6. A Trindade no Novo Testamento

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Transcrição:

6. A Trindade no Novo Testamento Pr Luciano R. Peterlevitz Tema e assunto Nessa aula, estudaremos acerca da Trindade no Novo Testamento. Os seguintes tópicos serão abordados: A revelação da Trindade no Novo Testamento. Uma formulação da doutrina da Trindade. Objetivos Após estudar essa lição você será capaz de: Reconhecer a Trindade no Novo Testamento. Definir (de forma limitada) a doutrina da Trindade de acordo com a Escritura. O Pai, o Filho e o Espírito Santo no Novo Testamento De acordo com o Novo Testamento, as três pessoas da Trindade apresentam igualmente qualidades divinas: 1 Nomes divinos Atributos divinos Obras de Deus Atribuição de louvor Pai Mt 5.45; 6.6-15; Mc 14.36; Jo 5.19-22 Mt 11.25; Mc 14.36; Jo 17.11 Jo 5.37; 1Co 8.6; 1Pe 1.3 Jo 4.23 Filho Mt 1.23; 12.8; Mc 2.28; Jo 1.1; 20.28; Rm 9.5; 14.9; Tt 1.3; 2.13; 1Jo 5.20; Ap 1.8 Mt 18.20; 28.18-20; Jo 1.48; 5.26; 8.46; 16.30; 1Co 1.24; Ef 1.22; Cl 1.17; Hb 1.3,8; 13.8; 1Pe 1.19 Mt 1.21; Mc 2.7; Jo 1.3; 5.17; 6.39; Cl 1.16; Hb 1.3,10 Mt 14.33; Jo 5.23 Espírito Santo At 1.8; Jo 15.26; Rm 8.14 Lc 1.35,37; 11.20; Jo 14.26; 16.13; Rm 8.2; 1Co 2.10-12; Hb 9.14 Mt 12.28; Jo 3.5; At 28.25; 2Te 2.13; 1Pe 1.2; 2Pe 1.21 Mt 28.19; 1Co 3.16; Jo 4.24 1 Franklin Ferreira, Curso Vida Nova de Teologia Básica: teologia sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2013), p. 71. 1

06. A TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO Duas afirmações importantes O Novo Testamento faz duas afirmações muito importantes sobre Deus: Primeira afirmação: Deus é um. O Senhor Deus é o único Deus. Em Mr 12.29, Jesus cita Dt 6.4, reiterando que o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Em 1Co 8.4, Paulo afirma que não há outro Deus, senão um só. Segunda afirmação: Deus se revela em três Pessoas. Em 1Co 8.4-6, onde Paulo afirma que há um só Deus (v.4), ele também diz que há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual existem todas as coisas, e por ele nós também (v.6). Quando descreveu o Deus verdadeiro, empregou a palavra theos em referência ao Pai, e kyrios em referência à pessoa de Jesus Cristo. Evidentemente ele cria que ambas as pessoas são divinas, mesmo que seja um. 2 Paulo diz que em Cristo existem todas as coisas, significando assim que ele não é criatura, mas Criador de todas as coisas. De fato, Cristo é Deus, à semelhança do Pai. A diversidade das Pessoas pode ser observada em outros textos do Novo Testamento. É o que passaremos analisar, a partir de agora. A Trindade no batismo de Jesus Mt 3.16,17; Mc 1.10-11; Lc 3.21-22 As três Pessoas da Trindade são mencionadas no batismo de Jesus: Assim que Jesus foi batizado, saiu da água. Naquele momento os céus se abriram, e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba e pousando sobre ele. Então uma voz dos céus disse: "Este é o meu Filho amado, em quem me agrado. (Mt 3.16,17). Conforme está escrito, o Espírito desceu como uma pomba sobre o Filho, e a voz do Pai foi ouvida dos céus. Portanto, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são apresentados na narrativa do batismo de Jesus. A Trindade na Grande Comissão de Mateus 28.19 Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo (Mt 28.19). É notável que a palavra nome está no singular, e ocorre uma única vez no texto, em referência ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. O texto não diz batizando-os no nome do Pai, no nome do Filho e no nome do Espírito Santo. Antes, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são apresentados sob um só nome. Há apenas um nome para o Deus que subsiste em três pessoas. 3 Erroneamente muitos acreditam que as palavras em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo são uma fórmula batismal trinitariana inventada pela Igreja por volta do 4º século d.c., depois que o Concílio de Constantinopla (381) definiu a doutrina da Trindade. Eles argumentam que nem Eusébio e nenhum dos pais da igreja primitiva citaram essa fórmula trinitariana. Afirmam ainda que a igreja primitiva do livro de Atos batizava em nome de Jesus Cristo (2.38; 8.16; 10.48; 19.5), e, portanto, não há 2 Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica, e apologética para o contexto atual (São Paulo: Vida Nova, 2007), p. 176. 3 Leandro Lima, A Trindade: da teoria à prática. Disponível em http://www.ipsantoamaro.com.br/artigos/a-trindade-da-teoria-a-pratica.html. Acessado em 03.03.2016. 2

