CRISTIANE HIERT. Dinâmica populacional e uso do espaço de. Hylidae) no Município de Turvo, Estado do Paraná

Documentos relacionados
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ANGIE THAISA DA COSTA SOUZA

Estudo da comunidade de anuros em poça temporária com ênfase na espécie Phyllomedusa hypochondrialis.

ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS

Amphibia, Anura, Hypsiboas stenocephalus: Distribution extension and geographic distribution map

Influencia do contexto social no comportamento acústico de Dendropsophus minutus (Anura: Hylidae): uma análise entre populações

AULÃO UDESC 2013 GEOGRAFIA DE SANTA CATARINA PROF. ANDRÉ TOMASINI Aula: Aspectos físicos.

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - SON PRIMAVERA -

Levantamento Preliminar da Herpetofauna em um Fragmento de Mata Atlântica no Observatório Picos dos Dias, Brasópolis, Minas Gerais

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP. - Março a maio de Outono -

CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO HIDROLÓGICO ECORREGIÕES DO CERRADO RESUMO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS EM NÍCKOLAS C. SANTANA; LINEU NEIVA RODRIGUES

Ecologia Reprodutiva de Hypsiboas multifasciatus (Gunther, 1859) (Anura, Hylidae) no Núcleo de Preservação Ambiental Bioparque Jaó, Goiânia GO

RELAÇÃO ENTRE MORFOLOGIA E UTILIZAÇÃO DO MICROAMBIENTE.

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PRECIPITAÇÃO EM DIFERENTES INTERVALOS DE CLASSES PARA ITUPORANGA SC

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP. - junho a agosto de Inverno -

Atividade reprodutiva de Rhinella gr. margaritifera (Anura; Bufonidae) em poça temporária no município de Serra do Navio, Amapá.

LISTA DE FIGURAS Figura 1. Área de estudo constituída pelo lago Jaitêua e sua réplica, o lago São Lourenço, Manacapuru, Amazonas, Brasil...

Variação vertical da temperatura do ar na Floresta Nacional de Caxiuanã em dois períodos distintos (chuvoso e seco).

3. Modelos de ocorrência: uma espécie, uma estação

Relatório Parcial FCTY-RTP-HPT Referência: Diagnóstico da Herpetofauna. Fevereiro/2014. At.: Gerência de Sustentabilidade FCTY

COMPARAÇÃO DA DIVERSIDADE DE ANUROS ENTRE AMBIENTES DE AGRICULTURA TECNIFICADA E PRESERVADO NA PLANÍCIE DO RIO ARAGUAIA, TOCANTINS.

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP. - março a maio de Outono -

PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE FAUNA UHE MONJOLINHO

Distribuição e fidelidade de desenvolvimento de Rhinella icterica (Anura, Bufonidae) no rio Cachimbaú, Sudeste do Brasil

ANÁLISE ESTATÍSTICA DO REGIME PLUVIOMÉTRICO E DE SUA TENDÊNCIA PARA OS MUNICÍPIOS DE PORTO DE PEDRAS, PALMEIRA DOS ÍNDIOS E ÁGUA BRANCA

Registro de Phrynops williamsi no rio do Chapecó, Oeste de Santa Catarina, Brasil

Ecologia de Campo na Ilha de Santa Catarina

Estrutura populacional e padrão reprodutivo de Pseudis boliviana (Gallardo, 1961) (Anura: Hylidae) em uma planície de inundação na Amazônia Oriental

Programa Analítico de Disciplina BIO334 Ecologia de Populações

PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE FAUNA UHE MONJOLINHO

Dieta, Dimorfismo e Polimorfismo de Pseudopaludicola sp. em Área de Campo Alagada

ESTIMATIVA E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA BIOMASSA NA FLORESTA OMBRÓFILA MISTA

ASPECTOS DA BIOMETRIA, FISIOLOGIA E REPRODUÇÃO DE NEOCORBICULA LIMOSA (MOLLUSCA, BIVALVIA) NO LAGO GUAÍBA (PORTO ALEGRE, RS)

USO DE NINHOS ARTIFICIAIS COMO METODOLOGIA PARA VERIFICAR A TAXA DE PREDAÇÃO DE NINHOS EM DOIS AMBIENTES: BORDA E INTERIOR DE MATA

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - Março-Abril-Maio OUTONO -

Resumo. O objectivo deste trabalho foi caracterizar a comunidade bentónica de

PREDAÇÃO DE Scinax ruber (LAURENTI, 1768) (ANURA: HYLIDAE) POR Liophis typhlus (LINNAEUS, 1758) (SERPENTE: DIPSADIDAE) NA AMAZÔNIA CENTRAL, BRASIL

Lucio Alberto Pereira 1 ; Roseli Freire de Melo 1 ; Luiza Teixeira de Lima Brito 1 ; Magna Soelma Beserra de Moura 1. Abstract

Colégio Visconde de Porto Seguro Unidade Valinhos. Atividades de Geografia para o exame final 6º ano

Relação entre o tamanho dos indivíduos e o espaço utilizado por Iguana iguana em Praias do Rio das Mortes, Novo Santo Antônio, MT

ANÁLISE DE OCORRÊNCIA DE VENDAVAIS NO RIO GRANDE DO SUL

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - JJA INVERNO -

CRISTIANE HIERT. Mecanismos de estruturação de uma comunidade de anuros. em área de ecótono na Floresta Atlântica

ESTIMATIVA POPULACIONAL DE Pseudis cardosoi (ANURA, HYLIDAE), COM EMPREGO DE MÉTODO FOTOGRÁFICO PARA RECONHECIMENTO INDIVIDUAL

INVENTÁRIO PRELIMINAR DA ANUROFAUNA NA SERRA DAS TORRES, ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - SON PRIMAVERA -

Discente do Curso de Ciências Biológicas FAP. Diretora de pesquisa do Projeto Baleia Franca. Coordenadores de campo do Projeto Baleia Franca

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - DJF 2012/ VERÃO -

DIVERSIDADE DA QUIROPTEROFAUNA (MAMMALIA, CHIROPTERA), NO BOSQUE MUNICIPAL PARQUE DAS AVES, APUCARANA-PARANÁ MARCHI. E. C. 1 ; TOZZO, R. A.

Analysis of the variation of growth and mortality parameters of Truth-Sardinha (Sardinella brasiliensis) from 1958 to 1978

PADRÕES DE TAMANHO E VARIABILIDADE DO DIÂMETRO DE ZYGNEMATALES FILAMENTOSAS DE RIACHOS E RELAÇÃO COM FATORES AMBIENTAIS

VARIABILIDADE ESPACIAL E TEMPORAL DAS ESTAÇÕES NO ESTADO DE SÃO PAULO PARA AS VARIAVEIS TEMPERATURA E PRECIPITAÇÃO

PARTILHA DE NICHO ENTRE DUAS ESPÉCIES DO GÊNERO

SELEÇÃO DE MESTRADO 2016 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E EVOLUÇÃO INSTITUTO DE BIOLOGIA ROBERTO ALCANTARA GOMES/UERJ

Avaliação climatológica da cidade de Uberlândia por meio da Análise de Componentes Principais

Projetos Intervales. Modificado de:

BALANÇO HÍDRICO E CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA PARA O MUNICÍPIO DE ITUPORANGA SC

ANFÍBIOS COMO BIOINDICADORES DA QUALIDADE AMBIENTAL DA FAIXA DE PROTEÇÃO CILIAR DO RESERVATÓRIO DA USINA HIDRELÉTRICA ITÁ

Área de uso e habitat utilizados por fêmeas de veadocampeiro (Ozotoceros bezoarticus) nos diferentes períodos reprodutivos no Pantanal

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - JJA INVERNO -

Variabilidade da Precipitação em Belém-Pará Relacionada com os Fenômenos El Niño e La Niña

Revista Nordestina de Zoologia

ANÁLISE PRELIMINAR DO IMPACTO DO RESERVATÓRIO DE ITÁ NO CLIMA LOCAL. Maria Laura G. Rodrigues 1 Elaine Canônica 1,2

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - MAM OUTONO -

ASPECTOS REPRODUTIVOS E RIQUEZA DE ESPÉCIES DA ANUROFAUNA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ-PR

Padrões de canto de anúncio de duas espécies de hylidae (Amphibia: Anura) do Sudeste do Brasil

Morfologia do Perfil Praial, Sedimentologia e Evolução Histórica da Linha de Costa das Praias da Enseada do Itapocorói Santa Catarina

Balanço Hídrico Climatológico e Classificação Climática da Região de Sinop, Mato Grosso

CLIMATOLOGIA E VARIABILIDADE INTERANUAL DA VELOCIDADE DO VENTO EM SANTA MARIA, RS

Análise da variação da temperatura e precipitação em Belém em anos de El Niño e La Niña.

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

MONITORAMENTO DAS CHUVAS AO LONGO DO RIO IGUAÇU DURANTE O ANO DE Mário Francisco Leal de QUADRO 1, Akemi KAN 2 RESUMO

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - MAM OUTONO -

Projetos Intervales. Modificado de:

ANUROFAUNA EM ÁREA ANTROPIZADA NO CAMPUS ULBRA, CANOAS, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

Quantificação da serapilheira acumulada em um povoamento de Eucalyptus saligna Smith em São Gabriel - RS

Evidências do Efeito Moran na Sincronia Populacional: Uma Demonstração em Microcosmo Experimental

CHUVAS NO CERRADO TOCANTINENSE: TENDÊNCIA MENSAL MÉDIA DE SÉRIES HISTÓRICAS DE 34 ESTAÇÕES PLUVIOMÉTRICAS COM 30 ANOS DE DADOS

Comparação de Variáveis Meteorológicas Entre Duas Cidades Litorâneas

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - JJA INVERNO -

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ MICHELLE MICARELLI STRUETT DINÂMICA POPULACIONAL DE HYLODES HEYERI HADDAD, POMBAL & BASTOS 1996 (ANURA, HYLODIDAE)

Influência da disponibilidade de alimento e do tamanho corporal sobre a atividade de forrageio

TENDÊNCIAS DE VARIAÇÃO DA AMPLITUDE TÉRMICA NO BRASIL EM FUNÇÃO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

AS ESTIAGENS NO OESTE DE SANTA CATARINA ENTRE

Estudo da variabilidade espacial e vertical da temperatura do ar na Floresta Nacional de Caxiuanã-PA

RIQUEZA E DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO TEMPORAL DE ANUROS EM ÁREA REMANESCENTE DE MATA ATLÂNTICA NO ESTADO DE PERNAMBUCO.

FACULDADE DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA

Atividade do 3º trimestre - Disciplina: Geografia MARATONA DE EXERCÍCIOS REVISÃO DE N1 GABARITO

Supporting Information I

Primeiro registro de Rhinella pombali e novos registros de R. crucifer e R. ornata no Estado do Rio de Janeiro, Brasil (Amphibia, Anura, Bufonidae)

Nova classificação climática e o aspecto climatológico da cidade de Bauru/São Paulo

AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DO GLIFOSATO EM ANUROS DA ESPÉCIE Leptodactylus latrans

ESTUDO CLIMATOLÓGICO SOBRE A COSTA SUL-SUDESTE DO BRASIL. PARTE III: PREENCHIMENTO DE FALHAS NAS SÉRIES TEMPORAIS DE PRECIPITAÇÃO

VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO SOBRE O SUL DO NORDESTE BRASILEIRO ( ) PARTE 1 ANÁLISE ESPACIAL RESUMO

BI63B - ECOSSISTEMAS. Profa. Patrícia C. Lobo Faria

Ecologia de Campo na Ilha de Santa Catarina

ESPÉCIES ARBÓREAS DA BACIA DO RIO MAUÉS-MIRI, MAUÉS AMAZONAS

VARIAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS DO ICTIOPLÂNCTON EM UMA SUB-BACIA REPRESADA DO SUDESTE DO BRASIL

Novos registros de Dendropsophus anceps (Anura, Hylidae), para os estados do Rio de Janeiro e Bahia

Introdução a Métodos de Estimativas Populacionais

Transcrição:

CRISTIANE HIERT Dinâmica populacional e uso do espaço de Hypsiboas leptolineatus (Braun & Braun, 1977) (Anura: Hylidae) no Município de Turvo, Estado do Paraná Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ecologia e Conservação. Orientador: Dr. Mauricio Osvaldo Moura Curitiba 2008

ii

Dedicada aos meus sobrinhos, Bruno e Rafael. Não sei o quanto o mundo é bom, mas ele está melhor, desde que vocês chegaram e explicaram o mundo pra mim. (Espatódea de Nando Reis) iii

AGRADECIMENTOS À minha família, Euclides, Isabel, Andrea, Remi, Rafael e Bruno pelo carinho e confiança. Também agradeço profundamente aos meus tios João Carlos e Janete pela acolhida em Curitiba e pelos cuidados durante a fase dos créditos. Agradeço com grande admiração à minha família, pois sem vocês nos bastidores tudo teria sido mais difícil. Com muito carinho agradeço aos meus gatos, Rei e Juma, pela importante companhia dormente, enquanto eu redigia esta dissertação. Agradeço ao meu orientador Mauricio Moura por sempre demonstrar-se confiante e tranqüilo com o trabalho. Discutir os dados, fazer novas análises, aprender a mexer nos programas e te ver atolar no brejo... Não tem preço! Obrigada pelos 6 anos de orientação e amizade! Aos amigos (subordinados) que me ajudaram nos trabalhos de campo, Diego, Eveline, Fernanda, Pricila e Vitor. Valeu por todo o companheirismo, a vontade e a alegria. Em especial agradeço ao Diego pela ajuda na escolha da área de estudo. Às grandes pessoas que tornam minha vida muito mais feliz: Eveline, Fernanda e Pricila (de novo), Krika e Rafael. Obrigada por todo o amor e carinho (cada um à sua maneira). Vocês são muito especiais pra mim. iv

Aos colegas de curso: Adriana, Ana, André, Cibele, Denílson, Gabriela, Kelly, Manuela, Marco, Michel, Paloma, Rafael e Renata. Pessoas únicas e que marcaram de uma forma muito boa essa fase da minha vida. Ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação PPGECO, pela oportunidade e apoio logístico ao longo de todo o curso. Ao Prof. PhD. James Roper, pela valiosa colaboração, mostrando-se sempre prestativo a ajudar-me com as análises. Ao Prof. Dr. Emygdio L. de Araújo Monteiro- Filho pela bibliografia cedida e pelas valiosas sugestões. À Universidade Estadual do Centro-Oeste UNICENTRO, pelo afastamento concedido e pelo suporte material oferecido à pesquisa. Agradeço em especial ao Diretor do Campus Universitário de Guarapuava, Osmar Ambrosio de Souza, e ao Reitor Vitor Hugo Zanette. A todos, muito obrigada! v

SUMÁRIO LISTA DE TABELAS... LISTA DE FIGURAS... viii ix RESUMO GERAL... 1 ABSTRACT... 2 PREFÁCIO... 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 7 CAPITULO I: Dinâmica Populacional de Hypsiboas leptolineatus (Anura: Hylidae) no Município de Turvo, Estado do Paraná. RESUMO... 13 ABSTRACT... 14 INTRODUÇÃO... 15 MATERIAL E MÉTODOS... 20 Área de Estudo... 20 Amostragem... 21 Análise Estatística... 24 RESULTADOS... 27 Dinâmica Temporal... 27 Capturabilidade e Sobrevivência... 28 DISCUSSÃO... 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 36 vi

CAPITULO II: Dinâmica espacial e uso do habitat de Hypsiboas leptolineatus (Anura: Hylidae) no Município de Turvo, Estado do Paraná. RESUMO... 59 ABSTRACT... 60 INTRODUÇÃO... 61 MATERIAL E MÉTODOS... 67 Área de Estudo... 67 Amostragem... 68 Análise Estatística... 70 RESULTADOS... 72 Uso do Habitat... 72 Dinâmica Espacial... 74 DISCUSSÃO... 76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 81 vii

LISTA DE TABELAS CAPÍTULO I Tabela I: influência das variáveis abióticas e suas interações na abundância de Hypsiboas leptolineatus, no Município de Turvo, Estado do Paraná... 41 Tabela II: modelos de probabilidade de sobrevivência (φ) e recaptura (p) para Hypsiboas leptolineatus, entre as estações quente/úmida e fria/seca. Onde AIC C é valor do critério de Akaike s (menores valores indicam um modelo com melhor ajuste), AIC C representa a diferença entre AIC C do modelo atual e do melhor modelo (modelo 1), t variação do tempo (meses)... 42 CAPÍTULO II Tabela I: número de indivíduos de Hypsiboas leptolineatus utilizando os substratos de gramínea, arbusto e arbóreo nos ambientes de brejo e córrego na área de estudo no Município de Turvo, Estado do Paraná... 86 Tabela II: número de machos de Hypsiboas leptolineatus utilizando os substratos de gramínea, arbusto e arbóreo como sítio de vocalização, em diferentes posições do corpo em relação ao solo ou à água, no Município de Turvo, Estado do Paraná... 87 viii

LISTA DE FIGURAS PREFÁCIO Figura 01: fêmea ovada de Hypsiboas leptolineatus, observada em 26 de junho de 2007, no Município de Turvo, Estado do Paraná... 11 CAPÍTULO I Figura 01: Estado do Paraná (em vermelho), com a localização do limite político do Município de Turvo (em preto) e da Bacia Hidrográfica do Rio Ivaí (em azul). Elaborado por Vitor Hugo Campos... 43 Figura 02: Município de Turvo, mostrando sua hidrografia principal (azul) e a localização da área de estudo (círculo vermelho) na Fazenda Água Boa. Elaborado por Vitor Hugo Campos... 44 Figura 03: distribuição das variáveis climáticas na região, de outubro de 2006 a setembro de 2007, onde barras brancas mostram a temperatura mínima, barras pretas indicam a temperatura máxima e, a linha vermelha, demonstra a precipitação acumulada. Fonte: Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR)... 45 Figura 04: área de estudo, dentro da Fazenda Água Boa, no Município de Turvo, Estado do Paraná, indicando seus componentes lênticos em amarelo (brejo ou banhado) e lóticos em azul (cursos d água ou córregos), em meio à área de campo ou pastagem (em verde). Elaborado por Vitor Hugo Campos... 46 Figura 05: macho de Hypsiboas leptolineatus, marcado através do método de cinturão com miçangas, na área de estudo, Município de Turvo, Estado do Paraná... 47 ix

