MICROBIOTA FÚNGICA ANEMÓFILA DE HOSPITAIS DA REDE PÚBLICA DA CIDADE DE CAMPINA GRANDE-PB

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Transcrição:

102 MICROBIOTA FÚNGICA ANEMÓFILA DE HOSPITAIS DA REDE PÚBLICA DA CIDADE DE CAMPINA GRANDE-PB Anne Evelyne Franco de Souza 1 ; Ewerton Franco de Souza 2 ; Heverton Alves Costa 2 ; Ygor Wernst Felipe Barbosa 2 ; Umberto Pereira Souza Júnior 3 ; Karlete Vânia Mendes Vieira 3 RESUMO - Tendo como objetivo a investigação aeromicológica da ocorrência e diversidade da microbiota fúngica anemófila no Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC) e no Hospital- Maternidade Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), realizou-se a coleta de poeira ambiental num total de 18 setores através do método de exposição ao ar de placas de Petri contendo Agar Sabouraud Dextrose. A identificação dos gêneros fúngicos foi realizada pelo estudo de sua macro e micromorfologia. As coletas foram realizadas em agosto de 2008 e janeiro de 2009. No HUAC, o gênero mais freqüente foi o Penicillium, com prevalência média de 93,3%, seguido do Fusarium (80,0%), Aspergillus (30,0%) e Alternaria (30,0%). Entre os setores analisados, constatou-se maior incidência de contaminação na enfermaria de Pneumologia (88,56%), seguida das enfermarias Pediátrica (76,16%) e de Diabetes (70,46%). No ISEA o gênero mais freqüente foi o Penicillium, com prevalência média de 87,5%, seguido do Fusarium (75,0%). Entre os setores analisados, constatou-se maior incidência de contaminação na enfermaria de alto risco (88,35%), seguida do ambulatório (81,95%).Conclui-se que houve uma grande ocorrência de fungos anemófilos, tendo em vista a constatação de contaminação fúngica em todos os setores pesquisados, o que torna-se bastante preocupante, visto que esses ambientes comportam uma apreciável demanda de pacientes expostos constantemente à contaminação. Unitermos: fungos anemófilos, ambiente hospitalar. ANEMOPHILOUS MUSHROOM MICROBIOTIC OF HOSPITALS OF THE PUBLIC HEALTH SYSTEM OF THE CITY OF CAMPINA GRANDE -PB ABSTRACT - This work had the objective to investigate the aeromicological occurrence and diversity of the anemophilous mushroom microbiotic in the Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC) e no Hospital-Maternidade Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA). The collect of environmental dust was realized in 18 sections. It was used for 1 Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, Areia-PB. 2 Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Campina Grande-PB. 3 Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Campina Grande-PB. *e-mail do autor para correspondência: anne@cca.ufpb.br that research the exhibition method to the air of Petri plates containing Agar Sabouraud Dextrose. The identification of the fungus was accomplished by the study of your macro and micro morphology.the collections were accomplished in August of 2008 and January of 2009. In HUAC, the most frequent gender was the Penicillium, with medium prevalence of 93,3%, followed by the Fusarium (80,0%), Aspergillus (30,0%) and it would Alternaria (30,0%). Among the analyzed sections, larger incidence of contamination was verified in the infirmary of Pneumologia (88,56%), followed by the Pediatric infirmaries (76,16%) and of Diabetes (70,46%). In ISEA the most frequent gender was the Penicillium, with medium prevalence of 87,5%, followed by the Fusarium (75,0%). Among the analyzed sections, larger incidence of contamination was verified in the infirmary of high risk (88,35%), followed by the clinic (81,95%).

