Os Hospitais da Colina de Sant Ana Uma rota urbana



Documentos relacionados
Os Hospitais da Colina de Sant Ana Uma rota urbana

O Património da Medicina e da Saúde em Lisboa. A colina de Sant ana.

Museu Nacional da Arte Antiga

ENSINO PRÉ-ESCOLAR. Visitas orientadas À descoberta do MCCB

Um projecto central na reabilitação da frente ribeirinha

COLINA DE SANTANA. Hospitais Civis de Lisboa Acesso da população ao SNS Assembleia Municipal de Lisboa Janeiro 2014 Pilar Vicente

3.3 O Largo do Carmo e seu entorno

PROJECTO DE LEI N.º 307/VIII DEFINE E REGULA AS HONRAS DO PANTEÃO NACIONAL

Ciclo Obra Aberta * Visitas guiadas a obras da autoria do arquitecto José Marques da Silva

Ficha Técnica: Design e Impressão Mediana Global Communication

memmolde Norte: uma contribuição para a salvaguarda da memória colectiva da indústria de moldes do Norte de Portugal

Património Arqueológico do Médio Tejo: Aplicação em Sistemas de Informação Geográfica

Museu de Arte Sacra da Sé

Arte e Medicina - Representação do Corpo Humano na Colecção Ceroplástica do Museu Sá Penella, Hospital dos Capuchos

Proposta para a apresentação ao aluno. Apresentação Comunidade 1

CANDIDATURA À DIRECÇÃO DA UNIDADE DE INVESTIGAÇÃO DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE SANTARÉM

centro para as artes, ciência e tecnologia investigação, inovação e sustentabilidade

ESPAÇOS E ACTORES DA CIÊNCIA EM PORTUGAL (XVIII-XX)

Projecto de Candidatura da Universidade de Coimbra a Património Mundial

BOAS FÉRIAS, LÊ, JOGA E DIVERTE-TE!

Primeira Unidade Empresarial de Serviços Partilhados em Saúde arranca em Portugal

Programa do Serviço Educativo. 2.º Semestre 2008

CASAS RELIGIOSAS DE SETÚBAL E AZEITÃO

Autores: Fatima Proença, ACEP / Luís Vaz Martins, LGDH. Lisboa, 17 de Setembro de 2015

Separação entre Estado e Igreja (20 de Abril de 1911) Cota CMPV/0015 Diários do Governo

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Fica o convite para mais um ano de experiências interativas e sensoriais num Museu que é de todos e para todos.

Cronologia do Mosteiro de S. Bento da Saúde

EQUIPA DE FORMADORES (2011/2012)

Folha Informativa nº 121

Objectivos Proporcionar experiências musicais ricas e diversificadas e simultaneamente alargar possibilidades de comunicação entre Pais e bebés.

RIBEIRINHA DAS ORIGENS À ACTUALIDADE

Museu Nacional de Arqueologia

O NOSSO BAIRRO É LINDO!

Prova bimestral 4 o ANO 2 o BIMESTRE

Casas-Museu dos Médicos em Portugal

O NOVO HOSPITAL DE TODOS OS SANTOS. (Palestra proferida na Cerimónia de Assinatura do Protocolo do Hospital de Todos os Santos no dia )

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

10. EDIFÍCIO NA ESTRADA DO CEMITÉRIO, N.º 6 (CASA AZUL)

Desejamos a todos um excelente ano letivo!

RELATÓRIO DA VISITA REALIZADA AO MUSEU NACIONAL DO AZULEJO. 7 de março de 2012

PROVA DE HISTÓRIA 2 o TRIMESTRE 2012

2.ª CONFERÊNCIA MOBILIDADE URBANA

AS FONTES DE INFORMAÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA. MÓDULO III Bolsas e Estágios

PROJECTO DE RESOLUÇÃO N.º /XI

CURSO LIVRE HISTÓRIA DO ENSINO ARTÍSTICO EM PORTUGAL PROGRAMA Francisco da Holanda e a sua perspectiva sobre o ensino artístico.

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Centro de Competência de Artes e Humanidades PLANO DO CURSO INTENSIVO DE VERÃO PARA LUSO-DESCENDENTES

FLORENÇA. Data do Sec. I a. C.

