MATERIAIS ABSORVEDORES DE RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA, BASEADOS EM UM COMPÓSITO HÍBRIDO DE FIBRA DE VIDRO

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Transcrição:

MATERIAIS ABSORVEDORES DE RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA, BASEADOS EM UM COMPÓSITO HÍBRIDO DE FIBRA DE VIDRO Vinícius M. Freire 1*, Viviane L. Soethe 2, Rafael G. Delatorre 3, Moisés L. Parucker 4 1 Universidade Federal de Santa Catarina Rua Dr. João Colin, 270. Sala E213a. Bairro Santo Antônio. Joinville - SC Brasil. CEP:89.218-035- viniciusmartinsfreire@gmail.com 2 Universidade Federal de Santa Catarina viviane.s@ufsc.br 3 Universidade Federal de Santa Catarina rafael.delatorre@ufsc.br 4 Universidade Federal de Itajubá moises_parucker@hotmail.com RESUMO Materiais Absorvedores de Radiação Eletromagnética (MARE) são compostos que absorvem a radiação eletromagnética incidente, dissipando-as em calor, efeito explicado pela Lei de Joule. O conhecimento tecnológico obtido pela pesquisa desse material é obtido pela combinação de componentes, como: substratos, matrizes poliméricas e dopantes com adequadas propriedades dielétricas e magnéticas, características decisivas ao produto final, fazendo-as boas absorvedoras. Este artigo aborda a preparação de um material composto de óxido férrico e dióxido de titânio que se apresentam como bons absorvedores, em trabalhos prévios, visando mostrar, se as combinações imersas em uma matriz de epóxi com reforço de fibra de vidro pode resultar num material ainda melhor. Uma breve análise dos materiais que compõe as amostras de resina polimérica, de aproximadamente um milímetro, se analisadas num espectro de 8 até 12 GHz, mostram que o compósito absorve uma maior quantidade de radiação incidente que as observadas separadamente nas partículas. Palavras-Chave: Dióxido de Titânio, Óxido Férrico, Material Absorvedor de Radiação Eletromagnética. INTRODUÇÃO Materiais Absorvedores de Radiação Eletromagnética (MARE) usam as propriedades de troca de energia da radiação eletromagnética por energia térmica, como demonstrado na Fig. 1 (1). Esses materiais podem ser do tipo carbonosos, óxidos cerâmicos ou polímeros condutores e podem atuar no campo magnético, elétrico ou em ambos, sendo chamados de materiais absorvedores híbridos (2), sendo que os mecanismos de absorção podem ser de natureza física, química ou ambas. 1

Figura 1. Esquema de dissipação da radiação eletromagnética em energia térmica. Fonte: REZENDE, M.C.; MARTIN, I.M.; SILVA, F.S. (2000). Os materiais absorvedores apresentam-se como uma solução alternativa, do ponto de vista tecnológico, para a redução de problemas de compatibilidade e interferência eletromagnética, presentes em muitos equipamentos desenvolvidos e utilizados na engenharia de forma geral, e tem grande importância na indústria aeroespacial, a qual é alvo da presente pesquisa. Este tipo de material atenua a energia espalhada por um alvo (eco-radar), sendo esta energia utilizada para detecção de objetos por meio de radares. Desta forma, com o auxílio de um material absorvedor, o alvo torna-se mais difícil de ser detectado ou, como apresentado na literatura, torna-se invisível ao radar. Nohara afirma que para o controle de interferência e como blindagem eletromagnética de alta frequência este tipo de material é muito utilizado, principalmente na área de telecomunicações (telefonia celular, sistemas de comunicação de navios, aeronaves e automóveis, etc.) (3). Neste sentido, no presente trabalho realizou-se o desenvolvimento e a validação de um material com capacidade absorvedora de radiação eletromagnética, na faixa de frequência (8-12 GHz), com espessura da ordem de dezenas de milímetros, constituindo-se de um compósito polimérico de matriz epóxi e reforços de fibra de vidro aditivado com Óxido Férrico e Dióxido de Titânio, sob a fase Anatase. Tipos de absorvedores Os absorvedores são divididos de acordo com a faixa de frequência na qual absorvem em banda estreita ou ressonante: tipo N ( Narrow ), e banda larga, tipo W ( Wide ), respectivamente (2,4). A Fig. 2 apresenta curvas de absorção típicas, obtidas pelo uso destes dois tipos de 2