103 It is ended that there was a great occurrence of anemophilous mushrooms, tends in view the verification of contamination in all the researched sections, what becomes quite preoccupying, because those atmospheres hold an appreciable demand of patients constantly exposed to the contamination. Uniterms: mushrooms anemophilics, hospital. INTRODUÇÃO Fungos anemófilos são aqueles que, por oportunismo, provocam patologias no ser humano, a partir da dispersão dos seus esporos através do vento (JAWETZ, 1998). Esses fungos compreendem uma grande diversidade de gêneros que colonizam diferentes ambientes, onde desenvolvem estruturas reprodutivas como esporos e conídios, os quais são veiculados por correntes de ar, dispersos com muita facilidade e com alto potencial de contaminação. Essa microbiota é amplamente influenciada por variações da temperatura, umidade relativa do ar, precipitação pluviométrica, pressão barométrica, nebulosidade, direção e velocidade do vento, irradiação solar e das estações climáticas (SIDRIM e MOREIRA, 1999). O estudo da microbiota fúngica bioalérgena anemófila ou contaminante compreende fungos filamentosos e leveduriformes, que se inserem num universo com significativa importância nas várias manifestações alérgicas do trato respiratório, tais como rinite, sinusite alérgica não invasiva, asma e alveolite alérgica extrínseca (LACAZ, 1984). Infecções fúngicas oportunistas vêm sendo observadas com grande freqüência em várias manifestações clinicas, desde processos cutâneos limitados até infecções sistêmicas generalizadas. A ocorrência dessas infecções é bastante conhecida na literatura médica e os esporos inalados do ar têm sido incriminados como responsáveis por diversos problemas alérgicos (FURTADO e FERRARONI,, 1998). Várias espécies de fungos anemófilos apresentam grande importância em patologias médicas, tais como as pertencentes aos gêneros Penicillium, Aspergillus, Mucor, Rhizopus, Cladosporium, Alternaria, entre outros, tornando-se elementos especialmente alergizantes, fator este bastante preocupante à clínica médica, pois tais microorganismos estão dispersos abundantemente no meio ambiente. Frente a essa realidade, objetivou-se a realização de investigações da ocorrência de fungos ambientais (habitualmente oportunistas e contaminantes) em dois hospitais da rede pública de saúde do município de Campina Grande-PB. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada em 10 setores do Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e em 08 setores do Hospital-Maternidade Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA). Os setores pré-selecionados no ISEA foram enumerados e identificados como: S1: Sala de Parto; S2: Centro Cirúrgico; S3: UTI Infantil; S4: Intermediário; S5: Enfermaria de Alto Risco; S6: Enfermaria Geral; S7: Ambulatório; S8: Sala Pré-Parto. Os setores pré-selecionados no HUAC enumerados e identificados como: S1: Enfermaria de Diabetes; S2: Enfermaria de Pneumologia;

104 S3: Enfermaria de Infectologia; S4: Enfermaria de Cardiologia; S5: Enfermaria de Nefrologia; S6: Enfermaria Pediátrica; S7: Ambulatório de Ginecologia; S8: UTI Adulta; S9: UTI Pediátrica; S10: Centro Cirúrgico. As coletas foram realizadas em diferentes épocas do ano para que se observasse a ocorrência dos fungos anemófilos em diferentes estações climáticas. Em cada coleta foram utilizadas placas de Petri em duplicata, contendo, cada uma, Ágar Sabouraud Dextrose simples (DIFCO Laboratories Ltda.). A coleta dos fungos, em cada setor, foi realizada através do método de exposição ao ar, em duplicatas, de placas de Petri contendo Ágar Sabouraud Dextrose (ASD), meio específico para crescimento fúngico. Essas placas ficaram abertas durante um período de 10 minutos, situadas a 10 centímetros acima do piso e distante das paredes e em locais opostos no setor pesquisado. Transcorrido o tempo da coleta, essas placas foram fechadas, levadas de maneira segura até o Laboratório de Microbiologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e acondicionadas de 7 a 14 dias à temperatura ambiente. As colônias fúngicas representativas formam-se, em ágar Sabouraud, à temperatura ambiente (37 C), entre o 7º e o 14º dia após a coleta (ASH e ORIHEL, 1998). A identificação do fungo foi realizada pelo estudo de sua macromorfologia, através da pigmentação, textura, consistência e forma do verso e reverso das colônias desenvolvidas e da velocidade de crescimento das mesmas, e de sua micromorfologia, através do microcultivo, onde foram visualizadas as estruturas fúngicas de reprodução, como as hifas vegetativas, os conídios e os esporos, o que proporciona uma correta identificação das colônias selecionadas nas placas de coleta, que foram inicialmente identificadas pela macromorfologia (ALMEIDA, 1988; BARNETT, 1956; BOOTH, 1971; CARLILE e WATKINSON, 1996; DRUTZ, 1987; FUNDER, 1956; GALLI et al., 1980; LACAZ, 1998; MENEZES e OLIVEIRA, 1993; NEUFELD, 1999; PYATKIN, 1967; SILVEIRA, 1981; SILVEIRA, 1989; SING et al., 1991; WEBSTER, 1970). Para o microcultivo foi empregada uma câmara úmida, através da utillização de placas de Petri contendo um disco ou bloco de ASD, onde foram inoculados fragmentos da colônia do fungo, sendo esse disco então recoberto com uma lamínula esterilizada Riddel (1950). As placas foram acondicionadas à temperatura ambiente, por um breve período de incubação, que variou de 4 a 5 dias, sendo também necessário o acompanhamento diário, para manter essas placas sempre em câmara úmida, através da adição de água estéril (cerca de 2 ml) a pedaços de papel de filtro ou de algodão colocados dentro da placa do microcultivo (LACAZ, 1991). Para observação das estruturas fúngicas através da microscopia óptica, fez-se necessário a retirada da lamínula do microcultivo, transferindo-a para uma nova lâmina contendo o corante azul de metileno ou o lactofenol, em quantidade suficiente para corar o material fúngico aderido na lamínula. Alternativamente pode-se utilizar a lâmina do microcultivo (se houver crescimento), conforme metodologia de Raper et al. (1950), Hawksworth e Pitt (1983) e Pitt et al. (2000). RESULTADOS HUAC Primeira coleta Na primeira coleta, realizada em agosto de 2008, após observações microscópicas e comparações com diversos atlas e livros especializados, foi feita a seguinte constatação:

105 No Setor 1, foram identificados fungos dos gêneros Aspergillus, Penicillium, Fusarium, Curvularia, Absidia, Alternaria ; Setor 2: Fusarium, Penicillium, Curvularia, Absidia, Aspergillus, Alternaria ; Setor 3: Fusarium, Penicillium, Absidia, Alternaria ; Setor 4: Penicillium, Fusarium, Absidia, Alternaria ; Setor 5: Penicillium, Fusarium, Absidia, Alternaria ; Setor 6: Aspergillus, Curvularia, Penicillium, Fusarium, Alternaria ; Setor 7: Alternaria, Fusarium, Penicillium, Curvularia, Acremonium ; Setor 8: Alternaria, Fusarium, Penicillium, Curvularia ; Setor 9: Fusarium, Penicillium, Curvularia, Alternaria ; Setor 10: não houve crescimento de nenhum microorganismo fúngico (leveduriforme nem filamentoso) nem bacteriano no meio de cultura. Na 1ª coleta foram identificados 7 gêneros fúngicos, sendo observado a prevalência dos gêneros Fusarium, Penicillium e Alternaria com 90% de ocorrência no total de setores pesquisados. Os outros 4 gêneros identificados e sua respectiva percentagem de incidência estão ilustrados na Figura 1. Incidência (%) 90% 80% 70% 30% 10% 0% 10% 90% 30% 90% 90% 1ª Coleta Absidia Acremonium Alternaria Aspergillus Curvularia Fusarium Penicillium Gêneros fúngicos identificados Figura 1. Incidência dos gêneros fúngicos identificados na 1ª coleta no HUAC (agosto/2008). Neste período, os setores mais contaminados por fungos anemófilos foram as Enfermarias de Diabetes (S1) e de Pneumologia (S2) com identificação de 6 gêneros distintos (Absidia, Alternaria, Aspergillus, Curvularia, Fusarium e Penicillium ), seguido pela Enfermaria Pediátrica (S6) e pelo Ambulatório de Ginecologia (S7). É bastante notório o fato de não ter sido identificado nenhum tipo de microorganismo no setor de fundamental importância para qualquer Hospital, que é o Centro Cirúrgico (S10), o que valida a eficácia das esterilizações e procedimentos de limpeza desta área (Figura 2).

