USO DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS NO TRATAMENTO DE EFLUENTES DE AQÜICULTURA. José Francisco Vicente BIUDES 1 Antonio Fernando Monteiro CAMARGO 2

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Transcrição:

USO DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS NO TRATAMENTO DE EFLUENTES DE AQÜICULTURA José Francisco Vicente BIUDES 1 Antonio Fernando Monteiro CAMARGO 2 1 Universidade Estadual Paulista (UNESP - Jaboticabal). Centro de Aqüicultura (jfvbiudes@gmail.com). 2 Universidade Estadual Paulista (UNESP - Rio Claro). Departamento de Ecologia. Laboratório de Ecologia Aquática (afmc@rc.unesp.br). INTRODUÇÃO A aqüicultura é uma atividade importante na produção de alimentos, que proporciona benefícios econômicos e sociais, mas também tem despertado a preocupação de órgãos governamentais, organizações não governamentais e pesquisadores quanto aos impactos ambientais relacionados à atividade, especialmente a produção de efluentes e o seu lançamento sem tratamento em ambientes aquáticos. Estes efluentes são produzidos para a renovação da água dos viveiros de cultivo e quando os mesmos são drenados (Teichert-Coddington et al., 1999). Este efluente é tipicamente enriquecido em poluentes como nitrogênio, fósforo, matéria orgânica, material particulado em suspensão e pode conter produtos químicos utilizados no controle de doenças dos organismos cultivados (Lin et al., 2005; Anh et al., 2010). O lançamento de efluentes sem tratamento em ambientes aquáticos pode resultar numa acumulação crônica de nutrientes, principalmente de fósforo e nitrogênio, levando ao processo de eutrofização artificial (Zhang et al., 2006), que provoca mudanças nas condições físicas e químicas dos ambientes aquáticos, alterações quali e quantitativas em comunidades aquáticas e no incremento do nível de produção do ambiente aquático (Tundisi & Tundisi, 2008). 1

O uso de macrófitas aquáticas é uma alternativa para o tratamento do efluente de aqüicultura. Estes vegetais são utilizados em wetlands construídas ou alagados artificiais e apresentam importante papel na remoção de nutrientes do efluente. No presente trabalho serão apresentadas informações sobre o funcionamento e o papel das macrófitas nas wetlands construídas, bem como sobre pesquisas recentes referentes ao uso destes sistemas no tratamento de efluentes de aqüicultura. WETLANDS CONSTRUÍDAS As wetlands construídas utilizam processos naturais na remoção de poluentes do efluente. Os principais processos biológicos que regulam as remoções de nitrogênio e fósforo do efluente são a absorção direta pela macrófita, mineralização microbiológica e transformações como desnitrificação e amonificação (USEPA, 2000). A absorção direta ocorre, principalmente, pelo sistema radicular das macrófitas e algumas espécies de macrófitas também absorvem nutrientes por meio das folhas (Esteves, 1998). Os principais processos abióticos que atuam nas remoções de nitrogênio e fósforo do efluente são a sedimentação, precipitação química e adsorção. A sedimentação também é importante na remoção de material particulado do efluente (Uggeti et al., 2010). Nas wetlands construídas as espécies de macrófitas emersas e flutuantes são as mais utilizadas (Kivaisi, 2001). As wetlands construídas povoadas com macrófitas emersas necessitam de solo para fixação da planta e podem possuir camadas de brita, cascalho, areia fina e areia grossa abaixo do solo (Lin et al., 2005). Por sua vez, as wetlands construídas povoadas com macrófitas flutuantes não necessitam de solo para a fixação da planta. As espécies de macrófitas necessitam de um conjunto de características para contribuirem positivamente no desempenho das wetlands construídas: i) rápido estabelecimento e alta taxa 2

de crescimento; ii) alta capacidade de assimilação de nutrientes; iii) grande capacidade de estocar nutrientes na biomassa iv) tolerância às características físicas e químicas do efluente e v) tolerâncias às condições climáticas locais (Tanner, 1996). ESTUDOS SOBRE WETLANDS CONSTRUÍDAS A utilização das wetlands construídas para o tratamento do efluente de aqüicultura ainda está em estágio experimental. Os estudos mostram que as wetlands construídas são capazes de remover nitrogênio, fósforo, matéria orgânica e material particulado do efluente de aqüicultura (Lin et al., 2005; Polomski et al., 2009; Sindilariu et al., 2009). Os estudos também mostram que a eficiência das wetlands pode variar em função da espécie de macrófita utilizada. Henry-Silva & Camargo (2006) constaram que wetlands povoadas com Eichhornia crassipes e Pistia stratiotes removem mais nitrogênio e fósforo totais do efluente do que uma wetland povoada com Salvinia molesta, que possui menor porte e menor capacidade de estocar nutrientes removidos do efluente (Figura 1). A carga de nutrientes do efluente também influencia a capacidade da wetland na sua remoção. De fato, há uma relação negativa entre a carga de nutrientes do efluente e a porcentagem de remoção destes pela wetland (Lin et al., 2002) (Figura 2). 3

90 80 Remoção (%) 70 60 50 40 30 E. crassipes P. stratiotes S. molesta Figura 1. Remoção de nitrogênio total ( ) e fósforo total ( ) pelas wetlands povoadas com as macrófitas Eichhornia crassipes, Pistia stratiotes e Salvinia molesta. Baseado em Henry- Silva & Camargo (2006). 80 (r = - 0,90; P<0,01) Remoção de P-Total (%) 60 40 20 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 Carga de P-Total (g.dia -1 ) Figura 2. Relação entre a remoção de P-Total pela wetland e a carga de P-Total do efluente. Baseado em Lin et al. (2002). 4