Figura 06: indivíduo juvenil de Hypsiboas leptolineatus, capturado durante o mês de dezembro, no Município de Turvo, Estado do Paraná... 48 Figura 07: abundância de Hypsiboas leptolineatus (média + desvio padrão), no Município de Turvo, Estado do Paraná. Onde, barras brancas representam machos, barras pretas indicam fêmeas, barras cinza mostram indivíduos juvenis e as setas vermelhas indicam o registro de desovas ao longo do ano de amostragem (outubro de 2006 a setembro de 2007)... 49 Figura 08: abundância de Hypsiboas leptolineatus (média + intervalo de confiança) entre as estações climáticas, no Município de Turvo, Estado do Paraná. Onde letras diferentes (a,b) indicam diferenças estatísticas, baseadas na comparação de médias do teste Tukey... 50 Figura 09: abundância de Hypsiboas leptolineatus (média + intervalo de confiança) entre as diferentes fases da lua no Município de Turvo, Estado do Paraná. Onde letras diferentes (a,b,c) indicam diferenças estatísticas, baseadas na comparação de médias do teste Tukey... 51 Figura 10: relação entre o horário de pôr-do-sol no Município de Turvo, Estado do Paraná, e o horário de início de atividade de vocalização dos machos de Hypsiboas leptolineatus... 52 Figura 11: diferença de horário (média + intervalo de confiança) entre o horário de pôr-do-sol e o horário de início de atividade de vocalização dos machos de Hypsiboas leptolineatus, entre as estações climáticas, no Município de Turvo, Estado do Paraná. As letras diferentes (a,b,c) indicam diferenças estatísticas, baseadas na comparação de médias do teste Tukey... 53 Figura 12: média mensal (+ desvio padrão) do número de indivíduos capturados (branco) e recapturados (preto) no Município de Turvo, Estado do Paraná, durante o período de outubro de 2006 a setembro de 2007... 54 x

Figura 13: sobrevivência da população de Hypsiboas leptolineatus, segundo o modelo de Cormack-Jolly-Seber (CJS), onde a probabilidade de sobrevivência varia com o tempo e a capturabilidade é constante (modelo 1, tabela II), no Município de Turvo, Estado do Paraná. Linha contínua representa a variação do índice, enquanto a linha tracejada mostra a tendência... 55 Figura 14: índice de sobrevivência (média + intervalo de confiança) para indivíduos de Hypsiboas leptolineatus, entre as estações climáticas, segundo o modelo de Cormack-Jolly-Seber (CJS), onde a probabilidade de sobrevivência e recaptura variam entre as estações (modelo 5, tabela II), no Município de Turvo, Estado do Paraná... 56 Figura 15: índice de capturabilidade (média + intervalo de confiança) para indivíduos de Hypsiboas leptolineatus, entre as estações climáticas, segundo o modelo de Cormack-Jolly-Seber (CJS), onde a probabilidade de sobrevivência e recaptura variam entre as estações (modelo 5, tabela II), no Município de Turvo, Estado do Paraná... 57 CAPÍTULO II Figura 01: macho de Hypsiboas leptolineatus com a presença de cicatrizes na região dorsal (seta vermelha), observado no Município de Turvo, Estado do Paraná (Foto: Vitor Hugo Gonçalves)... 88 Figura 02: distribuição dos pontos de captura de machos de Hypsiboas leptolineatus dentro da área de estudo, no Município de Turvo, Estado do Paraná... 89 Figura 03: distribuição dos pontos de captura de fêmeas de Hypsiboas leptolineatus dentro da área de estudo, no Município de Turvo, Estado do Paraná... 90 xi

Figura 04: distribuição dos pontos de captura de indivíduos juvenis de Hypsiboas leptolineatus dentro da área de estudo, no Município de Turvo, Estado do Paraná... 91 Figura 05: distribuição vertical (média + intervalo de confiança) de machos de Hypsiboas leptolineatus em atividade de vocalização, nos substratos arbustivo, arbóreo e de gramíneas, no Município de Turvo, Estado do Paraná... 92 Figura 06: peso (A) e comprimento rostro-cloacal (B) de machos de Hypsiboas leptolineatus em diferentes substratos, no Município de Turvo, Estado do Paraná. Letras diferentes (a,b) indicam diferenças estatísticas entre os tratamentos, baseadas na comparação de médias do teste Tukey... 93 Figura 07: comprimento rostro-cloacal (mm) de machos de Hypsiboas leptolineatus (média + intervalo de confiança) diferenciados através da presença ou ausência de cicatrizes na região dorsal... 94 Figura 08: tamanho da área de vida (m 2 ) de indivíduos de Hypsiboas leptolineatus, no Município de Turvo, Estado do Paraná... 95 Figura 09: deslocamento total (m) observado em indivíduos de Hypsiboas leptolineatus, no Município de Turvo, Estado do Paraná... 96 Figura 10: padrões de movimentação dos indivíduos de Hypsiboas leptolineatus (média + intervalo de confiança), entre as estações climáticas no Município de Turvo, Estado do Paraná. Sendo o tamanho médio da área de vida (A), o deslocamento total (B), a maior distância atingida entre dois pontos consecutivos de captura (C) e a distância média de deslocamento dos indivíduos (D)... 97 Figura 11: mínimos polígonos convexos de indivíduos de Hypsiboas leptolineatus, capturados na estação quente e úmida (primavera e verão), no Município de Turvo, Estado do Paraná. Cada cor representa um indivíduo... 98 xii

Figura 12: mínimos polígonos convexos de indivíduos de Hypsiboas leptolineatus, capturados na estação fria e seca (outono e inverno), no Município de Turvo, Estado do Paraná. Cada cor representa um indivíduo... 99 xiii

RESUMO GERAL As populações animais são estruturadas por uma série de elementos físicos, biológicos e ecológicos que agem conjuntamente influenciando sua dinâmica ao longo do espaço e do tempo. Nos anuros, os parâmetros populacionais mensuráveis são determinados por uma série de fatores como, por exemplo, características individuais, modos reprodutivos, padrões comportamentais, interações ecológicas e condições ambientais. Considerando a escassez de estudos populacionais com a diversa fauna de anuros brasileiros, assim como pelo fato de que estes constituem a base para qualquer estratégia conservacionista, este trabalho objetivou descrever a dinâmica de uma população de Hypsiboas leptolineatus (Braun & Braun, 1977), analisando os fatores que estruturam os padrões temporais e espaciais. O estudo foi realizado no Município de Turvo, Estado do Paraná, entre o período de outubro de 2006 e setembro de 2007, realizando-se seis noites de amostragem por mês. Para localizar os indivíduos de H. leptolineatus, foi realizada busca ativa, orientada visual e auditivamente. Após a captura cada indivíduo teve suas informações registradas, sendo marcado com o método de cinturão de miçangas coloridas, sendo solto posteriormente. A população mostrou uma distribuição temporal prolongada, com o registro de juvenis, fêmeas e machos vocalizando ao longo de quase todo o ano, além de desovas observadas nas duas estações climáticas principais (quente/chuvosa e fria/seca). De acordo com o modelo de melhor ajuste de Cormack- Jolly-Seber, a capturabilidade da população foi estimada em 59 %, enquanto a probabilidade de sobrevivência variou entre 06 e 53 %. Machos, fêmeas e juvenis apresentaram uma distribuição espacial relacionada com as regiões de maior disponibilidade de água corrente, havendo grandes agregados de indivíduos nos córregos e próximos a estes. Machos em atividade de vocalização distribuíram-se verticalmente desde o nível da água até cerca de 2 m de altura, sendo encontrados na água, gramíneas, arbustos e árvores. O tamanho da área de vida da população variou sazonalmente, sendo maior na estação quente/chuvosa, o que pode ser atribuído à variação na disponibilidade de água, como também pela presença de outras espécies de anuros na área. Os machos com maior comprimento rostro-cloacal (CRC), possuem cicatrizes na região dorsal, que possivelmente são conseqüentes de encontros agonísticos. 1

ABSTRACT Animal populations are structured by a series of physical, biological and ecological elements acting together to influence the temporal and spatial dynamics. In Anura, populational characteristics are determined by a series of factors such as: individual characteristics, reproductive mode, behavioral patterns, ecological interactions and environmental conditions. Considering the lack of population studies undertaken with Brazilian anurans, as well as the core position of demography to conservation studies, this study aims to describe the population dynamics of Hypsiboas leptolineatus (Braun & Braun, 1977) focusing on the factors that structure the spatial and temporal patterns. The study took place at Municipality of Turvo, State of Paraná between October 2006 and September 2007, with a field effort of a six sampling nights per month. Visual and auditive encounter surveys were used to locate H. leptolineatus individuals. After captured the individuals had their information registered, marked with a pelvic ring with colored beads and released. The population showed a prolonged temporal distribution. We recorded calling males, females and juveniles along the year, and observed egg clutches in the two seasons (warm/rainy and cold/dry). The best supported Cormack- Jolly-Seber model estimate the capture probability as 59 % whereas survival probability were between 06 and 53 %. The spatial distribution of males, females and juveniles were related to running water availability with greater aggregation in and nearby streams. Calling males used vertical space from water level till near of two meters of height, and were found in the water, on the grass, bushes and trees. The population home range size varied seasonally with a greater size in the warm and rainy season, a fact attributed to water availability and to the presence of other species at the site. Bigger males, measured by snout-vent length (SVL), had dorsal scars which could larger be an outcome of agonistic interactions. 2

PREFÁCIO A estrutura das populações animais é determinada por uma série de elementos físicos, biológicos e ecológicos que agem conjuntamente influenciando a sua dinâmica ao longo do espaço e do tempo (Begon, 2006). Nos anfíbios anuros, as características individuais (e.g. sexo, idade, tamanho, crescimento), os modos reprodutivos e padrões comportamentais da espécie, assim como as interações inter e intra-específicas e condições climáticas e ambientais, são alguns dos fatores que alteram os parâmetros populacionais mensuráveis em estudos ecológicos (Duellman & Trueb, 1994). As variáveis físicas, como fatores reguladores da população que independem da densidade, apresentam grande influência na sobrevivência de larvas e adultos de anuros, principalmente quando se avalia a disponibilidade de água no ambiente de reprodução (McDiarmid, 1994). Como são organismos ectotérmicos e possuem uma pele permeável, são, na maioria das vezes, mais suscetíveis às variações do ambiente em relação aos outros tetrapoda (Duellman & Trueb, 1994; Pough et al., 2003). Fatores dependentes da densidade, como por exemplo, a competição intraespecífica ou a predação, são estudados com mais freqüência em populações de larvas de anuros (Skelly & Werner, 1990; Gascon, 1992; Werner & Anholt, 1996; Lehtinen, 2004), sendo poucos os trabalhos que tratam dessas interações entre indivíduos adultos como reguladores do tamanho e da estrutura da população (Prado & Haddad, 2003; Menin et al., 2005; Boquimpani-Freitas et al., 2007). Estudos que abordem a estrutura das populações e suas tendências ao longo do tempo são considerados por muitos pesquisadores como uma das principais formas de se identificar os casos de declínio das populações de anuros no mundo todo (Alford & Richards, 1999; Young et al., 2001; Funk et al., 2003), especialmente porque na maioria 3

dos casos o declínio não é detectado inicialmente, quando ainda há tempo para se investigar as causas desse processo e, até mesmo atuar na restauração da população (Alford & Richards, 1999; Funk et al., 2003). Embora a fauna de anuros brasileiros seja considerada como pouco conhecida, até mesmo em suas informações mais basais de taxonomia, distribuição geográfica e características comportamentais e ecológicas (Silvano & Segalla, 2005; Silva et al., 2006), tem aumentado o número de trabalhos com a descrição de vocalizações, aspectos anatômicos, modos reprodutivos, comportamentos, entre outros (e.g.: Martins & Haddad, 1988; Pombal et al., 1994; Abrunhosa & Wogel, 2004; Hartmann et al., 2004; Haddad et al., 2005; Toledo & Haddad, 2005). Contudo, são ainda mais escassos os dados que busquem teorias ou explicações, a respeito de como e quais fatores podem regular a demografia destas populações, seja em trabalhos de campo ou laboratório (Miranda et al., 2005). Das 825 espécies de anfíbios ocorrentes no Brasil, 319 pertencem à família Hylidae (SBH, 2008), onde está inserida a espécie foco deste trabalho, Hypsiboas leptolineatus (Braun & Braun, 1977; figura 01), que pertence ao grupo de H. pulchellus, o qual conta atualmente com 30 espécies, sendo que, destas, nove formam o clado de H. polytaenius (Faivovich et al., 2005), que é composto por: Hypsiboas beckeri (Caramaschi & Cruz, 2004), H.buriti (Caramaschi & Cruz, 1999), H. cipoensis (Lutz, 1968), H. goianus (Lutz, 1968), H. latistriatus (Caramaschi & Cruz, 2004), H. leptolineatus, H. phaeopleura (Caramaschi & Cruz, 2000), H. polytaenius (Cope, 1870) e H. stenocephalus (Caramaschi & Cruz, 1999). O clado é suportado tanto por dados moleculares (Faivovich et al., 2005), quanto por várias características morfológicas. As características morfológicas constituem o padrão de finas linhas e faixas na região dorsal, o pequeno porte dos espécimes, corpo 4

alongado, cabeça estreita e ausência de barras ou manchas nas faces anterior e posterior das coxas e na região inguinal (Cruz & Caramaschi, 1998; Eterovick et al., 2002). Morfologicamente, H. leptolineatus apresenta o padrão descrito para o grupo, com o dorso e membros de coloração amarelada ou castanho-claro e com linhas longitudinais escuras (Braun & Braun, 1977). O tamanho do corpo (comprimento rostro-cloacal) varia de 26 a 34 mm nos machos e de 30 a 36 mm nas fêmeas (Kwet & Di-Bernardo, 1999). Geograficamente as espécies do grupo distribuem-se pelas regiões serranas dos estados da região sul, sudeste e centro-oeste do Brasil (Cruz & Caramaschi, 1998; Frost, 2007). Algumas espécies possuem a descrição de características como a vocalização, interações agonísticas e anatomia do estágio larval (Caramaschi & Cruz, 2000; Eterovick et al., 2002; Menin et al., 2004). Contudo, ainda considera-se que pouco se conhece sobre a biologia reprodutiva das espécies do clado de H. polytaenius (Menin et al., 2004). Hypsiboas leptolineatus é uma espécie endêmica do Planalto das Araucárias, ocorrendo em localidades serranas dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, em altitudes que variam de 800 a 1.200 metros (Braun & Braun, 1977; Cruz & Caramaschi, 1998; Kwet & Di-Bernardo, 1999; Hiert & Moura, 2007). Conhecida popularmente como perereca-de-pijama ou perereca-de-inverno, vive em áreas de brejo ou riachos em ambientes de campo, sempre associada à ocorrência da floresta ombrófila mista (Kwet & Di-Bernardo, 1999; Hiert & Moura, 2007) e, juntamente com outras espécies do grupo de H. polytaenius, possui escassas informações a respeito da ecologia de suas populações (Menin et al., 2004). Os dados publicados correspondem a hábitos gerais da espécie, características da desova e 5

descrição morfológica de sua fase larval (Kwet & Di-Bernardo, 1999; Both et al., 2007; Hiert & Moura, 2007). Dessa forma, constitui-se de suma importância a compreensão da dinâmica populacional dessa espécie de anuro, sua flutuação ao longo do tempo e possíveis influências das condições climáticas a que está sujeita como, também, sua utilização do habitat reprodutivo e de que forma usam e deslocam-se neste ambiente. Considerando que a compreensão da dinâmica das populações é fator chave para caracterizar as populações e também para qualquer estratégia conservacionista o objetivo geral deste trabalho é descrever a dinâmica populacional de H. leptolineatus, analisando os fatores que estruturam a população estudada quanto à sua variação temporal e espacial. Diante deste objetivo o trabalho está dividido em dois capítulos. O primeiro que trata da dinâmica populacional de H. leptolineatus, abordando suas características gerais, distribuição temporal, capturabilidade e sobrevivência da população. E o segundo que descreve o uso do habitat pelo anuro, estimando seu deslocamento e área de vida e os fatores que podem influenciar essa distribuição espacial. 6

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abrunhosa, P. A. & H. Wogel. 2004. Breeding behavior of the leaf-frog Phyllomedusa burmeisteri (Anura: Hylidae). Amphibia-Reptilia 25:125-135. Alford, R. A. & S. J. Richards. 1999. Global amphibian declines: a problem in applied ecology. Annual Review of Ecology and Systematics 30:133 165. Begon, M., J. L. Harper & C. R. Townsend. 2006. Ecology: Individuals, Populations and Communities. 4 ed. Oxford: Blackwell Science. Boquimpani-Freitas, L., R. V. Marra, M. Van Sluys & C. F. D. Rocha. 2007. Temporal niche of acoustic activity in anurans: interspecific and seasonal variation in a neotropical assemblage from south-eastern Brazil. Amphibia-Reptilia 28:269-276. Both, C., A. Kwet & M. Solé. 2007. The tadpole of Hypsiboas leptolineatus (Braun and Braun, 1977), a species in the Hypsiboas polytaenius clade (Anura: Hylidae). Brazilian Journal of Biology 67:309-312. Braun, P.C. & C.A.S. Braun. 1977. Nova espécie de Hyla do estado do Rio Grande do Sul, Brasil (Anura, Hylidae). Revista Brasileira de Biologia 37:853-857. Caramaschi, U. & C. A. G. Cruz. 2000. Duas espécies novas de Hyla Laurenti, 1768 do Estado de Goiás, Brasil (Amphibia, Anura, Hylidae). Boletim do Museu Nacional, Nova Série Zoologia 422:1-12. Crump, M.L. & N. J. Scott Jr. 1994. Standart techniques for inventory and monitoring Visual encounters surveys. In: Heyer, W. R., M. A. Donnelly, R. W. McDiarmid, L. C. Hayek & M. S. Foster, Measuring and Monitoring Biological Diversity Standard Methods for amphibians, pp. 84-91. Smithsonian. Cruz, C.A.G. & U. Caramaschi. 1998. Definição, composição e distribuição geográfica do grupo de Hyla polytaenia COPE, 1870 (Amphibia, Anura, Hylidae). Boletim 7

do Museu Nacional 392:1-19. Duellman, W. E. & L. Trueb. 1994. Biology of Amphibians. The Johns Hopkins University Press, Baltimore and London. Eterovick, P. C., I. S. Barros & I. Sazima. 2002. Tadpoles of two species in the Hyla polytaenia species group and the comparison with other tadpoles of H. poytaenia and H. pulchella group. Journal of Herpetology 36:512-515. Faivovich, J., C. F. B. Haddad, P. C. A. Garcia, D. Frost, J. A. Campbell & W. C. Wheeler. 2005. Systematic review of the frog family Hylidae, with especial reference to Hylinae: phylogenetic analysis and taxonomic revision. Bulletin of the American. Museum of Natural History 294:1-240. Frost, D. R. 2007. Amphibian Species of the World: an Online Reference. Version 5.1 (10 October, 2007). Electronic Database accessible at http://research.amnh.org/herpetology/amphibia/index.php. American Museum of Natural History, New York, USA. Funk, W. C., D. Almeida-Reinoso, F. Nogales-Sornosa & M. R. Bustamante. 2003. Monitoring population Trends of Eleutherodactylus Frogs. Journal of Herpetology 37:245-256. Gascon, C. 1992. Aquatic predators and tadpole prey in central Amazonia: field data and experimental manipulations. Ecology 73:971-980. Haddad, C. F. B., J. Faivovich & P. C. A. Garcia. 2005. The specialized reproductive mode of the treefrog Aplastodiscus perviridis (Anura: Hylidae). Amphibia-Reptilia 26:87 92. Hartmann, M. T., P. A. Hartmann & C. F. B. Haddad. 2004. Visual signaling and reproductive biology in a nocturnal treefrog, genus Hyla (Anura: Hylidae). Amphibia-Reptilia 25:395 406. 8