nenhuma menção da fórmula batismal trinitariana em outros textos do Novo Testamento. Ou seja, as palavras em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo teriam sido inseridas pela Igreja no Evangelho de Mateus, com o suposto objetivo de provar a doutrina da Trindade. Nos dias de hoje, muitos usam esse argumento para dizer que a Trindade não é ensinada nas Escrituras, antes, é fruto de uma elaboração da igreja do 4º século. Respondemos isso da seguinte maneira: 1. A doutrina da Trindade é amplamente evidenciada nas Escrituras, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. Expressões trinitarianas que se referem ao Pai, ao Filho e ao Espírito Espirito aparecem em vários outros textos (1Co 12.4-6; 2Co 13.14; Ef 4.4-6; 2Ts 2.13,14; 1Pe 1.2). 2. A ausência da fórmula batismal trinitariana no livro de Atos dos Apóstolos demonstra que as palavras em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo não são uma instrução acerca das palavras que devem ser usadas no momento do batismo, antes, Jesus simplesmente estava indicando que, pelo batismo, a pessoa batizada passaria a ser possessão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 4 Desde cedo a igreja compreendeu que a instrução de Jesus em Mt 28.19 não era uma fórmula obrigatória a ser usada no batismo. 5 Por essa razão, a igreja de Atos batizava em nome de Jesus Cristo. Mas, dizer que a fórmula batismal trinitariana não é obrigatória não significa dizer que ela é errada, pois não há nenhum problema teológico no uso das palavras em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo no momento do batismo. Portanto, a expressão em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo deve ser considerada como palavras do próprio Jesus, e não como uma inserção posterior do século 4º. As palavras de Jesus apontam claramente a existência das três pessoas da Trindade. A Trindade no Evangelho de João O Evangelho de João apresenta Jesus no primeiro verso: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (Jo 1.1). O Verbo é a tradução do termo grego logos, que também pode ser traduzido como palavra. Jesus é a Palavra encarnada de Deus (Jo 1.14). Jo 1.1 faz duas afirmações sobre o Jesus: Jesus era Deus, no princípio da criação. Ou seja, ele participou da criação, como dizem os v.2 e 3. Desde o princípio, o Verbo já existia. O texto não diz que ele passou a existir com a criação, mas sim, que ele já existia antes da criação. No princípio, ele já estava lá. Quando todas as coisas tiveram um início, o Verbo já existia. Portanto, ele não foi criado. Ele é Criador. Jesus estava com Deus. Identificamos aqui a diversidade das Pessoas. Ou seja, Cristo não somente era Deus (no sentido de que ele possuí a mesma essência de Deus antes da criação), mas também estava com Deus. A partícula com 4 R. V. G. Tasker, Mateus: introdução e comentário (São Paulo: Vida Nova, 1980[Reimpressão de 2011]), p. 218. 5 D. A. Carson, O comentário de Mateus (São Paulo: Shedd Publicações, 2010), p. 692.