106 Valores Percentuais 90% 80% 70% 30% 85,7% 85,7% 57,1% 57,1% 57,1% 71,4% 71,4% 57,1% 57,1% 1ª Coleta 10% 0% 0,0% S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 Índice de Contaminação por Setor Figura 2. Prevalência de contaminação fúngica por setor pesquisado no HUAC (1ª coleta). Os fungos isolados nesta primeira etapa nos diferentes setores pesquisados do HUAC da UFCG são anemófilos e ubiquitários e alguns gêneros (Penicillium, Aspergillus, Fusarium ) podem causar desde alergias respiratórias até infecções oportunistas graves em condições especiais do hospedeiro. Foram encontradas 42 colônias fúngicas no total geral de setores pesquisados na 1ª coleta, o que podemos relacionar à época em que esta coleta foi realizada, pois em Campina Grande, agosto caracteriza-se por ser um mês de inverno, com ocorrência de chuvas regulares e muito frio, com baixa temperatura e umidade, o que em muito favorece o desenvolvimento dessa microbiota. Segunda coleta Na realização da segunda coleta (janeiro/2009) foi feita a seguinte constatação: No Setor 1, foram identificados fungos dos gêneros Aspergillus, Penicillium, Fusarium, Epicoccum, Monochaetia, Nigrospora ; Setor 2: Fusarium, Penicillium, Absidia, Aspergillus, Epicoccum, Monochaetia, Nigrospora ; Setor 3: Fusarium, Penicillium, Epicoccum, Monochaetia, Nigrospora.; Setor 4: Penicillium, Fusarium, Epicoccum ; Setor 5: Penicillium, Fusarium, Absidia, Aspergillus, Epicoccum, Monochaetia ; Setor 6: Penicillium, Epicoccum, Monochaetia, Nigrospora ; Setor 7: Fusarium, Penicillium, Aspergillus, Epicoccum, Monochaetia ; Setor 8: Fusarium, Penicillium, Nigrospora ; Setor 9: Penicillium, Monochaetia ; Setor 10: Penicillium

107 Ao contrário da primeira coleta, nesta etapa da pesquisa observou-se crescimento de quatro colônias fúngicas de Penicillium em apenas uma das placas do Setor 10 (Centro Cirúrgico). Urge que medidas de desinfecção e limpeza mais rigorosas sejam tomadas, para que o paciente que se submete a procedimentos tão invasivos como são as cirurgias não adquira infecções oportunistas. Na 2ª coleta também foram identificados 7 gêneros fúngicos, sendo observado a prevalência do Penicillium, que incidiu em todos os setores, inclusive no S10, que foi isento de qualquer contaminação na primeira coleta. Em seguida houve prevalência dos gêneros Fusarium, Epicoccum sp e, Monochaetia, com 70% de ocorrência no total de setores pesquisados. Os outros gêneros identificados e sua respectiva percentagem de incidência estão ilustrados na Figura 3. Incidência (%) 90% 80% 70% 30% 10% 0% 70% 70% 70% 2ª Coleta Absídia Aspergillus Epicoccum Fusarium Monochaetia Nigrospora Penicillium Gêneros fúngicos identificados Figura 3. Incidência dos gêneros fúngicos identificados na 2ª coleta no HUAC (janeiro/2009). Como se pode observar pela Figura 4, neste período, o setor mais contaminado por fungos anemófilos foi a Enfermaria de Pneumologia (S2), com identificação de todos os 7 gêneros distintos (Fusarium, Penicillium, Absidia, Aspergillus, Epicoccum, Monochaetia, Nigrospora ), o que torna-se um fato bastante preocupante, pois pela segunda vez consecutiva esse é o setor mais contaminado entre os que foram pesquisados, e tais pacientes já encontram-se bastante debilitados, principalmente no que diz respeito ao sistema respiratório, que é a porta de entrada da diversa microbiota fúngica identificada nesse setor. Em seguida, encontram-se os Setores S1 e S5, representados respectivamente pelas Enfermarias de Diabetes e de Nefrologia. O restante dos índices de acometimento por setor encontram-se na Figura 4.