Hiert, C. & M. O. Moura. 2007. Anfíbios do Parque Municipal das Araucárias, Guarapuava - Paraná. Editora UNICENTRO. Kwet, A. & M. Di-Bernardo. 1999. Anfibios - Amphibien Amphibians. EDIPUCRS, Porto Alegre. Lehtinen, R. M. 2004. Tests for competition, cannibalism, and priority effects in two phytotelm-dwelling tadopoles from Madagascar. Herpetologica 60:1 13. Martins, M. & C. F. B. Haddad. 1988. Vocalizations and reproductive behaviour in the smith frog Hyla faber Wied (Amphibia: Hylidae). Amphibia-Reptilia 9:49 60. McDiarmid, R.W. 1994. Amphibian diversity and natural history: An overview. In: Heyer, W. R., M. A. Donnelly, R. W. McDiarmid, L. C. Hayek & M. S. Foster, Measuring and Monitoring Biological Diversity Standard Methods for amphibians, pp. 5-13. Smithsonian. Menin, M., R. A. Silva & A. A. Giaretta. 2004. Reproductive biology of Hyla goiana (Anura, Hylidae). Iheringia, Série Zoologia 94:49 52. Menin, M, D. C. Rossa-Feres & A. A. Giaretta. 2005. Resource use and coexistence of two syntopic hylid frogs (Anura, Hylidae). Revista Brasileira de Zoologia 22:61 72. Miranda, T., M. Ebner, M. Solé & A. Kwet. 2005. Estimativa populacional de Pseudis cardosoi (Anura, Hylidae) com emprego do método fotográfico para reconhecimento individual. Biociências 13:49 54. Pierce, B. A. & K. J. Gutzwiller. 2004. Auditory sampling of frogs: detection efficiency in relation to survey duration. Journal of Herpetology 38:495 500. Pombal, J. P., I. Sazima & C. F. B. Haddad. 1994. Breeding behavior of the Pumpkin Toadlet, Brachycephalus ephippium (Brachycephalidae). Journal of Herpetology 28: 516 519. 9

Pough, J. H, C. M. Janis & J. B. Heiser. 2003. A vida dos vertebrados. 6ª ed. Atheneu, São Paulo. Prado, C. P. A. & C. F. B. Haddad. 2003. Tests size in Leptodactylid frogs and occurrence of multimale spawning in the genus Leptodactylus in Brazil. Journal of Herpetology 37:354 362. SBH. 2007. Brazilian Amphibians List of species. http://www.sbherpetologia.org.br. Sociedade Brasileira de Herpetologia. Acessado em 20 de janeiro de 2008. Silva, M. O., R. A. Machado & V. Graf. 2006. O conhecimento de Amphibia do Estado do Paraná. In: Monteiro-Filho, E. L. A & J. M. R. Aranha (eds.). Revisões em Zoologia I, pp. 305 314. SEMA/PR, Curitiba. Silvano, D. L. & M. V. Segalla. 2005. Conservation of Brazilian Amphibians. Conservation Biology 19:653-658. Skelly, D. K. & E. E. Werner. 1990. Behavioral and life-historical responses of larval American toads to an odonate predator. Ecology 71:2313 2322. Toledo, L. F. & C. F. B. Haddad. 2005. Reproductive biology of Scinax fuscomarginatus (Anura, Hylidae) in south-eastern Brazil. Journal of Natural History 39:3029-3037. Werner, E. E. & B. R. Anholt. 1996. Predator-induced behavioral indirect effects: consequences to competitive interactions in anuran larvae. Ecology 77:157 169. Young, B. E., K. R. Lips, J. K. Reaser, R. Ibáñez, A. W. Salas, J. R. Cedeño, L. A. Coloma, S. Ron, E. L. Marca, J. R. Meyer, A. Muñoz, F. Bolamos, G. Chaves & D. Romo. 2001. Population declines and priorities for amphibian conservation in Latin American. Conservation Biology 15:1213-1223. 10

Figura 01: fêmea ovada de Hypsiboas leptolineatus, observada em 26 de junho de 2007, no Município de Turvo, Estado do Paraná. 11

Capítulo I Dinâmica Populacional de Hypsiboas leptolineatus (Anura: Hylidae) no Município de Turvo, Estado do Paraná 12

RESUMO Estudos que tratem da dinâmica de populações de anuros e os fatores que a estruturam apresentam uma grande importância em decorrência do crescente declínio de determinadas espécies. A estrutura dessas populações e suas flutuações podem resultar das características reprodutivas e comportamentais da espécie, da influência do ambiente e clima na disponibilidade de microambientes para reprodução, como também pela resposta da população às demais espécies presentes na área. Dentre os parâmetros que podem ser estimados em um monitoramento populacional, pode-se citar o tamanho da população (abundância ou densidade), razão sexual, taxa de crescimento, dinâmica temporal (flutuação do número de indivíduos) e espacial, sobrevivência e capturabilidade da espécie. Embora o Brasil seja o país com a maior diversidade de anuros, muito pouco se conhece a respeito da dinâmica de suas populações. Em virtude disso, este estudo visou quantificar a abundância relativa de indivíduos de H. leptolineatus, descrever sua variação sazonal e estimar os índices de capturabilidade e sobrevivência ao longo do ano, através da captura, marcação e recaptura dos adultos. O trabalho foi realizado em uma área de brejos e córregos no Município de Turvo, Estado do Paraná, durante o período de outubro de 2006 a setembro de 2007, realizando-se seis noites de amostragem por mês. Foi realizada busca ativa por indivíduos da espécie, orientada visual e auditivamente. Cada indivíduo teve suas informações registradas (sexo, comprimento rostro-cloacal e peso) e foi marcado com o método de cinturão de miçangas coloridas. As estações de inverno e primavera apresentaram as maiores abundâncias de indivíduos em atividade, com registro de atividade reprodutiva nas duas estações climáticas principais (quente/chuvosa e fria/seca), sendo uma espécie de atividade reprodutiva prolongada. O recrutamento de indivíduos recém metamorfoseados ocorreu, praticamente, ao longo de todo o ano. A probabilidade de recaptura e sobrevivência dessa população, estimada pelo modelo de Cormack-Jolly- Seber, foram estimadas em torno de 56 e 34%, respectivamente, de acordo com um modelo simplificado. São apresentadas também variações desses índices entre as estações climáticas, bem como uma seleção de modelos buscando-se o modelo que melhor descreva a variação populacional. 13

ABSTRACT Anuran population dynamic studies have great importance due to the crescent population decline that some species are showing. The population structure and its fluctuations could result from species specific demographic and behavioral characteristics, reproductive microhabitat availability (which is influenced by local environment and climate), as well as from responses to other sympatric species. During a population monitoring program there are parameters such as the population size, sex ratio, growth rate, temporal and spatial dynamics, survivorship and capturability rates, which could be obtained and are useful tools to understand and project population trends. Although Brazil has the richest anuran fauna in the world the knowledge regarding to population dynamics is extremely scarce. Therefore, the aim of the present study was to quantify population patterns of Hypsiboas leptolineatus, describing the seasonality and provide estimates of adult survivorship and capturability using markrecapture methods. The work was carried out at an area of swamps and streams in the Municipality of Turvo, State of Paraná, southern Brazil, between October 2006 and September 2007, making six sampling nights a month. Individuals were tracked either by auditive or visual search. After captured, the individuals were marked with a pelvic ring with colored beads, and have their sex, weigh and length (SVL) determinated. In winter and spring we registered the highest abundance, with reproduction occurring during main seasons (hot/rainy and cold/dry), characterizing then a prolonged reproductive activity. The recruitment occurred during all study. The survivorship and recapture, estimated from Cormak-Jolly-Seber model, were about 56 and 34%, respectively. We showed that these values differ between seasons and present select models that represent population fluctuations. 14

INTRODUÇÃO A ecologia de populações ainda apresenta muitas questões que permanecem sem respostas. Dentre as várias possibilidades encontram-se os problemas operacionais na execução de pesquisas em meio natural, que decorrem, inicialmente, da dificuldade de se conceituar e definir os limites de uma população, da necessidade de um monitoramento contínuo e padronizado dos indivíduos, bem como da adaptação de métodos de marcação adequados de acordo com a bionomia e os hábitos da espécie em foco (Begon et al., 2006). Além das diferenças entre as características de cada espécie, o desenho amostral de um estudo de ecologia de população pode variar também de acordo com os objetivos e perguntas do trabalho, como também pelos parâmetros a serem estimados (Crump & Scott Jr., 1994; Begon et al., 2006). Entre estes, pode-se citar o tamanho da população (abundância ou densidade), razão sexual, crescimento populacional, dinâmica temporal (flutuação do número de indivíduos) e espacial, sobrevivência e capturabilidade da espécie, além de dados comportamentais (Begon et al., 2006). Com o crescente registro de declínio das populações de anfíbios (Young et al., 2001; Blaustein & Kiesecker, 2002; Funk et al., 2003), estudos de ecologia de populações têm sido considerados como uma excelente ferramenta para a detecção deste processo (Altwegg, 2003; Pellet et al., 2007). Dessa forma, o pouco conhecimento da estrutura populacional básica e sua dinâmica ao longo do tempo, constitui um obstáculo para se reverter o declínio da maioria das espécies de anfíbios que estão ameaçadas (Young et al., 2001; Blaustein & Kiesecker, 2002; Funk et al., 2003). Assim, o monitoramento das populações e a estimativa de parâmetros demográficos se configuram como tendo extrema importância conservacionista, 15

fornecendo um grande subsídio para o entendimento e permitindo inferências mais precisas do que é uma flutuação natural da espécie (em certas condições ambientais) do que constitui um risco de declínio da população, muitas vezes proveniente da ação antrópica (Young et al., 2001; Blaustein & Kiesecker, 2002; Grafe et al., 2004). Embora tal necessidade e importância sejam reconhecidas, uma pequena parte dos estudos populacionais de anuros estima dados ecológicos como, por exemplo, a abundância relativa ou densidade, flutuação do número de indivíduos, capturabilidade e as taxas de sobrevivência das espécies (Altwegg, 2003; Grafe et al., 2004; Brown et al., 2007; Pellet et al., 2007). A maioria dos trabalhos tem seu foco em informações de história natural relacionadas à reprodução, vocalização e comportamento das espécies que, para a maioria dos anuros brasileiros, também são desconhecidas (Pombal Jr. & Gordo, 2004; Silvano & Segalla, 2005; Silva et al., 2006). Uma das dificuldades na execução de monitoramentos com anfíbios é que, para a maioria das espécies, pouco se sabe a respeito de quais métodos são melhores para estimar sua abundância relativa ou densidade (Funk et al., 2003). E, além disso, deve-se lembrar que os anfíbios, com um complexo ciclo de vida, sofrem uma regulação diferenciada de suas populações entre os diferentes estágios de vida, variando entre ovos, larvas, juvenis e adultos (Grafe et al., 2004). A fase larval dos anfíbios constitui o estágio melhor estudado, especialmente pela grande incidência de predação, sendo um fator que influencia fortemente a regulação da população como um todo, superando até mesmo a mortalidade dos adultos (Duellman & Trueb, 1994). Contudo, modelos populacionais mostram que a sobrevivência dos anfíbios, durante sua fase terrestre, também são de fundamental importância para o entendimento 16

da dinâmica e da viabilidade da população (Trenham et al., 2000), embora muito pouco se conheça a respeito das suas taxas de sobrevivência (Anholt et al., 2003) Duellman & Trueb (1994) descrevem, de uma forma geral, a taxa de sobrevivência dos anuros variando entre 0 a 69 %, em indivíduos adultos. Porém, é crescente o número de métodos mais complexos e modelos robustos que estimem de forma mais exata esses índices (Anholt et al., 2003; Grafe et al., 2004). A grande amplitude desse valor implica no efeito de diferenças específicas, como o modo reprodutivo da espécie e interações sociais, além de variações ambientais imprevisíveis, doenças e outros fatores (Duellman & Trueb, 1994; Grafe et al., 2004). Da mesma forma, tais fatores também influenciam a capturabilidade ou taxa de captura das populações, assim como o recrutamento de novos indivíduos (Trenham et al., 2000; Grafe et al., 2004). Mais especificamente, o recrutamento dos jovens depende, principalmente, da duração da estação reprodutiva e da variação de tempo de extensão da fase larval. Assim, os anuros que apresentam um longo período reprodutivo podem recrutar juvenis na população durante a maior parte do ano (Duellman & Trueb, 1994; Richter & Seigel, 2002). Nesse contexto, o recrutamento, a taxa de sobrevivência e a capturabilidade de uma população são considerados como parâmetros fundamentais para o entendimento da dinâmica populacional, pois apresentam informações críticas para analisar e projetar o perfil de uma dada população (Altwegg, 2003; Brown et al., 2007). Estes parâmetros sofrem influência direta da dinâmica temporal da população, representada pela flutuação do número de indivíduos ao longo do tempo que, por sua vez, depende de fatores como a competição inter e intraespecífica, predação, variações 17

ambientais e características sociais e reprodutivas da espécie (Duellman & Trueb, 1994). Dentre estes, os fatores ambientais constituem um dos mais estudados, especialmente pela grande dependência dos anuros às condições ambientais (Duellman & Trueb, 1994; Pough et al., 2003). Sua distribuição geográfica, ecologia, comportamento e história natural são fortemente influenciados pela distribuição e abundância da água, especialmente sob forma de precipitação (Duellman & Trueb, 1994; Richter & Seigel, 2002; Pombal Jr. & Haddad, 2005). Contudo, para grande parte das espécies não se tem um entendimento claro de como a precipitação, umidade, temperatura e outros fatores ecológicos interagem para afetar a sua atividade (Oseen & Wassersug, 2002; Boquimpani-Freitas et al., 2007). Na maioria das vezes os fatores não influenciam diretamente a abundância populacional, agem em conjunto na atividade das espécies. Muitos estudos reportam a temperatura e a precipitação acumulada como fatores críticos na atividade reprodutiva dos anuros (Duellman & Trueb, 1994; Oseen & Wassersug, 2002; Boquimpani-Freitas et al., 2007). Os anfíbios, como um grupo, apresentam uma extensa faixa de tolerância à temperatura, sendo que tais diferenças refletem os diversos regimes térmicos aos quais as espécies estão submetidas em seus habitats (Duellman & Trueb, 1994), podendo-se citar como exemplo espécies de anuros de áreas temperadas que se reproduzem em temperaturas de cerca de 8 o C (Oseen & Wassersug, 2002). Outras variáveis, não usualmente mensuradas, como pressão barométrica, intensidade de luz, fases da lua e vento, também têm efeitos significativos na atividade das espécies (Oseen & Wassersug, 2002). 18

Nesse contexto, a atividade reprodutiva da espécie também faz com que esta responda de forma diferente a diversos fatores climáticos, tendo-se como exemplo as espécies de reprodução explosiva ou prolongada (Duellman & Trueb, 1994; Pombal Jr. & Haddad, 2005; Boquimpani-Freitas et al., 2007). Assim, observa-se claramente a necessidade da análise de múltiplas variáveis para uma melhor predição da influência dos fatores abióticos na atividade social e reprodutiva dos anuros. O fato da maioria dos trabalhos estudarem os anuros apenas durante a sua estação reprodutiva, implica em uma carência de estudos fora deste período, o que poderia fornecer dados mais concretos sobre a relação entre os fatores climáticos e a abundância e atividade dos anuros (Oseen & Wassersug, 2002). Diante de tais questionamentos e necessidades, o presente estudo monitorou uma população de Hypsiboas leptolineatus, um anuro endêmico das regiões campestres associadas à Floresta com Araucária no sul do Brasil (Kwet & Di-Bernardo, 1999; Hiert & Moura, 2007), Embora este anuro apresente características que facilitem o seu monitoramento, como a grande abundância de indivíduos em determinados ambientes e atividade reprodutiva estendendo-se por grande parte do ano (Kwet & Di-Bernardo, 1999; IUCN, 2006; Both et al., 2007), pouco se conhece a respeito da composição e dinâmica de suas populações. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo: (1) quantificar a abundância relativa de indivíduos no ambiente reprodutivo; (2) descrever características gerais da população, (3) avaliar a variação sazonal no número de indivíduos em atividade, observando sua relação com as condições climáticas, e (4) estimar os índices de capturabilidade e sobrevivência ao longo do ano, através da captura, marcação e recaptura dos adultos. 19

MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo O presente estudo realizou-se na Fazenda Água Boa, propriedade particular do Sr. Paulo Naiverth, na localidade de Rio do Salto (25 o 01 40,9 S, 51 o 32 40,4 W), Município de Turvo, região centro-sul do Estado do Paraná (figuras 01 e 02), estando a cerca de dois quilômetros da área urbana do município. Está situada no terceiro planalto paranaense, sendo caracterizada fitofisionomicamente pela floresta ombrófila mista ou floresta com araucária, com áreas adjacentes de campos, inseridos dentro de uma formação denominada Campos de Guarapuava (Maack, 1981; Castella & Britez, 2004). O clima na região é subtropical úmido mesotérmico, com verões frescos e ocorrência de geadas severas e freqüentes, sem estação seca, correspondendo ao clima Cfb da escala de Köeppen (Maack, 1981). A figura 03 mostra a flutuação das variáveis climáticas na região (precipitação, temperatura mínima e máxima), durante o período de estudo, de acordo com os dados da estação metereológica do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), localizada a cerca de 30 km da área de estudo. A Fazenda apresenta uma área total de 198 hectares, está situada há uma altitude de aproximadamente 1.200 metros e, apresenta em sua área de abrangência, um relevo com forte declive em virtude dos vales do Rio Marrecas e Rio Turvo, pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio Ivaí (figura 02). Nesses vales encontram-se as áreas florestadas mais preservadas da região, estando, na sua maior parte, em estágio médio e avançado de sucessão, em virtude da impossibilidade de sua utilização para agricultura (Castella & Britez, 2004). 20

A região dos campos situa-se em áreas mais planas, com altitudes também elevadas, caracterizadas por um solo raso sobre formação rochosa basáltica e vegetação rasteira ou de pequeno porte, como gramíneas e arbustos, possuindo, também, alguns espécimes arbóreos esparsos, como a Araucaria angustifolia (Bertol) e Ilex paraguariensis (St. Hill). A área utilizada neste estudo situa-se entre as coordenadas 25 01 40,9 S e 25 01 45,7 S; 51 32 07,0 W e 51 32 12,2 W, e localiza-se em uma depressão do relevo na área de campo. Este local apresenta uma área de aproximadamente 24.000 m 2, onde está um verdadeiro mosaico de várzeas ou brejos (permanentes e temporários), que são interligados por diversos riachos ou córregos, decorrentes de várias nascentes (figura 04). As duas regiões permanentes de brejo apresentam, em época de intensa precipitação, a área de 3.395 m 2 e 501 m 2, podendo diminuir seu tamanho em períodos mais secos. A profundidade máxima observada é de cerca de 70 centímetros. Um total de seis córregos compõe a área e fazem a conexão entre as nascentes, brejos e o salto que desemboca no Rio Turvo. O comprimento destes varia entre 20 e 105 metros, aproximadamente, sua largura atinge no máximo 1 m de água corrente e a profundidade não passa de 50 cm. Nas suas margens pode-se observar a formação de pequenas áreas de brejo de acordo com o volume de precipitação. Amostragem Durante o período de outubro de 2006 a setembro de 2007 foram realizadas seis noites de amostragens por mês, concentradas em duas fases de campo de três noites consecutivas a cada 15 dias, totalizando mais de 560 horas/pessoa de amostragem. 21

Cada visita ao campo teve duração de aproximadamente 8 horas de amostragem, iniciando antes do pôr-do-sol, por volta das 17 horas, e estendendo-se até o término ou grande diminuição da atividade de vocalização dos machos, o que normalmente acontecia aproximadamente uma hora da manhã. No início de cada noite de amostragem registrou-se o horário de início de atividade de vocalização, considerando-se a primeira vocalização emitida por um macho da espécie. Para estimar a abundância em cada amostragem, realizou-se uma combinação de dois métodos usuais em trabalhos de monitoramento de populações de anuros, sendo a amostragem por encontros visuais por busca ativa por indivíduos de H. leptolineatus, e a procura auditiva, orientando-se através da vocalização dos machos em atividade (Crump & Scott Jr., 1994; Aurichio & Salomão, 2002; Pierce & Gutzwiller, 2004). Na execução desses métodos foram percorridos o interior e a borda de todos os brejos e córregos, padronizando-se o tempo e o número de pesquisadores na procura pelos indivíduos, sendo duas pessoas realizando aproximadamente seis horas de amostragem por noite (Crump & Scott Jr., 1994; Pierce & Gutzwiller, 2004). Os anuros encontrados eram capturados manualmente, sendo então acondicionados em sacos plásticos umedecidos e levados, posteriormente, a uma estação de trabalho instalada na área de estudo, para o registro de suas informações e marcação individual. A determinação do sexo dos indivíduos foi efetuada pela presença do saco vocal ou, ainda, pela coloração da região gular que é castanha nos machos e, esbranquiçada nas fêmeas. De cada indivíduo foi medido o comprimento rostro-cloacal (CRC), utilizando-se um paquímetro de precisão 0,1 mm, e o peso mensurado com um dinamômetro, marca Pesola, de precisão 0,25 g. 22

Cada anuro foi marcado através de um cinturão de miçangas coloridas colocado na região inguinal (figura 05), onde cada cor de miçanga correspondia a um número de 0 a 9, utilizando até três miçangas presas ao cordão de algodão (Narvaes & Rodrigues, 2005; Giasson & Haddad, 2007). Esta técnica de marcação foi utilizada por ser considerada como menos invasiva aos indivíduos, sendo especialmente indicada para espécies da família Hylidae, que apresentam hábito arborícola e poderiam ser prejudicadas com o método de amputação dos artelhos (McCarthy & Parris, 2004). O cinturão também possibilita que o pesquisador identifique a certa distância a coloração das miçangas e, conseqüentemente, o número de registro do animal que é considerado recapturado, sem que haja a necessidade de uma nova manipulação do animal (Narvaes & Rodrigues, 2005; Giasson & Haddad, 2007). Após esses procedimentos (cerca de 10 minutos depois), os indivíduos foram soltos no mesmo local de captura. Indivíduos pós-metamórficos e juvenis (figura 06), com até 25 mm de comprimento, não foram submetidos ao processo de marcação, evitando-se causar qualquer dano ao crescimento destes. Contudo, foram considerados como uma captura e tiveram algumas informações registradas (data, horário e CRC). Para uma análise temporal da dinâmica da população, o anuro encontrado com o cinturão de miçangas foi somente considerado como uma recaptura quando este fato ocorreu fora da fase de campo (três noites consecutivas) de sua primeira captura. Em cada noite de amostragem registrou-se com termohigrômetro digital a temperatura mínima e máxima e umidade relativa do ar mínima e máxima. A temperatura da água foi obtida utilizando-se de um termômetro de mercúrio com precisão de 0,5 o C, obtendo-se uma média para cada noite. 23

O horário de pôr-do-sol para o município de Turvo, assim como a fase da lua (nova, crescente, cheia e minguante) em cada dia de amostragem foram obtidos junto ao Instituto Tecnológico SIMEPAR. Análise Estatística Dentre as variáveis climáticas, a umidade relativa do ar foi transformada (arcoseno) com o objetivo de linearizar a proporção destas. Os dados de temperatura do ar, temperatura da água e precipitação foram logaritmizados, a fim de homogeneizar a amostra e reduzir a variância dos dados. O número de indivíduos capturados por noite também foi transformado (raiz quadrada; Zar, 1984). Possíveis diferenças da abundância da população entre as estações climáticas de primavera (de 23 de setembro a 20 de dezembro), verão (de 21 de dezembro a 19 de março), outono (de 20 de março a 20 de junho) e inverno (de 21 de junho a 22 de setembro), foram testadas com análise de variância (ANOVA), comparando-se as médias, a posteriori, com o teste Tukey (Zar, 1984). Para testar a relação entre a abundância relativa e as variáveis abióticas obtidas em campo (temperatura mínima e máxima, umidade relativa do ar mínima e máxima e temperatura da água), foi gerado um modelo linear generalizado, avaliando-se o efeito desses fatores e a sua interação sobre o número de indivíduos capturados. Com o objetivo de testar as diferenças na abundância de H. leptolineatus entre as diferentes fases da lua (cheia, minguante, nova e crescente), foi realizada uma análise de variância, comparando-se as médias, a posteriori, com o teste Tukey (Zar, 1984). Já a relação entre o horário de pôr-do-sol e o horário de início de atividade de vocalização dos machos, foi testada com uma análise de regressão linear simples. E, com a finalidade de avaliar possíveis variações sazonais na hora de início da atividade 24

de canto do anuro, foi realizada uma análise de variância (ANOVA) com a diferença entre os horários de pôr-do-sol e inicio de atividade de vocalização, pelas estações do ano (Zar, 1984). Os dados foram analisados com o auxilio do programa JMP (versão 5.0.1.2. The Statistical Discovery Software. Copyright 1989-2003) e o alfa considerado nas análises foi de 0,05 (Zar, 1984). O programa COPLOT (versão 6.311. CoHort Software. Copyright 1998-2005) foi utilizado para a elaboração das figuras. Para se estimar a probabilidade de sobrevivência (φ) e capturabilidade (p) da população entre as sessões amostrais, o modelo de Cormack-Jolly-Seber (CJS) foi utilizado como descritor das variáveis populacionais, sendo que este baseia-se em recapturas em populações animais abertas (Cooch & White, 2006; Pryde, 2003). Neste modelo, existem parâmetros que descrevem tanto a probabilidade de sobrevivência quanto a probabilidade de se morrer ao longo do estudo. Esta última é ponderada pela probabilidade de imigração da área (Pryde, 2003; Cooch & White, 2006) O modelo básico CJS segue as premissas de que cada animal na população tem a mesma probabilidade de recaptura e sobrevivência, as marcações não podem ser perdidas e, também, de que as amostragens são rápidas e cada soltura é realizada imediatamente após a amostra (Letting & Armstrong, 2003; Pryde, 2003; Cooch & White, 2006). Buscando-se a independência das amostras e um melhor ajuste do modelo à variação dos dados, os índices foram estimados considerando-se as sessões de capturas como mensais (12 amostras). Atribuindo-se diferentes parâmetros, foram gerados três diferentes cenários entre os períodos amostrais, sendo: (1) igualdade entre os períodos amostrais, com igual probabilidade de φ e p entre as amostras, (2) distinção das sessões amostrais por estação 25

climática, sendo quente/chuvosa (abrangendo primavera e verão) e fria/seca (incluindo outono e inverno), onde a probabilidade de φ e p são iguais dentro e diferentes entre as estações, e (3) onde cada período de amostragem recebeu um parâmetro distinto de φ e p para cada indivíduo, caracterizando-se como o modelo geral ou saturado da análise. Foram comparados seis diferentes modelos gerados a partir do cenário que inclui as estações e do cenário com o modelo geral, variando-se a probabilidade de φ e p. A comparação dos modelos foi realizada utilizando-se do critério de Akaike (AIC C ). Os modelos com o menor valor de AIC C foram selecionados para a descrição da sobrevivência e capturabilidade da população (Letting & Armstrong, 2003; Pryde, 2003; Cooch & White, 2006). Com o objetivo de testar a adequação dos dados à estrutura do modelo CJS, o ajuste do modelo geral foi, primeiramente, testado através de aleatorização dos dados, construindo um modelo de distribuição nula sobre o qual o teste foi realizado. Os parâmetros populacionais de capturabilidade e sobrevivência foram analisados através do programa MARK, versão 4.1 (Cooch & White, 2006). 26

RESULTADOS Dinâmica Temporal Foram capturados e marcados um total de 374 indivíduos, sendo 21 fêmeas e 353 machos. O comprimento rostro-cloacal das fêmeas variou de 29,2 a 33,9 mm (32,7 + 0,97 mm; média + DP), enquanto o CRC dos machos ficou entre 25,3 e 32,7 mm (29,33 + 1,34 mm). Nas fêmeas (não ovadas) o peso variou entre 1 e 1,75 g (1,37 + 0,15 g) enquanto nos machos foi de 0,5 a 1,5 g (0,99 + 0,21 g). Nos 33 indivíduos juvenis capturados, o comprimento rostro-cloacal variou entre 15,8 a 19,3 mm (17,09 + 0,88 g). Contudo, como os indivíduos juvenis não foram submetidos ao processo de marcação, admite-se que estes podem ter sido capturados e medidos por mais de uma vez. A figura 07 mostra a abundância de indivíduos capturados mensalmente (média + DP), diferenciando machos, fêmeas e juvenis de H. leptolineatus, durante os doze meses de amostragem. Os machos apresentaram atividade de vocalização durante todo o ano de amostragem, enquanto as fêmeas somente não foram registradas no mês de outubro. Já o registro de fêmeas ovadas e desovas foram obtidos nos meses de março, junho e novembro, enquanto indivíduos juvenis (pós-metamórficos) foram capturados na maior parte do ano, exceto nos meses de abril e outubro. A abundância de H. leptolineatus diferiu entre as estações do ano (F 3,67 = 9,20; p < 0,05), sendo as maiores médias observadas no inverno e primavera, seguidas do verão e outono (figura 08). O modelo linear, como um todo, mostrou uma relação entre as variáveis abióticas coletadas em campo e a abundância da população (F 21,49 = 2,38; p < 0,05), sendo que as interações que tiveram relação com os anuros capturados foram: 27

(temperatura máxima)*(umidade mínima) e (umidade mínima)*(umidade máxima), como mostra a tabela I. Pode-se verificar uma variação na abundância entre as diferentes fases da lua (F 3,67 = 28,5; p < 0,05), observando-se uma maior abundância nas amostragens de lua nova, seguida de minguante, crescente e cheia, que apresentam médias semelhantes como pode ser visto na figura 09. O horário de início da atividade de vocalização dos machos é dependente do horário do pôr-do-sol, ocorrendo cerca de meia hora após o pôr-do-sol, como pode ser observado na figura 10 (Início Ativ. Vocalização = -0,18 + 1,27(Pôr-do-Sol); r 2 = 0,89, F 2,68 = 287,46, p< 0,05). A diferença entre o horário de início de atividade de vocalização da espécie e o horário do pôr-do-sol (em minutos) difere entre as estações climáticas (F 3,67 = 12,02; p < 0,05), mostrando que os machos iniciam sua atividade de vocalização cerca de uma hora após o ocaso durante o verão e começam a vocalizar cerca de 30 minutos após o pôrdo-sol durante o inverno (figura 11). Capturabilidade e Sobrevivência Não houve indícios de que os cinturões foram perdidos ou, ainda, de qualquer tipo de ferimento no corpo dos anuros. O fato de que os indivíduos voltavam a exercer normalmente suas atividades logo após a soltura, também é um indicativo de uma boa adequação do método de marcação utilizado. Ao todo, foram registradas 130 recapturas de indivíduos, considerando as sessões de amostragens como quinzenais. A distribuição das capturas e recapturas durante o período de estudo está representada na figura 12. 28

Através do teste de ajuste, com probabilidades estimadas através de aleatorização, pode-se verificar que os dados de recaptura do modelo geral (saturado) não diferiram significativamente do esperado pelo modelo de Cormack-Jolly-Seber (P = 0,49 em 1000 aleatorizações). Isso indica que as premissas do modelo estão satisfeitas. De uma forma geral, considerando-se a mesma probabilidade de recaptura entre todos os períodos amostrais, o índice de sobrevivência médio da espécie é de 0,34 + 0,03 (média + erro padrão), enquanto o índice de capturabilidade médio de H. leptolineatus é estimado em 0,56 + 0,07. As análises dos diferentes modelos (tabela II) indicam que todos, em maior ou menor grau, descrevem adequadamente as variações populacionais para H. leptolineatus na área. No entanto, utilizando os critérios de seleção definidos (menor valor de AIC C e AIC C < 4), o modelo com o menor desvio é aquele em que a sobrevivência varia com o tempo e a capturabilidade é constante. De acordo com este modelo de melhor ajuste, o índice de capturabilidade é estimado em 0,59 (+ 0,08), enquanto o índice de sobrevivência da população varia de 0,06 (+ 0,04) a 0,53 (+ 0,16). A figura 13 indica que, embora os valores sejam muito variáveis, existe uma tendência de aumento da taxa ao longo do período de estudo. Os índices de sobrevivência e capturabilidade variando, de uma forma geral, entre as estações climáticas podem ser observados nas figuras 14 e 15, respectivamente, observando-se uma taxa de sobrevivência de apenas 8% maior na estação fria, de acordo com o modelo cinco da tabela II. Contudo, este modelo não se apresenta como o de melhor ajuste à variação dos dados, de acordo com o modelo de CJS, sendo que o modelo mais parcimonioso é 43 vezes melhor suportado em relação ao modelo em que os parâmetros variam entre as estações. 29

DISCUSSÃO O comprimento rostro-cloacal dos adultos dessa população de Hypsiboas leptolineatus, não difere do observado anteriormente por Braun & Braun (1977) nas localidades de Cambará do Sul, Caxias do Sul, Gramado e Lagoa Vermelha, no Estado do Rio Grande do Sul e, Kwet & Di-Bernardo (1999) amostrando indivíduos na área do Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza Pró-Mata, município de São Francisco de Paula. Informações sobre o peso de indivíduos adultos e CRC de indivíduos juvenis pós-metamórficos não eram descritas para a espécie. O grande número de encontro e captura de indivíduos neste trabalho confirmam a lista vermelha da IUCN (World Conservation Union s) que indica as populações de H. leptolineatus como abundantes e estáveis, sendo caracterizada como uma espécie não ameaçada (IUCN, 2006). Ainda em relação à abundância das populações de H. leptolineatus, a grande proporção de machos em relação a poucas fêmeas encontradas nessa população, já foi observada por Braun & Braun (1977). O fato de registrar-se, ao longo de todo o ano de amostragem, machos emitindo vocalização de anúncio é um indicativo do hábito territorialista dos machos. E o conjunto de informações de capturas de machos, fêmeas e juvenis e, especialmente, as desovas observadas em períodos extremos do ano caracterizam a atividade reprodutiva prolongada da população. O período de capturas de fêmeas e registro de desovas nas estações quente e fria difere das informações apresentadas anteriormente na literatura para a espécie, onde sua atividade reprodutiva era descrita a partir da primavera até o outono, com ausência de desovas nos meses frios de inverno (Kwet & Di-Bernardo, 1999). 30

