PAINÉIS METÁLICOS: PROSPECTANDO INOVAÇÕES



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Transcrição:

PAINÉIS METÁLICOS: PROSPECTANDO INOVAÇÕES Vanda Alice Garcia Zanoni (1); José Manoel Morales Sánchez (2) (1) Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo Universidade de Brasília, Brasil - e-mail: vandazanoni@unb.br (2) Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo Universidade de Brasília, Brasil - e-mail: sanchez@unb.br Resumo O artigo apresenta uma revisão bibliográfica do uso dos painéis metálicos na arquitetura desde o século XIX e a Revolução Industrial até o período atual. Analisa o desenvolvimento tecnológico dos painéis metálicos para vedação vertical, mostrando o potencial para a inovação e aplicação, refletindo sobre o seu uso nos diversos tipos de edificações e contextos gerenciais. Palavras-chave: Painéis metálicos, Sistemas de vedação, Prospecção tecnológica, Inovação tecnológica. 1. INTRODUÇÃO O uso de painéis metálicos como elementos dos sistemas de vedação vertical datam desde a década de 1840 em Boston e na cidade de Nova York, quando edifícios receberam fachadas metálicas de ferro fundido (fig.1), com o intuito de proteger as edificações dos incêndios que, naqueles tempos, alastravam-se rapidamente devastando a densa malha urbana das cidades em expansão. Compradas por meio de catálogos, exigiam montagem por mão de obra com pouca qualificação e encantava as pessoas pela sua rapidez na execução (ADDIS, 2009). A idéia da industrialização de edifícios surgiu com a construção em ferro. Desde meados do século XIX, as construções em ferro e vedos em chapas de ferro onduladas, principalmente exportadas pela Inglaterra, predominaram em inúmeras partes do mundo. Esse tipo de pré-fabricação foi experimentado e largamente difundido até o pósguerra, quando o método construtivo que se disseminou em toda a Europa, com pequenas variações, foi de painéis de grandes dimensões com função estrutural em concreto armado (BRUNA, 1976; SILVA, 1988).

Desde a década de 90 do século XX, intensificou-se o uso de estruturas metálicas na construção civil brasileira e, conseqüentemente, o consumo de painéis de fachada com a presença de materiais metálicos associados ou não a outros materiais. No Brasil, a utilização de painéis metálicos como fechamento para vedação ainda é predominante nos edifícios industriais, em salas limpas e, menos freqüentemente, nos edifícios comerciais e institucionais. Este trabalho considera como painéis metálicos aqueles que são estruturados por perfis metálicos com fechamento em lâminas metálicas, em pelo menos uma das suas faces. Este artigo de revisão bibliográfica pretende apresentar o uso dos painéis metálicos na arquitetura desde o século XIX e a Revolução Industrial até o período atual. Analisa o desenvolvimento tecnológico dos painéis metálicos para vedação vertical, prospectando o potencial para a inovação e sua aplicação nos diversos tipos de edificações. 2. PRECEDENTES HISTÓRICOS NO USO DE PAINÉIS METÁLICOS A partir da segunda metade do século XIX, elementos metálicos arquiteturais, principalmente em ferro fundido, foram disponibilizados para o mercado internacional, por meio de catálogos, por algumas firmas européias. Além de componentes e elementos de catálogo, países como a Inglaterra e posteriormente a Bélgica, a Escócia, entre outros países que se industrializaram, passaram a exportar edifícios inteiros em ferro fundido, como galerias, coretos, estufas, pavilhões de exposição, estações ferroviárias, mercados públicos, casas, etc. O uso do ferro fundido na execução de paredes não se mostrava satisfatório, pois não se adaptava facilmente a qualquer vão; a junção entre chapas dependia da sua largura. Segundo Silva (1988) com o processo de ondular as chapas, esse problema ficou resolvido: o comprimento das ondas era pequeno e as emendas podiam ser feitas em qualquer ponto, permitindo a utilização das chapas sem limites, como se fosse uma superfície contínua (SILVA, 1988 - p.53). As chapas onduladas e as chapas de ferro fundido foram os materiais que predominaram nas construções, no século XIX. Quando galvanizadas possuíam boa resistência à corrosão e tinham grande durabilidade. Os processos de galvanização são patenteados desde 1837, pelos ingleses e pelos franceses. Os edifícios em ferro fechados e cobertos por chapas onduladas foram vendidos para todo mundo que precisava de construções