108 Valores Percentuais 100,00% 90,00% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% 85,7% 71,4% 42,8% 85,7% 57,1% 71,4% 42,8% 28,6% 14,3% S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 2ª Coleta Índice de contaminação por setor Figura 4. Prevalência de contaminação fúngica por setor pesquisado no HUAC (2ª coleta). Os fungos isolados nesta segunda etapa nos diferentes setores pesquisados do HUAC da UFCG são anemófilos e ubiquitários e alguns gêneros (Penicillium, Aspergillus, Fusarium ) podem causar desde alergias respiratórias até infecções oportunistas graves em condições especiais do hospedeiro. ISEA Primeira coleta Na realização da primeira coleta (agosto/2008) foi feita a seguinte constatação: No Setor 1 foram identificados fungos dos gêneros Penicillium, Aspergillus e Fusarium ; Setor 2 nenhuma colônia fúngica, seja ela filamentosa ou leveduriforme, como também nenhuma bactéria se desenvolveu no meio de cultura; Setor 3: Exophiala, Aspergillus, Fusarium, Penicillium ; Setor 4: Exophiala, Aspergillus, Penicillium ; Setor 5: Penicillium, Exophiala, Helminthosporium, Fusarium, Absidia, Cordana ; Setor 6: Exophiala, Aspergillus, Fusarium, Penicillium ; Setor 7: Penicillium, Exophiala, Aspergillus sp, Helminthosporium, Fusarium, Epidermophyton, Absidia, Curvularia ; Setor 8: Absidia, Penicillium, Exophiala, Aspergillus Na 1ª coleta foram identificados nove gêneros fúngicos distintos, sendo o período frio e úmido do mês de junho o maior responsável pelo aumento da ocorrência e da diversidade da microbiota fúngica. Nesse período constatou-se a prevalência do gênero Penicillium (87,5%), seguido dos gêneros Exophiala e Aspergillus, com 75% de ocorrência no total de setores pesquisados. Os outros gêneros identificados e suas respectivas percentagens de incidência estão ilustrados na Figura 5.

109 Incidência (%) 90% 80% 70% 30% 10% 0% Curvularia 12, 62, Fusarium 87, Penicillium 75% Exophiala 75% Aspergillus 37, 25% Absidia Helminthosporium Cordana 12, 12, Epidermophyton Gêneros fúngicos identificados 1ª coleta Figura 5. Incidência dos gêneros fúngicos identificados no ISEA na 1ª coleta (agosto/2008). Neste período, os setores mais contaminados por fungos anemófilos foram, novamente, o Ambulatório (S7), com 88,9% de ocorrência fúngica, e a Enfermaria de Alto-risco (S5), com 66,7% (Figura 6). Mais uma vez é bastante notório o fato de não ter sido identificado nenhum tipo de microorganismo no setor de fundamental importância para qualquer Hospital, que é o Centro Cirúrgico (S2), o que valida a eficácia das esterilizações e procedimentos de limpeza desta área. Ocorrência (%) 90% 80% 70% 30% 10% 0% 33,30% 44, 33,30% 66,70% 44, 88,90% 44, 0 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 Índice de contaminação por setor 1ª coleta Figura 6. Prevalência de contaminação fúngica por setor pesquisado no ISEA (1ª coleta). Segunda coleta

110 Na segunda coleta, realizada em janeiro/2009, após observações microscópicas e comparações com diversos atlas e livros especializados, foi feita a seguinte constatação: Setor 1: foram identificados fungos dos gêneros Penicillium e Fusarium ; Setor 2: nenhuma colônia fúngica, seja ela filamentosa ou leveduriforme, como também nenhuma bactéria se desenvolveu no meio de cultura; Setor 3: Fusarium, Penicillium ; Setor 4: Penicillium, Fusarium ; Setor 5: Penicillium, Fusarium, Alternaria, Curvularia ; Setor 6: Penicillium, Fusarium ; Setor 7: Fusarium, Penicillium, Curvularia ; Setor 8: Fusarium, Penicillium ; Na 2ª coleta foram identificados quatro gêneros fúngicos distintos, sendo observado a prevalência dos gêneros Fusarium e Penicillium, com 87,5% de ocorrência no total de setores pesquisados. Os dois outros gêneros identificados e suas respectivas percentagens de incidência estão ilustrados na Figura 7. Incidência (%) 90% 80% 70% 30% 10% 0% 12,5% Alternaria 25,0% Curvularia 87,5% 87,5% Fusarium Gêneros fúngicos identificados Penicillium 2ª Coleta Figura 7. Incidência dos gêneros fúngicos identificados na 2ª coleta (janeiro/2008). Neste período, os setores mais contaminados por fungos anemófilos foram a Enfermaria de Alto-risco (S5) e o Ambulatório (S7), com identificação de 4 gêneros distintos (Alternaria, Curvularia, Fusarium e Penicillium ), seguido pelos demais setores, com identificação de Fusarium e Penicillium (Figura 8). É bastante notório o fato de não ter sido identificado nenhum tipo de microorganismo no setor de fundamental importância para qualquer Hospital, que é o Centro Cirúrgico (S2), o que valida a eficácia das esterilizações e procedimentos de limpeza desta área.

