Pensamento da juventude católica sobre sexualidade, reprodução e Estado laico (Brasil, 2005-2007) Pesquisas de Opinião Pública IBOPE/CDD-Br OPP/2007, OPP165/2006 e OPP008/2005 PESQUISA IBOPE OPP/2007 Entre novembro de 2006 a janeiro de 2007 o Ibope ouviu a opinião de 1989 jovens brasileiros, dentre os quais 1.268 católicos, residentes em 315 municípios. Nos registros recentes do Instituto não foi localizada outra pesquisa de opinião que tivesse ouvido maior número de jovens. Os pesquisados responderam a seis perguntas. Em duas pedia-se que os jovens manifestassem se: concordavam com o uso de preservativo para prevenir gravidez e doenças sexualmente transmissíveis e se o uso de contracepção impediria uma pessoa de ser qualificada como boa católica. As respostas à Questão 1B (Tabela Síntese Ibope OPP/2007, no final deste texto) sobre o uso de camisinha para evitar gravidez e DSTs, revelam altos índices de concordância 95% dos entrevistados com variação muito pequena, de dois pontos para mais e três para menos (de 92% a 97%) levando em conta variáveis como renda, grau de instrução e religião declarada. Sobre o uso de contraceptivos (Questão 2A), a grande maioria dos jovens católicos (88%) respondeu não perceber qualquer disjunção entre usar métodos contraceptivos e ser bom católico. É na variável instrução que se verifica maior variação no percentual (14 pontos) de respostas obtidas: o menor (80%) dos que concordam (que uma pessoa pode usar métodos contraceptivos e continuar sendo boa católica) está entre os respondentes que cursaram até a 4ª. Série do ensino fundamental e o maior (94%) entre os respondentes com ensino superior. As respostas sobre a prática de sexo antes do casamento e sobre autonomia dos jovens com menos de 18 anos para obter métodos contraceptivos apresentam maiores flutuações de acordo com o segmento observado. Ao considerar os pesquisados que discordam da afirmação as pessoas só devem ter relações sexuais após o casamento (Questão 1A) verifica-se enorme diferença (38 pontos percentuais) entre o pensamento de católicos (79%) e de evangélicos (41%), revelando uma maior sintonia do pensamento dos católicos com o de ateus (82%) e de praticantes de outras religiões (76%). Mais elevado ainda é o percentual de discordância com a idéia de evitar sexo antes do casamento entre católicos com instrução superior (85%), renda acima de cinco salários mínimos (84%) e do sexo masculino (82%). Maior proximidade desse ideal de castidade é constatada entre os evangélicos (41%) e entre respondentes de todas as religiões com renda até um salário mínimo (57%). Interessante observar que é nessa questão, dentre as seis pesquisadas, que se observa o maior diferencial (5 pontos percentuais) entre as duas faixas de idade, discordância de 74% e 69% dos respondentes com 18 e 24 anos e entre os 25 e 29 anos, respectivamente.
