ESTUDO DO COMPORTAMENTO EM CORROSÃO DOS BIOMATERIAIS TITÂNIO, LIGA Ti-6Al-4V E AÇO INOX 316L PARA USO EM IMPLANTE ORTOPÉDICO

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Transcrição:

ESTUDO DO COMPORTAMENTO EM CORROSÃO DOS BIOMATERIAIS TITÂNIO, LIGA E AÇO INOX 316L PARA USO EM IMPLANTE ORTOPÉDICO Thiago de Souza Sekeres 1, Sonia Braunstein Faldini 4 1 Universidade Presbiteriana Mackenzie/Engenharia de Materiais, Travessa Bruno Andreoni 14 CEP:2468 São Paulo/SP, thiagosekeres@yahoo.com.br 4 Universidade Presbiteriana Mackenzie/Engenharia de Materiais, Rua Sabará 213 ap 2 CEP:123911 São Paulo/SP, soniafal@mackenzie.com.br Resumo- O objetivo deste estudo foi verificar, através de medidas de potencial de repouso e de curvas potenciodinâmicas de polarização, a influência do ph e da presença de proteínas, na passivação do titânio, a liga e o aço inox 316L em condições similares ao ambiente a que estão sujeitos os implantes ósseos. Foram realizadas medidas de potencial de repouso e de polarização anódica cíclica, em solução salina tampão de fosfato (), com acidez variada (ph = 5, 7.4 e 9) e com adição de albumina bovina. Verificou-se que mudanças no ph das soluções de afetam a passivação do aço inoxidável 316L, da liga e do titânio. Proteínas adicionadas, na forma de albumina bovina, às soluções de nos ph 5 e 9 tornam ativas as superfícies da liga e do aço inoxidável 316L. As melhores condições de resistência à corrosão, analisadas pelas densidades de corrente, ocorreram com a solução de e albumina bovina, com ph 7.4, exceto para o titânio que tem a melhor condição em ph 9. A presença da proteína é benéfica para a resistência à corrosão de todos os materiais estudados. Medidas de microdureza, obtidas antes e após os ensaios, dos três materiais, não mostraram mudanças significativas. Palavras-chave: corrosão, biomateriais,, titânio Área do Conhecimento: Engenharia de Materiais Introdução Os materiais metálicos utilizados como implantes requerem resistência mecânica adequada e não devem ser tóxicos. Por outro lado, quando se considera um material metálico para aplicação como biomaterial, é importante analisar sua resistência à corrosão (KHAN; WILLIAMS, 1996). Os principais metais e ligas utilizados cirurgicamente formam sobre suas superfícies uma camada aderente e protetora de óxidos. Esforços mecânicos podem romper continuamente essa camada, expondo a superfície metálica, levando a sua corrosão. O meio biológico em que se encontram é muito agressivo quimicamente e pode conduzir à sua degradação (KHAN; WILLIAMS, 1999). Também, os produtos de corrosão são responsáveis pelo comprometimento da biocompatibilidade que deve ser local e sistêmica (RECLARU; et al, 21). O ph e a presença de proteínas afeta o comportamento em corrosão de implantes metálicos que pode inibir ou acelerar esse fenômeno. Atualmente, as ligas mais utilizadas como implantes são as de titânio. Outros materiais metálicos que podem ser úteis em implantes são: aço inoxidável 316L, ligas de níquel-crômio, ligas de ouro-paládio, ligas de prata-paládio e ligas de tântalo (RAMIRES; GUASTALDI, 22). O presente trabalho pretende contribuir ao estudo da corrosão da liga de titânio, do aço inoxidável 316L e do titânio comercial, em uma solução salina tampão de fosfato (), ph 5, 7.4 e 9 na presença e na ausência de proteínas. Conseqüentemente, o objetivo deste trabalho é estudar o comportamento em corrosão destes matérias biometálicos usando técnicas eletroquímicas de medidas de potencial de corrosão e de polarização anódica em soluções que simulam o ambiente de um implante ósseo. Materiais e Métodos Os materiais estudados neste trabalho foram o aço inoxidável 316L, o titânio grau 2 e a liga Ti 6Al 4V. Todos os materiais foram recebidos na forma de tarugos de seção circular de 6 a 9 mm de diâmetro. As amostras de teste foram cortadas na forma de discos de 5 mm de espessura. Cada amostra foi embutida a frio com uma resina termofixa, num molde com 3 mm de diâmetro. Na parte de trás de cada amostra foi feito um furo com rosca, onde foi adaptada uma haste de 319