06. A TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO demonstra que o Filho é alguém distinto do Pai. Então, o Verbo é Deus, é igual ao Pai (tem a mesma a essência), e ao mesmo está com Deus, sendo distinto do Pai (o Filho é outra Pessoa). As testemunhas de Jeová afirmam erroneamente que a melhor tradução para o final do verso é o Verbo era um deus. Isso porque no texto original grego não há artigo definido antes do termo theos ( Deus ). Se essa tradução de Jo 1.1 for sustentada, então Jesus simplesmente tem uma natureza divina doada pelo Pai, mas não possui a mesma essência de Deus, e, portanto, não pode ser considerado como Deus, mas como um deus. Mas a tradução das Testemunhas de Jeová está errada. Primeiro, porque a gramática grega não exige o artigo definido antes da palavra Deus 6. Em segundo lugar, conforme já temos observado, vários outros textos do NT claramente ensinam que Jesus é Deus (Hb 1.6, 8). Em terceiro lugar, Jesus não pode ser um deus menor, criado pelo Pai, porque no v.3, o próprio texto afirma que todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Ou seja, todas as coisas foram criadas por intermédio do filho, e sem ele não que existe poderia existir. Isso significa que o Filho não é criatura, mas Criador. Outros trechos do Evangelho de João demonstram claramente que Jesus é Deus: Em Jo 8.24, 58, Jesus se apresenta como eu sou. Muito antes de Abraão existir, o Filho já se manifestava como eu sou (v.58). Jesus emprega para si mesmo o nome de Javé revelado para Moisés (Êx 3.14). Claramente Jesus está se identificando com o Deus de Israel. Isso é tão claro, que os judeus acusaramno de blasfêmia, e, tendo seus corações endurecidos, e em gesto de rejeição a ele, pegaram pedras para apedrejá-lo (Jo 8.59). O Pai e o Filho estão um no outro, e eles são um (Jo 10.30,38; 14.10,11). Mais uma vez, os judeus pegaram pedras para apedrejar Jesus (Jo 10.31), pois entenderam de forma correta que, quando Jesus diz eu e o Pai somos um, estava reivindicando sua divindade (veja Jo 5.18). Em Jo 20.28, Tomé reconhece que Jesus é Senhor meu e Deus meu. O Evangelho de João também apresenta a Pessoa do Espírito Santo. Em João 14 16, Jesus promete enviar o Espírito Santo aos seus discípulos. O Espírito é o Espírito da Verdade (14.17; 15.26; 16.13), o Espírito Santo (14.26; 20.22), o Consolador (14.16,26; 15.26; 16.7). Podemos observar duas afirmações importantes a respeito do Espírito Santo: O Espírito Santo é distinto do Pai e do Filho: o Espírito é o outro Consolador (14.16); o Espírito é enviado pelo Pai e pelo Filho (14.16,26; 15.26; 16.7); o Espírito testemunha acerca de Jesus (15.26). O Espírito Santo também ora ou 6...em geral, o artigo torna definido, identifica um certo substantivo, enquanto que a sua ausência enfatiza mais a essência, qualidade ou natureza do mesmo. Lourenço Stelio Rega; Johannes Bergmann, Noções do grego bíblico: gramática fundamental (3.ed. rev., São Paulo: Vida Nova, 2014), p. 342. Portanto, como explicam Rega e Bergmann, a ausência do artigo definido em Jo 1.1 não significa que theos seja um substantivo indefinido, mas sim, que o logos ( Verbo ) tem a essência ou natureza divina. 4

intercede por nós (Rm 8.27), indicando uma distinção entre o Espírito Santo e Deus Pai, a quem se faz a intercessão. 7 O Espírito Santo é plenamente Deus, igual ao Pai e ao Filho. Pois: 1. Jesus afirma que a regeneração é obra do Espírito: Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. (Jo 3.5-7). De fato, é o Espírito é o que vivifica (Jo 6.63). Mas o ato de dar nova vida espiritual às pessoas quando se tornam cristãs é algo que só Deus pode fazer (cf. 1Jo 3.9, nascido de Deus ). Essa passagem portanto dá nova indicação de que o Espírito Santo é plenamente Deus. 8 2. Jesus diz que rogaria ao Pai, e ele enviaria o Consolador, o Espírito Santo (Jo 14.16), porque ele habita convosco, e estará em vós (Jo 14.17). O Espírito Santo substituiria a presença pessoal de Jesus entre os discípulos. Na verdade, Jesus estaria com seus discípulos através do Espírito Santo ( Não vos deixarei órfãos; voltarei a vós Jo 14.18). O que Jesus está dizendo é que Deus está presente nos discípulos e habita neles. O apóstolo Paulo também afirma: Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? (1Co 3.16). Os crentes são santuário do Espírito Santo (1Co 6.19), e isso significa dizer que eles são santuário de Deus (1Co 3.16). O Espírito Santo é Deus. Portanto, é possível notar que o Evangelho de João apresenta o Filho como Deus, à semelhança do Pai, e, ao mesmo tempo, distinto dele. Também apresenta o Espírito Santo como Deus, semelhante ao Pai e ao Filho, e, ao mesmo tempo, distinto deles. A Trindade em 1Jo 4.7-19 O texto afirma que Deus é amor (1Jo 4.8). Deus manifestou o seu amor ao enviar seu Filho unigênito ao mundo (1Jo 4.9). Deus enviou o seu Espírito para nos manter em comunhão com ele: Nisto conhecemos que permanecemos nele, e ele em nós: por ele nos ter dado do seu Espírito (1Jo 4.13). Essa passagem bíblica apresenta a natureza pessoal e amorosa de Deus. Deus manifestou o seu amor através do seu Filho, e agora, considerando que fomos amados por Deus, nós também precisamos amar uns aos outros. No entanto, é importante notar que muito antes de Deus manifestar seu amor para conosco, o seu amor é eternamente manifestado entre as Pessoas da Trindade. Pois, como diz o texto, Deus é amor. O amor faz parte da natureza de Deus. O amor sempre existiu em Deus. O antigo monge Ricardo de São Vitor, que viveu no início do 2ª milênio d.c. (?-1173), dizia que a afirmação Deus é amor evidencia a existência das três Pessoas da Trindade, pois, se Deus é amor, ele não pode existir solitariamente. 9 Se Deus é amor, e se ele ama muito antes de existir qualquer coisa criada, segue-se que o amor de Deus é eternamente manifesto entre as Pessoas da Trindade. Como diz Franklin Ferreira: Nunca houve um tempo em que o Pai não tivesse amado seu amado Filho. O Pai e o Filho se amam tão 7 Wayne Grudem, Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 1999), p. 170. 8 Wayne Grudem, Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 1999), p. 174. 9 Franklin Ferreira, Curso Vida Nova de Teologia Básica, p. 70-71.

