Análise de Conglomerados Espaciais de Homicídios na Cidade de João Pessoa Wanessa Weridiana da Luz Freitas 1 Luana Cecília Meireles da Silva 1 Alisson de Oliveira Silva 1 Antônio Guedes Corrêa Gondim Filho 1 1 Introdução A organização Mundial de Saúde declarou que a violência é um importante problema de saúde pública, cujo aumento é considerado um fenômeno global. Os homicídios lideravam as causas de mortalidade no Brasil no ano 2000 com 38,3% do total. Segundo Waiselfisz o Brasil passou de 13.910 homicídios em 1980 para 49.932 em 2010, um aumento de 259% equivalente a 4,4% de crescimento ao ano. O estado da Paraíba apresentou-se entre os estados com baixos índices no contexto nacional (entre 10 e 15 homicídios em 100 mil habitantes). No ano 2000 encontrava-se no 20 o lugar e ingressou nesta última década, numa forte escalada de violência que levou o estado, em 2010, a figurar entre os seis mais violentos do Brasil [5]. Neste período o estado registra um intenso crescimento em suas taxas, que em poucos anos superam a média nacional. De acordo com o Mapa da Violência a região metropolitana que, além da capital, inclui os municípios de Bayeux, Cabedelo, Conde, Cruz do Espírito Santo, Lucena, Mamanguape, Rio Tinto e Santa Rita, a que pressiona fortemente nessa arrancada, apresentam aumento em sua taxa de homicídios passando de 32 para 72,9. O número de homicídios na cidade de João Pessoa vem crescendo ao longo dos anos, aumentando assim a sensação de insegurança da população pessoense, e isso é um fato preocupante para a segurança pública do estado a qual precisa apresentar politicas públicas com ações preventivas e repreensivas. A ausência de trabalhos científicos recentes sobre criminalidade, relacionados a mortes violentas por homicídios, com dados atualizados, na cidade de João Pessoa, dificulta a implantação de políticas publicas voltadas para a redução dessas mortes. O objetivo deste trabalho é o desenvolvimento do monitoramento espacial do número de homicídios por arma branca e fogo registrados na capital paraibana, à partir de dados reais utilizando a metodologia Besag e Newell modificado. Com isso será possível identificar as áreas prioritárias da cidade. Para esse estudo foram considerados dados anuais de homicídios referentes ao período de 2006 a 2010. 2 Materiais e Métodos Utilizou-se a metodologia Besag e Newell modificado aos dados de homicídios na capital da Paraíba, que possui 64 bairros, distribuídos em uma área territorial de 211km 2. Os dados de homicídios referentes ao período de 2006 à 2010, foram cedidos pela Polícia Militar do Estado da Paraíba. 1 UFPB. e-mail: wanyweridiana@hotmail.com 1
A plataforma computacional abordada nesse estudo foi o software estatístico R (versão 2.13) [4] para georeferenciar os dados de homicídios. A população foi estimada por bairro para cada ano através do método de projeção geométrica. Em seguida, criaram-se os mapas de risco relativo e Besag e Newell modificado. 2.1 Conglomerados Espacias A identificação de conglomerados espaciais de doenças tem o objetivo de definir áreas prioritárias para o combate da enfermidade. Para isto utilizou-se os mapas de risco relativo, que é um índice que propõe amenizar os efeitos ocorridos na comparação de áreas com populações diferenciadas buscando identificar tais conglomerados. Identificado um aglomerado de incidência pelo mapa de risco relativo fica a dúvida se este se constitui, de fato, um conglomerado espacial. A metodologia do Besag e Newell modificado busca realizar testes locais de significância de tais conglomerados de uma forma gráfica e intuitiva. 2.2 Risco Relativo Um indicador que descreve a intensidade de ocorrência de um determinado evento é a taxa de incidência. Essa taxa é definida como a razão entre o número de casos ocorridos numa determinada área pela população em risco. A comparação de taxas de incidência entre duas ou mais áreas só faz sentido quando estas apresentam populações similares [1]. Porém, em virtude da hipótese de similaridade entre as populações ser pouco provável, costuma-se utilizar as taxas de incidência padronizadas ou risco relativo (RR) que é uma relação da probabilidade do evento ocorrer no grupo exposto contra o grupo de controle, ou seja: RR = Taxa de incidência da área Taxa de incidência da região que agrega a área Sendo assim, esse indicador representa a intensidade da ocorrência de um fenômeno com relação as demais regiões em estudo. A interpretação desse resultado tem como referencial o valor 1, quando RR < 