cobre. Esta haste de cobre serve de contato entre a peça e o terminal anódico do potenciostato. Antes de cada medida, as amostras foram lixadas, iniciando-se com lixa d água de grana 32 até 12 e em seguida foram polidas com pasta de diamante até granulometria de 1 μm. Após cada ensaio realizado, a amostra foi lavada em água desmineralizada e o polimento repetido. Antes de iniciar uma nova curva de polarização, a amostra foi mantida na solução até se atingir o potencial de repouso em circuito aberto. A avaliação da resistência à corrosão dos três materiais ocorreu em ambiente aerado a 37ºC, por meio: a) da medida do potencial em circuito aberto, até obtenção de um valor constante; b) da obtenção de curvas de polarização anódica potenciodinâmicas usando a técnica da voltametria cíclica; c) determinação das medidas de microdureza Vickers da superfície de cada material antes e após os testes de corrosão. A medida do potencial em circuito aberto foi em relação a um eletrodo de referência de prata/cloreto de prata saturado (marca Digimed) usando um voltímetro digital (marca Minipa, modelo ET-22). Na interpretação das medidas de potencial em circuito aberto em função do tempo, foram verificadas possíveis mudanças do potencial e sua estabilidade durante o período de permanência do corpo de prova na solução adequada. Esta avaliação pode fornecer alguma informação a respeito da formação e estabilidade da película passiva e de possíveis variações na interface metal/meio ambiente. Na voltametria cíclica, o potencial aplicado ao corpo de prova varia com o tempo segundo uma onda triangular de varredura, conforme a expressão: E = Ei + 2vλ vt. Sendo Ei o potencial inicial, v a velocidade de varredura, λ o tempo para completar metade do ciclo e t o tempo de varredura. A resposta do sistema eletroquímico à perturbação depende da velocidade de varredura e da amplitude do intervalo de potenciais estudados constituindo, portanto, uma técnica bastante versátil no estudo de sistemas que envolvam a superfície como a eletrodissolução e a formação e quebra de camadas de óxidos. A velocidade de varredura foi de 1 mv/s e a polarização anódica foi iniciada após atingir o potencial de repouso. A faixa de potenciais da varredura foi entre e 5,V para o titânio e a liga. Para o aço inoxidável 316L esta faixa foi entre e 1,V. Foi usado o potenciostato da marca Microquímica, modelo MQPG-1, em conjunto com a interface MQI 12/8PG instalada num computador Celeron com 128 Mb de memória e programa MQPG.EXE, que permite a utilização de várias técnicas eletroquímicas, inclusive a da voltametria cíclica. As medidas de microdureza Vickers da superfície de cada material foram feitas no aparelho da marca Wolpert, e permitiram verificar se houve alguma modificação na camada superficial. Foram obtidos pelo menos três voltamogramas por solução, sendo as medidas de microdureza efetuadas no decorrer do último voltamograma. As soluções utilizadas foram: a) solução salina tampão de fosfato () em três diferentes phs: 5, 7,4 e 9; b) solução salina tampão de fosfato () + 1mg/ml de albumina bovina em três diferentes phs: 5, 7,4 e 9. A célula eletrolítica é constituída de um copo de vidro de 3ml. Como os ensaios foram realizados em ambiente aerado, a mesma não foi tampada. Os eletrodos foram fixados em suportes quando na solução do ensaio. A célula eletrolítica foi colocada num banho de água termostatizado, utilizando um termostato da marca Quimis Q33M16, mantido a 37ºC. Resultados Os potenciais de repouso foram medidos durante 8 horas seguidas, verificando-se uma constância nos valores e baixo crescimento após 2 horas do início das medidas. Nas figuras 1 e 2 são apresentados a média dos valores obtidos entre o início da terceira hora de imersão e a oitava hora. Verifica-se que o potencial de repouso dos três materiais depende do meio e do ph em que se encontram. A alcalinização (ph 9) e a acidificação (ph 5) da solução de tornam o aço mais anódico e o titânio menos anódico, ou seja, mudanças locais de ph podem modificar a camada de óxido do aço sem alterar sua passivação, enquanto que no titânio esta modificação desloca o potencial para a região ativa. A adição da albumina bovina, à solução contendo