absorvedores. Absorvedores do tipo N possuem apenas uma frequência ou pequena faixa na qual produzem efetiva atenuação. Por outro lado, os absorvedores do tipo W, atenuam em uma faixa mais ampla de frequência, como é possível observar na Fig. 2. A aplicabilidade destes absorvedores é dependente da banda na qual absorvem. Figura 2. Curvas característica de absorção para absorvedores tipo N (1) e tipo W (2). Fonte: FAEZ, R. et Al. (2000). Faez et al. afirmam que existem duas classes principais de absorvedores: os materiais densos compostos por uma única fase e os compostos por pelo menos duas fases (matriz e carga magnética e/ou dielétrica). Quando são compostos por partículas dielétricas e magnéticas, são chamados de absorvedores híbridos (5). Em materiais de única fase, a absorção é, frequentemente, do tipo W, apresentando propriedades homogêneas com a incorporação de partículas magnéticas. Por outro lado, os materiais de duas ou mais fases, apresentam uma dispersão de carga com propriedades magnéticas ou dielétricas em uma matriz isolante. Essa dispersão altera as propriedades finais do material, influenciando a absorção apresentada pelo conjunto (5). MATERIAIS E MÉTODOS Materiais Para a obtenção dos compósitos fez-se uso de resina epóxi, tecido bidirecional de fibra de vidro (tipo E) e dióxido de titânio de fase anatase. Este último apresenta-se como um importante semicondutor que possui significativas propriedades dielétricas, podendo ser usado como um 3

absorvedor da parte dielétrica da onda eletromagnética (6). Este material foi cedido pela empresa IQBC Produtos Químicos e o óxido férrico e é usado em diversas pesquisas como absorvedores da parte magnética da onda eletromagnética (7) tendo sido cedido pelo Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). Síntese do compósito Depois de pesados em uma balança de precisão, os materiais foram criteriosamente separados. Inicialmente, fez-se o preparo do compósito formado por um tecido bidirecional tipo E, de fibra de vidro e matriz termorrígida de epóxi. Essa matriz foi dopada com o óxido férrico e dióxido de titânio, em quantidades de massa previamente estabelecidas. Neste estudo foram produzidas oito amostras, cujas concentrações dos compostos utilizados podem ser observadas na Tabela I. Tabela I Proporções em massa da quantidade de soluto presente nas amostras. ÓXIDO FÉRRICO DIÓXIDO DE TITÂNIO FIBRA DE VIDRO + RESINA EPÓXI 0 0 1 0 1 5 1 0 5 1 1 5 1 2 10 2 1 10 1 0 10 0 1 10 Fonte: Elaborada pelo autor. Essas amostras, depois de laminadas, passaram por um processo de cura e endurecimento. Cerca de 48 horas após o processo, as amostras foram separadas e cortadas, com tamanhos próprios para a realização das análises previstas. Caracterização Primeiramente, fez-se à caracterização por difração de raios-x (DRX) dos compostos 4

utilizados como carga (dióxido de titânio e óxido férrico). O teste foi conduzido na Divisão de Materiais do Instituto de Aeronáutica e Espaço AMR/IAE em São José dos Campos/SP. A caracterização do MARE em guia de onda pode ser observada esquematicamente na Fig. 3 e envolve a determinação da energia transmitida (Et) e da energia refletida (Er-livre) e por conseguinte, o cálculo da energia absorvida (Ea) (8), utilizando aos princípios de conservação de energia, dada pela Eq. 1. Ei = Er-livre + Et + Ea (1) Figura 3. Esquema geral do princípio da conservação da energia eletromagnética incidente sobre um determinado material. Fonte: SIMÕES, R. (2005). A refletividade é a relação entre a energia eletromagnética refletida pelo material e a energia incidente no material e é expressa em db (decibel), representada na Eq. 2. A relação entre a atenuação em db e a porcentagem da radiação eletromagnética absorvida é apresentada na Tabela II. (9) Refletividade (db) = log10(er/ei) (2) Tabela II: Relação entre refletividade e a porcentagem de energia absorvida. ATENUAÇÃO DA REFLEXÃO, db % DE ENERGIA ABSORVIDA 0 0-3 50-10 90-15 96,9-20 99-30 99,9-40 99,99 Fonte: NOHARA, E. L. et al (2009). 5

Uma medida indireta da absorção da radiação eletromagnética apresentada pelas amostras pode ser feita avaliando a resistividade apresentada pelo material. A mobilidade eletrônica está relacionada com a resistência superficial sentida pelos elétrons, que consequentemente, são diretamente dependentes da característica do material em atenuar a energia de onda eletromagnética (10). Utilizando-se desse princípio, análises de resistividade em duas pontas, foram realizadas nas amostras, por meio de um equipamento de resistividade em quatro pontas do Laboratório de Filmes Finos e Nanotecnologia, do Centro Tecnológico de Joinville da UFSC. A superfície das amostras foi avaliada por meio de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV). Com esta caracterização pode-se observar em detalhes os componentes do compósito, ou seja, as fibras e os particulados na superfície das amostras. O experimento foi conduzido no Laboratório de Microscopia Eletrônica da Universidade Federal de Itajubá, Campus Itabira/MG. RESULTADOS Análises de DRX realizadas sobre as cargas utilizadas na fabricação dos compósitos podem ser verificadas nas Fig. 4. A identificação das fases cristalinas associadas aos materiais estudados foram obtidas pelo software X'Pert HighScore Plus e evidenciam o tipo de material, com o qual a resina foi dopada. Figura 4. Análise de DRX: (a) do particulado de óxido férrico; (b) dióxido de titânio. (a) (b) Fonte: Elaborada pelo autor. 6