111 Valores Percentuais 1 80% 0% 75% 0 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 Índice de contaminação por setor 2ª Coleta Figura 8. Prevalência de contaminação fúngica por setor pesquisado na 2ª coleta (janeiro/2008). Os fungos isolados nos diferentes setores pesquisados do ISEA da PMCG são anemófilos e ubiquitários e alguns gêneros (Penicillium, Fusarium ) podem causar desde alergias respiratórias até infecções oportunistas graves em condições especiais do hospedeiro. A menor incidência de fungos na 2ª coleta pode relacionar-se à época em que esta coleta foi realizada, pois em Campina Grande, janeiro caracteriza-se por ser um mês bastante quente, de elevada temperatura e umidade, o que não favorece o desenvolvimento dessa microbiota. Os fungos isolados na segunda etapa nos diferentes setores pesquisados do ISEA da PMCG são anemófilos e ubiquitários e alguns gêneros (Penicillium, Fusarium ) podem causar desde alergias respiratórias até infecções oportunistas graves em condições especiais do hospedeiro. DISCUSSÃO De acordo com Moretti (2007), a infecção hospitalar tem aumentado nos últimos anos e os fungos têm tido uma grande participação, sejam os fungos filamentosos, sejam leveduras, causando graves problemas, muitas vezes fatais. A identificação e o controle destes fungos nos vários ambientes hospitalares é de fundamental importância para os profissionais de saúde e toda a sua equipe, para os pacientes que freqüentam ou permanecem internados nestes locais, como também para os futuros profissionais de saúde. As pesquisas sobre estes fungos contaminantes, colonizadores ou patogênicos nos ambientes hospitalares levará a um maior conhecimento e entendimento destes microrganismos, buscando uma conscientização cada vez maior da importância do controle da infecção hospitalar. Segundo Sidrim e Moreira (1999) alguns dos fungos identificados nesta pesquisa, como Penicillium, Curvularia, Fusarium, Acremonium, Cladosporium podem ser responsáveis por muitas doenças oportunistas como onicomicoses, ceratites, otites, quadros alérgicos, micotoxicoses, além de infecções urinárias, pulmonares e até sistêmicas. Os resultados obtidos neste trabalho são similares aos resultados dos trabalhos de Marinho (2004) pesquisando a microbiota anemófila do Hemocentro da Cidade de João Pessoa PB, e Carmo et al. (2007), que pesquisou a microbiota fúngica da Fundação Assistencial da Paraíba FAP, em Campina Grande-PB, sendo em ambos o fungo de maior freqüência o do gênero Penicillium