1 indica que o risco relativo do bairro é inferior ao risco de João Pessoa. Caso contrário, RR> 1 indica que o risco relativo do bairro é superior ao risco do município. Se numa região os riscos de ocorrência de uma determinada doença são heterogêneos, então se pode esperar que algumas áreas apresentam riscos mais elevados que outras. A heterogeneidade entre os dados pode ser indício de existência de conglomerados. Como o risco relativo leva em consideração o valor da população de cada região em estudo e as informações obtidas correspondem às contagens populacionais de 2000 e 2007, fez-se necessária a projeção da população para cada ano em estudo. Para esse calculo foi utilizado o método de projeção geométrica. 2.3 Método Besag e Newell modificado O método proposto por Besag e Newell, denotado por BN modificado, fornece uma saída visual de conglomerados verossímeis de formato circular [3]. Este toma por base as coordenadas dos centróides de cada área em consideração de modo a inserir círculos centrados em cada centróide i. A partir de cada centróide, o método determina o raio necessário para que o círculo contenha pelo menos k de casos em seu interior. O procedimento é iniciado com um círculo de raio igual a zero. Se este contém k ou mais casos, o processo é interrompido; caso contrário, o raio é aumentado até incluir o centróide mais próximo. Logo, são adicionados os respectivos 2
casos e a população exposta ao risco. Deste modo, os raios são definidos de tal forma a incluir novos centróides quando necessário, sendo executado este procedimento até que que haja pelo menos k casos inseridos no círculo [2]. Seja C o número total de casos em toda região de estudo e M a população total exposta ao risco na região. Sejam também C j(i) e M j(i) respectivamente o número de casos e a população acumulada das j áreas mais próximas ao centróide i. A estatística do teste baseia-se na variável aleatória L, definida como o mínimo de áreas próximas necessárias para que se obtenha um número k de casos mais próximos do centróide i. Matematicamente, temos [2]: L = min{ j : C j(i) k} (1) Para cada centróide é necessário verificar a existência de aglomeração espacial. Portanto, a partir do valor l observado para L, o nível de significância do teste é definido por P(L l), que busca testar a hipótese nula (ausência de aglomeração espacial). A significância é calculada através da seguinte expressão [2]: k 1 p valor = P(L l) = 1 j=1 ( M ) j(i) C j ( M exp M ) j(i)c j! M Um aglomerado é dito significativo se o p-valor obtido é menor que a significância adotada. Assim, após a obtenção de todos os círculos que englobam um número k de casos por meio do método de Besag e Newell modificado, são desenhados no mapa apenas os círculos significativos (p valor < α). Geralmente a escolha de α é feita para permitir os muitos testes simultâneos e são considerados valores menores que a significância usual 0,05 ou 0,01 [2]. (2) 3 Resultados e Discussões Os mapas de risco relativo e os do Besag e Newell Modificado foram gerados para todos os anos de 2006 à 2010. Estes mapas foram comparados anualmente e verificou-se a existência de conglomerados persistentes durante o período. Dentre os encontrados destacam-se três anos, a citar, 2006, 2007 e 2010. De acordo com a variável de interesse estudada, observou-se que 40% dos bairros da cidade apresentavam risco superior a cidade. Levando em consideração o risco relativo (RR), verificouse que os bairros : Centro, Varadouro e Padré Zé apresentaram risco superior ao da cidade em todos os anos estudados. Observa-se (Figura 1), que em 2006 os bairros da região norte da cidade comparado com os demais foram os que apresentaram maiores valores para o risco relativo, sendo assim o risco nesses bairros esta sendo superior ao do município. Nesse mesmo mapa é possível verificar que outras regiões apresentaram bairros com risco superior a um. 3
