudo da incontinência, os fatores associados para conhecer melhor o problema e planejar medidas de prevenção e tratamento da IU que visem melhorar a qualidade de vida dos idosos institucionalizados, reduzir os problemas de saúde associados à incontinência e diminuir o custo sanitário. A presente secção é complementada com o manuscrito Incontinência urinária em idosos institucionalizados no Brasil: uma revisão integrativa, por Jerez-Roig, Souza e Lima, que foi publicado no número 4 do ano 2013 da Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, e que consta a seguir.

30 Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, 2013; 16(4):865-879 Incontinência urinária em idosos institucionalizados no Brasil: uma revisão integrativa Urinary incontinence in institutionalized elderly in Brazil: an integrative review Javier Jerez-Roig 1,2, Dyego LB de Souza 1, Kenio Costa Lima 1 1 Departamento de Odontologia, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. 2 Servicio de Rehabilitación, Hospital Can Misses. Ibiza, Espanha. Autor para correspondência / correspondence: Javier Jerez Roig Departamento de Odontologia, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil Avenida Salgado Filho, 1787 Lagoa Nova 59056-000 Natal/RN Telefone e fax: (84) 3215-4133 email: javijerez81@hotmail.com RESUMO Este trabalho tem como objetivo abordar os principais aspectos relacionados à incontinência urinária (IU) em idosos institucionalizados no Brasil, por meio de uma revisão integrativa de literatura. Em agosto de 2013 foram pesquisadas as bases de dados Pubmed, Scopus, LILACS, Scielo, PAHO, MedCarib, CAPES e Google Académico, utilizando combinações dos termos incontinência urinária, idosos, institucionalizados e Brasil. Após a aplicação dos critérios de elegibilidade, selecionaram-se 11 trabalhos: 9 artigos científicos e 2 dissertações de mestrado. A maior parte dos estudos foi do tipo seccional, realizado na Região Sul ou Sudeste, e com amostra menor que 100 indivíduos. A frequência da IU variou entre 22 e 100%, ultrapassando 50% na maior parte das pesquisas, com acometimento maior no sexo feminino. A forma clínica mais comum foi a IU de esforço, seguida pela IU de urgência, e o volume das perdas urinárias referido pelos residentes variou entre pequena e grande quantidade, sem predominância de nenhuma das categorias. O impacto da condição na qualidade de vida do indivíduo é diverso, entre leve e elevado, porém parece ser menor que em idosos não institucionalizados. A partir do presente trabalho conclui-se que a IU é um

31 problema de saúde frequente no âmbito asilar, que pode afetar a qualidade de vida do residente e se associar ao declínio da mobilidade e à função cognitiva. Contudo, as pesquisas no Brasil são escassas e com amostra reduzida e, portanto, são necessários estudos com maior rigor metodológico que facilitem o planejamento de medidas adequadas de prevenção e tratamento, que visem reduzir os gastos sanitários, a sobrecarga dos cuidadores e profissionais de saúde e que possibilitem a diminuição do impacto desta condição na saúde dos idosos institucionalizados. Palavras-chave: Idoso; Incontinência Urinária; Institucionalização; Instituição de Longa Permanência para Idosos. ABSTRACT The objective of this work was to investigate the main aspects related to urinary incontinence (UI) in institutionalized seniors of Brazil, by means of an integrative literature review. In august 2013, the following databases were utilized: Pubmed, LILACS, Scielo, PAHO, MedCarib, CAPES and Scholar Google, searching for combinations of the terms urinary incontinence, elderly, institutionalized and Brazil. After application of eligibility criteria, ten studies were selected: eight scientific studies and two MSc dissertations. The majority of these studies were sectional, carried out in the South or Southeast regions of Brazil, utilizing samples of less than 100 individuals. UI frequency varied between 22 and 100%, being over than 50% in most of the studies, with the female gender most affected. The most common clinical form was stress incontinence, followed by urge incontinence, and the volume of losses referred by residents varied between small and large quantities, without predominance of any category. The impact on life quality conditions of the individual is generally high or moderate, however is lower in non-institutionalized elderly. From the present study it was concluded that UI is a common health condition found in the nursing home environment, affecting the quality of life of the resident and can be associated with a decline in mobility and cognitive function. However, Brazilian research on this subject is still limited with reduced sampling and therefore, a higher degree of methodological strictness is required in future studies to facilitate planning of prevention and treatment measures. Appropriate planning will reduce sanitary costs and the workload of caregivers and health professionals, as well as the impact of this condition on the health of the institutionalized elderly. Key words: Elderly; Homes for the Aged; Institucionalization; Urinary incontinence.