112 Ainda em relação ao gênero Penicillium, os dados do presente trabalho coincidem com os de Faure et al. (2002). Em seus estudos sobre a microbiota anemófila de um hospital francês, incluindo, dentre os setores, unidades de hematologia, isolou como espécies mais freqüentes, Penicillium, seguido de Cladosporium e Aspergillus De acordo com os resultados do trabalho de Oliveira et al. (1993), dentre 31 gêneros fúngicos identificados na microbiota anemófila da Cidade de Natal (RN), o gênero Penicillium esteve entre os mais freqüentes com cerca de. Segundo Richardson e Warnock (1993), os esporos de Penicillium podem ser encontrados em todos os ambientes espalhados pelo ar, portanto apresentando uma grande distribuição. Também é citado por Sidrim e Moreira (1999), como o fungo mais freqüente contaminante isolado em laboratório de micologia. Segundo Kern e Blevins (1999) o perigo da inalação de conídios de Penicillium reside na sua capacidade de produzir em indivíduos debilitados uma patologia conhecida como penicilose, a qual é caracterizada por doença pulmonar, que pode se espalhar pelos vasos sanguíneos vizinhos, disseminando-se pelo líquido cefalorraquidiano (LCR), rins e endocárdio, sendo esta forma disseminada geralmente fatal. Catão et al. (1998) analisando a distribuição da microbiota anemófila em ambiente hospitalar de Campina Grande-PB, observou uma freqüência de do gênero Penicillium, seguida por Cladosporium (77,77%) e Micelia sterilia (66,66%) em todos os setores hospitalares pesquisados. Infecções fúngicas oportunistas vêm sendo observadas com grande freqüência em várias manifestações clínicas, desde processos cutâneos limitados até infecções sistêmicas generalizadas (Gambale, 1997). A ocorrência dessas infecções é bastante conhecida na literatura médica, pois os esporos inalados do ar têm sido incriminados como responsáveis por diversos problemas alérgicos (Furtado e Ferraroni, 1998). A condição predisponente subjacente pode permitir que apenas determinados fungos oportunistas infectem o hospedeiro. Com freqüência, alguns microorganismos infectam o paciente com imunocomprometimento grave. Outros exemplos de fungos oportunistas comumente encontrados no ar são: Penicillium, Fusarium, Geotrichum, Paecilomyces, Scopulariopsis, Aspergillus, Curvularia, entre vários outros fungos filamentosos e leveduriformes (Haupt, 1983). As infecções fúngicas invasivas permanecem como importante causa de morbidade e mortalidade, em especial na população de pacientes gravemente enfermos e os imunocomprometidos, tais como: pacientes com câncer, politraumatizados, em uso de quimioterapia para tumores sólidos ou hematológicos, Aids, entre outros. Estes pacientes estão sob risco especial de desenvolver infecções oportunistas por leveduras e fungos filamentosos. A grande maioria das infecções fúngicas é decorrente de leveduras do gênero Candida e de fungos filamentosos do gênero Aspergillus No entanto, infecções por outros gêneros de fungos vêm aumentando com freqüência (Moretti, 2007). A transmissão pelo ar é uma considerável fonte de infecções fúngicas. Sabe-se que o tratamento destas em pacientes imunodeprimidos é difícil e que estas infecções são geralmente fatais. A prevenção vem ser a melhor medida de controle e, portanto conhecer a epidemiologia do ambiente hospitalar vem ser crucial no desenvolvimento de estratégias preventivas. A identificação e o controle destes fungos nos vários ambientes hospitalares é de fundamental importância para os profissionais de saúde e toda a sua equipe, para os pacientes que freqüentam ou permanecem internados nestes locais, permitindo, desta forma, avanços no diagnóstico e desenvolvimento de novos métodos de abordagem nestas patologias (Mezzari et al., 2003). O isolamento da flora anemófila é importante na determinação da flora do ar de um determinado ambiente, no estudo da correlação de alergia e infecções com fungos. Além disso, a contagem de esporos de fungos no ar é um indicador usado para medir o grau de poluição do ar, porque os esporos fúngicos são ubíquos na natureza, fornecendo um bom índice de contaminação ambiental de relevância médica (Rotor Filho, 2004).

113 A contaminação observada em nos setores pesquisados pode ser associada com o fluxo humano, falta de metodologia de limpeza e até uma provável baixa eficiência dos desinfetantes utilizados, além de outros fatores que também contribuem para a permanência ou penetração de microrganismos, como: ventilação, temperatura e a umidade ambiental, entre outros (Lacaz, 1984; Silva, 1983). Durante a coleta dos microrganismos do ar, foram observadas técnicas incorretas de desinfecção e de ventilação nos ambientes hospitalares. Vários leitos são colocados em quartos pequenos, sem arejamento, favorecendo a disseminação de doenças através do ar contaminado. Foram observados alimentos próximos aos leitos dos pacientes, muitas vezes frutas trazidas por visitantes, permitindo a entrada de contaminantes que podem ser transmitidos pelo ar. Métodos utilizados para interferir na transmissão de infecções em hospitais, clínicas e consultórios médicos variam desde procedimentos relativamente simples, como a lavagem das mãos, até isolamento de um paciente infectado, técnicas assépticas, saneamento adequado, desinfecção e esterelização nestes ambientes. Estas medidas podem ser muito efetivas e devem ser obrigatoriamente adotadas (Zanon e Neves, 1997). Diante da grande diversidade e da elevada freqüência de fungos anemófilos isolados nos dois Hospitais Públicos de Campina Grande, pôde-se demonstrar a importância de um trabalho de pesquisa como este, tornando-se necessários, a partir de agora, investimentos por parte da administração acadêmica para o combate a esses fungos, através da compra de produtos específicos para adoção de medidas profiláticas mais eficazes (como aspiração filtrada do ar ambiente e utilização de fungicidas), já que torna-se preocupante tamanha ocorrência de fungos em nossa universidade, especialmente em ambientes que suportam uma considerável demanda de pessoas, expostas constantemente à contaminação. Ainda que o conhecimento acumulado sobre a profilaxia das infecções hospitalares seja insuficiente e que, sem dúvida, possa ser ampliado por novas descobertas, particularmente no que se refere aos mecanismos de defesa do hospedeiro, muito poderia ser feito em benefício do paciente se a informação disponível fosse utilizada adequadamente. Diante disso deve-se utilizar medidas educativas de higiene ambiental, importante instrumento preventivo para as doenças alérgicas provocadas por fungos anemófilos. Porém, essas medidas demandam muito tempo, são de difícil execução, dispendiosas e só têm garantia de sucesso a longo prazo, pois as pessoas, por não enxergarem a olho nu as fontes de contaminação, não acreditam na existência nem no desaparecimento dessas fontes através da implementação dessas medidas e logo passam a não mais utilizá-las. CONCLUSÕES Diante dos resultados obtidos nesta pesquisa conclui-se que: Foi observado maior prevalência fúngica na 1ª coleta; A elevada umidade do ar e a baixa temperatura da época da primeira coleta propiciaram o desenvolvimento e facilitaram a disseminação das colônias; O gênero fúngico de maior incidência média nas duas coletas e nos dois hospitais públicos foi o Penicillium ; No ISEA, o setor com maior incidência média de contaminação nas duas coletas foi a enfermaria de alto risco (88,35%); No HUAC, o setor com maior incidência de contaminação foi a enfermaria de Pneumologia (88,56%).