Mesmo citando a ausência de desovas durante o inverno, Kwet & Di-Bernardo (1999) e Both et al. (2007) descrevem o encontro de girinos de H. leptolineatus ao longo de todo o ano, o que confirma os dados registrados na população estudada no Município de Turvo. Diante de tais informações, pode-se inferir que H. leptolineatus é uma espécie de reprodução prolongada, ultrapassando a estação quente e chuvosa, período em que a maioria das espécies de anuros se reproduz (Bertoluci, 1998; Conte & Machado, 2005; Pombal Jr. & Haddad, 2005; Conte & Rossa-Feres, 2006). Este fato indica uma característica peculiar de H. leptolineatus, apresentando atividade reprodutiva em um período onde poucas espécies de anuros podem sequer ser observadas (Bernarde & Machado, 2001; Toledo et al., 2003; Conte & Machado, 2005; Conte & Rossa-Feres, 2006). Além disso, é relevante também o fato de que a região do Município de Turvo constitui uma das mais frias do Estado do Paraná, com invernos rigorosos e a presença freqüente de geadas, sendo uma característica que a diferencia de outras regiões estudadas neste Estado. Dentro do clado de H. polytaenius, cujas espécies também se distribuem por regiões serranas, não se tem informações concretas sobre o período reprodutivo das espécies. Eterovick et al. (2002) descrevem o registro de girinos de H. cipoensis de novembro a fevereiro e, para H. polytaenius, o registro de girinos e machos vocalizando ao longo de todo o ano. Além de Menin et al. (2004), que realizaram um estudo pontual sobre a biologia reprodutiva de H. goianus durante o mês de fevereiro. Contudo, tais dados não servem como um indicativo preciso do período de reprodução destas espécies. A interação de variáveis abióticas influenciando a atividade de espécies de anuros é comum, no entanto, cada espécie pode responder de uma forma diferente a 31

determinadas combinações de variáveis ambientais (Duellman & Trueb, 1994; Boquimpani-Freitas et al., 2007). A influência dessas interações entre as variáveis climáticas na atividade de H. leptolineatus pode estar refletindo as características reprodutivas da população que, por apresentar um longo período de atividade de vocalização, possui uma ampla faixa de tolerância a determinadas condições climáticas, o que pode ser comprovado pelo registro de machos vocalizando com a temperatura variando de 1,2 até 24,6 o C na área de estudo. Dessa forma uma variável isoladamente não influi diretamente na abundância da população, mas a ação delas em conjunto. As maiores abundâncias da população observadas em noites de lua nova, apontam a ausência de luminosidade como um fator preditor importante nesta população de H. leptolineatus. A utilização, pelos anuros, de ambientes com menor incidência de luz já foi descrita para outras espécies e pode ser atribuída a uma diminuição no risco de predação por potenciais predadores que são orientados visualmente (Duellman & Trueb, 1994; Oseen & Wassersug, 2002). A forte relação entre o horário de pôr-do-sol e o horário de início de atividade de vocalização, também indica uma importante ligação da atividade dos machos com a luminosidade, além da diminuição da temperatura e o aumento na umidade relativa do ar que são decorrentes do anoitecer. A diferenciação deste intervalo entre o pôr-do-sol e o início de atividade de vocalização entre as estações climáticas, também podem estar demonstrando uma dependência do fotoperíodo, juntamente com a umidade e temperatura. A dinâmica de captura, marcação e recapturas dessa população de H. leptolineatus pode ser melhor compreendida através dos parâmetros estimados com modelo de CJS, considerado como uma análise robusta para estimativa de capturabilidade e sobrevivência que minimiza o desvio dos dados (Anholt et al., 2001). 32

A probabilidade de recaptura da população, estimada em torno de 59%, de acordo com o modelo de melhor ajuste, pode estar relacionada com as variáveis climáticas (interações) que, de certa forma, estão relacionados com a abundância e atividade da população, bem como com possíveis migrações do sítio reprodutivo, que não foram avaliadas neste trabalho. Embora existam poucos estudos descrevendo o índice de capturabilidade de populações de anuros, de uma forma geral a taxa de recaptura dessa população de H. leptolineatus mostra-se próximo a de outros trabalhos conhecidos. Grafe et al. (2004) ao estudar Hemisus marmoratus (Peters, 1854), um anuro do continente africano, estimaram sua capturabilidade entre 35 e 50 %, em cinco anos de monitoramento da sua população. Pellet et al. (2007) ao monitorar duas populações de Hyla arborea (Linnaeus, 1758), na Suíça, pelo período de três anos, estimaram a probabilidade de recaptura anual em torno de 74 %. Funk & Mills (2003) avaliando o declínio de Anolamoglossus stepheni em fragmentos florestais na Amazônia (Martins, 1989), indicam a variação de sua capturabilidade entre os dias e as diferentes áreas estudadas, porém citam valores somente para os índices de sobrevivência da espécie. De uma forma geral, os valores estimados de capturabilidade para esses anuros fica entre 35 e 74%, mostrando que a estimativa de 59% para a população de H. leptolineatus está dentro desta variação. Da mesma forma, a estimativa de sobrevivência para essa população de H. leptolineatus, variando entre 06 e 53 % (de acordo com o modelo mais parcimonioso), ao longo do ano de amostragem, também se aproxima do índice de sobrevivência estimado para outras espécies de anuros que varia amplamente de 6 a 99 % (Richter & Seigel, 2002; Anholt et al, 2003; Funk & Mills, 2003; Grafe et al., 2004). 33

Observando de maneira mais detalhada estas espécies, vemos que em Hemisus marmoratus a probabilidade de sobrevivência é diferenciada entre os sexos no continente africano, sendo 26 % para os machos e 21 % para as fêmeas (Grafe et al., 2004). Anolamoglossus stepheni possui dados de sua taxa de sobrevivência em fragmentos florestais da Amazônia de diferentes tamanhos, sendo uma estimativa média de 60 % para essas populações (Funk & Mills, 2003). As populações de Hyla arborea na Suíça apresentam a probabilidade de sobrevivência estimada de 10 a 46 % (Pellet et al., 2007). Segundo Richter & Seigel (2002), a estimativa de sobrevivência de Lithobates sevosus (Goin & Netting, 1940), nos Estados Unidos, diferenciada entre os sexos, varia de 65 a 76 % nos machos e, de 70 a 91 % nas fêmeas. Anholt et al. (2003) estudando a associação de duas espécies na Suíça, Pelophylax lessonae (Camerano, 1882) e P. ridibundus (Pallas, 1771), estimou a taxa de sobrevivência para estas variando de 6 a 99 %. Estes índices reforçam a plasticidade temporal da população que, além de apresentar suas maiores abundâncias e reproduzir-se também no período de inverno, mostra uma probabilidade de sobrevivência amplamente variável ao longo do ano, sem grandes diferenças dessas taxas entre as estações climáticas. É relevante lembrar que a probabilidade de sobrevivência efetiva da espécie normalmente é maior do que o estimado, em virtude das análises considerarem as emigrações como mortalidade na população (Anholt et al., 2003). Na população avaliada no presente estudo, a ausência de marcação de indivíduos juvenis e o baixo número de capturas e recapturas de fêmeas impossibilitou a análise desses parâmetros populacionais em diferenciados grupos dentro da espécie, o que permitiria a avaliação de possíveis variações na sobrevivência e capturabilidade entre 34

eles e contribuir, também, para uma visão mais completa da dinâmica dessa população de H. leptolineatus. A estimativa de sobrevivência constitui um importante parâmetro mensurável nas teorias ecológicas e de evolução, pois a partir dela pode-se predizer a expectativa de vida dos indivíduos, bem como a possibilidade de declínio das populações (Anholt et al., 2001). Nos anuros, os índices de sobrevivência e capturabilidade para indivíduos adultos foram estimados para poucas espécies (Grafe et al., 2004), havendo uma lacuna nos estudos populacionais de uma forma geral que, implica em uma grande importância de monitoramentos a longo prazo, avaliando quais fatores influenciam e estruturam a dinâmica de suas populações. 35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Altwegg, R. 2003. Multistage density dependence in an amphibian. Oecologia 136:46-50. Anholt, B. R., C. Vorburger & P. Knaus. 2001. Mark-recapture estimates of daily survival rates of two damselflies (Coenagrion puella and Ischnura elegans). Canadian Journal of Zoology 79:895-899. Anholt, B. R., H. Hotz, G. D. Guex & R. D. Semlitsch. 2003. Overwinter survival of Rana lessonae and its hemiclonal associate Rana esculenta. Ecology 84:391-397. Aurichio, P. & M. G. Salomão. 2002. Técnicas de coleta e preparação de vertebrados para fins científicos e didáticos. Instituto Pau Brasil de História Natural, São Paulo. Begon, M., J. L. Harper; & C. R. Townsend. 2006. Ecology: Individuals, Populations and Communities. 4 ed. Blackwell Science, Oxford. Bernarde, P. S. & R. A. Machado. 2001. Riqueza de espécies, ambiente de reprodução e temporada de vocalização da anurofauna em Três Barras do Paraná, Brasil (Amphibia: Anura). Cuadernos de Herpetología 14:93-104. Bertoluci, J. A. 1998. Annual patterns of breeding activity in Atlantic Rainforest anurans. Journal of Herpetology 32:607-611. Blaustein, A. R. & J. M. Kiesecker. 2002. Complexity in conservation: lessons from the global decline of amphibian populations. Ecology Letters 5:597 608. Boquimpani-Freitas, L., R. V. Marra, M. Van Sluys & C. F. D. Rocha. 2007. Temporal niche of acoustic activity in anurans: interspecific and seasonal variation in a neotropical assemblage from south-eastern Brazil. Amphibia-Reptilia 28:269-276. 36

Both, C., A. Kwet & M. Solé. 2007. The tadpole of Hypsiboas leptolineatus (Braun and Braun, 1977), a species in the Hypsiboas polytaenius clade (Anura: Hylidae). Brazilian Journal of Biology 67:309-312. Braun, P.C. & C.A.S. Braun. 1977. Nova espécie de Hyla do estado do Rio Grande do Sul, Brasil (Anura, Hylidae). Revista Brasileira de Biologia 37:853-857. Brown, W. S., M. Kéry & J. E. Hines. 2007. Survival of Timber Rattlesnakes (Crotalus horridus) Estimated by Capture-Recapture Models in Relation to Age, Sex, Color Morph, Time, and Birthplace. Copeia (3):656-671. Castella, P. R. & R. M. de Britez (orgs.). 2004. A Floresta com Araucária no Paraná Conservação e diagnóstico dos Remanescentes Florestais. Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná. Brasília. Conte, C. E. & D. C. Rossa-Feres. 2006. Diversidade e ocorrência temporal da anurofauna (Amphibia, Anura) em São José dos Pinhais, Paraná, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 23:162-175. Conte, C. E. & R. A. Machado. 2005. Riqueza de espécies e distribuição espacial e temporal em comunidade de anuros (Amphibia, Anura) em uma localidade de Tijucas do Sul, Paraná, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 22: 940-948. Cooch, E & G. White (eds.). 2006. Program Mark: A gentle introduction. 5 th Edition. http://www.phidot.org/software/mark/docs/book/. Crump, M.L. & N. J. Scott Jr. 1994. Standart techniques for inventory and monitoring Visual encounters surveys. In: Heyer, W. R., M. A. Donnelly, R. W. McDiarmid, L. C. Hayek & M. S. Foster, Measuring and Monitoring Biological Diversity Standard Methods for amphibians, pp. 84-91. Smithsonian. Duellman, W. E. & L. Trueb. 1994. Biology of Amphibians. The Johns Hopkins University Press, Baltimore and London. 37

Eterovick, P. C., I. S. Barros & I. Sazima. 2002. Tadpoles of two species in the Hyla polytaenia species group and comparison with other tadpoles of Hyla polytaenia and Hyla pulchella groups (Anura, Hylidae). Journal of Herpetology 36:512-515. Funk, W. C. & L. S. Mills. 2003. Potential causes of population declines in forest fragments in an Amazonian frog. Biological Conservation 111:205-214. Funk, W. C., D. Almeida-Reinoso, F. Nogales-Sornosa & M. R. Bustamante. 2003. Monitoring population trends of Eleutherodactylus Frogs. Journal of Herpetology 37:245-256. Giasson, L. O. M. & C. F. B. Haddad. 2007. Mate choice and reproductive biology of Hypsiboas albomarginatus (Anura: Hylidae) in the Atlantic forest, southeastern Brazil. South American Journal of Herpetology 2:157-164. Grafe, T. U., S. K. Kaminsky, J. H. Bitz, H. Lüssow & K. E. Linsenmair. 2004. Demographic dynamics of the afro-tropical pig-noised frog, Hemisus marmoratus: effects of climate and predation on survival and recruitment. Oecologia 141:40-46. Hiert, C & M. O. Moura. 2007. Anfíbios do Parque Municipal das Araucárias, Guarapuava - Paraná. Editora UNICENTRO. IUCN, 2006. Conservation International, and NatureServe, Global Amphibian Assessment. <www.globalamphibians.org>. Accessed on 04 May 2006. Kwet, A. & M. Di-Bernardo. 1999. Anfibios - Amphibien Amphibians. EDIPUCRS, Porto Alegre. Lettink, M. & D. P. Armstrong. 2003. An introduction to using mark-recapture analysis for monitoring threatened species. In: Department of Conservation: Markrecapture analysis for monitoring threatened species: introduction and case study. pp. 5-32. Department of Conservation Technical Series 28. 38

Maack, R. 1981. Geografia física do estado do Paraná. Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro. McCarthy, M. A. & K. M. Parris. 2004. Clarifying the effect of toe clipping on frogs with Bayesian statistics. Journal of Applied Ecology 41:780 786. Narvaes, P. & M. T. Rodrigues. 2005. Visual communication, reproductive behavior, and home range of Hylodes dactylocinus (Anura, Leptodactylidae). Phyllomedusa 4:147-158. Oseen, K. L. & R. J. Wassersug. 2002. Environmental factors influencing calling in sympatric anurans. Oecologia 133:616 625. Pellet, J., V. Helfer & G. Yannic. 2007. Estimating population size in the European tree frog (Hyla arborea) using individual recognition and chorus counts. Amphibia- Reptilia 28:287-294. Pierce, B. A. & K. J. Gutzwiller. 2004. Auditory sampling of frogs: detection efficiency in relation to survey duration. Journal of Herpetology 38:495 500. Pombal Jr., J. P. & M. Gordo. 2004. Anfíbios anuros da Juréia. In: Marques, O. A. V. & W. Duleba (eds.). Estação Ecológica da Juréia Itatins: Ambiente Físico, Flora e Fauna, pp. 243-256. Holos, Ribeirão Preto. Pombal Jr., J. P. & C. F. B. Haddad. 2005. Estratégias e modos reprodutivos de anuros (Amphibia) em uma poça permanente na Serra de Paranapiacaba, Sudeste do Brasil. Papéis Avulsos de Zoologia 45:201-213. Pough, J. H, C. M. Janis & J. B. Heiser. 2003. A vida dos vertebrados. 6ª ed. Atheneu, São Paulo. Pryde, M.A. 2003. Using Program.MARK. for assessing survival in cryptic threatened species: case study using long-tailed bats (Chalinolobus tuberculatus). In: Department of Conservation: Mark-recapture analysis for monitoring threatened 39

species: introduction and case study. pp. 33-63. Department of Conservation Technical Series 28. Richter, S. C. & R. A. Seigel. 2002. Annual variation in the population ecology of the endangered Gopher Frog, Rana sevosa Goin and Netting. Copeia (4):962-972. Silva, M. O., R. A. Machado & V. Graf. 2006. O conhecimento de Amphibia do Estado do Paraná. In: Monteiro-Filho, E. L. A & J. M. R. Aranha (eds.). Revisões em Zoologia I, pp. 305 314. SEMA/PR, Curitiba. Silvano, D. L. & M. V. Segalla. 2005 Conservation of Brazilian Amphibians. Conservation Biology 19:653-658. Toledo, L. F., J. Zina & C. F. B. Haddad. 2003. Distribuição espacial e temporal de uma comunidade de anfíbios anuros do município de Rio Claro, São Paulo, Brasil. Holos Environment 3:136-149. Trenham, P. C., H. B. Shaffer, W. D. Koenig & M. R. Stromberg. 2000. Life history and demographic variation in the California Tiger Salamander (Ambystomona californiense). Copeia (2):365-377. Young, B. E., K. R. Lips, J. K. Reaser, R. Ibáñez, A. W. Salas, J. R. Cedeño, L. A. Coloma, S. Ron, E. L. Marca, J. R. Meyer, A. Muñoz, F. Bolamos, G. Chaves & D. Romo. 2001. Population declines and priorities for amphibian conservation in Latin American. Conservation Biology 15:1213-1223. Zar, J. H. 1984. Biostatistical Analysis. 2nd Edition. Prentice-Hall International Editions, Englewood Cliffs, NJ. 40

Tabela I: influência das variáveis abióticas e suas interações na abundância de Hypsiboas leptolineatus, no Município de Turvo, Estado do Paraná. FATOR F p Temperatura mínima 1,28 0,26 Temperatura máxima 0,07 0,78 Umidade mínima 1,74 0,19 Umidade máxima 0,05 0,83 Temperatura da água 0,18 0,67 (T mínima)*(t máxima) 0,32 0,57 (T mínima)*(u mínima) 0,64 0,43 (T mínima)*(u máxima) 2,24 0,14 (T mínima)*(t água) 0,24 0,62 (T máxima)*(u mínima) 4,78 0,03 (T máxima)*(u máxima) 3,09 0,08 (T máxima)*(t água) 0,78 0,38 (U mínima)*(u máxima) 5,38 0,02 (U mínima)*(t água) 3,32 0,07 (U máxima)*(t água) 0,66 0,42 (T mínima)*(t máxima)*(u mínima) 0,25 0,62 (T máxima)*(u mínima)*(u máxima) 0,56 0,46 (U mínima)*(u máxima)*(t água) 0,03 0,85 (T mínima)*(t máxima)*(u mínima)*(u máxima) 0,07 0,79 (T máxima)*(u mínima)*(u máxima)*(t água) 1,35 0,25 (T mínima)*(t máxima)*(u mínima)*(u máxima)*(t água) 0,16 0,69 41

Tabela II: modelos de probabilidade de sobrevivência (φ) e recaptura (p) para Hypsiboas leptolineatus, entre as estações quente/úmida e fria/seca. Onde AIC C é valor do critério de Akaike s (menores valores indicam um modelo com melhor ajuste), AIC C representa a diferença entre AIC C do modelo atual e do melhor modelo (modelo 1), t variação do tempo (meses). Modelo Descrição AIC C AIC C φ variando com N o de Parâmetros Desvio 1 φ(t), p(.) o tempo e p constante 490,24 0 12 47,70 2 φ(estação), p(.) φ variando entre as estações e p 496,30 6,06 3 72,51 3 φ(t), p(t) constante φ e p variando com o tempo 496,64 6,40 19 38,90 4 φ(.), p(estação) φ constante e p variando as estações entre 497,29 7,05 3 73,51 5 φ(estação), p(estação) φ e p variando entre estações as 498,16 7,92 4 72,32 6 φ(.), p(t) φ constante e p variando com o 498,69 8,45 12 56,15 tempo 42

