A Remuneração dos Auditores-Fiscais Introdução A intenção deste estudo é de verificar a possibilidade de incremento de remuneração dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil, sem afetar o subsidio, instituído pela reforma administrativa, a Emenda Constitucional nº 19,de 1998. O Subsídio A Emenda Constitucional nº 19 de 1988, originaria da PEC 173, de 1995, tendo como autor o poder legislativo, apresentada em 23 de agosto de 1995, que tratou da reforma administrativa federal, instituiu a figura do Subsidio, com vistas a moralizar e desfazer disparidades remuneratórias, com natureza de remuneração, a partir do pagamento em parcela única, sendo este obrigatório (para detentores de mandato eletivo federal, estadual e municipal (chefes de governo do executivo, e seus vices, senadores, deputados e vereadores, ministros de estado, secretário de Estado e de Municípios e membros do poder judiciário ministros, desembargadores e juizes - membros do Tribunal de Contas, membros do Ministério Público Federal e Estadual, Advogados da União, Defensores Públicos, Procuradores do Estado e do Distrito Federal e dos servidores policiais civis e militares, ou facultativo (servidores públicos organizados em carreira, se assim dispuser a lei federal, estadual ou municipal). A sua origem está no parágrafo 4º no artigo 39 da Constituição Federal de 1988, verbis: Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes. (...) 1
4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998. Poderão também ser remunerados por subsídio os servidores públicos organizados em carreira, nos temos do parágrafo 8º, do artigo 39, da CF, de 1988. 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em carreira poderá ser fixada nos termos do 4º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) De acordo com essa norma constitucional é vedado o acréscimo ao subsídio de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecidos em qualquer caso, o disposto no artigo 37 da Constituição Federal de 1988, inciso X, onde preconiza que o subsidio poderá ser criado ou modificado por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurando revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices, verbis: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998): (...) X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998). 2
Enquanto que o inciso XI do mesmo artigo, estabelece o teto de cada subsidio em função do cargo, in verbis: XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) Nas palavras do grande mestre constitucionalista, JOSÉ AFONSO DA SILVA 1, O conceito de parcela única há de ser buscado no contexto temporal e histórico e no confronto do 4º do artigo 39 com outras disposições constitucionais, especialmente o 3º do mesmo artigo. Sendo uma espécie remuneratória de trabalho permanente, significa que é pago periodicamente. Logo, a unicidade do subsídio em cada período, que, por regra, é o mês. Trata-s, pois, de parcela única mensal. Historicamente, subsídio era uma forma de retribuição em duas parcelas: uma fixa e outra variável. Se a Constituição não exigisse parcela única, expressamente, essa regra prevaleceria. A primeira razão da exigência de parcela única consiste em afastar essa duplicidade de parcelas que a tradição configurava nos subsídios. A 1 Curso de Direito Constitucional Positivo, José Afonso da Silva, 16ª ed: Malheiros: 1999. pág. 662 3
proibição expressa de acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória reforça o repúdio ao conceito tradicional e elimina o vezo de fragmentar a remuneração com múltiplos penduricalhos, que desfiguram o sistema retributório do agente público, gerando desigualdades e injustiças. (grifos nossos) A norma constitucional não impede que os servidores aufiram outras verbas pecuniárias que tenham fundamentos diversos, tanto que o 3º do artigo 39 da CF, de 1988, remete ao art. 7º os servidores ocupantes de cargos públicos, algumas vantagens pecuniárias, nele consignadas, tais como décimo-terceiro salário, subsidio noturno maior que o diurno, salário-familia, um terço de férias, verbis: 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) Ademais, o novo 7º do artigo 39 prevê a possibilidade de adicional e prêmio, no caso de economia com despesas correntes em cada órgão etc., quebrando ele próprio a unicidade por ele mesmo estabelecida: 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários provenientes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) Conceitualmente Subsídio é a remuneraçao do servidor público em parcela única, que incorpora todas as gratificações e vantagens, transformando os diversos recebimentos em uma única rubrica. 4
Por outro lado, Vencimento é a retribuição pecuniária paga pelo Estado, em virtude do efetivo exercício, ao ocupante de cargo, emprego ou função, observadas as definições legais delineadoras do próprio cargo, emprego ou função, que de acordo com a Lei nº 8.112, de 1990, art. 40, é a retribuição pecuniária pelo exercício do cargo público, com valor fixado em lei. A Constituição Federal de 1988, no inciso XV, do artigo 37, garante a irredutibilidade do vencimento e do subsidio, salvo exceções por ela mesma elencadas, verbis: XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, 4º, 150, II, 153, III, e 153, 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) O FUNDAF Poder-se-ia proporcionar um incremento da remuneração utilizando os recursos do FUNDAF (Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização), instituído no Ministério da Fazenda, pelo Decreto- Lei nº 1.437, de 17 de dezembro de 1975, no seu artigo 6º, destinado a fornecer recursos para financiar o reaparelhamento e reequipamento da Secretaria da Receita Federal, a atender aos demais encargos específicos inerentes ao desenvolvimento e aperfeiçoamento das atividades de fiscalização dos tributos federais e, especialmente, a intensificar a repressão às infrações relativas a mercadorias estrangeiras e a outras modalidades de fraude fiscal ou cambial. Conclusão Sendo assim, poder-se-ia incrementar a remuneração dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil, dando, trimestralmente, um prêmio de produtividade pelo bom desempenho do Órgão, a Receita Federal, confirmados com o aumento da arrecadação e o cumprimento de suas metas, não se confundindo com o 5
subsidio, que é mensal, e tendo como apoio constitucional o 7º, do artigo 39 da Constituição Federal de 1988, porém sem utilizar os recuso do orçamento da União, mas sim os recursos do FUNDAF, que foi instituído para o aperfeiçoamento das atividades de Fiscalização. Sendo este plus trimestral, institucional, vinculado ao cumprimento de metas de arrecadação e fiscalização, metas estas atingíveis e transparentes, atingirá a todos Auditores-Fiscais, ativos e aposentados, nada prejudicando o subsidio, que é mensal e foi criado com vistas a moralizar e desfazer disparidades remuneratórias, remunerando a todos em parcela única, em busca da isonomia entre os servidores de uma mesma carreira. Ao contrário, se este plus for vinculado a uma avaliação individual, resultando em um incremento de remuneração individual, vai contra a filosofia do subsidio, recriando as discrepâncias por ele corrigidas, aumentando as desigualdades e injustiça. Outro ponto de vista importante é que a negociação do governo para reajustar o subsidio é inconstitucional, pois a Constituição Federal de 1988, artigo 37, inciso X, assegura a revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices, cabendo ação judicial quando for dado reajuste de subsídio a qualquer categoria, sem nos contemplar. Carlos Rafael da Silva Diretor Jurídico DS Divinópolis 6