O total de jovens católicos favoráveis ao acesso de menores de 18 anos à contracepção, sem necessitar da autorização dos pais, chega a 81% e se mantém praticamente inalterado independente do sexo, da faixa de idade e até mesmo da religião declarada (Questão 1D). Os dois fatores que promovem variação significativa (de até 15 pontos percentuais) na defesa da autonomia dos jovens são o grau de instrução (75% e 90%, dos que tem educação fundamental e superior, respectivamente) e renda (72% dos jovens católicos com renda familiar até um salário mínimo e 87% daqueles cujas famílias tem ganham acima de cinco salários). Somam 71% os jovens católicos com educação superior que discordam da prisão de uma mulher que precisou recorrer ao aborto (Questão 1C). No total, 62% dos católicos e 52% dos evangélicos afirmam discordar da prisão de uma mulher nessa condição. Índices inferiores de discordância dos jovens católicos encontram-se entre os detentores de menor renda familiar (57%), menor grau de instrução (59%) e do sexo masculino (59%). Por fim, os jovens responderam (Questão 2B) se consideram que é atrasada a posição da igreja Católica, ao condenar o uso da camisinha, de outros métodos e do sexo antes do casamento. Mais uma vez, foi entre os católicos com instrução e renda superior (72% e 68%) que se observam os maiores percentuais dos que concordam com essa afirmação. Menores índices de concordância se verificam entre evangélicos (53%) e católicos com instrução até a 4ª. série do ensino fundamental (52%). Em síntese, as informações coletadas pela pesquisa permitem afirmar que: é grande a liberdade de pensamento dos jovens católicos brasileiros para se afastar dos ensinamentos da igreja, o que comprova inúmeras pesquisas anteriores do Ibope com outros grupos da população brasileira; a ampla aceitação do preservativo masculino e de outros métodos contraceptivos entre os jovens pesquisados, em torno de 96% no primeiro caso com variação máxima de apenas três pontos percentuais em todas as variáveis contempladas e de 88% no segundo, revelando variação pouco expressiva mesmo quando a pergunta propõe explicitamente a pertença católica; também é patente a discordância da maioria dos jovens católicos (ou não) com a legislação que pune com prisão a mulher que precisa recorrer a um aborto; elevada é a taxa dos que defendem o exercício pleno da sexualidade independente do casamento (79%) e a autonomia dos menores de 18 anos, para acesso à anticoncepção (82%); evitar de sexo antes do casamento foi a questão que revelou maior variação na opinião dos respondentes (38 pontos percentuais) entre católicos (79% discordam) e evangélicos (41% discordam); 25 pontos de acordo com a faixa de renda e 18 com o grau de instrução. Nas outras cinco perguntas levantadas pela pesquisa a diferença entre católicos e evangélicos não superou 10 pontos percentuais. No tocante ao acesso a métodos contraceptivos por jovens a diferença foi de apenas um ponto e no uso de camisinha para evitar gravidez e DSTs, quatro pontos. além da religião (como na opinião sobre sexo antes do casamento) o acesso à educação superior e renda familiar mais alta são as variáveis que favorecem opiniões menos restritivas
dos jovens em relação à sexualidade e ao aborto. Entretanto o grau de influência desses dois fatores não se mantém constante, em algumas questões é a renda e em outras é o grau de instrução que influi de maneira mais decisiva na opinião dos jovens, como se observa nos exemplos a seguir. de um lado, no julgamento que fazem da igreja Católica e da relação dos fiéis com ela, em respostas sobre a posição atrasada da igreja católica (Questão 2B) é o grau de instrução que se observa maior clivagem entre os dois grupos considerados (vinte pontos percentuais, enquanto nas duas faixas de renda consideradas a variação foi apenas de sete pontos). A mesma relação, de maior diversidade entre os dois graus de instrução (quatorze pontos versus apenas seis para renda), se verifica na opinião sobre uso de contracepção e a qualidade de boa católica (Questão 2A). de outro, na questão que aborda a sexualidade fora do casamento (Questão 1 A) a clivagem entre as duas faixas de renda (depois da variável religião) é a mais nítida observada, 25 pontos percentuais contra 18 no grau de instrução.