altera os potenciais de repouso do aço 316L e da liga Ti- 6Al-4V. Em ph 7,4 os três materiais tendem para valores mais anódicos, sendo que a liga Ti- 6Al-4V sofre o maior aumento. A alcalinização e a acidificação do meio, associada à adição de albumina bovina, contribui para grandes variações de potencial do aço e da liga Ti- 6Al-4V no sentido catódico, sendo que esta última apresenta uma inversão de potencial em ambos os phs: 5 e 9. Porém, variações locais de ph, tanto para valores maiores ou menores que 7,4, alteram a superfície dos materiais, deixando-a mais ativa. Não foi possível verificar se esta alteração se deve à perda total da camada de óxidos ou à formação de um óxido não protetor. O potencial do titânio praticamente não sofre mudança. O óxido formado sobre titânio não é afetado pela presença de albumina bovina nos três phs: 7,4, 5 e 9. Nos phs 5 e 9, os potenciais são mais negativos, isto é, o material é mais ativo enquanto no ph 7,4 os potenciais apresentam valores mais positivos. O efeito da albumina 32

bovina é mais acentuado no caso da liga Ti-6Al- 4V. Obtidos os voltamogramas cíclicos, como o apresentado na figura 3, a resistência à corrosão dos três materiais foi dada pela magnitude da histerese apresentada no ciclo. Como não se consegue obter com exatidão o valor do potencial de quebra (Eb), isto é, o potencial no qual ocorre um aumento brusco de corrente durante a polarização no sentido anódico, foi determinada a variação (Eb-Ep) entre o potencial de quebra (Eb), e o potencial de passivação (Ep) no qual a corrente volta ao valor de passivação durante a polarização inversa (sentido catódico), isto é, o ponto onde a curva de histerese é completada. A diferença entre o potencial de quebra e o potencial de passivação (Eb-Ep) corresponde a resistência a corrosão por pite do material. Quanto mais baixos os valores de E b -E p, maior é a resistência à corrosão do material. P BS ph7,4 P BS ph9 P BS ph5 Aço 316L Titânio P BS AB ph7,4 P BS AB ph9 P BS AB ph5 Aço 316L Titânio (a) (b) Figura 1 Potenciais de repouso do aço 316L, titânio e liga obtidos em solução de a) e b) com adição de albumina bovina (AB) na concentração 1mg/ml e em diferentes phs. Aço 316L Ti ph7,4 ph9 ph5 (a) Aço 316L Ti ph7,4 ph9 ph5 (b) Figura 2 Potenciais de repouso em phs 5, 7,4 e 9, obtidos em solução de a) e b) com adição de albumina bovina (AB) na concentração 1mg/ml, do aço 316L, titânio e liga. E/V 5 4 3 2 1-1,,5 1, 1,5 2, 2,5 i/ (A /d m 2 ) Figura 3 Curva típica potencial versus densidade de corrente, mostrando a histerese de onde são obtidos os valores de E b -E p. Na tabela 1 encontram-se os dados de E b E p calculados a partir dos voltamogramas obtidos em solução de nos diferentes phs. Estes dados mostram um E b E p dependente do ph do meio, sendo que em ph 7,4 esta diferença é a maior para os três materiais, indicando uma dificuldade na sua repassivação neste ph. O ph 5 é o que permite a melhor repassivação para a liga Ti-6Al- 4V, enquanto que para o titânio, o melhor ph é o 9. Para o aço 316L, a resistência à corrosão praticamente não é afetada pelo ph. A adição de albumina bovina (1mg/ml) ao praticamente diminui pela metade o E b E p da liga, havendo uma melhora no seu comportamento quanto a repassivação. Para o titânio, a albumina bovina dificulta a repassivação, sendo o ph 9 o que apresenta as maiores diferenças. Para o aço 316L parece ocorrer também uma leve melhora no seu comportamento de repassivação com a adição da albumina bovina. Tabela 1 Valores de E b E p medidos a partir das curvas potenciodinâmicas obtidas em solução de e mais 1mg/1ml de albumina bovina (AB) em três diferentes phs. Materiais Eb-Ep (mv)* + AB ph ph ph 9 ph ph ph 9 Titânio 437 527 314 94 835 121 Liga 792 113 14 31 536 495 Aço 499 512 53 441 275 37 *Eb = potencial de "quebra" da camada de óxidos. Ep = potencial de repassivação Na tabela 2 são apresentados os valores de densidade de corrente, medidos a partir das curvas potenciodinâmicas obtidas em solução de e mais 1mg/1ml de albumina bovina em três diferentes phs, para os três materiais. Para o titânio e a liga, estes valores correspondem à densidade de corrente em 5 V (potencial máximo da curva potenciodinâmica). Para o aço, a densidade de corrente foi medida no potencial aplicado igual a 1 V. Valores altos de 321

