AULA 2 17/02/11 OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS RECURSOS 1 O PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE Taxativo quer dizer categórico, limitativo, restritivo. Neste norte, somente são possíveis os recursos previstos em rol apresentado pelo Código de Processo Civil 1. Ademais, fora dele existem alguns poucos admitidos, tais quais os recursos dos juizados especiais previstos na Lei n. 9.099/95. 2 O PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO Decorre de um princípio constitucional: o princípio do devido processo legal. Este é, sem dúvida, um grande princípio que acaba por albergar outros tantos como o contraditório, a ampla defesa e o duplo grau de jurisdição. O princípio em apreço estabelece a existência de um sistema recursal em nosso ordenamento jurídico ao determinar que: pode haver reexame de matéria apreciada e decidida, permitindo novo julgamento por órgão hierarquicamente superior. Destaque-se que, nem sempre é necessário recorrer de decisão proferida para haver o reexame da matéria já apreciada e decidida. É o avocado reexame obrigatório ou necessário. Exemplo: processo contra a fazenda pública é sempre reexaminado, independentemente de recurso da parte. 1 Código de Processo Civil do Brasil (1973): Art. 496 - São cabíveis os seguintes recursos: (Redação dada pela Lei nº 8.038, de 25.5.1990) I - apelação; II - agravo; (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994) III - embargos infringentes; IV - embargos de declaração; V - recurso ordinário; Vl - recurso especial; (Incluído pela Lei nº 8.038, de 25.5.1990) Vll - recurso extraordinário; (Incluído pela Lei nº 8.038, de 25.5.1990) VIII - embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário. (Incluído pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
10 DIREITO PROCESSUAL CIVIL Por outro lado, ainda que se pese que a maioria o é, nem toda decisão é passível de recurso. Bom exemplo pode ser encontrado no caso dos despachos 2 porquanto sejam os mesmos irrecorríveis não podendo jamais ser impugnados. Por fim, evidencie-se que, aqui, a exceção corre por conta da deserção de recurso. Rememoremos que recurso deserto é o recurso cujas custas processuais não foram devidamente recolhidas. Decisão que entende ser o recurso não deserto é irrecorrível 3. 3 O PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE Fungível é o bem que pode ser substituído por outro do mesmo gênero e espécie. Neste norte, uma caneta bic é bem fungível, já a caneta com a qual a Princesa Isabel subscreveu a Lei Áurea é bem infungível. Fungível é sinônimo de substituível. Bem fungível por excelência: o dinheiro. O Código de Processo Civil de 1939 aclarava que recurso é infungível: cada recurso está atrelado a uma situação, inexistindo a possibilidade da substituição deste recurso por aquele outro. A reforma de 1973 alterou a redação de diversos artigos 4. Hoje, é possível que o recurso inadequado seja recebido como adequado em algumas situações. Em outras palavras, interpondo, o patrono, o recurso errado, poderá o mesmo ser recebido como se certo fosse desde que presentes alguns requisitos. São eles: ausência de má-fé em relação ao prazo; ausência de erro grosseiro (ex.: extraordinário no lugar de embargo de declaração); presença de dúvida objetiva (é a doutrina e a jurisprudência que têm dúvida quando ao recurso, não o patrono não é dúvida subjetiva); observação do menor prazo. Destaque-se que, no tocante a esta última condição, consideremos o seguinte exemplo: agravo interposto no lugar de apelação aquele tem prazo de dez dias, este de quinze; o recurso inadequado somente poderá ser recebido como adequado se interposto em dez dias. 2 Código de Processo Civil do Brasil (1973): Art. 162 - Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. [...] 3 o São despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma. [...]. 3 Ib.: Art. 519 - Provando o apelante justo impedimento, o juiz relevará a pena de deserção, fixando-lhe prazo para efetuar o preparo. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994) Parágrafo único. A decisão referida neste artigo será irrecorrível, cabendo ao tribunal apreciar-lhe a legitimidade. (Incluído pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994) 4 Op. cit.: Art. 810 - O indeferimento da medida não obsta a que a parte intente a ação, nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no procedimento cautelar, acolher a alegação de decadência ou de prescrição do direito do autor.