O dimensionamento das wetlands construídas é um tema pouco estudado. Entretanto, é fundamental para o planejamento e a determinação da viabilidade do uso desta tecnologia. Isto porque é desejável que as wetlands ocupem pequenas áreas para não ocupar espaço de outra atividade. Alguns estudos estimaram a área superficial da wetland necessária para o tratamento do efluente de um viveiro (Schwartz & Boyd, 1995; Lin et al., 2005; Biudes, 2007) e os resultados mostram grande variação, indicando que a área superficial da wetland pode variar entre 10% e 270% da área do viveiro. Esta variação encontrada está relacionada à carga de poluente do efluente do viveiro e a capacidade da wetland em remover este poluente. Outro tema importante sobre wetlands construídas é a eficiência das mesmas na remoção de nutrientes e matéria orgânica do efluente, após longo tempo de funcionamento da wetland. Isto porque as wetlands possuem uma capacidade limitada de estocar nutrientes e matéria orgânica e, portanto, podem perder eficiência no tratamento do efluente quando esta capacidade é atingida. Diante deste problema, são necessários estudos que avaliem a variação da eficiência das wetlands em longo prazo. Biudes (2007) avaliou a eficiência de uma wetland na remoção de nitrogênio e fósforo totais do efluente e o crescimento da macrófita Eichhornia crassipes durante um período de 270 dias. Pode-se constatar que a biomassa inicial da macrófita foi baixa e aumentou até atingir a capacidade de suporte (Figura 3). Houve também uma relação positiva entre a remoção de nitrogênio e fósforo totais do efluente e a produção de biomassa de Eichhornia crassipes na wetland (Figura 4). Isto mostrou que a eficiência da wetland é maior na remoção de nutrientes quando a produção de biomassa é alta porque a macrófita estoca nutrientes durante seu crescimento. Por outro lado, a wetland apresenta baixa eficiência na remoção de nutrientes quando a capacidade de suporte é atingida e ocorre baixa produção de biomassa ou perda de biomassa, o que implica no retorno de nutrientes estocados para o efluente. Portanto, o manejo da biomassa deve visar sua manutenção em densidades na qual ocorre alta produção de biomassa. Sendo assim, é recomendável remover periodicamente 5

parte da biomassa da macrófita com os objetivos de retirar da wetland nutrientes já estocados na biomassa e aumentar o espaço para que a macrófita possa crescer e estocar mais nutrientes. Destaca-se que o crescimento das diferentes espécies de macrófitas depende de diversos fatores, tais como temperatura, luz e nutrientes (Biudes & Camargo, 2008). Por isto, são fundamentais estudos que avaliem o crescimento da planta em condições (clima e características do efluente) semelhantes ao da wetland para a determinação do manejo correto da planta. Os sistemas com macrófitas aquáticas flutuantes tem vantagens em relação àqueles com macrófitas emergentes, pois a retirada de biomassa dos vegetais flutuantes para que a eficiência de remoção seja a ideal é muito mais fácil. 2500 Biomassa (g MS.m -2 ) 2000 1500 1000 500 0 0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 Tempo (dias) Figura 3. Curva de crescimento de Eichhornia crassipes na wetland construída. Baseado em Biudes (2007). 6

50 (r = 0,88; P<0,01) Remoção de N-Total (%) 40 30 20 10 0-8 -4 0 4 8 12 16 20 Produtividade (g MS.m -2.dia -1 ) 80 (r=0,85; P<0,01) Remoção de P-Total (%) 60 40 20 0-8 -4 0 4 8 12 16 20 Produtividade (g MS.m -2.dia -1 ) Figura 4. Relação entre a remoção de nitrogênio e fósforo totais pela wetland e a produtividade de Eichhornia crassipes. Baseado em Biudes (2007). A biomassa de macrófitas produzida nas wetlands é um resíduo do sistema de tratamento que necessita de um destino. Assim, há a necessidade de se encontrar alternativas de utilização desta biomassa. Alguns estudos tem avaliado a possibilidade de aproveitamento da biomassa de macrófitas na alimentação de peixes. Entre os estudos, Santiago et al. (1988) 7

constataram que uma dieta contendo 42% da macrófita aquática flutuante Azolla pinnata proporcionou maior crescimento para alevinos de tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) do que a dieta com farinha de peixe. Essa (1997) substituiu 50% da dieta comercial (35% de proteína bruta) pela macrófita aquática flutuante Lemna sp e não observou efeito negativo sobre o crescimento de O. niloticus. Por outro lado, Henry-Silva et al. (2006) constataram que Eichhornia crassipes e Pistia stratiotes são poucos digestíveis para a tilápia-do-nilo, em comparação com ingredientes normalmente utilizados na produção de rações para a espécie. Destaca-se que as diferentes espécies de macrófitas podem apresentar composições químicas muito distintas. Portanto, as investigações sobre as possibilidades de aproveitamento da biomassa produzida nas wetlands devem ser feitas para cada espécie utilizada. CONCLUSÃO O uso de macrófitas aquáticas é uma alternativa para o tratamento de efluentes de aqüicultura, pois possuem comprovada eficiência na remoção de nitrogênio, fósforo e material particulado em suspensão do efluente. Contudo a utilização de wetlands construídas em escala comercial depende do aumento do conhecimento técnico-científico sobre manejo da biomassa vegetal, dimensionamento e ecologia das espécies de macrófitas utilizadas. Outro aspecto importante para o uso de wetlands em escala comercial é o aumento do rigor da legislação brasileira e da fiscalização da mesma para exigir que o efluente de aqüicultura seja adequadamente tratado antes de ser lançado em rios e lagos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8

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