100 000 200 000 300 000 400 000 500 000 600 000 700 000 800 000 MAPA DE LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO NO PARANÁ E BACIA HIDROGRÁFICA 7 000 000 7 100 000 7 200 000 7 300 000 7 400 000 7 500 000 BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO IVAÍ TURVO ESTADO DO PARANÁ Projeção UTM - Universal Transversa Mercator Elaborado por Vitor Hugo Campos - Geógrafo Fonte: Datum Horizontal: Oficial - Sad 69 Meridiano Central do Fuso: 51 ESCALA: 1 : 3 500 000 7 000 000 7 100 000 7 200 000 7 300 000 7 400 000 7 500 000 100 000 200 000 300 000 400 000 500 000 600 000 700 000 800 000 Figura 01: Estado do Paraná (em vermelho), com a localização do limite político do Município de Turvo (em preto) e da Bacia Hidrográfica do Rio Ivaí (em azul). Elaborado por Vitor Hugo Campos. 43

410 000 430 000 450 000 470 000 490 000 MAPA DE LOCALIZAÇÃO DO PONTO DE PESQUISA NO MUNICÍPIO Ponto de Pesquisa Hidrografia Principal Limite Político do Município do Turvo 7 210 000 7 230 000 7 250 000 7 270 000 Projeção UTM - Universal Transversa Mercator Fonte: Datum Horizontal: Oficial - Sad 69 Meridiano Central do Fuso: 51 Elaborado por Vitor Hugo Campos - Geógrafo ESCALA: 1 : 400 000 410 000 430 000 450 000 470 000 490 000 Figura 02: Município de Turvo, mostrando sua hidrografia principal (azul) e a localização da área de estudo (círculo vermelho) na Fazenda Água Boa. Elaborado por Vitor Hugo Campos. 44

oc 30 25 20 15 10 5 mm 350 300 250 200 150 100 50 0 out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set Meses 0 Figura 03: distribuição das variáveis climáticas na região, de outubro de 2006 a setembro de 2007, onde barras brancas mostram a temperatura mínima, barras pretas indicam a temperatura máxima e, a linha vermelha, demonstra a precipitação acumulada. Fonte: Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). 45

USO E OCUPAÇÃO DE SOLO Roteiro de Acesso 7231700 7231750 7231800 105,07m SALTO 48,39m 28,78m 22,05m 33,88m 501m² 21,56m 3.395m² P/Pitanga Rod. PR 466 -Levantamento realizado com o uso do GPS Garmin 12 -Altitude Média: 1200m Estrada de Chão 1200m Turvo LEGENDA BANHADO PASTAGEM CURSO D' ÁGUA Projeção UTM - Universal Transversa Mercator Datum Horizontal: Oficial - Sad 69 Meridiano Central do Fuso: 51 Elaborado por Vitor Hugo Campos - Geógrafo ESCALA: 1 000 Local de Pesquisa P/ Guarapuava Escala: 1 : 15 000 445850 445900 445950 Figura 04: área de estudo, dentro da Fazenda Água Boa, no Município de Turvo, Estado do Paraná, indicando seus componentes lênticos em amarelo (brejo ou banhado) e lóticos em azul (cursos d água ou córregos), em meio à área de campo ou pastagem (em verde). Elaborado por Vitor Hugo Campos. 46

Figura 05: macho de Hypsiboas leptolineatus, marcado através do método de cinturão com miçangas, na área de estudo, Município de Turvo, Estado do Paraná. 47

Figura 06: indivíduo juvenil de Hypsiboas leptolineatus, capturado durante o mês de dezembro, no Município de Turvo, Estado do Paraná. 48

Figura 07: abundância de Hypsiboas leptolineatus (média + desvio padrão), no Município de Turvo, Estado do Paraná. Onde, barras brancas representam machos, barras pretas indicam fêmeas, barras cinza mostram indivíduos juvenis e as setas vermelhas indicam o registro de desovas ao longo do ano de amostragem (outubro de 2006 a setembro de 2007). 49

Figura 08: abundância de Hypsiboas leptolineatus (média + intervalo de confiança) entre as estações climáticas, no Município de Turvo, Estado do Paraná. Onde letras diferentes (a,b) indicam diferenças estatísticas, baseadas na comparação de médias do teste Tukey. 50

Figura 09: abundância de Hypsiboas leptolineatus (média + intervalo de confiança) entre as diferentes fases da lua no Município de Turvo, Estado do Paraná. Onde letras diferentes (a,b,c) indicam diferenças estatísticas, baseadas na comparação de médias do teste Tukey. 51

Figura 10: relação entre o horário de pôr-do-sol no Município de Turvo, Estado do Paraná, e o horário de início de atividade de vocalização dos machos de Hypsiboas leptolineatus. 52

Figura 11: diferença de horário (média + intervalo de confiança) entre o horário de pôrdo-sol e o horário de início de atividade de vocalização dos machos de Hypsiboas leptolineatus, entre as estações climáticas, no Município de Turvo, Estado do Paraná. As letras diferentes (a,b,c) indicam diferenças estatísticas, baseadas na comparação de médias do teste Tukey. 53

14 12 Abundância (média) 10 8 6 4 2 0 out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set Figura 12: média mensal (+ desvio padrão) do número de indivíduos capturados (branco) e recapturados (preto) no Município de Turvo, Estado do Paraná, durante o período de outubro de 2006 a setembro de 2007. Mês 54

1.0 Índice de Sobrevivência 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Intervalo Amostral (meses) Figura 13: sobrevivência da população de Hypsiboas leptolineatus, segundo o modelo de Cormack-Jolly-Seber (CJS), onde a probabilidade de sobrevivência varia com o tempo e a capturabilidade é constante (modelo 1, tabela II), no Município de Turvo, Estado do Paraná. Linha contínua representa a variação do índice, enquanto a linha tracejada mostra a tendência. 55

Figura 14: índice de sobrevivência (média + intervalo de confiança) para indivíduos de Hypsiboas leptolineatus, entre as estações climáticas, segundo o modelo de Cormack- Jolly-Seber (CJS), onde a probabilidade de sobrevivência e recaptura variam entre as estações (modelo 5, tabela II), no Município de Turvo, Estado do Paraná. 56

Figura 15: índice de capturabilidade (média + intervalo de confiança) para indivíduos de Hypsiboas leptolineatus, entre as estações climáticas, segundo o modelo de Cormack- Jolly-Seber (CJS), onde a probabilidade de sobrevivência e recaptura variam entre as estações (modelo 5, tabela II), no Município de Turvo, Estado do Paraná. 57

Capítulo II Dinâmica espacial e uso do habitat de Hypsiboas leptolineatus (Anura: Hylidae) no Município de Turvo, Estado do Paraná 58

RESUMO O uso do espaço e padrões de movimentação das populações animais constituem elementos essenciais para a descrição de suas estratégias sociais, tróficas e reprodutivas. A área de vida de um indivíduo é definida como a área freqüentada por este ao desenvolver suas atividades rotineiras, que normalmente incluem a alimentação, reprodução e outras atividades sociais da espécie. Assim como nos outros grupos animais, a área de vida dos anuros é determinada por fatores intrínsecos e extrínsecos à espécie. Dessa forma, o presente trabalho objetivou descrever a utilização do espaço reprodutivo de uma população de H. leptolineatus, avaliando o uso de diferenciados ambientes e substratos, e, também, verificar o padrão de movimentação da população, estimando o tamanho da área de vida e a capacidade de deslocamento, bem como os fatores que influenciam estes padrões. O trabalho foi realizado em uma área de brejos e córregos no município de Turvo, Paraná, durante o período de outubro de 2006 a setembro de 2007, realizando-se seis noites de amostragem por mês. Foi realizada busca ativa por exemplares da espécie, orientada visual e auditivamente. Cada indivíduo teve suas informações de uso do ambiente registradas (ambiente, substrato, altura, posição e atividade), sendo marcado e solto no mesmo local de captura. Indivíduos com um mínimo de três capturas tiveram a sua área de vida estimada através do método do Polígono Convexo Mínimo. Os indivíduos da população (machos, fêmeas e juvenis) apresentaram uma distribuição relacionada com as regiões de maior disponibilidade de água corrente, havendo grandes agregados nos córregos e próximos a estes, em áreas marginais dos brejos. Os machos em atividade de vocalização distribuíram-se verticalmente desde o nível da água até cerca de 2 m de altura, usando o substrato aquático, gramíneas, arbustivo e arbóreo. As cicatrizes, possivelmente decorrentes de encontros agonísticos foram observadas nos machos com maior comprimento rostrocloacal. As estimativas de deslocamento total e área de vida foram semelhantes ao descrito anteriormente para outros anuros com tamanho do corpo próximo ao de H. leptolineatus. O tamanho da área de vida da população variou sazonalmente, abrangendo uma maior média na estação quente/chuvosa, em relação à estação fria/seca onde se pôde observar vários indivíduos agregados nos córregos, o que pode ser atribuído à variação na disponibilidade de água, ou ainda, à presença de outras espécies de anuros reproduzindo-se na estação quente. 59

ABSTRACT The use of the space and patterns of movement of animal populations constitute an essential element for the description of their social, trophic, and reproductive strategies. The home range is defined as the area frequented by an animal when developing their routine activities, which usually include feeding, reproduction, and other social activities of the species. As well as in the other animal groups, the anuran home range is determined by intrinsic and extrinsic factors. In that way, the present work aimed to describe the use of the space by a population of Hypsiboas leptolineatus, evaluating microhabitat use as well as displacement patterns besides estimating home range values as well as the factors that influence these patterns. The work was carried out at an area of swamps and streams in the Municipality of Turvo, State of Paraná, during the period of October of 2006 to September of 2007, taking six sampling nights a month. Individuals were tracked either by auditive or visual search. After captured, individuals were marked with a coloring belt, measured (weight and length SVL) and have their sex determinated. Individuals with a minimum of three captures had his home range area calculated through the method of the Minimum Convex Polygon. The individuals of the population (males, females and juvenile) presented a distribution related with the areas of larger readiness of running water, aggregating in streams and close to these, in marginal areas of the swamps. The males in vocalization activity were distributed vertically from the level of the water to about 2 m of height using the aquatic, grassy, herbaceous and arboreal substrata. The scars, possibly resulted from agonistic encounters were observed in the males with larger SVL. The estimates of total displacement and home range were similar to previously described for other Anura with body size close to the of H. leptolineatus. The home range size varied seasonally, being, in average, larger in hot/rainy season than in cold/dry season, were aggregation at streams were larger. This pattern of aggregation could be due to spatial water availability as well as the presence of more species using the reproductive site. 60

INTRODUÇÃO O uso do espaço e padrões de movimentação dos indivíduos são componentes fundamentais da ecologia de população animal e constituem elementos essenciais para a descrição de suas estratégias sociais, tróficas e reprodutivas, além de contribuírem para uma melhor compreensão de suas historias de vida (Begon et al., 2006; Giuggioli et al., 2006). A localização de um animal no espaço e sua movimentação refletem as necessidades que o individuo tem de suprir e suas atividades a serem desenvolvidas, caracterizando o seu nicho espacial (Passamani & Rylands, 2000; Begon et al., 2006). A área de vida de um indivíduo é definida como a área freqüentada por este ao desenvolver suas atividades rotineiras, que normalmente incluem a alimentação, reprodução e outras atividades fisiológicas ou sociais da espécie (Perry & Garland Jr., 2002; Litzgus & Mosseau, 2004; Begon et al., 2006; Giuggioli et al., 2006). O tamanho da área de vida, neste contexto, é então um produto de características intrínsecas e extrínsecas a espécie (Giuggioli et al., 2006). Desta forma, diferenças no tamanho da área de vida podem resultar de características individuais (e.g. tamanho, massa corporal ou necessidades metabólicas), interações ecológicas (e.g. presença de competidores e/ou predadores, espécies territoriais ou não), estrutura social e atividade reprodutiva da espécie (espécies territoriais, disponibilidade de parceiros sexuais), como também por condições climáticas (estações) e características físicas do habitat que incluem o seu grau de conservação e, consequentemente, a disponibilidade de fontes de alimento, água ou locais para repouso (Passamani & Rylands, 2000; Perry & Garland, 2002; Giuggioli et al., 2006). 61

Em geral, a área de vida é considerada como um importante subsídio ecológico para uma melhor compreensão do comportamento do animal em resposta aos mais variados fatores. Dessa forma, tais questionamentos têm aumentado consideravelmente o número de ecólogos interessados em entender os fatores que predizem o tamanho da área de vida (Perry & Garland Jr., 2002; Lemckert, 2004). Dentre os tetrapoda, os grupos de animais normalmente utilizados nos trabalhos de área de vida são mamíferos, sendo principalmente felinos, primatas e marsupiais (e.g. Gittleman & Harvey, 1981; Passamani & Rylands, 2000; Cáceres, 2003; Castro, 2003; Fernandes, 2007;) e répteis, especialmente, lagartos, tartarugas e serpentes (e.g. Van Sluys, 1995; Rocha, 1999; Perry & Garland Jr., 2002; Litzgus & Mousseau, 2004; Riedle et al., 2006). Com os anfíbios, os trabalhos são mais escassos e, em sua grande maioria geram dados sobre deslocamento ou distância percorrida até o sítio reprodutivo, ou, então, após a reprodução até ambientes que servem como abrigo (e.g. Martof, 1953; Martins et al., 1998; Miaud et al., 2004; Smith & Green, 2005; Tozetti & Toledo, 2005). Contudo, grande parte dos estudos não quantifica a área de vida, o que pode ser um indício de que o tamanho desta para algumas espécies de anuros pode ser ainda maior do que o descrito na literatura (Duellman & Trueb, 1994; Lemckert, 2004). Segundo Pough et al. (2003), a área de vida dos anfíbios anuros pode variar de 1 até 1.900 m 2. Porém, Lemckert (2004) ao revisar a movimentação e o uso do habitat pelos anuros, registra a variação da área de vida dos anuros de 6,3 a 5.099 m 2, ampliando significativamente as estimativas descritas anteriormente. Já, quanto ao deslocamento total, de uma forma geral sabe-se que a grande maioria das espécies de anuros (indivíduos pós-metamórficos) move-se por distâncias de no máximo 400m (Smith & Green, 2005). 62

Dos trabalhos mais relevantes sobre o padrão de movimentação dos anuros (deslocamento e/ou área de vida), as famílias mais representativas são Bufonidae e Ranidae (Lemckert, 2004), provavelmente porque constituem espécies de grande porte, de hábito terrestre e que se deslocam em determinados períodos, por grandes distâncias até o sítio reprodutivo, retornando aos ambientes com maior disponibilidade de abrigos e alimento após a reprodução (e.g. Martof, 1953; Lemckert, 2004; Miaud et al., 2004; Forester et al., 2006). Segundo Lemckert (2004), a maioria dos estudos de dinâmica espacial de anuros foi realizada na América do Norte e Europa, com poucos trabalhos relatados na Ásia ou África e nenhum registro para a América do Sul. No Brasil, há poucos registros conhecidos de movimentação dos anuros, sendo que Hypsiboas faber tem dados pontuais de deslocamento ao longo da noite de observação (Martins et al., 1998), Leptodactylus labyrinthicus, em um estudo realizado posteriormente à revisão de Lemckert (2004), com informações sobre seu deslocamento durante a estação reprodutiva (Tozetti & Toledo, 2005) e, Hylodes dactylocinus, que possui dados de sua área de vida, para machos e fêmeas, bem como informações sobre fidelidade e tempo de residência na área ocupada (Narvaes & Rodrigues, 2005). A ausência de estudos com um longo período de tempo e que obtenha várias recapturas pode ser uma limitação para se descrever o padrão de movimentação dos anuros, gerar estimativas da sua área de vida e também compreender quais fatores se relacionam com tais padrões (Lemckert, 2004). Nos anuros, de uma forma geral, ainda não se tem uma ligação clara do tamanho da área de vida com características como sexo e tamanho dos indivíduos (Lemckert, 2004). Assim como em outros grupos animais, a área de vida dos anuros é determinada por fatores intrínsecos e extrínsecos à espécie que está sendo monitorada (Giuggioli et 63

al., 2006), sendo a grande diversidade de hábitos reprodutivos uma característica importante na abrangência da área de vida (Duellman & Trueb, 1994; Lemckert, 2004; Haddad & Prado, 2005; Forester et al, 2006). Esta, normalmente é constituída de áreas de abrigo ou refúgio contra predadores, fontes de alimento, sítios de vocalização (para os machos), áreas apropriadas para o tipo de corte da espécie e sítios propícios de desova (Duellman & Trueb, 1994; Lemckert, 2004). Como todos esses fatores influenciam a sobrevivência das fases larvais e adultos e, conseqüentemente, o sucesso reprodutivo da espécie, existem anuros que apresentam um alto grau de fidelidade a determinados ambientes que compõem a sua área de vida, sendo vantajoso realizar suas atividades dentro de áreas pequenas e conhecidas (Duellman & Trueb, 1994). Em espécies territoriais, a manutenção do sítio de vocalização para o macho, se dá através de um espaçamento entre os machos em atividade que, muitas vezes, pode resultar em vocalizações territoriais, sinalizações visuais e, até mesmo, combates físicos (Shepard, 2002). Tendo em vista que os anuros habitam os mais diversificados ambientes, o perfil e tamanho de sua área de vida também se relacionam com as características físicas e com a fitofisionomia do seu habitat, assim, o tipo de ambiente reprodutivo utilizado pode influenciar todo o padrão de movimentação da espécie (Lemckert, 2004). A conexão entre o habitat reprodutivo e outros ambientes adequados às demais atividades da espécie também favorecem o deslocamento dos indivíduos, bem como a manutenção da população neste sítio reprodutivo (Duellman & Trueb, 1994; Lemckert, 2004). 64