Pelos resultados de DRX pode-se confirmar, com uma precisão maior que 97%, que o óxido férrico é de fase Hematita, que apresenta sistema cristalino Trigonal Romboédrico e o dióxido de titânio é de fase Anatase, que apresenta sistema cristalino Tetragonal Piramidal. Observou-se pelo método de resistividade em duas pontas, que o pó de Óxido Férrico apresentou resistência elétrica na magnitude de 7x10 6 Ω (Ohms) enquanto que o pó de Dióxido de Titânio apresenta resistência elétrica da ordem de 4x10 7 Ω, evidenciando a característica condutora de ambos os compostos isoladamente. Ao medirem-se as amostras, pode-se observar propriedades distintas daquelas apresentadas pelos compostos isoladamente. As amostras de compósitos apresentaram características isolantes, com resistências elétricas que variam de 3x10 10 a 2x10 11 Ω. Por intermédio da análise de MEV, foi possível obter imagens da superfície do material, como apresentado na Fig. 5. Verifica-se uma distribuição não uniforme das partículas sobre a superfície da resina. Além disso é necessário identificar, por meio de análise química, quais os particulados referem-se a cada uma das fases adicionadas. Figura 5. MEV do compósito evidenciando as fibras e as partículas adicionadas (200X). Fonte: Elaborada pelo autor. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir de um processo simples de laminação em fibra de vidro, com resina epóxi dopada de diferentes compostos, espera-se obter um material que combine as características intrínsecas de cada particulado a fim de obter-se um material capaz de absorver radiação eletromagnética, aliando um processo já utilizado na indústria aeronáutica e, portanto, de fácil implementação. A caracterização, da absorção da radiação eletromagnética por guia de onda, encontra-se em processo de execução. Tal técnica permitirá avaliar o comportamento do compósito quanto a sua potencialidade enquanto absorvedor e a influência de cada composto adicionado no comportamento 7

apresentado pelo material. Espera-se que o material tenha uma absorção mínima, maior que a dos constituintes, separadamente, efeito que se dá pelos diferentes mecanismos de absorção em cada particulado impregnado na resina. REFERÊNCIAS 1. DIAS, J. C. Obtenção de Revestimentos Absorvedores de Radiação Eletromagnética (2-18 GHz) Aplicados no Setor Aeronáutico. 2000, Ph.D. Thesis Instituto Tecnológico de Aeronáutica, ITA, São José dos Campos. 2. REZENDE, M.C.; MARTIN, I.M.; SILVA, F.S. 2000. Materiais absorvedores de radiação eletromagnética, Spectrum, v.2, p. 17-20, 2000. 3. NOHARA, E.L. Materiais Absorvedores de Radiação Eletromagnética (8-12 GHz) Obtidos pela Combinação de Compósitos Avançados Dielétricos e Revestimentos Magnéticos. 2003, Ph.D. Thesis Instituto Tecnológico de Aeronáutica, ITA, São José dos Campos. 4. GONÇALVES, V. F. M., Materiais Compósitos Estruturais Atenuadores de Radiação Eletromagnética (8,2-12,4 Ghz). 2016, Monografia Universidade de Taubaté, UNITAU, Taubaté. 5. FAEZ, R. ET AL. Polímeros condutores para blindagem eletromagnética. Polímeros: Ciência e Tecnologia, v.10, nº 3, p. 134, 2000. 6. SINGHA, K. et al. Dielectric and magnetic properties of conducting ferromagnetic composite of polyaniline with Fe2O3 nanoparticles. Elsevier, Indian, 2008. 8

7. KUMAR, A. et al. Microwave absorbing behavior of metal dispersed TiO2 nanocomposites. Elsevier, Indian, 2013. 8. SIMÕES, R. Materiais absorvedores de radiação eletromagnética na faixa de 8 a 12 GHz. 2005. 87 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica Tecnologia de Materiais e Processos de Fabricação), Universidade de Taubaté, UNITAU, Taubaté. 9. NOHARA, E. L.; CERQUEIRA, R. M.; PEREIRA, J. J.; DA SILVA, V. A. Comportamento eletromagnético de materiais absorvedores de micro-ondas baseados em hexaferrita de Ca modificada com íons CoTi e dopada com La. Journal of Aerospace Technology and Management. p. 255-263, 2009. 10. SOETHE, V. L., Filmes Finos Absorvedores de Microondas obtidos pelo processo de Deposição Física em fase vapor. Tese (Doutorado), Instituto Tecnológico de Aeronáutica, ITA, São José dos Campos. 9