114 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, M.E.S. (1988). Identificação da microbiota fúngica de ambientes considerados assépticos. Revista de Saúde Pública, 22:201-206. Ash, L.R. e Orihel, T.C. (1998). Guide of Laboratory Procedures and Identification. Florida:American Society of Clinical Biologists, Associação Brasileira De Normas Técnicas. (2001). Trabalhos acadêmicosapresentação. NBR 14724. Rio de Janeiro. Barnett, H.L. (1956). Ilustrated genera of imperfect fungi. Minneapolis: Burgess Publishing Co. Booth, C. (1971). The genus Fusarium. Surrey: Commonwealth Mycological Institute. Carlile, M.; Watkinson, S.C. (1996). The fungi. London: Academic Press. Carmo, E.S., Belém, L.F., Raissa Catão,M.R., Lima, E.O., Silveira, Lopes,I., Soares, L.H.M. (2007). Microbiota fúngica presente em diversos setores de um hospital público em Campina Grande PB. RBAC, 39: 213-216. Catão, R. M. R.; Lima, E. O.; Vieira, K. U. M.; Gomes, L. F. V. A.; Ceballos, B. S. O. (1998). Distribuição da microbiota anemófila em ambiente hospitalar (Campina Grande, PB). RBAC. 30: 25-30. Drutz, D.J. (1987). In vitro antifungal susceptibility testing and measurement of levels of antifungal agents. Rev. Infect. Dis. 9:392-397. Faure, O.; Fricker-Hidalgo, H.; Lebeau, B.; Mallarety, M. R.; Am-Broise-Thomas, P.; Grillot, R. (2002). Eight-year surveillance of environmental fungal contamination in hospital operating rooms and haematological units. Journal of hospital infection. 6: 155-160. Funder, S. (1956). Pratical mycology: manual for identification of fungi. Oslo: Broggers Boktrykkeris Forlag. Furtado, M.S.S.; Ferraroni, J.J. (1998). Fungos anemófilos em ambientes hospitalares da cidade de Manaus. Revista Amazonas Ciência e Cultura. 34:42-47. Galli, F.; Tokeshi, H.; Carvalho, P.C.T.; Balmer, E.; Kimati, H.M.S.; Cardoso, C.O.N.; Salgado, C.L.; Krugner, T.L.; Cardoso, E.J.B.N. (1980). Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 2 ed, Agronomica Ceres: São Paulo. Gambale, W. (1997). Periodicidade de fungos anemófilos na cidade de São Paulo. Revista Microbiologia, 12: 176-181. Haupt, H.M. (1983). Colonization and infection with Penicillium sp in the immunosuppressed host. J Infect Dis, 6: 147-199. Hawksworth, D.L.; Pitt, J.I. (1983). A new taxonomy for Monascus species based on cultural and microscopical characters. Australian Journal of Botany, 31:51-61. Jawetz, E. (1998). Micologia Médica. 20. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

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