06. A TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO intensamente, um amor eterno, que se revela na pessoa do Espírito, o vínculo eterno de amor entre o Pai e o Filho. 10 O próprio Jesus reconhece que o Pai o ama, da mesma forma como ele ama seus discípulos (Jo 17.23). Porque o Pai ama ao Filho (Jo 5.20). A Trindade em outros textos do Novo Testamento Vários outros textos do Novo Testamento apresentam claramente as três Pessoas da Trindade. Vejamos. 2Coríntios 13.14: A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós. Efésios 4.4-6: Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos. Observação: o Senhor (grego kyrios) obviamente é uma referência a Jesus, pois ele é designado com este termo no Novo Testamento (Jo 20.28; At 2.36; Ap 22.20). Portanto, o Deus único que se revela em três Pessoas é claramente mencionado: um só Espírito, um só Senhor e um só Deus e Pai. 2Tessalonicensses 2.13,14: Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do Espírito e a fé na verdade, para isso vos chamou pelo nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. 1Pedro 1.2: eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo... Uma formulação da doutrina da Trindade À luz dos textos bíblicos analisados até aqui, nós podemos formular a Trindade da seguinte maneira: Há um só Deus, que subsiste eternamente em três Pessoas. Afirmar a existência do Deus Trino não é afirmar a existência de três Deuses. Como dizia Agostinho, o Deus único e verdadeiro não é somente o Pai, mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo 11. Através da revelação divina, entendemos que Deus existe como três Pessoas em uma 10 Franklin Ferreira, Curso Vida Nova de Teologia Básica, p. 72. 11 Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia sistemática, p. 180. 6

essência, ou três pessoas da mesma só natureza em relacionamento dinâmico e profundo. 12 A Trindade apresenta tanto a unidade de Deus como a diversidade de Deus 13 : Unidade de Deus: O Pai é o Deus único. O Filho é o Deus único. E o Espírito Santo é o Deus único. Portanto, não existem três deuses, mas somente o Deus único. Diversidade de Deus: O Pai não é o Filho. O Filho não é o Espírito Santo. E o Espírito Santo não é o Pai. Não há subordinação entre as Pessoas da Trindade. O Pai não é maior do que o Filho, e o Filho não é maior do que Espírito. As três Pessoas da Trindade possuem igualmente os mesmos atributos. O Pai, o Filho e o Espírito são igualmente eternos, onipotentes, oniscientes, onipresentes, e possuem os mesmos atributos morais (como por exemplo: amor, justiça, santidade). Além disto, as três Pessoas da Trindade possuem igualmente a mesma vontade. A submissão do Filho ao Pai, por exemplo, é a submissão do Filho à sua própria vontade, porque a vontade divina é uma, mesmo tento o Pai e o Filho consciência de uma vontade distinta e pessoal. A essência da vontade de Deus é uma. O Filho sempre deseja o que o Pai deseja e o Pai sempre deseja o que o Filho deseja. Os dois são iguais. E o Espírito Santo é igual também. 14 Cada uma das Pessoas da Trindade teve uma participação distinta na obra da redenção. É o que os teólogos chamam de Trindade econômica. É a Trindade considerada do ponto de vista da revelação do plano de salvação na história. As Pessoas da Trindade são iguais e possuem cada qual a mesma substância, não havendo, portanto, diferenças ontológicas entre elas (ou seja, existe absoluta igualdade de essência entre as Pessoas da Trindade). Mas ao que diz respeito à intervenção da Trindade na história da salvação, é possível verificar que: O Pai escolhe a igreja antes da fundação do mundo, e envia seu Filho para salvação do seu povo. O Filho torna-se homem, morre na cruz, e ressuscita para trazer justificação aos salvos. O Espírito Santo aplica a salvação aos salvos. Isso pode ser verificado em Ef 1.3-14: v.3-6: Fomos abençoados e eleitos pelo Pai. v.7-12: Fomos redimidos pelo Filho. v.13-14: Fomos selados pelo Espírito Santo. 12 J. Scott Horrell, Uma Cosmovisão Trinitária, in Vox Scripturae. 4 (março de 1994). Disponível em http://www.e-cristianismo.com.br/teologia/trindade/uma-cosmovisao-trinitaria.html. Acessado em 02.03.2016. 13 Franklin Ferreira, Curso Vida Nova de Teologia Básica: teologia sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2013), p. 76. 14 Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia sistemática, p. 187.