rápidas devido à crescente urbanização, às novas fronteiras econômicas ou às situações geradas pelas guerras, além da influência que os estilos dominantes exerciam nas colônias e nos países subdesenvolvidos. Segundo Silva (1988) o uso das coberturas e estruturas em ferro já estava consagrado, mas os países produtores como a Inglaterra precisavam gerar novos pólos de interesse e consumo para os produtos siderúrgicos; os fechamentos ainda eram um dos problemas sem solução. A estética das vedações em chapas onduladas não satisfazia ao consumidor, que a comparava com armazéns. Outro problema era o isolamento térmico, principalmente nos países de clima tropical. Apesar dos esforços em promover o novo material, os construtores não eram unânimes em relação ao seu uso e preferiam os materiais tradicionais como o tijolo para as vedações, embora reconhecessem as vantagens do ferro para a estrutura. O caso das estações ferroviárias brasileiras, com suas belas coberturas metálicas e colunas de ferro fundido, é uma tipologia que ilustra perfeitamente essa situação do uso intensivo do tijolo como vedação, e muitas vezes revestindo parte da estrutura metálica. No Brasil, em particular, os elementos arquiteturais de apelo decorativo eclético foram intensamente usados, como as colunas dos alpendres, escadarias, gradis, etc. Mas, os exemplares com uso de chapas de ferro fundido, chapas onduladas ou perfuradas, também fazem parte da nossa arquitetura de ferro (SILVA, 1988; REIS, 1970). Entre as edificações brasileiras totalmente pré-fabricadas importadas da Europa, destaca-se o sistema construtivo Danly (fig.2), que foi patenteado pelo belga Joseph Danly em fins do século XIX. FIG. 1 - Fachadas de ferro fundido. Edifício Haughwout em New York. Arquiteto John P. Gaynor, 1857 (AVELLANEDA, 2010). FIG. 2 - Estação ferroviária em Bananal, São Paulo, 1889. Foto: Ralph M. Giesbrecht (SILVA, 1988).

O sistema Danly era formado por painéis de chapas metálicas almofadadas duplas, formando um colchão de ar de 26cm entre si, constituindo uma estrutura resistente e rígida decorrente das chapas de ferro estampado fixadas a perfis metálicos através de parafusos. Nesse sistema pré-fabricado as chapas deixavam de ser elementos de vedação independentes da estrutura e se tornavam elementos essencialmente estruturais. Nos rodapé e junto aos forros, chapas perfuradas permitiam o fluxo ascendente do ar passando pelas paredes ocas. Fazendo os orifícios coincidirem ou não conforme o movimento das chapas, o sistema funcionava como um registro móvel, possibilitando controlar a ventilação dos ambientes e o isolamento térmico necessário (SILVA, 1988). A partir da década de 1840, a cidade de Nova York passou a presenciar as fachadas principais de seus edifícios serem revestidas com chapas de ferro fundido imitando pedra, inclusive sendo pintadas na cor de pedra. Imitar a pedra, tornando o material mais nobre era uma forma de acompanhar o estilo em moda da época. Posteriormente, esta técnica também foi disseminada para outras cidades americanas (SILVA, 1988). Os Estados Unidos da América do Norte foi um dos países que, aproveitando-se do conhecimento pioneiro e da tecnologia desenvolvida pelos ingleses, produziu ferro com certa abundância a partir de meados do século XIX. Portanto, havia um terreno fértil para o desenvolvimento dos arranha céus e o florescimento da Escola de Chicago (SILVA, 1988). As fachadas cortinas se desenvolveram passo a passo, manifestação de uma arquitetura de vidro e o metal como expressão perfeita da tectônica de sua época. Muitas inovações foram experimentadas desde a Escola de Chicago. Muitos foram os precedentes, como a Fábrica Fagus de Walter Gropius e os arranha-céus de Mies van der Rohe. Desde o final dos anos 50 a fachada cortina (painel de fachada de metal e vidro ou madeira e vidro suspendida, em toda a altura do pé direito) foi evoluindo, passando pelos reticulados modulados de vidro formando fechamentos nervurados até chegar ao painel suspenso, quando a estrutura de suporte passou para trás da superfície exterior. A primeira fachada cortina metálica, de montantes e travessas de metal com os fechamentos em vidros, genuinamente suspensa como um painel pré-fabricado, foi construída em Paris em 1949 na sede do Fédération du Bâtiment de Jean Prouvé, cuja estrutura era em esqueleto de concreto armado (HART, HENN e SONTAG, 1976). Como alternativa às fachadas cortinas, foram empregadas fachadas com diversos tipos de elementos suspenso.

