AVALIAÇÃO DO EMPREGO DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL GERADOS NO MUNICÍPIO DE ITABIRA COMO AGREGADO GRAÚDO NA PRODUÇÃO DE BLOCOS DE CONCRETO J. S. Leite Rua Professora Maria Antonieta Bethônico, nº 267, Novo Amazonas, Itabira/MG - CEP: 35900-359, jordanastlt@gmail.com. Estudante de Engenharia da Mobilidade da Universidade Federal de Itajubá Campus Avançado de Itabira R. L. P. Teixeira Professor Doutor em Ciências, Engenharia Metalúrgica e de Materiais (UFRJ/2011). Universidade Federal de Itajubá Campus Avançado de Itabira C. A. S. Oliveira Professor Doutor em Engenharia Metalúrgica e de Minas (UFMG/2007). Universidade Federal de Itajubá Campus Avançado de Itabira RESUMO O crescimento da indústria da construção civil no Brasil na atualidade, tem gerado uma preocupação crescente, quanto à disposição de entulhos conhecidos como Resíduos da Construção Civil (RCC). O presente artigo apresenta o reaproveitamento do RCC como uma alternativa ambientalmente correta, pois ele minimiza os danos causados pela extração de agregados naturais. Além disso, o reaproveitamento contribui para a geração de emprego, diminuindo o orçamento da obra. No geral, os resultados demostram a viabilidade técnica de se empregar o RCC como agregado graúdo na produção de blocos de concretos do tipo vedação. Com ajustes pontuais na proporção dos materiais empregados nas misturas de concretos dos blocos, bem como no equipamento utilizado na moldagem dos blocos, pode-se afirmar que a introdução de RCC na forma de agregado graúdo à formulação de blocos é possível e garante ao produto final as qualificações técnicas exigidas pelas atuais normas brasileiras NBR 6136:2007. Palavras-chave: resíduos, Resíduos da Construção Civil, blocos de concreto, desenvolvimento sustentável. INTRODUÇÃO Na atualidade, diversas pesquisas têm sido realizadas sobre a reciclagem de resíduos de uma forma geral, contudo dentre essas (1-6) se destacam as voltadas para a reciclagem dos resíduos da construção civil (RCC). Em torno de 60% dos resíduos sólidos oriundos de canteiros de obras correspondem aos RCC da classe A (são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados provenientes de 1705
construção, demolição de obras de infraestrutura, de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas de concreto, entre outros), que são os mais propícios à reciclagem (7, 8). Em 2010, houve um acréscimo de 8,7% em relação a 2009 do índice de coleta de resíduos, tendo em vista que em 2010 foram coletadas diariamente mais de 99 mil toneladas de resíduos da construção civil enquanto que em 2009 foram coletadas aproximadamente 91 mil toneladas por dia de RCC segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (9,10). Trabalhos desenvolvidos por pesquisadores na Universidade de Pernambuco sobre a avaliação das propriedades mecânicas de concretos produzidos com agregado reciclado de resíduo da construção civil, demonstram que a utilização do agregado miúdo obtido pela reciclagem do RCC é possível sem que haja consideráveis prejuízos às propriedades mecânicas do concreto, segundo os diagramas de dosagem definidos pelos pesquisadores. Contudo, os concretos estruturais necessitam de um controle no momento de dosagem e desenvolvimento de estudos mais aprofundados em relação à durabilidade deste material (11). Nesse trabalho, propõe-se mostrar a viabilidade técnica da reciclagem do RCC Itabirano na construção civil local. MATERIAIS E MÉTODOS As amostras de resíduos oriundos da construção civil foram coletadas seguindo as recomendações da norma NBR 10007. Para garantir uma boa amostragem a coleta do RCC foi realizada em dias distintos. O beneficiamento do RCC consistiu na britagem do resíduo e separação granulométrica, com vista na produção de agregado graúdo (material passante na peneira 75 mm e retido na peneira 4,8 mm). Após o beneficiamento do RCC, foi realizada a sua caracterização segundo as recomendações prescritas pelas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Neste trabalho foram moldados blocos de concretos (40cm 20 cm 20cm) com 0 % em massa de substituição de agregado natural por agregado graúdo proveniente do beneficiamento do RCC (bloco de concreto de referência), e com os teores de substituições de 50 % e 100 % em massa de agregado natural por agregado proveniente do beneficiamento do RCC. Optou-se por esses níveis de 1706