11 AULA 2 OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS RECURSOS 4 O PRINCÍPIO DA UNIRRECORRIBILIDADE (SINGULARIDADE) Prega o sobredito princípio que para cada decisão haverá um e somente um recurso cabível. Em outras palavras, há somente um recurso competente para impugnar, ou seja, passível de reformar uma determinada decisão. Percebe-se que, nos tribunais somente três decisões de mérito se fazem possíveis: provimento do recurso (recurso é acolhido e decisão será reformada), provimento parcial do recurso (meio do caminho) e improvimento do recurso (recurso é rejeitado e decisão será mantida). Sendo o órgão colegiado, a decisão se dará por unanimidade ou por maioria de votos. Exemplificando: a apelação analisada e julgada por três desembargadores, quais sejam, o redator, o revisor e o terceiro juiz, que é inominado. Ocorrida decisão por maioria de votos, observa-se que houvera um voto vencido, logo inexistência de consenso. Abrem-se portas ao embargo infringente: pede-se que dois novos juízes venham compor uma nova turma de julgadores perfazendo um total de cinco. Por outro lado, em se tratando de decisão daqueles três julgadores originais por unanimidade, caberão recursos aos tribunais superiores: especial 5 e extraordinário 6. Note que o embargo infringente 7 interrompe os prazos para o recurso especial e para o extraordinário. Os doutrinadores divergem a cerca do fato de que, aqui, observa-se ou não exceção ao princípio da singularidade. Os que entendem inexistir a exceção entendem que se é possível interpor recursos distintos é porque se está recorrendo de decisões distintas proferidas em uma mesma sentença. 5 Constituição da república Federativa do Brasil (1988): Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: [...].II - julgar, em recurso ordinário: [...]III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: [...]. 6 Ib.: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: [...].II - julgar, em recurso ordinário: [...]. 7 Código de Processo Civil do Brasil (1973): Art. 498. Quando o dispositivo do acórdão contiver julgamento por maioria de votos e julgamento unânime, e forem interpostos embargos infringentes, o prazo para recurso extraordinário ou recurso especial, relativamente ao julgamento unânime, ficará sobrestado até a intimação da decisão nos embargos. (Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001) Parágrafo único. Quando não forem interpostos embargos infringentes, o prazo relativo à parte unânime da decisão terá como dia de início aquele em que transitar em julgado a decisão por maioria de votos. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
12 DIREITO PROCESSUAL CIVIL 5 O PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS Decorre do princípio presente no artigo 128 do Código de Processo Civil que aclara, in verbis: O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte.. O tribunal somente pode julgar aquilo que foi pedido: nem mais, nem menos, nem fora. O dispositivo presente no art. 128 limita o exercício da jurisprudência. E, e certo que, ninguém pede para empiorar a sua própria situação. O princípio em apreço apregoa que a decisão do recurso jamais poderá piorar a situação do recorrente. Consideremos o seguinte exemplo: Pedro pede ao poder judiciário indenização por danos materiais e morais que João lhe teria ocasionado. O juiz sentencia parcialmente procedente: danos materiais sim, morais não. Pedro ingressa com recurso pedindo pelos danos morais não reconhecidos no órgão monocrático. O órgão colegiado não pode piorar a condição de Pedro: ou dá ou não dá os danos morais; mas não retira os materiais. Entretanto, em se considerando que no exemplo houve sucumbência recíproca, ambos os litigantes podem ingressar com recurso: Pedro pediria ao órgão colegiado para acrescentar os danos morais; e, ao seu tempo, João para remover os danos materiais. Neste momento é importante perceber que conforme a decisão dos desembargadores o que ocorrerá é que a situação do autor ou do réu será melhorada, não que a de um deles será piorada, embora, na prática aquilo tenha isto por conseqüência. A exceção corre por conta das matérias de ordem pública 8 porquanto possa delas o tribunal conhecer a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, inclusive de ofício, sem a necessidade da manifestação das partes. Exemplo: João (locador) pede ao Judiciário contra Pedro (locatário) aluguéis atrasados e despejo. O tribunal julga parcialmente procedente: aluguéis sim, despejo não. João ingressa com recurso, pedindo pelo despejo. O tribunal percebe que o réu não fora citado e extingue a ação. 8 Código de Processo Civil do Brasil (1973): Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005) [...] 3 o O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento. [...].Art. 301. Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar: (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973) [...] 4 o Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de ofício da matéria enumerada neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)