Sanções laborais aplicáveis à empresa São de vários tipos as sanções aplicáveis às empresas, decorrentes da violação de regras que impõem comportamentos em matéria laboral. A violação de direitos ou o incumprimento de deveres, no âmbito da relação laboral, são sancionados através da previsão de contraordenações laborais e, nos casos mais graves, de crimes de natureza laboral. Se o mesmo facto estiver previsto na lei simultaneamente como contraordenação laboral e como crime de natureza laboral, a empresa responderá pela sua atuação enquanto crime. No entanto, se o Ministério Público decidir arquivar o processo criminal, mas entender que subsiste responsabilidade pela contraordenação, remeterá o respetivo processo à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT). Crimes de natureza laboral Atualmente o Código do Trabalho prevê sete tipos distintos de crimes: - crime por utilização indevida de trabalho de menor; - crime de desobediência por não cessação da atividade de menor; - crime por violação da autonomia ou independência sindical; - crime por ato discriminatório; - crime de retenção de quota sindical; - crime em matéria de greve; - desobediência qualificada. Crime por utilização indevida de trabalho de menor Se a empresa utilizar o trabalho de menor que não tenha 16 anos ou não tenha concluído a escolaridade obrigatória (pode ter idade inferior, se tiver concluído a escolaridade obrigatória, desde que apenas faça trabalhos leves), pratica um crime punido com pena de prisão até 4 anos ou com pena de multa até 480 dias. Se o menor tiver a idade mínima e já tiver concluído a escolaridade obrigatória, mas não dispuser de capacidades físicas e psíquicas adequadas ao posto de trabalho, ou o trabalho for proibido ou condicionado, a empresa é punida com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias. 1
Se a empresa for reincidente, os limites mínimos das penas acima referidas são elevados para o triplo. Crime de desobediência por não cessação da atividade de menor Se a empresa, nos casos de utilização indevida de trabalho de menor, após ser notificada pela ACT, não cessar a aquela prática, pode ser punida com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias. Crime por violação da autonomia ou independência sindical Se a empresa interferir na organização, gestão, e financiamento das estruturas de representação coletiva dos trabalhadores pode ser punida com pena de multa até 120 dias. O administrador, diretor, gerente ou outro trabalhador que ocupe lugar de chefia que seja responsável por ato referido no número anterior é punido com pena de prisão até 1 ano. Crime por ato discriminatório A empresa não pode subordinar o emprego de trabalhador à condição de este se filiar ou não se filiar numa associação sindical ou de se retirar daquela em que esteja inscrito, nem despedir, transferir ou, por qualquer modo, prejudicar trabalhador devido ao exercício dos direitos relativos à participação em estruturas de representação coletiva ou à sua filiação ou não filiação sindical, sob pena de praticar um crime punido com pena de multa até 120 dias. O administrador, diretor, gerente ou outro trabalhador que ocupe lugar de chefia que seja responsável por ato referido no número anterior é punido com pena de prisão até 1 ano. Crime de retenção de quota sindical Se a empresa retiver e não entregar à associação sindical a quota sindical cobrada é punido com a pena prevista para o crime de abuso de confiança, que prevê pena de prisão ou de multa. 2
Crime em matéria de greve Sob pena de praticar este crime, a empresa não pode, durante a greve, substituir os grevistas por pessoas que, à data do aviso prévio, não trabalhavam no respetivo estabelecimento ou serviço nem pode, desde essa data, admitir trabalhadores para aquele fim, nem coagir, prejudicar ou discriminar trabalhador por motivo de adesão ou não a greve. Este crime é punido com pena de multa até 120 dias. Desobediência qualificada A empresa incorre no crime de desobediência qualificada quando: - não apresentar ao ACT documento ou outro registo por este requisitado que interesse ao esclarecimento de qualquer situação laboral; - ocultar, destruir ou danificar documento ou outro registo que tenha sido requisitado pelo ACT. Este crime é sancionado com a com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias. Contraordenações laborais As contraordenações laborais são todas as violações que estejam previstas na lei e que penalizam com a aplicação de uma coima a violação de direitos ou o incumprimento de deveres no âmbito da relação laboral. A aplicação destas contraordenações compete aos Inspetores da ACT. Tipos de contraordenação e valores das coimas Podem ser aplicadas às empresas três tipos de contraordenações laborais: leves, graves e muito graves. Os limites mínimos e máximos das coimas variam consoante o tipo de contraordenação, o da empresa, e o grau de culpa do infrator. Estes limites podem ser consultados na tabela seguinte: 3