densidade de corrente indicam baixa resistência a corrosão por parte do material. Tanto em como em mais albumina bovina, as densidades de corrente dependem do ph. Comparativamente, as menores densidades de corrente foram obtidas com a solução de e albumina bovina, com ph 7,4, exceto para o titânio que tem o menor valor em ph 9. A presença da proteína reduz a densidade de corrente do titânio e da liga nos três phs. O aço 316L segue esse mesmo comportamento para o ph 5. Contudo, para o ph 9, verifica-se um grande aumento na densidade de corrente quando da adição da proteína. Tabela 2 Valores densidade de corrente, i (A/dm 2 ), medidos a partir das curvas potenciodinâmicas obtidas em solução de e mais 1mg/1ml de albumina bovina (AB) em três diferentes phs. Mate i (A/dm 2 ) riais + AB ph ph ph 9 ph 5 ph ph 7,4 9 Ti 1,5 1 6 2 1 7 7 Liga 2,2,5,61 35 8 Aço 5,5-15 4,3 17 3,4 Na figura 4 são apresentados o s valore s de microdureza Vickers para o aço 316L, o titânio e liga ante s e após a corrosão em so lução de e mais 1mg/1ml de albumina bovina em três diferentes phs. De acordo com Khan, o óxido obtido após a repassivação tem composição diferente do óxido original, que pode ser evidenciado nas medidas de microdureza. Durante a repassivação, a camada de óxido pode mudar devido a presença de cloretos metálicos e de complexos metálicos com a proteína. De uma maneira geral, na análise do gráfico da figura 4, não ficou evidenciado nenhuma mudança significativa nos valores de microdureza entre as condições antes (amostra polida) e após os diversos testes de corrosão, em todos os materiais estudados em ph 5. Uma análise mais conclusiva sobre as características dos óxidos formados só será possível em trabalhos futuros com as observações dos óxidos por microscopia eletrônica. Microdureza / HV 35 3 25 2 15 1 5 Titânio Aço 316L Polida + AB repouso + AB Figura 4 - Valores de microdureza Vickers para o aço 316L, o titânio e liga antes e após a corrosão em solução de e mais 1mg/1ml de albumina bovina (AB), ambas em ph 5. : Microdureza medida após o ciclo de varreduras. +AB: Microdureza medida após o ciclo de varreduras. + AB repouso: Microdureza medida após 8 h de imersão na solução. Discussão A superfície da liga Ti- 6Al-4V sofre modificações pouco significativas em ph 9. Porém, em ph 5 deve ocorrer perda da camada de óxidos, o que é caracterizado pela inversão de potencial. O efeito da proteína é benéfico para a resistência à corrosão de todos os materiais estudados Conclusão O estudo da corrosão em solução de e com albumina bovina do aço inoxidável 316L, do titânio puro e da liga evidenciou as seguintes conclusões: 1. Mudanças no ph das soluções de afetam a passivação do aço inoxidável 316L, da liga e do titânio. O efeito da proteína é benéfico para a resistência à corrosão de todos os materiais estudados. 2. Os valores de E b E p dependem do ph do meio. A melhor condição de repassivação da liga ocorre em ph 5, enquanto que para o titânio ocorre em ph 9. 3. Proteínas adicionadas na forma de albumina bovina às soluções de nos ph 5 e 9 tornam ativas as superfícies da liga e do aço inoxidável 316L, sendo este efeito bem mais pronunciado na liga. 4. As melhores condições de resistência à corrosão, analisadas pelas densidades de corrente, ocorreram com a solução de e albumina bovina, com ph 7.4, exceto para o 322

titânio que tem a melhor condição em ph 9. Referências - KHAN, M. A.; WILLIAMS, R. L.; WILLIAMS, D. F. In-vitro corrosion and wear of titanium alloys in the biological environment. Biomaterials, v. 17, p. 2117-2126, 1996. - KHAN, M. A.; WILLIAMS, R. L.; WILLIAMS, D. F. The corrosion behaviour of, Ti-6Al-7Nb and Ti-13Nb-13Zr in protein solutions. Biomaterials, v. 2, p. 631-637, 1999. - RAMIRES, I.; GUASTALDI, A. C. Estudo dos biomateriais empregando-se técnicas eletroquímicas e XPS. Quim. Nova, v. 25, 22. - RECLARU, L.; et al. Corrosion behavior of a welded stainless-steel orthopedic implant. Biomaterials, v. 22, p. 269-279, 21. 323