Como exemplo da variação da movimentação em ambientes diferentes, pode-se citar espécies que habitam rios ou riachos, sendo que estas tendem a apresentar uma área de vida linear, movendo-se apenas ao longo do rio (Narvaes & Rodrigues, 2005). Por outro lado, as espécies arborícolas e que habitam ambiente florestal tendem a mover-se verticalmente, durante a noite, em direção ao sítio de vocalização (no caso dos machos), este microhabitat utilizado confere à área de vida uma terceira dimensão, que constitui um componente que, normalmente, não é mensurado (Duellman & Trueb, 1994; Lemckert, 2004). Essa variação significativa dos padrões de uso do habitat entre as diversas espécies indica que não se pode fazer generalizações quanto às necessidades de determinadas populações de anuros, especialmente porque os valores estimados variam, também, de acordo com o método utilizado (Lemckert, 2004). A utilização de técnicas de marcação e recaptura não é essencial para trabalhos com anfíbios, contudo resulta em informações relevantes e que nenhum outro método de estudo traz, como o uso do ambiente, padrões de movimentação, sobrevivência, capturabilidade, tamanho e flutuação populacional (Crump & Scott Jr., 1994; McCarthy & Parris, 2004). Os anuros vêm sendo marcados com uma série de técnicas como amputação dos artelhos (Martof, 1953; Wells, 1980; Narvaes & Rodrigues, 2005; Martins et al., 1998; McCarthy & Parris, 2004), bobina ou carretel de fio (Tozetti & Toledo, 2005; Forester et al., 2006), cinturões de miçangas (Narvaes & Rodrigues, 2005; Giasson & Haddad, 2007), etiquetas plásticas (Martins et al., 1998) e radio telemetria (Forester et al., 2006). Cada técnica possui suas vantagens e limitações, e, essencialmente, não devem alterar significativamente o comportamento do indivíduo, diminuindo, assim, a sua 65

probabilidade de nova captura em relação aos indivíduos que não estão marcados (Crump & Scott Jr., 1994). Nesse contexto, Hypsiboas leptolineatus é um anuro com características bionômicas e hábitos ecológicos diferenciados das demais espécies utilizadas em trabalhos de deslocamento e padrões de movimentação. No geral, a abundância em determinados ambientes, lênticos e lóticos, é grande, e exibem atividade reprodutiva na maior parte do ano (Kwet & Di-Bernardo, 1999; Both et al., 2007; Hiert & Moura, 2007), o que facilitam o seu encontro e monitoramento ao longo do tempo. Embora esta espécie seja facilmente encontrada dentro da área de abrangência dos campos de altitude associados à Floresta com Araucária (Kwet & Di-Bernardo, 1999; Hiert & Moura, 2007), pouco se conhece a respeito de suas populações, especialmente sua dinâmica espacial no ambiente reprodutivo e, especialmente sobre quais fatores influenciam estes padrões. De uma forma geral, as espécies do clado Hypsiboas polytaenius são consideradas como pouco conhecidas quanto à sua ecologia (Menin et al., 2004). Tais aspectos caracterizam este anuro como um bom objeto de estudo para este trabalho, que objetiva: (1) descrever a utilização do espaço reprodutivo de uma população de H. leptolineatus, avaliando o uso de diferenciados ambientes e substratos, (2) verificar o padrão de movimentação dos indivíduos, dentro da área de estudo, estimando o tamanho da área de vida e a capacidade de deslocamento, e (3) testar a influência de fatores como tamanho e massa do corpo, sexo, e estação climática no uso do espaço e na movimentação dos anuros. 66

MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo O estudo foi realizado na Fazenda Água Boa, uma propriedade particular, na localidade de Rio do Salto (25 o 01 40,9 S, 51 o 32 40,4 W), Município de Turvo, região centro-sul do Estado do Paraná, localizado no terceiro planalto paranaense, dentro da formação dos campos de altitude, denominados Campos de Guarapuava, associados com a floresta ombrófila mista (Maack, 1981; Castella & Britez, 2004). Dentro desta propriedade foi utilizada neste trabalho, uma área de Campo com componentes lênticos e lóticos nas regiões de depressão do relevo. O local situa-se a uma altitude de cerca de 1.200 metros, e abrange uma área de aproximadamente 24.000m 2. Esta região de campo é caracterizada por um solo raso sobre formação rochosa basáltica e vegetação rasteira ou de pequeno porte, como gramíneas e arbustos, com alguns espécimes arbóreos esparsos. Apresenta um mosaico de várzeas ou brejos (permanentes e temporários), que são interligados por diversos riachos ou córregos, decorrentes de várias nascentes do local. As duas regiões permanentes de brejo apresentam, em época de intensa precipitação, a área de 3.395 m 2 e 501 m 2, podendo diminuir seu tamanho em períodos mais secos. A profundidade máxima observada é de cerca de 70 centímetros. Um total de seis córregos compõe a área e fazem a conexão entre as nascentes, brejos e o salto que desemboca no Rio Turvo, Bacia Hidrográfica do Rio Ivaí. O comprimento destes varia entre 20 e 105 metros, aproximadamente, sua largura atinge no máximo 1 m de água corrente e a profundidade não passa de 50 cm. Nas suas margens pode-se observar a formação de pequenas áreas de brejo de acordo com o volume de precipitação. 67

O clima na região é subtropical úmido mesotérmico, com verões frescos e ocorrência de geadas severas e freqüentes, sem uma estação seca, porém com uma grande diminuição na precipitação durante a estação fria, correspondendo ao clima Cfb da escala de Köeppen (Maack, 1981). Amostragem Entre outubro de 2006 e setembro de 2007 foram realizadas cerca de seis noites de amostragens por mês, concentradas em duas fases de campo de três noites consecutivas a cada 15 dias, totalizando 560 horas/pessoa de amostragem. Cada visita ao campo teve duração de aproximadamente 8 horas de amostragem, iniciando antes do pôr-do-sol, por volta das 17 horas, e estendendo-se até o término ou grande diminuição da atividade de vocalização dos machos. Em cada amostragem realizou-se uma combinação de dois métodos, sendo a amostragem por encontros visuais ou busca ativa por indivíduos de Hypsiboas leptolineatus, e a amostragem ou procura auditiva, orientando-se através da vocalização dos machos (Crump & Scott Jr., 1994; Aurichio & Salomão, 2002; Pierce & Gutzwiller, 2004). Na execução desses métodos foram percorridos o interior e a borda de todos os brejos e córregos, padronizando-se o tempo e o número de pesquisadores na procura pelos indivíduos, sendo duas pessoas realizando aproximadamente seis horas de amostragem por noite (Crump & Scott Jr., 1994; Pierce & Gutzwiller, 2004). No momento da captura, cada indivíduo teve suas informações registradas, sendo elas: ambiente utilizado (brejo, córrego e campo), substrato (água, gramínea, arbusto e arbóreo), altura e posição dos machos no sítio de vocalização (paralelo, perpendicular ou diagonal), em relação ao solo ou à água e atividade (vocalização ou repouso) (Inger, 1994). Após a captura, eram acondicionados individualmente em sacos 68

plásticos umedecidos, sendo então levados a uma estação de trabalho instalada na área de estudo. A determinação do sexo dos indivíduos foi efetuada pela presença do saco vocal ou, ainda, pela coloração da região gular, diferenciando-se em castanha nos machos e branca nas fêmeas (Kwet & Di-Bernardo, 1999). De cada indivíduo foi obtido o comprimento rostro-cloacal (CRC), utilizando-se um paquímetro de precisão 0,1mm, e o peso, através um dinamômetro, marca Pesola, com precisão de 0,25 g. Nos machos, registrou-se também a presença ou não, de pequenas cicatrizes, que consistem em finas linhas transversais na região dorsal (figura 01). Além dos dados de uso do ambiente e substrato, a localização espacial de cada indivíduo dentro da área de estudo também foi registrada. A partir do local de encontro de cada anuro eram tomadas duas medidas até pontos de referência da área, sendo então localizados, a partir dessas medidas, no mapa georeferenciado do local. Após terem todas as suas informações registradas, os anuros eram marcados através de um cinturão de miçangas coloridas, onde cada cor de miçanga correspondia a um numero de 0 a 9, utilizando três miçangas presas ao cordão de algodão (Narvaes & Rodrigues, 2005; Giasson & Haddad, 2007). Após esses procedimentos, os indivíduos foram soltos no mesmo local de captura. Indivíduos pós-metamórficos e juvenis (até 25 mm) não foram submetidos ao processo de marcação, evitando-se causar qualquer dano ao crescimento destes. Contudo, também tiveram suas informações de uso de ambiente registradas (ambiente, substrato e altura do poleiro). Como este trabalho objetiva descrever dinâmica espacial da espécie, descrevendo sua forma de deslocamento e o tamanho de sua área de vida (não levando em consideração a dependência temporal existente em noites consecutivas de 69

amostragens), os indivíduos encontrados com o cinturão de miçangas foram considerados como recapturados mesmo quando coletados dentro da mesma fase de campo de sua captura inicial. Análise Estatística Para estimar a área de vida dos anuros, foi utilizado o método do Mínimo Polígono Convexo, que dentre os vários métodos para se estimar a área de vida dos animais, tem sido indicado como o mais apropriado para ser utilizado com vertebrados (Krebs, 1989; Kie et al., 1996). Os pontos que representam as capturas de cada indivíduo foram mapeados, atribuindo-se coordenadas X e Y para cada ponto, sendo considerados para a estimativa do tamanho da área de vida os exemplares capturados no mínimo três vezes em pontos não lineares, durante o período de estudo. Os pontos de localização periféricos obtidos de cada anuro foram conectados em ordem, formando-se um polígono (Giuggoli et al., 2006). Com o auxilio do software CALHOME (Kie et al., 1996), a área do polígono foi calculada (com uma porcentagem fixa de 95 % da distribuição total), tendo-se então, para cada indivíduo, uma estimativa do tamanho da área de vida (em m 2 ), o deslocamento total (em metros), a distância média percorrida (m) e a maior distância (m) atingida entre dois pontos consecutivos de captura. Para cada indivíduo, a área do polígono foi gerada, em uma figura esquemática da área de estudo, através do programa ArcView GIS (versão 3.2, Environmental Systems Research Institute. Copyright 1992-1999). Para testar se fatores intrínsecos e extrínsecos afetam a variação do tamanho da área de vida dos indivíduos de H. leptolineatus foi gerado um modelo linear generalizado, usando como fatores o comprimento rostro-cloacal (logaritmizado), o 70

peso (logaritmizado), estação climática e seus efeitos em conjunto (Zar, 1984). Em seqüência, foi realizada a retirada de variáveis que não apresentavam influencia para realizar uma seleção de modelos, considerando aquele com um melhor ajuste. O teste t de Student foi utilizado para comparar entre as estações climáticas (fria e seca ou quente e úmida), o tamanho médio da área de vida, o deslocamento total, a distância média percorrida e a maior distância entre dois pontos (Zar, 1984). A junção das estações climáticas em dois grupos se deve ao fato de que as variações do clima na região podem ser melhor verificadas desta forma. Para avaliar a relação entre o período de tempo, em dias, entre a primeira e a ultima captura sobre o deslocamento total de cada indivíduo, foi utilizada uma análise de regressão linear simples (Zar, 1984). A freqüência de utilização dos substratos (gramínea, arbustivo e arbóreo) por machos e fêmeas, conjuntamente, entre os ambientes da área de estudo (brejo e córrego) foi testada através do teste de independência ou qui-quadrado (Zar, 1984). Para testar as diferenças entre os substratos utilizados como sítio de vocalização e a altura de encontro dos machos em relação ao solo ou à água, foi usada uma análise de variância (ANOVA) (Zar, 1984). A relação entre os substratos de encontro e as características bionômicas dos machos (comprimento rostro-cloacal e peso) também foi verificada com análise de variância (ANOVA). Utilizou-se o Teste Tukey como uma análise a posteriori para a comparação das médias (Zar, 1984). A posição dos machos no sítio de vocalização (perpendicular, paralelo ou diagonal) foi testada em relação ao substrato utilizado, com um teste de independência ou qui-quadrado (Zar, 1984). 71

Para testar a variação de altura, até o solo ou água, com relação à atividade dos machos (vocalizando ou em repouso), foi utilizado um teste t de Student (Zar, 1984). Objetivando avaliar as características dos machos que estariam envolvidos em possíveis encontros agonísticos, foi utilizado um teste t de Student para testar as diferenças entre o comprimento rostro-cloacal (CRC) dos machos, diferenciando-os pela presença ou ausência de cicatrizes na região dorsal (Zar, 1984). Os dados de uso do ambiente foram analisados com o auxilio do programa JMP (versão 5.0.1.2. The Statistical Discovery Software. Copyright 1989-2003) e o alfa considerado nas análises foi de 0,05 (Zar, 1984). O programa COPLOT (versão 6.311. CoHort Software. Copyright 1998-2005) foi utilizado para a elaboração das figuras. RESULTADOS Uso do Habitat Foram capturados e marcados 374 indivíduos da espécie, sendo 353 machos e 21 fêmeas, além de 33 espécimes juvenis que não foram submetidos ao processo de marcação. As figuras 02, 03 e 04 mostram, respectivamente, a posição da primeira captura de cada indivíduo, separados por grupos, sendo machos, fêmeas e juvenis. De uma forma geral, quanto ao uso de diferentes ambientes na área de estudo, 180 indivíduos foram encontrados em córregos, 165 em brejos e apenas 29 foram registrados em áreas de campo, marginais aos corpos d água. Diferenciando por sexo, vemos que 172 machos foram encontrados nos córregos, seguidos de 152 em ambiente de brejo e 29 nas áreas de campo (sem 72

disponibilidade de água. Já as fêmeas não foram encontradas nas áreas de campo, distribuindo-se em 13 em áreas de brejo e 8 nos córregos. Quanto ao uso de substratos, por machos e fêmeas, nos ambientes de brejo e córrego, 96 indivíduos utilizaram as gramíneas como substrato nas áreas de brejo, seguidas de 58 indivíduos em arbustos e 11 em substrato arbóreo. Nos córregos, o substrato de maior freqüência de uso foi o arbustivo com 79 utilizações, seguido por 48 indivíduos registrados em gramíneas e 16 em substrato arbóreo, como mostra a tabela I (χ 2 = 18,67; gl = 2; p < 0,05). Quanto à distribuiçào vertical nos diferentes substratos (figura 05), vemos que os machos que ocupavam o substrato arbóreo foram registrados nas maiores alturas (129,20 ± 34,3 cm; n = 51), seguidos dos machos registrados em arbustos e gramíneas que se distribuíram em alturas equivalentes, sendo 55,01 ± 25,72 cm (n = 130) e 50,69 ± 24,66 cm (n = 137) respectivamente. Trinta e cinco machos ocuparam o substrato aquático, considerando-se a altura igual à zero no nível da água. Também apresentaram diferenças quanto à posição do corpo em relação ao solo no sítio de vocalização (tabela II), sendo 83 machos observados em gramíneas em posição perpendicular, seguidos de 78 que estavam paralelamente ao solo em substrato arbustivo (χ 2 = 72,40; gl = 4; p < 0,05). O comprimento rostro-cloacal e o peso do corpo dos machos diferem entre os diferentes substratos utilizados como sítio de vocalização (F 3,349 = 6,10; p < 0,05 e F 3,349 = 3,25; p < 0,05, respectivamente), sendo que os indivíduos maiores tendem a usar o substrato arbóreo como mostram as figuras 06 - A e B. Não houve diferença em relação à altura do poleiro entre os machos encontrados em atividade de vocalização (59,24 + 42,25 cm; média + desvio padrão) e os machos observados em repouso (53,96 + 36,14 cm; t = -0,65; gl = 348; p > 0,05). 73

Dos 353 machos capturados, 219 (62,04 %) não apresentaram cicatrizes, enquanto 134 (37,96 %) possuíam marcas ou cicatrizes na região dorsal. Estes apresentam maior comprimento rostro-cloacal (29,96 + 1,28 mm; média + desvio padrão) em relação aos machos que não possuíam as cicatrizes na região dorsal (28,94 + 1,23 mm; t = -7,40; gl = 351; p < 0,05; figura 07). Dentre os indivíduos juvenis e pós-metamórficos, a grande maioria foi encontrada nos ambientes de brejo (n = 25 ou 75,8 %), seguido de oito registros nos córregos. Os substratos utilizados foram gramíneas e arbustos (n = 23 ou 70% e n = 10 ou 30 %, respectivamente), com altura média de 52,1 + 2,79 cm (média + desvio padrão) nas gramíneas e 56,2cm + 2,32 nos arbustos. Dinâmica Espacial Analisando os anuros que apresentaram três ou mais pontos de localização, de acordo com as premissas do método do mínimo polígono convexo, tem-se um total de 33 indivíduos para a análise de deslocamento e a estimativa da área de vida, sendo que todos são machos. O deslocamento total de cada indivíduo, somando todos os pontos de captura, variou de 14,42 a 105,29 metros (42,7 + 20,5 m; média + desvio padrão), enquanto o tamanho da área de vida ficou entre 25 e 814,5 metros quadrados (233,74 + 222,32 m 2 ). A maioria dos indivíduos apresentou um tamanho de área de vida de até 200 m 2, sendo poucos os indivíduos que apresentaram área maior do que 300 m 2 (figura 08). Já a figura 09 representa a frequência do deslocamento total apresentado pelos indivíduos. A distância média de deslocamento variou de 4,2 a 37,69 metros (17,61 + 7,27 m) e a maior distância observada entre um ponto e outro foi de 7,6 a 42,9 metros (22,21 + 8,06 m). 74