AS NOSSAS EMBARCAÇÕES

Ivo Poças Martins, Fevereiro Texto da proposta seleccionada do concurso Intervenções na Cidade Trienal de Arquitectura de Lisboa

Seminário A Qualidade nas Intervenções de Conservação, Reabilitação e Valorização das Casas Antigas

MUSEU DO AZULEJO APRESENTAÇÃO

INTERVENÇÃO DO SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO E DA DEFESA NACIONAL PAULO BRAGA LINO COMEMORAÇÕES DO DIA DO COMBATENTE, EM FRANÇA

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras assinalou da Sede do Serviço no Tagus Park.

PROJECTO DE LEI N.º 244/IX ELEVAÇÃO DA POVOAÇÃO DE SÃO JOÃO DA TALHA À CATEGORIA DE VILA. 1 - Localização. 2 - Razões de ordem histórica

1. António Costa promete mudança política, Antena 1 - Notícias,

Do Jornalismo aos Media

II Jornadas de Museologia da Chapelaria Brincar com Património

GRITO PELA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Senhor Ministro da Defesa Nacional, Professor Azeredo Lopes, Senhora Vice-Presidente da Assembleia da República, Dra.

MINISTÉRIOS DO AMBIENTE, DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL E DA ECONOMIA E DA INOVAÇÃO

Workshop O Poder dos Pequenos e Médios Estados na Grande Guerra: Comparação Portugal-Brasil 8 de Abril de Instituto da Defesa Nacional.

PROJETO ACERVO: INFORMAÇÕES HOSPITAIS COLÔNIAS. 1 - Nome da Instituição: Hospital Colônia Itapuã (HCI) 2 - Histórico:

O Desafio da Recuperação Económica e Financeira. Prova de Texto. Nome da Equipa GMR2012

Exma. Senhora Presidente da Assembleia Municipal, Exmas. Senhoras e Senhores Deputados Municipais,

4 de novembro Museu de Cerâmica de Sacavém JORNADAS SIPA 2011 João Paulo Martins MÓVEIS MODERNOS

Panteão Nacional Igreja de Santa Engrácia Lisboa

MBA IBMEC 30 anos. No Ibmec, proporcionamos a nossos alunos uma experiência singular de aprendizado. Aqui você encontra:


Apesar de colocar-se no campo das Engenharias, profissional destaca-se, também, pelo aprimoramento das relações pessoais

Você conhece a Medicina de Família e Comunidade?

ENTREVISTA Coordenador do MBA do Norte quer. multiplicar parcerias internacionais

MUSEU NACIONAL DE HISTÓRIA NATURAL E DA CIÊNCIA

NO CAMINHO PARA CASA ÂNGELA SALDANHA doutoramento em educação artística FBAUP

1 Doutora em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Professora Adjunta I do Núcleo de

Sr. Presidente, Senhoras e senhores Deputados,

Como localizar um documento na biblioteca!

Estudo Dirigido - RECUPERAÇÃO FINAL

CURSOS DE FORMAÇÃO COM ANIMAÇÃO NO PLANO DE ESTUDOS


CAMPANHA NACIONAL HOSPITAIS SEGUROS FRENTE AOS DESASTRES

António Barros Veloso é licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Coimbra com a classificação final de 15 valores.

C I R C U I T O S 3 C A P I T A I S

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Irmã Dulce Dados retirados de <

Pousada de Cascais. Fortaleza da Cidadela

Plano de Actividades do CEA para 2006

Câmara Municipal de Lisboa

Tendo isso em conta, o Bruno nunca esqueceu que essa era a vontade do meu pai e por isso também queria a nossa participação neste projecto.