Especificamente falando das fachadas compostas por elementos metálicos é possível citar as fachadas tipo screen (uma rede de elementos de metal suspendida em frente à fachada) e os painéis de pedra natural fixados em dispositivos de metal. A partir destas idéias, a indústria americana desenvolveu em alumínio o screen, como uma tela de mascaramento que garantia a transparência de dentro para fora e agradável sombra obtida pelo paramento. O screen foi muito usado pelo arquiteto Yamasaki que, partícipe do movimento anti-mies, foi o grande difusor deste tipo de paramento. Nos anos 40, Le Corbusier usou o screen como um brise-soleil. Nos anos 50, o grupo de arquitetos do SOM usou as laminas verticais de alumínio, distantes das paredes em 1m, possibilitando a limpeza das janelas além da função de proteção solar (HART, HENN e SONTAG, 1976). Os primeiros exemplos modernos de fachadas em aço são encontrados nas patentes dos anos 20 e 30 do século XX. O sistema Fillod (fig.3) consistia em montantes duplos de tubos de aço (a) unidos por braçadeiras (b). Cada tubo possuía uma ranhura vertical (c) onde se encaixava a borda das chapas (d) previamente dobradas. Essas chapas formavam o revestimento tanto interior como exterior. Os tubos eram a estrutura da fachada, as chapas conformavam o revestimento e a camada entre as chapas recebia um material isolante (AVELLANEDA, 2010). Sob a influência da escola Bauhaus, os arquitetos modernistas pretendiam construir casas para todos, pelo método da produção industrial, reduzindo custos e prazos de produção. Mesmo não se efetivando na produção em escala, o uso de painéis metálicos foi uma iniciativa proposta e experimentada em muitas unidades habitacionais em relação à tecnologia e aos ideais sociais da casa como máquina de morar. Le Corbusier, em 1929, propôs a Maison Loucher como uma pequena casa a seco, produzida industrialmente com estruturas leves e revestidas em chapa de ferro galvanizado (BRUNA, 1976). A primeira obra realizada em alumínio foi provavelmente a Aluminaire House de A. Lawrence Kocher y Albert Frey em 1931. A sua aplicação na arquitetura veio associada às obras de Buckminster Fuller e Jean Prouvé (AVELLANEDA, 2010). A Casa Wichita de Buckminster Fuller (fig.4) foi pensada para ser fabricada em série pelos métodos próprios da indústria aeronáutica. Pré-fabricada em alumínio para a produção em massa, a tecnologia e a escolha do material visavam facilitar o seu transporte e as tarefas de montagem e desmontagem (CASTELO, 2008).