substituições com o objetivo de comparar os resultados obtidos com outras pesquisas. O aglomerante que foi empregado na produção dos concretos foi o cimento Portland CPV ARI. Após determinado o traço dos blocos de concreto, os mesmos foram moldados em uma fábrica de pré-moldados (Fig. 1) localizada na cidade de Itabira (MG). Foram fabricados blocos de concretos vazados com as dimensões de 390 mm (comprimento) 190 mm (largura) 190 mm (altura). a) b) Figura 1: a) Blocos saindo da máquina de moldagem. b) blocos prontos para a cura. A avaliação das dimensões reais dos blocos de concreto foi realizada seguindo, rigorosamente, a norma NBR 6136:2007 Blocos vazados de concreto simples para alvenaria Requisitos. A resistência à compressão dos blocos de concreto foi determinada aos 28 dias de idade segundo a norma NBR 7184 (2011) Blocos vazados de concreto para alvenaria Determinação da resistência à compressão - Método de ensaio. Os ensaios de absorção de água e teor de umidade foram executados conforme exigências da norma NBR 12118 (2011) Blocos vazados de concreto para alvenaria Determinação da absorção de água, do teor de umidade e da área líquida. 1707
RESULTADOS E DISCUSSÃO O RCC apresentou as mesmas propriedades granulométricas da brita natural, porém massa unitária e especifica diferentes. Foi constatado que o rejeito possui uma massa específica absoluta de 2680 kg/m³ e uma massa unitária de 1130 kg/m³. Além disso, apresenta dimensão máxima característica de 9,5mm e 5,83 de módulo de finura. Os valores obtidos para a massa específica absoluta das amostras dos agregados graúdos ficaram dentro dos intervalos de 2,60 g/cm³ a 2,70 g/cm³, valores considerados como referência, enquadrando-se na classificação de agregados normais, conforme a norma brasileira NBR 7211(1983). Para o teste de absorção de água foram feitas cinco medidas de amostras diferentes da massa do RCC após imersos em água durante períodos de tempo, sabendo que a massa inicial foi de 1000 g. A água absorvida pelo RCC no período de uma hora foi de 12,06 %. O teste de resistência à compressão dos blocos de concreto foi realizado após 28 dias de sua fabricação. As resistências à compressão média dos blocos de concreto com 100% de agregado natural, 50% de RCC e 50% de agregado natural e 100% de RCC em sua composição como agregado graúdo são apresentados na Tab. 1 a seguir. Tabela 1: Resistencia à compressão média dos blocos Tipo de agregado graúdo empregado no bloco Força média aplicada Resistencia media à compressão (MPa) (KN) 100% agregado natural 117.40 1,59 50% agregado natural + 149,87 2,02 50% RCC 100% RCC 199,76 2,70 Observou-se que a medida que elevou a substituição do agregado graúdo natural pelo agregado graúdo de RCC aumentou a resistência à compressão dos blocos. Isso pode ser atribuído a rigidez do agregado graúdo natural em comparação ao agregado graúdo de RCC. A menor rigidez do agregado graúdo de 1708
RCC pode ter contribuído para a maior capacidade de absorção de carga do bloco de concreto produzido com RCC. Cabe mencionar que a velocidade de aplicação de carga foi mantida constante nas análises. Para o traço de concreto adotado nessas pesquisas, apenas a resistência à compressão média do bloco de concreto produzidos com 100% RCC atendeu a MPa) especificada pela norma brasileira NBR 6136:2007 Blocos vazados de concreto simples para alvenaria Requisitos. A absorção de agua de cada tipo de bloco é apresentada na Tab. 2 a seguir. Tabela 2: absorção de água dos blocos de concreto. Tipo de agregado graúdo Absorção de empregado no bloco água (%) 100% agregado natural 5,94 50% agregado natural + 9,96 50% RCC 100% RCC 11,35 A maior absorção de água dos blocos produzidos com RCC pode ser atribuída à presença de materiais cerâmicos na composição do agregado graúdo de RCC. Na análise da Tab. 2, conclui-se que apenas os blocos de concreto fabricados com 100% de RCC não atenderam a exigência máxima de absorção média de 10% preconizada pela norma brasileira NBR 6136:2007 Blocos vazados de concreto simples para alvenaria Requisitos. CONCLUSÕES A absorção de água média máxima de 10% para blocos de concreto sem função estrutural, exigida pela norma brasileira NBR 6136:2007, foi atendida para os blocos de concretos produzidos até o limite de substituição de 50% do agregado graúdo natural pelo agregado graúdo obtido do beneficiamento do RCC. Para o traço de concreto adotado nessa pesquisa, apenas a resistência à compressão média do bloco de concreto produzidos com 100% de RCC atendeu a 1709