SEMINÁRIO A EMERGÊNCIA O PAPEL DA PREVENÇÃO

O Mundo industrializado no século XIX

Do Latim civitas = condição ou direitos de cidadão ; de cives = homem que vive em cidade ; urbes = área urbanizada; Do Grego polis = cidade-estado;

USANDO A REDE SOCIAL (FACEBOOK) COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM

REDE MUNICIPAL DE PISCINAS DO PORTO

T4 Duplex Jardins do Palacete

Prova bimestral. história. 1 o Bimestre 5 o ano. 1. Leia o texto a seguir e responda

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Doutoramento em História e Filosofia das Ciências

Transcrição:

Os Hospitais da Colina de Sant Ana Uma rota urbana A medicina será talvez a sciencia mais carregada de tradições, porque é inerente à própria natureza humana o evitar o sofrimento. Palavras sábias, escritas em 1912 por Alberto Mac Bride, cirurgião do banco do Hospital de S. José. Esta ciência, carregada de tradições, deixou vestígios por todo o país, particularmente na zona antiga de Lisboa. O casco urbano entre a Avenida da Liberdade e a Avenida Almirante Reis, ou seja uma das colinas de Lisboa, está pejada de património histórico, artístico e científico. Os hospitais da Colina de Sant Ana Lisboa Este património poderá ser objecto de mil rotas. Os vestígios materiais e imateriais multiplicam-se indefinidamente. Hoje vamos percorrer um caminho que nos conduz a muitas portas que escondem séculos de história e de vida, mas que falta desvendar estudar e divulgar. Tudo terá começado, no início do séc. XIV, com a instalação da Gafaria de S. Lázaro, por iniciativa da Ordem dos Hospitalários. Desta leprosaria constava uma cerca murada com capela, casa dos gafos e cruzeiro. 1

Cruzeiro da Gafaria de S. Lázaro. Depositado no Museu do Convento do Carmo Mas no Rossio, em 1492, no enfiamento da Igreja de S. Domingos, D. João II lança a primeira pedra do Hospital Real de Todos-os-Santos (HRTS). Será uma obra do regime e tornar-se-á num símbolo na inovação em medicina, arquitectura e organização. Hospital Real de Todos-os-Santos (1492-1775) Este local foi o ponto de encontro dos santos padroeiros de dezenas de pequenas instituições que acolhiam pobres e doentes. Será também aqui o nosso ponto de encontro e de partida para a peregrinação à Colina de Sant Ana. Em 1775, com o terramoto, o HRTS sofre grandes danos e será substituído, anos mais tarde, pelo Hospital Real de S. José. Este hospital foi ocupar o edifício do Colégio de Santo Antão-o- Novo (1579-1759), colégio jesuíta que, segundo Henrique Leitão, foi uma das mais importantes instituições de ensino da capital e da história do nosso país. 2

Colégio de Santo Antão-o-Novo Hospital de S. José - entrada principal A Aula da Esfera deste Colégio, hoje Salão Nobre do Hospital de S. José, é considerada pelos estudiosos da história da ciência um grande pólo europeu onde se ensinava, entre outras disciplinas: cosmografia, astronomia, geometria, aritmética, náutica, óptica e engenharia militar. Hospital de S. José. Painel de azulejos da Aula da Esfera O Hospital Real de S. José herdou não só o saber de 283 anos do Hospital Real de Todos-os- Santos mas também 180 anos da história de ensino jesuíta. Estamos perante um património material e imaterial de duas instituições maiores da ciência e do ensino em Portugal. A Capela do Hospital, antiga sacristia da igreja do Colégio, é monumento nacional e o conjunto edificado do antigo colégio foi classificado como imóvel de interesse público. Sacristia da Igreja do Colégio de Santo Antão-o-Novo. Actual Capela do Hospital de S. José 3

O Hospital de S. José, irá honrar, durante 233 anos, a memória da herança recebida tendo-se revelado uma instituição de grande prestígio científico. Em 1857, é anexado ao Hospital de S. José o edifício do Mosteiro de Nossa Senhora do Desterro, mesmo ali ao lado, que durante 164 anos tinha pertencido à Ordem dos Frades Bernardos e passa a chamar-se Hospital do Desterro (1857-2007). Hospital de Nossa Senhora do Desterro Para além deste passado conventual, o Hospital do Desterro, encerrado em Março de 2007, esteve ao serviço dos doentes durante 150 anos e destacou-se particularmente na disciplina de Dermatovenereologia. Em 1955 foi aí criado o Museu da Dermatologia Portuguesa, Dr Sá Penella. Do espólio deste museu ressalta a Colecção de Figuras de Cera representando patologia dermatológica que pela sua qualidade e por ser única em Portugal deveria ser considerada património nacional. Figura de cera da Colecção de Dermatologia Continuando o percurso, encontramos, à esquerda, o Instituto de Medicina Legal de Lisboa (1879). A este encostado, o edifício da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, 1ª Faculdade de Medicina de Lisboa (1911-1953). Do outro lado da rua, os pavilhões do Instituto Bacteriológico de Câmara Pestana (1902-2008). 4