FIG. 3 - Sistema Fillod (AVELLANEDA, 2010). FIG. 4 - Casa Wichita USA, Arquitecto Buckminster Fuller, 1946 (CASTELO, 2008). Walter Gropius em 1931 utilizou painéis de cobre nas suas casas pré- fabricadas em Finow na Alemanha, sendo as chapas metálicas corrugadas de 0,5mm fixadas à estrutura do painel. O revestimento interior era com chapa de alumínio ou chapa de fibrocimento. A camada isolante era formada pela câmara de ar separada por folhas de alumínio revestidas por papel alcatroado (AVELLANEDA, 2010). Nos Estados Unidos do pós-guerra, um grupo de arquitetos modernistas, entre eles Eames, Neutra, entre outros, participaram de um momento inovador na produção habitacional, usando sistema modular com detalhes refinados e complexos, ambos característicos da arquitetura High-Tech. Estes arquitetos participaram do desenvolvimento de uma série de modelos modernos de habitação, entre eles o Case Study House Program promovido pela revista Arts and Architecture. O casal Eames projetou e construiu várias habitações em estrutura de aço modulada totalmente pré-fabricada com os novos materiais desenvolvidos durante a 2ª guerra mundial. O exemplo de modelo metálico Case Study House # 8 é a própria casa de Charles e Ray Eames (fig.5). Baseando-se em uma estrutura leve de aço do tipo pilar/viga, a habitação é totalmente construída com elementos pré-fabricados de catálogo. Todos os seus elementos, a estrutura, as travessas e as paredes de aço, assim como as janelas, os vidros e as placas de cimento amianto, foram aplicados segundo um sistema modular que os articula e lhes dá o aspecto de conjunto. A estrutura foi montada no local em um dia e meio. Este exemplo arquitetônico tornou-se um dos mais significativos da produção industrial habitacional do período e um paradigma para muitos arquitetos (CASTELO, 2008).

FIG. 5 - Case Study House # 8: Fachada e Interior da Casa Eames. Arquiteto Charles Eames, 1945/49 (CASTELO, 2008). 3. PAINÉIS METÁLICOS NA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA As tecnologias disponíveis e a sua diversidade na produção contemporânea de painéis metálicos basicamente são agrupadas em duas tipologias: painéis perfilados (chapa única) e painéis compostos (compósitos ou sanduíche). Os painéis perfilados ou chapa única constituem-se em uma lâmina de revestimento perfilada, fixada sobre perfis metálicos. A face interna do painel e seu isolamento são geralmente colocados no local. A rigidez do painel depende da espessura da chapa e da quantidade e espaçamento dos enrijecedores. A espessura da chapa é determinante para evitar ondulações e garantir uma superfície plana. O processo de fabricação deve ser preciso para evitar problemas de aparência e corrosão (SILVA e SILVA, 2004). As figuras abaixo mostraram algumas obras que são referência no uso dos painéis metálicos com chapas perfiladas.

FIG. 6 Fachada em aço inox. Edifício da Chrysler Building em New York. Arquiteto William Van Alen, 1928. FIG. 7 Fachada com placas de cobre. Price Company Tower em Oklahoma EUA, 1952. Arquiteto Frank Lloyd Wright. FIG. 8 - Fachadas revestidas com placas de cobre. Hotel Unique Flat, São Paulo, SP, 2002. Arquiteto Ruy Ohtake. FIG. 9 - Fachadas revestidas com placas de zinco. Jewish Museum, Lindenstrasse, Berlin, Alemanha, 1998. Arquiteto Daniel Libeskind. FIG. 10 - Fachadas revestidas com placas de titânio. Museu Guggenheim de Bilbao, 1992. Arquiteto Frank Gehry. Os painéis compostos (compósitos ou sanduíche) são formados por duas lâminas metálicas vinculadas entre si através de um material leve, geralmente um isolante termo-acústico. O espaçamento entre as lâminas determina o nível de isolamento. A rigidez do conjunto final pode atingir resistência maior que os painéis perfilados. Entre os painéis compostos estão aqueles em alumínio (ACM - aluminium composite material), cobre (CCM - copper composit material), titâneo (TCM - titanium composit material) e aço inox (SCM - stainless steel composit). Basicamente, os sistemas construtivos que empregam os painéis metálicos podem ser identificados como: 1) Sistemas Leves tipo Light Steel Framing; 2) Estrutura principal com vedação em painéis metálicos e 3) Sistema tridimensional tipo células estruturais.