Empresa sem trabalhadores a seu serviço inferior a 500.000 euros igual ou superior a 500.000 mas inferior 2.500.000 euros igual ou superior a 2.500.000 mas inferior 5.000.000 euros igual ou superior a 5.000.000 mas inferior 10.000.000 euros igual ou superior a 10.000.000 euros Contraordenações laborais Leves Graves Muito Graves Negligência Dolo Negligência Dolo Negligência Dolo 1 a 2 2 a 5 6 a 9 2 a 3,5 6 a 9 10 a 15 3 a 7 6 a 12 7 a 14 10 a 20 12 a 25 15 a 40 7 a 14 13 a 26 15 a 40 21 a 45 26 a 50 55 a 95 10 a 25 20 a 40 32 a 80 42 a 120 55 a 140 90 a 300 25 a 50 (1) 45 a 95 (1) 85 a 190 (1) 120 a 280 (1) 145 a 400 (1) 300 a 600 (1) * UC = Unidade de Conta - em 2012 cada UC equivale a 102 euros. (1) Se a contraordenação muito grave se reportar a violação de normas sobre trabalho de menores, segurança e saúde no trabalho, direitos de estruturas de representação coletiva dos trabalhadores e direito à greve, os valores máximos das respetivas coimas são elevados para o dobro. Para efeitos de aplicação destas contraordenações, o da empresa reporta-se ao ano civil anterior ao da prática da infração. Caso a empresa não tenha atividade no ano civil anterior ao da prática da infração, considera-se o do ano mais recente. Se a infração se reportar ao ano de início de atividade da empresa são aplicáveis os limites previstos para empresa com inferior a 500.000 euros. Se a empresa não indicar o, a ACT aplicará os limites acima previstos para empresa com igual ou superior a 10.000.000 euros. Se a empresa for reincidente ou seja, se tiver cometido uma contraordenação grave praticada com dolo ou uma contraordenação muito grave, depois de ter sido condenada por outra contraordenação grave praticada com dolo ou contraordenação muito grave, se entre as duas infrações tiver decorrido menos de cinco anos - os 4
limites mínimo e máximo da coima são elevados em um terço do respetivo valor, não podendo esta ser inferior ao valor da coima aplicada pela contra - ordenação anterior desde que os limites mínimo e máximo desta não sejam superiores aos daquela. Sanções acessórias Para além das coimas, podem ainda ser aplicadas à empresa infratora sanções acessórias. No caso da contraordenação praticada ser muito grave ou existir reincidência em contraordenação grave, praticada com dolo ou negligência grosseira, é aplicada à empresa a sanção acessória de publicidade. Esta consiste na inclusão em registo público, disponibilizado no site da ACT, de um extrato com a caracterização da contraordenação, a norma violada, a identificação do infrator, o setor de atividade, o lugar da prática da infração e a sanção aplicada. Decorrido um ano desde a publicidade da decisão condenatória sem que o agente tenha sido novamente condenado por contraordenação grave ou muito grave, esta será eliminada do registo público. Esta sanção acessória pode ser dispensada pelo tribunal ou pela ACT, tendo em conta as circunstâncias da infração, se a empresa tiver pago imediatamente a coima a que foi condenada e se não tiver praticado qualquer contraordenação grave ou muito grave nos cinco anos anteriores. Se a empresa reincidir na prática de contraordenação muito grave ou grave, praticada com dolo ou negligência grosseira, tendo em conta os efeitos gravosos para o trabalhador ou o benefício económico por ela retirado com o incumprimento, podem ainda ser aplicadas pelo tribunal ou pela ACT as seguintes sanções acessórias: - interdição do exercício de atividade no estabelecimento, unidade fabril ou estaleiro onde se verificar a infração, por um período até dois anos; - privação do direito de participar em arrematações ou concursos públicos, por um período até dois anos. 5
Inspeções Quando fiscalizada, a empresa tem de dar acesso livre-trânsito às suas instalações, pelo tempo e horário que sejam necessários ao desempenho das funções dos inspetores. A empresa está ainda legalmente obrigada, quando pedido, a ceder instalações, material e equipamento aos inspetores durante a ação inspetiva, devendo ainda assegurar a colaboração dos seus trabalhadores. Por sua parte, os inspetores podem requisitar e copiar, com efeitos imediatos, para exame, consulta e junção aos autos, livros, documentos, registos, arquivos e outros elementos pertinentes em poder da empresa e que interessem à averiguação dos factos objeto da ação inspetiva. Caso seja constatada qualquer infração penalizada com coima, o inspetor elabora: - um auto de notícia, se a tiver verificado ou comprovado, pessoal e diretamente, ainda que por forma não imediata; - uma participação, se a não tiver sido comprovada pessoalmente instruída com os elementos de prova disponíveis e a indicação de, pelo menos, duas testemunhas e o máximo de cinco, independentemente do número de contraordenações em causa; - um auto de advertência - se for classificada como leve e ainda não tiver resultado prejuízo grave para os trabalhadores. O auto de notícia, a participação e o auto de infração têm de mencionar especificadamente os factos que constituem a contraordenação, o dia, a hora, o local e as circunstâncias em que foram cometidos e o que puder ser averiguado acerca da identificação e morada da empresa arguida, o nome e categoria do autuante ou participante e, ainda, relativamente à participação, a identificação e a residência das testemunhas. A empresa tem de ser sempre notificada do auto de notícia, da participação e da decisão da ACT que lhe aplique coima, sanção acessória ou admoestação. Esta notificação é efetuada por carta registada, com aviso de receção. Se ninguém da empresa receber ou assinar a notificação, o distribuidor do serviço postal certifica a recusa, considerando-se efetuada a notificação. Todas as demais notificações efetuadas na pendência do processo são efetuadas por meio de carta simples. Estas podem ainda ser enviadas à empresa por fax ou correio eletrónico caso a empresa utilize estes meios para contactar a ACT. Se a empresa constituir um advogado, todas as notificações serão enviadas para este. 6