Tabela síntese Ibope OPP/2007 TOTAIS SEXO IDADE INSTRUÇÃO RENDA RELIGIÃO TOTAL N = 1989 CATÓLICOS N = 1268 MASCULINO Total N=976 Católicos N=626 FEMININO Total N=1013 Católicas N= 642 18 24 ANOS Total N =1229 Católicos N=781 25 29 ANOS Total N = 760 Católicos N = 487 SUPERIOR Total N = 263 Católicos N = 155 ATÉ 4ª. SÉRIE Total N = 242 Católicos N =174 + DE CINCO SM Total N = 331 Católica N = 188 ATÉ UM SM Total N = 319 Católica N = 221 CATÓLICA N = 1268 EVANGÉLICA N = 365 ATEU*N = 262 OUTRAS** N = 94* 1A ) As pessoas só devem ter relações sexuais após o casamento % de discorda, católicos (N 1.268) 79% 82% 75% 81% 76% 85% 67% 84% 59% - - - - % de discorda, total de entrevistados (N 1.989) 72% 75% 69% 74% 69% 79% 64% 78% 57% 79% 41% 82% 76% 1D ) Um jovem com menos de 18 anos tem direito de acesso à camisinha e outros métodos sem a autori-zação dos pais % de concorda, católicos (N 1.268) 81% 80% 81% 80% 81% 90% 75% 87% 72% - - - - % de concorda, total de entrevistados (N 1.989) 82% 82% 82% 82% 81% 90% 75% 88% 74% 81% 80% 87% 82% 1B) Com o uso da camisinha para evitar a gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis % de concorda, católicos (N 1.268) 96% 94% 98% 96% 95% 95% 95% 96% 96% - - - - % de concorda, total de entrevistados (N 1.989) 95% 94% 97% 95% 96% 95% 95% 95% 95% 96% 92% 97% 97% 1C) Com a prisão de uma mulher que precisou recorrer ao aborto % de discorda, católicos (N 1.268) 62% 59% 65% 61% 64% 71% 59% 65% 57% - - - - % de discorda, total de entrevistados (N 1.989) 60% 57% 62% 59% 62% 70% 58% 63% 56% 62% 52% 60% 63% 2A) Uma pessoa pode usar métodos anticoncepcionais e continuar sendo uma boa católica % de concorda, católicos (N 1.268) 88% 86% 90% 89% 87% 94% 80% 91% 86% - - - - % de concorda, total de entrevistados (N 1.989) 86% 82% 89% 86% 86% 91% 78% 87% 83% 88% 78% 86% 81% 2B) A Igreja Católica, ao condenar o uso da camisinha, ou outros métodos e sexo antes do casamento assume uma posição atrasada % de concorda, católicos (N 1.268) 62% 59% 65% 61% 64% 72% 52% 68% 61% - - - - % de concorda, total de entrevistados (N 1.989) 61% 59% 63% 60% 63% 73% 52% 67% 61% 62% 53% 65% 64% Fonte: IBOPE/2007, para Católicas pelo Direito de Decidir, CDD-Br, novembro, dezembro de 2006 e janeiro de 2007. Destaque para percentuais superiores e inferiores de respostas obtidas, segundo variáveis selecionadas. * Na coluna Ateu também estão incluídos os entrevistados que declararam ser agnósticos ou religiosos sem seguir nenhuma religião ** Na coluna Outras religiões estão incluídos os entrevistados que se declararam seguidores das seguintes religiões: Protestantismo histórico, Afro-Brasileiras (Umbanda, Candomblé), Espírita/ Kardecista, Testemunhas de Jeová, Outras religiões com menos de 1%
Duas pesquisas anteriores evidenciaram o pensamento democrático e progressista dos jovens católicos brasileiros PESQUISA IBOPE OPP165/2006 Tabela (2006) Conhecimento da legislação brasileira O(A) sr(a) saberia dizer em que situações, segundo a lei brasileira, ocorre o chamado aborto legal, isto é, quando não se pune as mulheres e os médicos que realizam um aborto? TOTAL Idade (percentuais dos que indicaram essas respostas, estimulados com cartão) N = 2002 16-24 anos 50 e mais Quando a gravidez resulta de estupro 56% 63% 43% Vida da mulher corre perigo 44% 46% 41% Quando o feto não tem chance de sobreviver ao nascimento 45% 48% 39% Fonte: IBOPE & Católicas pelo Direito de Decidir, CDD-Br, PESQUISA IBOPE OPP165, julho de 2006 Em outra pesquisa Ibope (2005), pesquisados se declararam favoráveis à tomada de decisões pelo presidente da republica (85%) e pelos deputados e juízes (86%). Interessante observar que entre os jovens católicos verifica-se uma diferença de 20 pontos percentuais a mais que as pessoas com mais idade de aprovação ao estado laico, respectivamente 91% (16 a 24 anos) e 71% (50 anos e +). Tabela (2005) Tomada de decisões dos representantes do poderes Executivo, Legislativo e Judiciário (exclusivamente para católicos) TOTAL Idade Renda em SM Baseados na diversidade de opiniões Só católicos N=1293 16-24 anos 50 e mais + de 5 salários Até 1 salário Presidente da República 85% 91% 71% 92% 73% Membros do legislativo e judiciário 86% 93% 74% 75% 98% Fonte: IBOPE OPP008/2005, para Católicas pelo Direito de Decidir, CDD-Br, fevereiro de 2005