Entre os sistemas construtivos mais usuais estão aqueles em que a estrutura principal é definida por um sistema estrutural em Pórtico, Treliça ou Grelha, cujo sistema de vedação em painéis metálicos é fixado na estrutura principal. Desde abril de 2010, o Light Steel Framing, sistema construtivo cuja principal característica é ser estruturado por perfis de aço conformados a frio e fechamentos em chapas delgadas, passou a ser validado pela Diretriz 003 para Avaliação Técnica de produtos inovadores do SINAT. Muito usado em outros países, mas somente agora sendo experimentado no Brasil, o sistema construtivo em células estruturais metálicas configurando-se em um sistema tridimensional de pré-fabricação leve consiste em uma estrutura do tipo chassis metálico, executada em módulos como uma estrutura resistente constituída por perfis metálicos e fechamentos em chapas metálicas. O contêiner é um exemplo deste tipo de sistema construtivo. Os painéis metálicos, quando classificados no grupo das fachadas leves, possuem densidade superficial menor que 60kg/m² (ABNT NBR 15.575-4) e caracterizam-se como vedações verticais sem função estrutural. Alguns sistemas de painéis metálicos podem trabalhar juntamente com a estrutura contribuindo para o seu contraventamento. O painel metálico como elemento de vedação é composto por quadros, componentes de fechamento, acabamento, isolamento termo-acústico, dispositivos de fixação e componentes de vedação. Os quadros formados por perfis metálicos (montantes, travessas, diagonais, guias, etc.) e seus acessórios (parafusos, porcas, presilhas, arremates, luvas, etc.), possuem a função de apoiar os componentes de fechamento e isolamento, suportar cargas laterais e absorver deformações compatíveis com a sua função de vedação. Podem ser de aço carbono, aço inox ou alumínio. São fixados como uma estrutura secundária na estrutura principal do edifício. Os componentes de fechamento externo são como um revestimento. As lâminas (chapas ou réguas) metálicas são fixadas nos quadros formados pelos perfis metálicos, ou diretamente na estrutura principal do edifício (quando painéis autoportantes), constituindo a face externa da parede. As lâminas metálicas podem ser de aço galvanizado, alumínio, aço inoxidável, cobre, zinco, titânio, ou outras ligas metálicas (OLIVEIRA, 2009).

Os componentes de fechamento interno são fixados nos quadros formados pelos perfis metálicos, constituindo a face interna da parede. Essas chapas delgadas podem ser de lâminas metálicas, réguas metálicas ou vinílicas (siding), chapas delgadas de OSB (Oriented Strand Board), chapas de madeira compensada, placas cimentícias, placas de gesso acartonado para drywall, placas de rocha, placas cerâmicas, entre outras. As chapas metálicas podem receber diferentes e inovadores sistemas de acabamento. Os sistemas de tratamento e proteção das superfícies dependem de sua composição. O isolamento térmico é constituído por camada de placas de lã de rocha ou lã de vidro, poliestireno expandido ou outro material cuja condutividade térmica seja menor que 0,06W/mºC (condutividade térmica máxima de um material considerado isolante) e resistência térmica 0,5m 2 K/W (MC, 2010). O isolamento acústico é uma camada de material absorvente acústico, como placas de lã de rocha, lã de vidro, fibras cerâmicas, entre outras. Os dispositivos de fixação (insertos metálicos) são responsáveis por fixar a estrutura secundária que conforma o painel à estrutura principal do edifício, ou eventualmente fixar os componentes de fechamento (lâminas de revestimento ou painéis de fechamento) à estrutura principal, quando estes são autoportantes. O sistema de fixação dos painéis depende das pressões do vento, especialmente em prédios altos, que pode alcançar até 200 kgf/m 2. Assim, o projeto deve basear-se na norma ABNT-NBR 6123, que traz um mapa das velocidades de vento nas várias regiões do País. Os componentes de vedação das juntas podem ser selantes, guarnições (ou gaxetas) em perfis termoplásticos pré-formados ou membranas flexíveis. Esses componentes são responsáveis por absorver deformações diferenciais entre elementos ou componentes construtivos, e também pela estanqueidade do elemento de fachada. Para a seleção de painéis metálicos como uma alternativa de sistema de vedação na fase de projeto, a caracterização dos painéis metálicos ajuda na especificação do produto. O Quadro1 apresenta a síntese da caracterização proposta.

