ANÁLISE DOS NÍVEIS MOTIVACIONAIS DE ATLETAS DA MODALIDADE ATLETISMO NOS JOGOS UNIVERSITÁRIOS DO PARANÁ William Fernando Garcia (UEM/UNINGÁ), Vanderlei Alves de Almeida Junior (UEM), Marcus Vinícius Mizoguchi (UEM), Renan Codonhato (UEM), Lenamar Fiorese Vieira (UEM) RESUMO O presente estudo teve como objetivo analisar os níveis motivacionais de atletas nos Jogos Universitários do Paraná na modalidade atletismo. A amostra foi composta por 63 atletas de ambos os sexos com idade entre 18 e 29 anos inscritos na competição durante os 54 Jogos Universitários do Paraná. Como instrumento utilizou-se a Escala de Motivação para o Esporte e uma ficha de identificação do atleta. Para análise dos dados foram utilizados os testes de Shapiro Wilk e Levene. Sequencialmente foram utilizados os testes, ANOVA de medidas repetidas e Teste t para amostras independentes. Os resultados demonstram que os atletas apresentaram escores mais elevados para as subescalas de motivação intrínseca estimulação, conhecimento e realização, em seguida as subescalas de motivação extrínseca introjetada, identificação e externa e por ultimo a amotivação. A amotivação foi mais elevada nos atletas de baixo nível competitivo (p=0,003), enquanto que a motivação intrínseca realização (p=0,025) e motivação intrínseca conhecimento (p=0,003) apresentaram escores mais elevados para atletas de alto nível competitivo. Concluiu-se que atletas universitários da modalidade atletismo apresentam alto índice de motivação intrínseca, sendo que os atletas de alto nível competitivo apresentaram maiores escores de motivação intrínseca e menores escores de amotivação. Palavras-chave: esporte; motivação; atletismo. INTRODUÇÃO A trajetória histórica do desenvolvimento do esporte universitário, seu surgimento e consolidação coincidiram ao longo das décadas com a organização da prática esportiva contemporânea. A primeira competição universitária aconteceu na Europa em 1829 e a partir daí mais competições ocorrerão na Europa e nos Estados Unidos, No Brasil destacaram-se o surgimento das primeiras organizações estudantis e das primeiras competições no início dos anos 30. Mais tarde, na década de 50 iniciam-se as primeiras competições universitárias no estado do Paraná (TOLEDO, 2006; STAREPRAVO, 2006). Atualmente, o esporte universitário no estado do Paraná apresenta-se consolidado socialmente enquanto prática esportiva destinada a alunos das instituições de ensino superior, tanto para alunos praticantes de modalidades esportivas com caráter recreativo, como para alunos atletas que competem no âmbito profissional. Em detrimento a tal perspectiva, compreender os mecanismos motivacionais que estimulam os alunos/atletas a aderirem à prática esportiva universitária se faz necessário no sentido de adequar as práticas esportivas às realidades e anseios dos atletas tanto ao que se refere à participação quanto a busca pelo sucesso esportivo. Para compreender tais mecanismos, a teoria da autodeterminação proposta por Deci e Ryan
(1985), defende que os objetivos inerentes à motivação podem variar de uma pessoa para outra, organizando-se como um continuum entre a motivação intrínseca e extrínseca. Atualmente, algumas pesquisas já investigaram os aspectos motivacionais no contexto esportivo universitário (BALBINOTTI et al., 2012; BARROSO et al., 2007; SILVA, MACHADO e DIAS, 2014), entretanto observa-se uma lacuna na literatura onde não foram encontrados estudos que tenham investigado níveis motivacionais em atletas universitários do Paraná, sobretudo aqueles participantes da modalidade atletismo. Alguns estudos têm sido realizados investigando o papel dos fatores motivacionais em práticas esportivas de jovens atletas, bem como investigando os aspectos motivacionais no contexto do atletismo (BOMFIM, 2008; FRANCO, 2010). No contexto do esporte universitário, pesquisas recentes envolvendo aspectos motivacionais dos participantes, destacaram como fatores motivacionais o prazer, diversão, afiliação, aptidão física, aspectos técnicos, satisfação, bem estar e alegria (BARROSO et al., 2007; SILVA, MACHADO e DIAS, 2014). Em ambos os estudos têm-se