resistência média mínima ( 6136:2007 Blocos vazados de concreto simples para alvenaria Requisitos. Os resultados demostram a viabilidade técnica de se empregar o RCC como agregado graúdo na produção de blocos de concretos do tipo vedação, o que reduz os custos de uma obra fazendo, assim, do RCC uma alternativa viável economicamente e ambientalmente para o setor. Com pequenos ajustes na proporção dos materiais empregados nas misturas de concreto dos blocos, bem como no equipamento utilizado na moldagem dos blocos, pode afirmar que a introdução de RCC na forma de agregado graúdo à formulação de blocos é possível, pois garante ao produto final as qualificações técnicas exigidas pelas atuais normas brasileiras. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro a este trabalho de pesquisa. Agradece-se também aos técnicos do laboratório de construção civil da UNIFEI, ao Sr. Geraldo e ao Sr. Antônio, pelo apoio técnico durante este trabalho de pesquisa. REFERÊNCIAS 1. FREITAS, I. M. Os Resíduos de Construção Civil no Município de Araraquara/SP. Araraquara: UNIARA, 2009, 86p. Dissertação (Mestrado). Centro Universitário de Araraquara. 2. JR, L. R. P.; OLIVEIRA, A. L. O.; BEDIN, C. A. Alvenaria estrutural de blocos de concreto. Florianópolis: GTec, 2002. 3. LEITE, Fabiana da Conceição. Comportamento mecânico de agregado reciclado de resíduo sólido da construção civil em camadas de base e sub-base de pavimentos. 2007. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Transportes) Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiceis/3/3138/tde09012008-162141/>. Acesso em: 28 de abr. 2012. 4. LEVY, S. Produzindo Concretos Ecologicamente e Politicamente Corretos. Exacta, São Paulo, v.4, n.2, p.375-384, jul./dez.2006. 1710
5. MARQUES, J. C. N. Estudo da gestão municipal dos resíduos de construção e demolição na bacia hidrográfica do Turvo Grande. São Paulo: USP, 2009. Tese (doutorado). Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. 6. MOTTA, Rosângela dos Santos. Estudo laboratorial de agregado reciclado de resíduo sólido da construção civil para aplicação em pavimentação de baixo volume de tráfego. 2005. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Transportes) Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/disponiveis/3/3138/tde19072006-114729/>. Acesso em: 28 de abr. 2012. 7. TOZZI, R. F. Estudo da influência do gerenciamento na geração dos resíduos de construção civil (RCC) estudo de caso de duas obras em Curitiba/PR. Dissertação (Mestrado). 2006, 117p. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2006. 8. GAEDE, L. P. F. Gestão dos Resíduos da Construção Civil no Município de Vitória-ES e Normas Existentes. Belo Horizonte, 2008. Monografia (Curso de Especialização em Construção Civil). Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. 9. ABRELPE - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil. 2010. Disponível em <www.abelpre.org.br/downloads/panorama2010.pdf>. Acesso em 05 de mai. 2012. 10. AMBIENTE CONAMA. Resolução nº 307, de 05 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, nº 136, 17 de julho de 2002. Seção 1, p. 95-96. 11.RODRIGUES, C. R. S. Avaliação de propriedades mecânicas de concretos produzidos com agregado miúdo reciclado de resíduo da construção civil. Recife: UPE, 2011, Dissertação (mestrado). Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco UPE/POLI. 1711
TECHNICAL PROPOUSE OF THE CONSTRUCTION WASTES AS NEW AGGREGATE IN CONCRETE BLOCK PRODUCTION IN ITABIRA ABSTRACT The purpose of this work is to demonstrate the technical feasibility of employing the RCC as coarse aggregate in concrete blocks production of sealing type with technical qualifications required by current Brazilian standards NBR 6136: 2007. Key words: RCC, concrete blocks, construction waste, mechanical proprieties. 1712