Figura 1: Mapas de Risco de Homicídio na cidade de João Pessoa, nos anos de 2006, 2007 e 2010, respectivamente Verifica-se em 2007 que a maioria dos bairros que registram os maiores risco estão localizados na região norte da cidade. O bairro de Mandacaru emergiu como um bairro que apresentava risco relativo superior ao risco de João Pessoa, atingindo um risco relativo 3 vezes superior ao risco da cidade. Outros bairros que se destacaram com RR superior ao da cidade estão situados na região norte: Centro, Varadouro e Padre Zé. Como se pode observar, Jardim Veneza e Bairro das Indústrias (região oeste), Penha (região leste), Ernesto Geisel e Valentina (região sudeste) apresentaram um risco superior ao risco global de João Pessoa. No ano de 2010, verifica-se que o risco de morrer por homicídio foi maior nos bairros: Mandacaru, Varadouro, São José, Barra de Gramame, Altiplano Cabo Branco, Penha, Bessa, Valentina, Bairro dos Ipês. Observa-se que a predominância de bairros com risco relativo três vezes ou mais que o risco global da capital paraibana registrou-se na zona norte, através dos bairros: Varadouro e Mandacaru. Vale ressaltar que outros bairros nas demais regiões da cidade também apresentaram risco superior ao risco do município de João Pessoa. Observa-se também que ao longo dos anos está diminuído a quantidade de bairros que apesentam risco relativo igual a zero. Os bairros situados na região norte da cidade apresentaram um conglomerado envolvendo oito bairros. Podemos observar através dos mapas de risco relativo que os bairros centro, Varadouro, Padre Zé, Mandacaru que apresentaram risco relativo superior ao município. Figura 2: Mapas do Método BN modificado na cidade de João Pessoa, nos anos de 2006, 2007 e 2010, respectivamente Na Figura 2, o método no ano de 2006 identificou conglomerado na região norte e sudoeste do município. Esse conglomerado envolvia os bairros: Centro, Varadouro, Mandacaru, Padre Zé, e Roger onde os mesmos também apresentavam risco relativo superior ao da cidade. Outro 4
conglomerado foi identificado na região sudoeste da cidade, porem um dos bairros pertencentes a esse conglomerado apresentou risco relativo inferior ao de João Pessoa. Em 2007 podemos observar que o conglomerado situado na região norte além de englobar os mesmos bairros que foram significativos no ano de 2006 passou a incorporar dois novos bairros. Os bairros Centro, Varadouro, Roger e Trincheiras que foram identificados nesse conglomerado também apresentavam risco superior a 1. Para o ano de 2010, observa-se que o conglomerado existente no ano anterior persistiu para esse ano em estudo. No entanto o bairro do Centro e Varadouro que foram persistente para todos os anos anteriores deixaram de fazer parte e novos bairros em volta passaram a compor o mesmo. 4 Conclusões O presente trabalho buscou identificar através da análise espacial de dados agregados por área a distribuição espacial dos homicídios registrados no período em estudo. Na identificação de conglomerados de homicídios, através dos mapas de risco relativo e da metodologia abordada, observou-se os padrões espaciais de certos conglomerados de homicídios em João Pessoa. O mais significativo é o formado por bairros da região Norte da cidade. Este conglomerado apresenta-se persistente para todos os anos englobando bairros da região norte. O método BN modificado combinado aos mapas de risco relativo permitiu identificar padrões de conglomerados de homicídios na cidade de João Pessoa entre os anos de 2006 à 2010. Com base no mapa de risco observou-se uma concentração maior de homicídios, em bairros da região norte de João Pessoa. Ao longo do período em estudo, esses bairros que apresentaram alto risco relativo e formavam conglomerados espaciais, entre ele destacam-se os bairros: Centro, Varadouro, Padre Zé, Mandacarú. Dessa forma, os bairros indentificados com alto risco de homicídios e conglomerados espaciais, devem ser investigados, a fim de verificar os reais problemas sócio-econômicos que contribuem para o aumento desses crimes na região norte. Sendo assim, o mapeamento da mortalidade por homicídios servirá de suporte em decisões de gestores da área de segurança e saúde pública. Referências [1] Assunção, R. M. Estatística espacial com aplicações em epidemiologia, economia e sociologia. São Carlo, SP: Associação Brasileira de Estatística, 2001. Disponível em:http://www.est.ufmg.br/ assuncao/art/art.html. [2] Costa, M. A.; Assunção, R. M.. A fair comparison between the spacial scan and the Besag-Newell Disease clustering tests. Enviromental and Ecological Statistics, vol. 12, pp. 301-319, 2005. [3] Openshaw, S., Craft, A.W., Charlton, M., and Birch, J.M. (1988) Investigation of leukaemia clusters by use of a geographical analysis machine. Lancet, i, 27273. [4] R Development Core Team. Moura, F. R. Detecção de clusters espaciais via algoritmo scan multi-objeto.dissertação (Mestrado em Estatística )- Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.R: A Language and Environment for Statistical [5] Waiselfisz, J. J. Mapa da Violência dos municípios brasileiros 2012 -Brasil. [S.l.],2012. 5