notado uma despretensão com o esporte no âmbito do rendimento, revelando a abordagem da competição com uma perspectiva participativa (BALBINOTTI et al., 2012). Espera-se que no contexto do atletismo universitário paranaense encontrem-se atletas com alto índice de motivação intrínseca, sobretudo aqueles atletas de alto nível competitivo e mais experientes, em que a modalidade atletismo é a principal prática esportiva do sujeito. No eixo temático da presente contextualização, essa pesquisa visa analisar os níveis motivacionais de atletas nos Jogos Universitários do Paraná na modalidade de atletismo, bem como considerar os níveis motivacionais em função do nível competitivo. METODOLOGIA Fizeram parte do estudo 63 atletas, de ambos os sexos com idade entre 18 e 29 anos, participantes dos 54 Jogos Universitários do Paraná, realizado na cidade de Cianorte/PR no ano de 2014. Como critérios de inclusão da pesquisa o atleta deveria estar inscritos na modalidade de atletismo e deveria assinar o TCLE. Questionários incompletos e com preenchimento incorreto foram enquadrados dentro dos critérios de exclusão. Como instrumento de medida foi utilizada a Escala de motivação para o Esporte (PELLETIER et al., 1995), adaptada para o português por Serpa, Alves e Barreiros (2004). O instrumento é composto por 28 questões, em que são distribuídas em sete sub escalas, das quais três sub escalas para avaliar a motivação intrínseca (estimulação, realização e conhecimento), três sub escalas para avaliar a motivação extrínseca (externa, introjetada e identificação) e uma para avaliar a amotivação. por uma escala do tipo Likert de 7 pontos variando de 1 (não corresponde a nada) a 7 pontos (corresponde exatamente). Ressalta-se ainda que quanto mais elevados os resultados maior, nível de motivação naquela sub escala. Para classificação do nível competitivo dos atletas investigados na pesquisa, foi elaborada uma ficha de identificação contendo seis questões em uma escala tipo Likert de 7 pontos variando
de 1 (não corresponde) a 7 pontos (corresponde exatamente), de caráter informativo. A ficha abordava questões relativas à identificação do atleta como participante exclusivo da modalidade de atletismo, expectativas de desempenho, nível competitivo do atleta (em relação à participação de competições oficiais de atletismo), resultados competitivos no atletismo ao longo de sua prática, atletas que participam da modalidade de atletismo como uma prática secundária ou sem fins de desempenho competitivo. Os atletas foram analisados como Alto nível competitivo ou Baixo nível competitivo de acordo com a classificação pré-estabelecida pelos pesquisadores. Para fins de coleta de dados o projeto inicialmente foi enviado à Federação Paranaense de Desporto Universitário (FPDU) para que fosse dada autorização pelo órgão organizador do evento para a realização da pesquisa, posteriormente o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual de Maringá, tendo sido aprovado sob parecer n 337617/2014. Após aprovação do projeto, foram feitas as coletas de dados nos Jogos Universitários do Paraná no ano de 2014 entre os dias 05 a 11/09. As coletas foram realizadas individualmente nos locais de competição da modalidade atletismo, de modo que os atletas levaram em média 15 minutos para responder ao questionário. Para análise dos dados foram utilizados os testes de Shapiro Wilk e Levene para verificação de normalidade e homogeneidade respectivamente. Sequencialmente foram utilizados os testes, ANOVA de medidas repetidas com post-hoc de Bonferroni e Teste t para amostras independentes. Foi adotado p<0,05 como significância e utilizou-se o pacote estatístico IBM SPSS Statistics 20 para as análises. RESULTADOS A Tabela 1 apresenta a comparação dos escores das subescalas de motivação dos atletas participantes da modalidade de atletismo dos Jogos Universitários do Paraná. Tabela 1. Comparação das subescalas de motivação dos atletas participantes dos Jogos Universitários do Paraná da modalidade atletismo (n=63) Sub-escalas (Sd) Amotivação 2,63 (1,32) Motivação Extrínseca externa 3,66 (1,50) c Motivação Extrínseca introjetada 4,47 (1,31) b Motivação Extrínseca identificação 4,46 (1,47) b Motivação Intrínseca estimulação 5,53 (1,11) a Motivação Intrínseca realização 5,12 (1,25) a Motivação intrínseca conhecimento 5,18 (1,16) a a= Dif. est. sig. (p<0,05) para as demais sub-escalas de motivação extrínseca e amotivação b= Dif. est. sig. (p<0,05) para motivação extrínseca externa e amotivação c= Dif. est. sig. (p<0,05) para amotivação Observou-se na Tabela 1, que as médias das sub escalas de motivação intrínseca Estimulação 5,53(1,11), Conhecimento 5,18(1,16) e Realização 5,12(1,25) foram