De acordo com o modelo linear, o tamanho da área de vida não é influenciado pelo comprimento rostro-cloacal (F 7,25 = 0,01; p > 0,05) e pelo peso do corpo dos anuros (F 7,25 = 0,35; p > 0,05), sendo marginalmente influenciado pela estação climática (F 7,25 = 3,52; p = 0,07). Como mostra a figura 10 - A, o tamanho da área de vida dos indivíduos de H. leptolineatus é maior na estação quente e úmida (358,43 + 293,08 m; média + desvio padrão) em relação à estação fria e seca (162,49 + 44,48 m; t = -2,65; gl = 31; p < 0,05). Esta diferença também pode ser observada nas figuras 11 e 12 que indicam, entre as estações climáticas, todos os pontos de localização dos indivíduos analisados e, consequentemente, os polígonos formados dentro do mapa georeferenciado da área de estudo, notando-se uma grande sobreposição dos polígonos nos ambientes lóticos da área de estudo, especialmente na estação fria e seca. A maior distância percorrida entre dois pontos consecutivos é superior na estação quente e úmida (25,98 + 10,71 m; média + desvio padrão), quando comparada aos meses frios e secos (20,06 + 5,26 m; t = -2,13; gl = 31; p < 0,05; figura 10 - C). Por sua vez, o deslocamento total e a distância média de cada indivíduo não diferem entre as estações climáticas (t = -1,92; gl = 31; p > 0,05 e t = -1,72; gl = 31; p > 0,05, respectivamente), como mostra a figura 10 - B e D. Não houve dependência entre o período da primeira até a ultima captura de cada indivíduo e o seu deslocamento total [deslocamento total = 30,48 + 0,41 período entre coletas -0,01(período entre coletas -34,48) 2 ; r 2 = 0,11; gl = 32; p > 0,05]. Dos indivíduos capturados pelo menos três vezes, 12 não foram utilizados nas análises de área de vida por terem se movimentado de forma linear ao longo dos córregos da área de estudo, fazendo com que o ângulo entre os pontos de localização fique próximo ou igual à 180 o, o que impossibilita a formação do polígono e, 75

conseqüentemente, o calculo de sua área utilizada. O deslocamento total destes anuros, ao longo dos córregos, variou de 5,4 a 60,44 metros (24,83 + 15,46 m; média + desvio padrão). DISCUSSÃO A distribuição dos machos de H. leptolineatus dentro da área de estudo parece estar relacionada com as regiões de maior disponibilidade de água corrente, havendo grandes agregados destes nos córregos ou riachos e próximos a estes, em áreas marginais dos brejos. Embora os valores para a utilização dos diferentes ambientes na área de estudo tenham sido próximos para córregos e brejos, visualmente pode-se notar que os indivíduos capturados nos brejos, de uma forma geral, utilizaram as áreas próximas aos córregos, sendo mínimo o número de machos encontrados no centro do brejo maior onde, embora seja uma região extremamente úmida, não existe um maior acúmulo de água ou a formação de riachos. Da mesma forma, as fêmeas e os juvenis também parecem ter sua distribuição associada aos componentes lóticos, o que corrobora com o descrito anteriormente para a espécie por Kwet & Di-Bernardo (1999) e Hiert & Moura, (2007). A desova da espécie sempre encontrada no fundo de riachos (Kwet & Di-Bernardo, 1999; Both et al., 2007) provavelmente constitui um fator determinante nessa distribuição dentro do ambiente reprodutivo. A distribuição vertical dos machos em atividade de vocalização variou de acordo com a altura dos substratos utilizados, o que mostra a plasticidade dos machos da 76

população em deslocar-se verticalmente para o sítio de vocalização. Já os indivíduos juvenis parecem restringir sua ocorrência vertical a uma faixa média de altura (50 cm), ocorrendo, em sua maioria, em gramíneas. A posição dos machos durante a atividade de vocalização, variando de acordo com o substrato, também mostra uma adequação do posicionamento em relação à fisionomia do substrato utilizado. A variação do tamanho do corpo dos machos entre os substratos, mostra, também, uma característica diferenciada para os indivíduos maiores, que utilizam, além dos outros substratos, também o arbóreo e as maiores alturas registradas. Esta utilização de estratos mais altos como sítio de vocalização, pode beneficiar os machos na defesa de território e atração de fêmeas. Ainda referindo-se a variações no tamanho do corpo dos machos adultos, podese ver nitidamente que os machos maiores apresentam as cicatrizes. E apesar destas possivelmente decorrem de combates físicos, conforme sugerido por Menin et al. (2004), estes não foram observados na população durante este estudo. Hypsiboas leptolineatus é uma das espécies do clado de H. polytaenius, onde os machos apresentam um fino espinho presente na região do pré-polex e, segundo Menin et al. (2004), utilizariam esta estrutura anatômica em combates físicos com outros machos, em virtude da defesa de seu sitio de vocalização, como ocorre com H. goianus, pertencente ao mesmo grupo de espécies. Martins et al. (1998) também relatam que a presença de cicatrizes na região dorsal em anuros é um indicativo de interações agonísticas entre machos. Tais interações são características de espécies territoriais que, em alta densidade de machos, apresentam comportamentos como canto territorial e combates físicos, para uma 77

manutenção de uma distância individual (Martins et al., 1998; Menin et al., 2004; Shepard, 2004). Dessa forma, é provável que os machos dessa população de H. leptolineatus apresentem determinados comportamentos territoriais, como os encontros agonísticos, a fim de se manter um adequado sítio de vocalização e aumentar a probabilidade de amplexo e o seu sucesso reprodutivo, salientando-se que os machos com maior tamanho de corpo é que estariam envolvidos nesses combates. Analisando os dados do método do Mínimo Polígono Convexo, nota-se que a ausência de fêmeas com um mínimo de três capturas impediu que se estimasse o tamanho da área de vida destas e, também, que se façam maiores inferências sobre as diferenças da utilização do ambiente reprodutivo entre os sexos. Da mesma forma, o tamanho da área de vida dos indivíduos juvenis não foi estimado, tendo em vista que estes não foram submetidos ao processo de marcação. Contudo, dentre os machos analisados, observa-se que a faixa de deslocamento total apresentada por estes indivíduos (de 14,42 a 105,29 m) encontra-se dentro da variação apresentada para as espécies da família Hylidae, em atividade reprodutiva, na revisão de Lemckert (2004) e, também, no apresentado por Smith & Green (2005) ao descreverem que 44% das espécies de anuros analisadas (um total de 90 espécies) não deslocam-se mais do que 400 m, indicando uma fidelidade ao sítio reprodutivo. Já a estimativa média do tamanho da área de vida (cerca de 233 m 2 ), é inferior à média da área de vida do único hylídeo (Litoria aurea) verificado por Lemckert (2004), que é de 843 m 2. Esta diferença na média pode ser em decorrência da grande variação observada na população de H. leptolineatus (de 25 a 814,5 m 2 ), pela diferença no tamanho das espécies (Litoria aurea possui um CRC médio de 100 mm), no ambiente, ou ainda, outro fator não mensurado como, por exemplo, o método utilizado. 78

Entretanto, se verificarmos as espécies de tamanho corporal aproximado ao de H. leptolineatus, porém pertencentes a outras famílias de anuros, pode-se notar que a variação no tamanho da área de vida encontra-se dentro da faixa observada para as demais espécies (Lemckert, 2004), com indivíduos apresentando uma área média de até 200 m 2, com poucos apresentando um valor acima desse padrão. O tamanho da área de vida da população não é determinado pelo comprimento rostro-cloacal e o peso do corpo dos anuros, o que contribui para a informação de que a relação entre o tamanho do corpo e a área de vida em anuros ainda não é totalmente esclarecida, provavelmente pela carência de estudos do gênero (Lemckert, 2004). Observando as diferenças no tamanho da área de vida estimado entre as estações climáticas, visualmente pode-se notar que durante a estação fria e seca as áreas utilizadas são, realmente, menores, porém concentradas nos ambientes lóticos, mostrando uma grande sobreposição de indivíduos, o que pode ser em decorrência da menor disponibilidade de água acumulada nos brejos durante este período, onde, notadamente os níveis de precipitação diminuem consideravelmente. Entretanto, esta diferença no padrão de movimentação entre as estações também pode estar refletindo a presença de outras espécies de anuros que se reproduzem durante a estação quente (obs. pess.), ocupando esta área em grandes abundâncias (e.g. Physalaemus cuvieri, P. gracilis, Aplastodiscus perviridis, Dendropsophus minutus, Hypsiboas prasinus e Scinax perereca). Esta situação não é observada durante a estação fria, especialmente nas noites mais frias do inverno, onde H. leptolineatus constitui praticamente o único anuro utilizando esta área, com algumas vocalizações esporádicas de outras espécies (e.g. D. minutus e P. cuvieri). Dessa forma, possivelmente os machos encontrem durante a estação fria uma maior quantidade de sítios de vocalização disponíveis junto às áreas de córrego, 79

concentrando-se nesses ambientes e diminuindo a necessidade de deslocamento por maiores distâncias, gerando uma grande sobreposição de áreas nos córregos ou riachos. O registro de machos deslocando-se linearmente ao longo dos córregos também faz com que a população tenha um perfil dos anuros que habitam exclusivamente os riachos ou rios como, por exemplo, Hylodes dactylocinus (Narvaes & Rodrigues, 2005), um dos poucos anuros brasileiros estudados quanto ao deslocamento e o uso do ambiente. Este hábito da população de H. leptolineatus provavelmente se dá em decorrência da utilização de ambientes lóticos como sítio de desova. Diante de tais informações, pode-se dizer que o uso do ambiente e a dinâmica espacial desta população de H. leptolineatus no seu habitat reprodutivo se dão, principalmente, em virtude da localização de componentes lóticos na área de estudo, com a utilização dos mais variados substratos e, em diversas alturas, localizados próximos aos córregos. Já o padrão de movimentação observado parece estar refletindo tanto variações ambientais da área, em virtude da diminuição da disponibilidade de água na estação fria, como, também, a presença de outras espécies de anuros durante a estação quente, fazendo com que se alterem o uso do habitat e o deslocamento dos indivíduos sazonalmente. Contudo, tais fatores mostram a dependência da população por ambientes de água corrente, que constituem os locais propícios à sua desova, indicando a importância e a relação do modo reprodutivo da espécie com sua dinâmica espacial. 80

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aurichio, P. & M. G. Salomão. 2002. Técnicas de coleta e preparação de vertebrados para fins científicos e didáticos. Instituto Pau Brasil de História Natural, São Paulo. Begon, M., J. L. Harper; & C. R. Townsend. 2006. Ecology: individuals, populations and communities. 4 ed. Blackwell Science, Oxford. Both, C., A. Kwet & M. Solé. 2007. The tadpole of Hypsiboas leptolineatus (Braun and Braun, 1977), a species in the Hypsiboas polytaenius clade (Anura; Hylidae). Brazilian Journal of Biology 67:309-312. Braun, P.C. & C.A.S. Braun. 1977. Nova espécie de Hyla do estado do Rio Grande do Sul, Brasil (Anura, Hylidae). Revista Brasileira de Biologia 37:853-857. Cáceres, N. C. 2003. Use of the space by the opossum Didelphis aurita Wied-Newied (Mammalia, Marsupialia) in a mixed forest fragment of southern Brazil. Revista Brasileira de Zoologia 20:315-322. Castella, P. R. & R. M. de Britez (orgs.). 2004. A Floresta com Araucária no Paraná Conservação e diagnóstico dos Remanescentes Florestais. Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná. Brasília. Castro, C. S. S. 2003. Tamanho da área de vida e padrão de uso do espaço em grupos de sagüis, Callithrix jacchus (Linnaeus) (Primates, Callitrichidae). Revista Brasileira de Zoologia 20:91 96. Crump, M.L. & N. J. Scott Jr. 1994. Standart techniques for inventory and monitoring Visual encounters surveys. In: Heyer, W. R., M. A. Donnelly, R. W. McDiarmid, L. C. Hayek & M. S. Foster, Measuring and Monitoring Biological Diversity Standard Methods for amphibians, pp. 84-91. Smithsonian. 81

Duellman, W. E. & L. Trueb. 1994. Biology of Amphibians. The Johns Hopkins University Press, Baltimore and London. Fernandes, F. R. 2007. Área de vida de Gracilinanus microtarsus (Didelphimorphia: Didelphidae): Inferências baseadas nos métodos do polígono convexo mínimo e da modelagem estatística. Campinas, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Dissertação (Mestrado em Ecologia). Forester, D. C., J. W. Snodgrass, K. Marsalek & Z. Lanham. 2006. Post-Breeding dispersal and summer home range of female American toads (Bufo americanus). Northeastern Naturalist 13:59-72. Giasson, L. O. M. & C. F. B. Haddad. 2007. Mate choice and reproductive biology of Hypsiboas albomarginatus (Anura: Hylidae) in the Atlantic forest, southeastern Brazil. South American Journal of Herpetology, 2:157-164. Gittleman, J.L. & P. H. Harvey. 1981. Carnivore home-range size, metabolic needs and ecology. Behavioral Ecology and Sociobiology 10:57 63. Giuggioli, L., A. Abramson, V. M. Kenkre, R. R. Parmenter & T. L. Yates. 2006. Theory of home range estimation from displacement measurements of animal populations. Journal of Theoretical Biology 24:126-135. Haddad, C. F. B. & C. P. A. Prado. 2005. Reproductive modes in frogs and their unexpected diversity in the Atlantic Forest of Brazil. BioScience 55:207 217. Hiert, C & M. O. Moura. 2007. Anfíbios do Parque Municipal das Araucárias, Guarapuava - Paraná. Editora UNICENTRO. Inger, R. F. 1994 Microhabitat description. In: Heyer, W. R., M. A. Donnelly, R. W. McDiarmid, L. C. Hayek & M. S. Foster, Measuring and Monitoring Biological Diversity Standard Methods for amphibians, pp. 60-66. Smithsonian. Krebs, C. J. 1989. Ecological Methodology. Harper & Row, Publishers, New York. 82

Kwet, A. & M. Di-Bernardo. 1999. Anfibios - Amphibien Amphibians. EDIPUCRS, Porto Alegre. Lemckert, F. L. 2004. Variations in anuran movements and habitat use: Implications for conservation. Applied Herpetology 1:165-181. Litzgus, J. D. & T. A. Mosseau. 2004. Home range and seasonal activity of southern spotted turtles (Clemmys guttata): implications for management. Copeia (4):804 817. Maack, R. 1981. Geografia física do estado do Paraná. Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro. Martins, M., J. P. Pombal, Jr. & C. F. B. Haddad, 1998. Escalated agressive behaviour and facultative parental care in the nest building gladiator frog, Hyla faber. Amphibia-Reptilia 19:65 73. Martof, B. S. 1953. Territoriality in the green frog, Rana clamitans. Ecology 34:165 174. McCarthy, M. A. & K. M. Parris, 2004. Clarifying the effect of toe clipping on frogs with Bayesian statistics. Journal of Applied Ecology 41:780 786. Menin, M., R. A. Silva & A. A. Giaretta. 2004. Reproductive biology of Hyla goiana (Anura, Hylidae). Iheringia, Série Zoologia 94:49 52. Miaud, C, D. Sanuy & J. N. Avrillier, 2004. Terrestrial movements of the natterjack toad Bufo calamita (Amphibia, Anura) in a semi-arid, agricultural landscape. Amphibia-Reptilia 21:357 369. Narvaes, P. & M. T. Rodrigues. 2005. Visual communication, reproductive behavior, and home range of Hylodes dactylocinus (Anura, Leptodactylidae). Phyllomedusa 4:147-158. 83

Passamani, M. & A. B. Rylands. 2000. Home range of a geoffroy s marmoset group Callithrix geoffroyi (Primates, Callitrichidae) in south-eastern Brazil. Revista Brasileira de Biologia 60:275 281. Perry, G. & T. Garland Jr. 2002. Lizard home ranges revisited: effects of sex, body size, diet, habitat and phylogeny. Ecology 83:1870 1885. Pierce, B. A. & K. J. Gutzwiller. 2004. Auditory sampling of frogs: detection efficiency in relation to survey duration. Journal of Herpetology 38:495 500. Pough, J. H, C. M. Janis & J. B. Heiser. 2003. A vida dos vertebrados. 6ª ed. Atheneu, São Paulo. Riedle, J. D., P. A. Shipman, S. F. Fox & D. M. Leslie Jr. 2006. Microhabitat use, home range and movements of the alligator snapping turtle, Macrochellys temminckii, in Oklahoma. The Southwestern Naturalist 51:35 40. Rocha, C.F.D. 1999. Home range of the tropidurid lizard Liolaemus lutzae: sexual and body size differences. Revista Brasileira de Biologia 59:125 130. Shepard, D. B. 2002. Spatial relationships of male green frogs (Rana clamitans) throughout the activity season. The American Midland Naturalist 148:394-400. Shepard, D. B. 2004. Seasonal differences in aggression and site tenacity in male green frogs, Rana clamitans. Copeia (1):159-164. Smith, M. A. & D. M. Green. 2005. Dispersal and the metapopulation paradigm in amphibian ecology and conservation: are all amphibian populations metapopulations? Ecography 28:110-128. Tozzeti, A.M. & L.F. Toledo. 2005. Short-Term movement and retreat sites of Leptodactylus labyrinthicus (Anura: Leptodactylidae) during the breeding Season: A spool-and-line tracking study. Journal of Herpetology 39:640-644. 84

Van Sluys, M. 1995. Dinâmica populacional, crescimento e área de vida do lagarto Tropidurus itambere Rodrigues, 1987 (Tropiduridae) em uma área de afloramentos rochosos no sudeste do Brasil. Campinas, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Tese (Doutorado em Ecologia). Wells, K. D. 1980. Behavioral ecology and social organization of a dendrobatid frog (Colostethus inguinalis). Behavioral Ecology and Sociobiology 6:199 209. Zar, J. H. 1984. Biostatistical Analysis, 2nd Edition. Prentice-Hall International Editions, Englewood Cliffs, NJ. 85

Tabela I: número de indivíduos de Hypsiboas leptolineatus utilizando os substratos de gramínea, arbusto e arbóreo nos ambientes de brejo e córrego na área de estudo no Município de Turvo, Estado do Paraná. AMBIENTE SUBSTRATO Arbusto Arbóreo Gramíneas TOTAL Brejo 58 11 96 265 Córrego 79 16 48 143 TOTAL 137 27 144 308 86

Tabela II: número de machos de Hypsiboas leptolineatus utilizando os substratos de gramínea, arbusto e arbóreo como sítio de vocalização, em diferentes posições do corpo em relação ao solo ou à água, no Município de Turvo, Estado do Paraná. SUBSTRATO POSIÇÃO Diagonal Paralelo Perpendicular TOTAL Arbusto 30 78 22 130 Arbóreo 18 26 07 51 Gramínea 16 38 83 137 TOTAL 64 142 112 318 87

Figura 01: macho de Hypsiboas leptolineatus com a presença de cicatrizes na região dorsal (seta vermelha), observado no Município de Turvo, Estado do Paraná (Foto: Vitor Hugo Gonçalves). 88

Figura 02: distribuição dos pontos de captura de machos de Hypsiboas leptolineatus dentro da área de estudo, no Município de Turvo, Estado do Paraná. 89

Figura 03: distribuição dos pontos de captura de fêmeas de Hypsiboas leptolineatus dentro da área de estudo, no Município de Turvo, Estado do Paraná. 90

Figura 04: distribuição dos pontos de captura de indivíduos juvenis de Hypsiboas leptolineatus dentro da área de estudo, no Município de Turvo, Estado do Paraná. 91