QUADRO 1: CARACTERIZAÇÃO DOS PAINÉIS METÁLICOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS SISTEMA LEVE LIGHT STEEL FRAMING ESTRUTURA PRINCIPAL COM VEDAÇÃO EM PAINÉIS METÁLICOS SISTEMA TRIDIMENSIONAL CÉLULAS ESTRUTURAIS Fonte: divulgação. Fonte: Diagonal 80 AMID. Fonte: hdistillstudio.com. SISTEMAS DE MONTAGEM PAINÉIS MONTADOS NO LOCAL (STICK) PAINÉIS PRÉ-FABRICADOS OFF-SITE Renovação de fachada com painéis de ACM, montados no local, no edifício da FNDE em Brasília, 2011. Fonte: hunterdouglas.com.br TIPOLOGIAS PAINÉIS PERFILADOS (CHAPA ÚNICA) PAINÉIS COMPOSTOS (COMPÓSITOS OU SANDUÍCHE) COMPONENTES QUADROS COMPONENTES DE FECHAMENTO CAMADA DE ISOLAMENTO DISPOSITIVOS DE FIXAÇÃO E VEDAÇÃO

4. PAINÉIS METÁLICOS: TENDÊNCIAS INOVADORAS Quanto ao processo de montagem, os painéis metálicos podem ser classificados como: Painéis montados no local (stick): são aquelas onde as estruturas secundárias e os outros componentes do painel são montados no seu local definitivo; Painéis pré-fabricados off-site: são painéis modulares (módulos unitizados) produzidos em unidades fabris (na fábrica ou em canteiro de obras) e que são transportados para seu local definitivo com o auxílio de equipamento de transporte vertical (gruas, guindastes, etc.) e são fixados à estrutura do edifício por meio de dispositivos de fixação. Prospectando as inovações tecnológicas, identificou-se uma predominância nos sistemas construtivos que utilizam os processos de montagem de painéis metálicos in loco (stick). Mas os sistemas off-site mostram uma tendência expressiva quando os painéis metálicos estão associados aos vidros, assim como os sistemas tridimensionais (células). O uso das chapas metálicas perfiladas em cobre, zinco, titânio ou aço inox é predominante nas edificações de caráter monumental como marcos arquitetônicos de um lugar (figuras 6, 7, 8, 9 e 10). Por outro lado, há uma diversificação e difusão crescente no uso dos painéis compostos, não só de alumínio, mas de outros metais e suas ligas (figuras 11, 12 e 13). FIG. 11 - Painéis de Alumínio Composto (ACM): tecnologia difundida a partir da década de 70, chegou ao Brasil no final dos anos 80. Plaza Centenário ("Robocop"), São Paulo, 1988. Arquiteto Carlos Bratke. FIG. 12 - Fachada com painéis compostos de cobre (CCM). Edifício Ceridean Corporation, em Minneapolis, Estados Unidos. FIG. 13 - Fachada em painéis compostos de aço inoxidável (SCM - stainless steel composit material). Eight Spruce Street, Nova York (EUA), 2010. Arquiteto Frank Gehry.