Instituto de Medina Legal Faculdade de Ciências Médicas Instituto Bacteriológico Câmara Pestana Atravessando o Campo Mártires da Pátria avistamos o Hospital de Santo António dos Capuchos. Hospital de Santo António dos Capuchos. Fachada da Igreja Este hospital, integrado nos Hospitais Civis de Lisboa (HCL) em 1928, é constituído por diversos edifícios e de várias épocas: edifícios do Convento, do Asilo da Mendicidade de Lisboa e do Palácio Mello. Este último alberga nos seus salões, revestidos a azulejo, uma enfermaria de doentes de cirurgia. 5

Hospital S. António dos Capuchos: Painel de azulejos do Palácio Mello Desde 1997 que as caves do Palácio Mello albergam um espólio científico a que foi dado o nome de Núcleo Museológico do Hospital de Santo António dos Capuchos. Caminhando em direcção ao Hospital Dona Estefânia somos surpreendidos pelos altos muros do Hospital Miguel Bombarda (1848). Esta instituição, antigo Convento da Congregação da Missão de S. Vicente de Paulo, posteriormente convertido no 1º hospital psiquiátrico em Portugal com a designação de Hospital de Alienados em Rilhafoles, alberga um património histórico assinalável. Hospital Miguel Bombarda. Pavilhão de Segurança Após este momento inesperado poderemos retomar o percurso e chegar ao Hospital Dona Estefânia (1877), única instituição da Colina construída de raiz como hospital. 6

Hospital de D. Estefânia Se continuarmos um pouco mais chegamos ao Hospital de Arroios (1892-1992), edifício já em elevado estado de degradação. Este hospital foi instalado no antigo Convento de Freiras Concepcionistas Franciscanas (1756-1890), anterior Colégio Jesuíta de Formação de Missionários para o Oriente (1756-1755). Hospital de Arroios Regressando e descendo a Colina de Sant Ana passamos pelo Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto (1889) com destino ao Hospital de Santa Marta. O Hospital de Santa Marta (1903) ocupou o antigo Convento de Religiosas Clarissas de 2ª regra sob a invocação de Santa Marta. A igreja deste mosteiro, classificada como imóvel de interesse público é considerada por Victor Serrão um dos mais saborosos exemplares maneiristas que subsistem em Lisboa. 7

Hospital de Santa Marta O Hospital de Santa Marta exerceu as funções de hospital escolar até 1953, ano em que a Faculdade de Medicina do Campo de Santana foi transferida para as instalações do Hospital de Santa Maria. Em 1957 este hospital recebe o primeiro museu da história da medicina em Portugal, designado Museu dos HCL - Doutor Alberto Mac Bride. Museu dos HCL Doutor Alberto Mac-Bride Mac (Hospital de Santa Marta) Se em Portugal, durante séculos, a vida da cultura, da educação e da ciência esteve intimamente ligada à vida do cristianismo e à história da Igreja, os HCL tiveram o privilégio de ser os sucessores de instituições religiosas que, no conjunto, somam cerca de 1200 anos de vida. Durante mais de 5 séculos estas instituições foram também actores da história social e política da cidade e do país: nos descobrimentos, na ocupação filipina, nas invasões francesas, no liberalismo, na 1ª república. Dessas intimidades existem vestígios, memórias, património. Para além do rico e diverso património cultural construído e classificado, há ainda um património científico que se inicia no Hospital Real de Todos-os-Santos e se continua na Escola Régia de Cirurgia do Hospital de S. José, na Escola Médica Cirúrgica de Lisboa, entre outras instituições. Os nomes maiores da medicina portuguesa e estrangeira com influência em Portugal, de finais do século XV a meados do século XX, passam por estas instituições. Apenas alguns vultos de 8

