Miguel Relvas Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e dos Assuntos Parlamentares Plano Nacional de Ética no Desporto Grande Auditório do Teatro Camões, Lisboa 27 de Fevereiro de 2012 1
Minhas senhoras e meus senhores: Se a sabedoria de Pierre de Coubertin, o grande impulsionador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, fosse escutada em devido tempo, o mundo teria sido poupado às duas guerras mais devastadoras da história, ocorridas no século XX. Coubertin, mais do que impulsionador do verdadeiro espírito desportivo consagrado no juramento olímpico era portador de um verdadeiro projecto civilizacional que nos transmitiu como legado. Um projecto que nos ensina a saber ganhar e saber perder nas pistas, nas piscinas e nos estádios. Um projecto que sublinha a importância da preparação, do treino e do esforço acima da vã cobiça de troféus. Uma mensagem civilizacional que nos reconduz a esta evidência fundamental: não existe genuína competição divorciada de valores éticos. O desporto deve ser uma lição de vida, funcionando como elemento agregador e mobilizador de uma sociedade. Algo que um cineasta de craveira, como Clint Eastwood, tão bem soube expressar no seu filme Invictus ao sublinhar como a seleção de râguebi da África do Sul, graças ao engenho 2
político de Nelson Mandela, serviu de elemento unificador de etnias e culturas, conferindo identidade a um país para além das turbulências da história. É esta também a missão do desporto, na sua dimensão inspiradora e formativa, tanto ao nível individual como das grandes aglomerações humanas: contribuir para um mundo mais justo e mais fraterno. Um mundo em que sucessivas barreiras vão sendo derrubadas. As barreiras da ignorância. As barreiras da intolerância. As barreiras do preconceito. Num ano que ficará marcado pelos Jogos Olímpicos de Londres e pelo Campeonato Europeu de Futebol, dois dos principais cartazes de promoção e valorização do desporto à escala universal, importa mais que nunca salientar a importância da ética na prática desportiva através da promoção de valores como a lealdade e a transparência pilares do desportivismo. Consciente das responsabilidades que lhe cabem neste domínio, o Governo lança hoje o Plano Nacional de Ética no Desporto, destinado aos cidadãos portugueses na sua globalidade e em particular às crianças e jovens. 3
Mais do que um conjunto de normas e recomendações, trata-se de um amplo programa de iniciativas à escala nacional dinamizado pelo Instituto Português do Desporto e Juventude. Este plano inclui campanhas de educação e formação, ações de divulgação e sensibilização da opinião pública, concursos e outras iniciativas. Em colaboração com entidades desportivas incluindo federações e o movimento associativo e os mais diversos representantes da sociedade civil e organismos públicos, designadamente câmaras municipais. O Plano Nacional de Ética no Desporto dispõe de uma Comissão Científica de Honra, a que se dignou presidir Sua Excelência o Sr. Presidente da República, e em cujos participantes me permito destacas essas figuras ímpares do desporto nacional que são Eusébio, Rosa Mota, Carlos Lopes e o professor Mário Moniz Pereira. A criação do Provedor da Ética no Desporto, funções que serão desempenhadas pelo Juiz Desembargador Sérgio Abrantes Mendes, figura de inegável prestígio, e a criação de uma Bolsa de Embaixadores da Ética Desportiva composta por personalidades de reconhecido mérito na sociedade portuguesa, incluindo praticantes de diversas modalidades, estão igualmente 4
contempladas nesta iniciativa, que pretende incorporar as melhores práticas vigentes na União Europeia. Este é, sublinho, um imperativo da própria lei fundamental portuguesa. Com efeito, no seu artigo 79º, a Constituição da República estipula que incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações e colectividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a difusão da cultura física e do desporto, bem como prevenir a violência no desporto. Este Plano não se esgota num curto prazo: é lançado por um horizonte de quatro anos, sendo avalizado anualmente e publicitado por um relatório e contas. E terá desde o início uma perspectiva multidisciplinar e interministerial, numa articulação ativa com o Ministério da Educação e Ciência e o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social, além de diversas Secretarias de Estado. Minhas Senhoras e Meus Senhores: Shimon Peres, Presidente de Israel e galardoado com o Prémio Nobel da Paz, incansável promotor da solidariedade entre os povos, deu-nos esta definição 5
lapidar: O desporto é a única guerra desejável. Luta-se mas não se mata. Uma guerra simbólica, com adversários mas sem inimigos. Uma confrontação que visa, como fim supremo, pôr termo a todas as guerras. Para honrar o nobre legado de Coubertin, que foi um verdadeiro cidadão do mundo. O Governo considera, como meta prioritária, a erradicação da violência no desporto. Pretendemos enaltecer e defender valores como a igualdade de oportunidades, a interajuda, o companheirismo, a tolerância, o diálogo intergeracional, o respeito integral pelas regras e pelos outros como condições de salvaguarda integral do espírito desportivo. Lançaremos campanhas publicitárias e ações de sensibilização em escolas, clubes e estádios contra toda a discriminação em função de idade, sexo, convicções políticas ou religiosas, condição física ou orientação sexual. Contra a dopagem, a corrupção, o racismo, a xenofobia e a comercialização excessiva que tantas vezes perverte a essência do desporto. Apelo desde já à participação de todos neste esforço conjunto pela promoção da ética como requisito central e dominante de toda a prática desportiva. Um esforço que deve mobilizar os mais diversos agentes sociais. Incluindo políticos de todos os quadrantes, professores, jornalistas, médicos e farmacêuticos. 6
Na defesa do jogo limpo e do cumprimento das regras, sem batotas de qualquer espécie, têm particulares responsabilidades os atletas de alta competição. Mas este plano de promoção da ética desportiva destina-se igualmente a todos os praticantes das mais simples atividades recreativas jovens em formação hoje, portugueses esclarecidos e responsáveis amanhã. No cumprimento de um dever irrevogável de serviço público, este pretende ser um contributo para a formação de cidadãos mais conscientes, mais responsáveis, mais ativos, mais aptos para enfrentar desafios. Em síntese, pretende contribuir para a formação de cidadãos mais livres. Tenho dito 7