Dentre as tendências para a inovação tecnológica dos painéis metálicos estão os sistemas de malha arquitetônica instalada em estrutura tensionada. A partir da sua produção como produto para a arquitetura, em meados dos anos 90, o tecido metálico em aço inoxidável como envolvente externa teve o seu uso intensificado como um sistema que pode ser usado para atender às solicitações de sombreamento, mantendo a ventilação e integração visual, ou apenas como componente estético. FIG. 14 - Aria rebort & Casino, US, 2009. Pelli Clarke Pelli Architects. Foto: Cambridge Archtectural. FIG. 15 Sede do Sebrae Nacional, Brasília DF, 2010. Projetado por Grupo SP e Luciano Margotto. FIG.15 Edifício Sede do CONFEA, Brasília DF, 2010. Projetado por Pedro Paulo de Melo Saraiva Arquitetos Associados. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A participação dos produtos metálicos no setor da construção civil no Brasil é ainda pequena. Por uma série de fatores conjunturais, tanto relacionados ao crescimento do país, à capacidade instalada das modernas siderúrgicas, como a fatores relacionados à mão-de-obra, os componentes metálicos estão mais competitivos para sua utilização como elemento estrutural ou vedação. Apesar de grande produtor, a maioria das tecnologias empregadas no Brasil é importada. Ainda, é predominante o uso da alvenaria como sistema de vedação em fachada, mesmo quando a estrutura é metálica, o que a princípio pode ser um contra-senso considerando que uma das vantagens da estrutura metálica é a sua leveza e rapidez, que não se verificada nos sistema de vedação em alvenaria. Nos países de clima frio é freqüente o uso de sistemas de fachadas leves em painéis metálicos, onde é mais fácil incorporar a camada de isolamento térmico, proporcionando assim uma melhor exposição às temperaturas. Nos países de clima quente, a fachada metálica pode ser adaptada ao conceito de fachada ventilada, permitindo um melhor desempenho térmico da envoltória.

Durante o processo de revisão bibliográfica deste trabalho com foco na identificação do potencial para o desenvolvimento tecnológico e a tendência para a inovação dos elementos de vedação constituídos de painéis metálicos, verificou-se a necessidade e a importância da sistematização na classificação e na caracterização dos sistemas de vedação em painéis metálicos. As inovações podem ocorrer tanto no sistema como um todo como em suas partes (componentes) ou, ainda, nas formas de produção ou montagem. A falta de informação sistematizada relacionada principalmente à caracterização dos elementos dificulta o acesso aos dados necessários para a especificação e aplicação no projeto. 6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADDIS, Bill. Edificações: 3000 anos de projeto, engenharia e construção. Tradução: Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2009. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT- NBR 15.575-4: Desempenho de edifícios habitacionais de até cinco pavimentos, Parte 4: Fachadas e paredes internas. São Paulo, 2008. AVELLANEDA, Jaume. Envolventes metálicas Revestimientos metálicos em fachadas y cubiertas. Tectonica n32. Envolventes metálicas. Madrid: ATC Ediciones S.L. mayo de 2010. BRUNA, P. J. V. Arquitetura, industrialização e desenvolvimento. SP: Perspectiva, 1976. CASTELO, João Luís de Couto. Desenvolvimento de modelo conceptual de sistema construtivo industrializado leve destinado à realização de edifícios metálicos. Tese de Mestrado. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Abril de 2008. HART, F., HENN, W. e SONTAG, H. El atlas de la construcción metálica. Barcelona: Gustavo Gili, 1976. MINISTÉRIO DAS CIDADES (MC). Diretriz SiNAT nº 003 - Diretriz para Avaliação Técnica de sistemas construtivos estruturados em perfis leves de aço conformados a frio, com fechamentos em chapas delgadas (Sistemas leves tipo "Light Steel Framing"). Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H). Sistema Nacional de Avaliação Técnica (SINAT). 2010. Disponível em http://www4.cidades.gov.br/pbqp-h/projetos_sinat.php. Acessado em fevereiro de 2012 OLIVEIRA, L. A. Metodologia para desenvolvimento de projeto de fachadas leves. Tese (Doutorado em Engenharia Civil). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2009. REIS, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. 4. ed. São Paulo, Perspectiva, 1970. SILVA, G. G. Arquitetura do Ferro no Brasil. 2.ed. São Paulo: Nobel, 1988. SILVA, M. G. e SILVA, V. G. Painéis de vedação. 2.ed. Rio de Janeiro: IBS/CBCA, 2004. (Série Manual de Construção em Aço).