médicos portugueses que ilustram esta afirmação: Bernardino António Gomes, Sousa Martins, Curry Cabral, Miguel Bombarda, José Gentil, Egas Moniz (Prémio Nobel da Medicina). Com o anúncio da construção de um novo hospital na zona oriental da cidade de Lisboa vão deixar de funcionar mais quatro destes hospitais. O funcionamento destes hospitais trouxe, no ano de 2009, cerca de 20 000 pessoas por dia à colina de Sant Ana. Se alguns membros da Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional dos Monumentos e dos Sítios (ICOMOS) consideram a situação actual do património público português muito preocupante quando se inicia um processo de alienação de património público de que não havia memória desde a privatização dos bens do clero e da igreja, no século XIX e no início da República (Jornal Público,23-05-08), vem-nos imediatamente à memória os edifícios dos hospitais de Arroios e do Desterro. Também os hospitais Miguel Bombarda, S, José, Santo António dos Capuchos e Santa Marta já foram vendidos à empresa Parpública/Estamo/Sagestamo, holding pública que tem por missão pôr no mercado o património público excedentário. Poderíamos pensar que se 4 destes hospitais têm edifícios classificados, o Igespar garantiria a sua protecção. Quanta ingenuidade! Então, que fazer com esta herança? Alberto Mac-Bride foi o primeiro a responder, em 1912: é por isso que eu peço para que nelle (Hospital de S. José) que possui as grandes tradições da medicina nacional, as effective e se esforce para as perdurar e que numa Sala se vão coleccionando todos os objectos, livros de registo que os tem preciosos, não só para o estudo da história da medicina, mas dos costumes populares, livros antigos escritos pelos seus clínicos, papeletas, antigos ferros que possua, alguns d invenção muito original, tudo quanto seja interessante para o estudo da evolução da medicina nacional Será o primeiro museu da história médica, e estou certo, mercê das condições do Hospital de S. José, o único possível de realizar em Portugal Luis Campus e Cunha, em 2010, opina: Avançar com auto-estradas, TGV, ponte sobre o Tejo, aeroporto, implica não haver recursos para tapar um buraco numa estrada secundária, reparar uma ponte, manter um monumento ou fazer um jardim Se fosse líder de um partido propunha como objectivo nacional: fazer de Portugal um país mais bonito e mais agradável para se viver. Fazer o jardim, requalificar os centros das grandes cidades, manter o património, construir o património cultural do futuro, arranjar as pequenas vias de comunicação, reparar as pontes medidas que criariam emprego, viabilizariam muitas pequenas empresas e não implicariam a paralisia do país. Antes que este processo de alienação do futuro do país atinja este património, não há tempo a perder para o inventariar, estudar, divulgar e defender. Senhores arquitectos, urbanistas, universidades, centros de investigação, artistas, associações de defesa do património, cidadãos de Lisboa, do Mundo, contribuam com estudos, projectos, 9

ideias Nós sim somos os herdeiros deste património! Célia Pilão Administradora hospitalar Comunicação apresentada no Seminário: Património Hospitalar de Lisboa: Que futuro? Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa 2 de Dezembro de 2010 Bibliografia: -Cunha, Luis Campos, Tsunami, in Jornal Público, 1 de Outubro de 2010 -Leitão, Henrique. Spaera Mundi: A Ciência na Aula da Esfera, Catálogos, Biblioteca Nacional, Lisboa, 2008. -Leone, José. Subsídios para a História dos Hospitais Civis Lisboa e da Medicina em Portugal, 1948-1990, Ed. da Comissão Organizadora das Comemorações do V Centenário do Hospital de Todos-os- Santos, Lisboa, 1992. Mac-Bride, Alberto, Actualidades A História da Medicina em Portugal. Revista A Medicina Contemporânea (Fevereiro 1912), Ano 30, nº7. Salta, Ana Maria, FACTORES ESTRUTURANTES DA COLINA DE SANT ANA em Lisboa, séculos XIV a XVI. Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Desenho Urbano, ISCTE, Lisboa 2001. Serrão, Vitor, O Arquitecto maneirista Pedro Nunes Tinoco Novos documentos e obras (1616-1636) -Veloso, A.J.Barros e Almasqué, Isabel, Hospitais Civis de Lisboa - História e Azulejos, Ed. Inapa, Lisboa,1996. 10

11