Pagamento das coimas Infração leve ou grave com coima mínima igual ou equivalente a 10 Unidades de Conta (1.020 euros em 2012) Se a infração imputada à empresa tiver esta característica, e se a empresa nunca tiver sido condenada por infração anterior, ou caso tenha sido, já tenham decorrido mais de cinco anos da data em que a decisão condenatória se tornou definitiva, a ACT utiliza um processo especial. Assim, a ACT, antes da acusação, notifica a empresa da descrição sumária dos factos imputados, com menção das disposições legais violadas e indicação do valor da coima calculada. Nos cinco dias seguintes a ser notificada, a empresa pode proceder ao pagamento da coima com valor reduzido - 75% do montante mínimo legal aplicável, desde que cumpra simultaneamente a obrigação em falta. Este pagamento vale como decisão condenatória e o processo é arquivado, não podendo a empresa pedir mais tarde a sua apreciação em tribunal. Se a empresa optar por não efetuar o pagamento da coima dentro daquele prazo ou não cumprir a obrigação em falta, será notificada da acusação, tendo 10 dias contados a partir daí, para: - proceder ao pagamento voluntário da coima - neste caso a coima é liquidada pelo valor mínimo que corresponda à contraordenação praticada com negligência, devendo ter em conta o agravamento a título de reincidência, mas a empresa não pagará custas processuais; se a contraordenação consistir na falta de entrega de documentos ou na omissão de comunicações obrigatórias, a empresa só pode efetuar o pagamento voluntário da coima se cumprir a obrigação em falta dentro do prazo para pagamento. Com este pagamento, o processo é arquivado, exceto se for aplicável sanção acessória, caso em que prosseguirá apenas para aplicação desta; - contestar, mediante resposta escrita, devendo apresentar os documentos probatórios de que disponha e indicar as suas testemunhas. Estas terão de ser apresentadas pela empresa na data, hora e local indicados pela ACT. Caso não concorde com a decisão condenatória, a empresa poderá de impugná-la judicialmente nos 20 dias seguintes a ter sido notificada dessa mesma decisão. Se optar por não apresentar o seu caso a tribunal, a decisão torna-se definitiva, devendo a empresa pagar a coima nos 10 dias seguintes. Se o pagamento não for efetuado, esta decisão serve como título executivo para ser aberto um processo executivo contra a empresa. 7
Infração grave com coima mínima superior a 10 Unidades de Conta (1.020 euros em 2012) ou infração muito grave Após a empresa ser notificada das infrações de segurança social, tem 15 dias, para: - proceder ao pagamento voluntário da coima - neste caso a coima é liquidada pelo valor mínimo que corresponda à contraordenação praticada com negligência, devendo ter em conta o agravamento a título de reincidência, mas a empresa não pagará custas processuais; se a contraordenação consistir na falta de entrega de documentos ou na omissão de comunicações obrigatórias, a empresa só pode efetuar o pagamento voluntário da coima se cumprir a obrigação em falta dentro do prazo para pagamento. Com este pagamento, o processo é arquivado, exceto se for aplicável sanção acessória, caso em que prosseguirá apenas para aplicação desta; - contestar, mediante resposta escrita, devendo apresentar os documentos probatórios de que disponha e indicar as suas testemunhas. Estas terão de ser apresentadas pela empresa na data, hora e local indicados pelo ISS. Mesmo optando por contestar a contraordenação, a empresa pode optar pelo pagamento voluntário da coima antes que a ACT decida sobre o processo desde que a infração em causa não tenha sido qualificada como muito grave praticada com dolo. Assim, a coima também é liquidada pelo valor mínimo que corresponda à contraordenação praticada com negligência, devendo ter em conta o agravamento a título de reincidência, mas será acrescido das devidas custas processuais. Também neste caso, se a contraordenação consistir na falta de entrega de documentos ou na omissão de comunicações obrigatórias, a empresa só pode efetuar o pagamento voluntário da coima só é possível se cumprir a obrigação em falta até decisão da ACT. Com este pagamento, o processo é arquivado, exceto se for aplicável sanção acessória, caso em que prosseguirá apenas para aplicação desta. Pagamento da coima em prestações Ao ser notificada da decisão condenatória, a empresa, caso a sua situação económica o justifique, pode requerer à ACT o pagamento da coima em prestações, num máximo de 12. Para tal, a empresa terá sempre de fazer prova da impossibilidade de pagamento imediato da coima. Se for concedida a possibilidade de pagamento da coima em prestações, e se a empresa não pagar uma prestação, é imediatamente exigido o pagamento das restantes. 8
Referências Código do Trabalho, art.ºs, 82.º, 83.º, 405.º, 406.º, 407.º, 459.º,547.º, 553.º a 560.º Lei 107/2009, de 14 de setembro Código Penal, 205.º, 348.º Atualizado a 31-07-2012 9