06. A TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO Como afirma Lloyd-Jones, essa é uma ideia atordoante, ou seja, que estas três bemaventuradas Pessoas, na bem-aventurada santíssima Trindade, para minha salvação, quiseram dividir assim o trabalho. 15 Lições para a vida Seguem duas aplicações para nossas vidas, considerando o que estudamos: A doutrina da Trindade apresenta o modelo de comunidade João 17 descreve a oração de Jesus a favor dos seus discípulos. É notável que Jesus apresenta a relação entre ele e o Pai como modelo do relacionamento entre os discípulos: Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim (Jo 17.22-23). A mesma unidade que existe entre o Pai e o Filho deve existir na comunidade dos discípulos. Como declara J. Scott Horrell,...o amor infinito já existe entre cada pessoa da Trindade. Por causa de seu amor e sua unidade-diversidade, a Trindade torna-se nosso modelo de comunidade. Seja na família, na igreja local ou em qualquer nível sociológico, o ser humano pode seguir o exemplo do seu próprio Deus. 16 Jesus afirma que os discípulos precisam estar Nele para que a unidade seja aperfeiçoada: eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade (Jo 17.23 ênfase acrescentada). Os discípulos precisam estar ligados à videira verdadeira, para que venham produzir o fruto do amor (Jo 15). Se não houver comunhão entre os discípulos e Cristo, dificilmente haverá comunhão entre os discípulos. Talvez isso explique porquê há tanta desunião na igreja. As pessoas querem mais os eventos e as programações sociais da igreja do que a Cristo. Leandro Lima afirma corretamente: É fácil de entender porque a comunhão é tão difícil na igreja. As pessoas buscam comunhão através de eventos sociais, trabalhos comunitários, músicas que incentivam cumprimentos mútuos, etc. Mas a verdadeira base da comunhão da igreja é a Trindade. Precisamos entender que fomos chamados para refletir o mesmo amor que existe na Trindade. 17 A doutrina da Trindade apresenta o paradigma da missão da igreja A unidade entre o Pai e o Filho é base na unidade entre os discípulos, e a unidade entre os discípulos tem por objetivo levar o mundo a conhecer o amor de Deus:...a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim (Jo 17.22-23). 15 D. M. Lhoyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho (São Paulo: PES/Publicações Evangélicas Selecionadas, 1997) p. 122-123 [Grandes Doutrinas Bíblicas, volume 1]. 16 J. Scott Horrell, Uma Cosmovisão Trinitária, em Vox Scripturae. 4 (março de 1994). Disponível em http://www.e-cristianismo.com.br/teologia/trindade/uma-cosmovisao-trinitaria.html. Acessado em 02.03.2016. 17 Leandro Lima, A Trindade: da teoria à prática. Disponível em http://www.ipsantoamaro.com.br/artigos/a-trindade-da-teoria-a-pratica.html. Acessado em 03.03.2016. 8

O Senhor Jesus disse para os seus discípulos:...assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós (Jo 20.21). Somos enviados ao mundo por Jesus, da mesma forma como Jesus foi enviado ao mundo pelo Pai. E recebemos o poder do Espírito Santo para testemunhar o amor de Deus a todas as nações (At 1.8). O Deus Trino certamente quer e pode usar nossas vidas para a realização de sua obra no mundo. Só precisamos nos disponibilizar para a obra. Que a doutrina da Trindade no impulsione para o serviço do Reino.