significativamente maiores quando comparados com as médias das sub escalas de motivação extrínseca Introjetada 4,47(1,31), identificação 4,46 (1,47), externa 3,66(1,50) e amotivação 2,63(1,32). Da mesma forma, os escores das motivações extrínsecas identificação e introjetada se mostraram superiores quando comparados com a motivação extrínseca externa e amotivação. Ainda, a motivação extrínseca externa mostrou-se significativamente maior quando comparada com a amotivação. A Tabela 2, apresenta a comparação das sub-escalas de motivação em função do nível competitivo dos atletas. Tabela 2. Comparação das sub-escalas de motivação em função do nível competitivo de atletas participantes dos Jogos Universitários do Paraná Baixo nível competitivo Alto nível competitivo Sub-escalas p (Sd) (Sd) Amotivação 3,29 (1,09) 2,40 (1,32) 0,003* Motivação Extrínseca externa 3,64 (1,42) 3,67 (1,54) 0,937 Motivação Extrínseca introjetada 4,57 (4,87) 4,43 (4,00) 0,698 Motivação Extrínseca identificação 4,17 (1,60) 4,55 (1,43) 0,375 Motivação Intrínseca estimulação 5,07 (1,19) 5,69 (1,05) 0,054 Motivação Intrínseca realização 4,48 (1,29) 4,99 (1,18) 0,025* Motivação Intrínseca conhecimento 4,43 (1,15) 5,43 (1,06) 0,003* p<0,05* Os resultados revelaram diferenças estatisticamente significativas dos níveis de motivação em função do nível competitivo, sendo os atletas de baixo nível competitivo mais desmotivados quando comparados aos pares de alto nível competitivo (p=0,003). Ainda, foram observados valores superiores de motivação intrínseca nas dimensões de conhecimento e realização para os atletas de alto nível competitivo. Na Motivação Intrínseca de conhecimento observou-se que a média para atletas de baixo nível competitivo foi de 4,43(1,15) enquanto que para atletas de alto nível competitivo de foi de 5,43(1,06) (p=0,003). Para a Motivação Intrínseca Realização os atletas de baixo nível competitivo apresentaram escore médio de 4,48(1,29) enquanto os atletas de alto nível competitivo apresentaram valores médios de 4,99(1,18) (p=0,025). CONCLUSÕES Concluiu-se que os atletas universitários da modalidade atletismo apresentam alto índice de motivação intrínseca seguida pela motivação extrínseca, e, em se tratando da amotivação observou-se um baixo índice para os participantes dos jogos universitários de maneira geral. Quando comparados os escores de motivação em função do nível competitivo, foi possível observar que os atletas de alto nível mostraram-se mais motivados intrinsecamente e menos desmotivados em comparação aos atletas de baixo índice competitivo.
MOTIVATIONAL LEVEL ANALYSIS OF ATHLETICS ATHLETES IN PARANÁ UNIVERSITY GAMES ABSTRACT The aim of this study is to analyze the motivational level of athletes at the Paraná University Games in athletics mode. The sample was composed by 63 athletes of both sexes, with ages between 18 to 29 years old registrated at the competition held during the 54 Paraná University Games. As an instrument it was used the Sport Motivation Scale and an athlete identification form. Data analysis was performed using Shapiro Wilk and Levine testing. Then, it was used the ANOVA test of repeated measurement and independent sample T test. Results show that athletes had higher scores for intrinsic motivation subscales, such as stimulation, knowledge and achievement, then, extrinsic motivation subscales introjected, identification, and finally, amotivation. Amotivation was higher in low competitive level (p=0,003), while achievement intrinsic motivation (p=0,025) and knowledge intrinsic motivation (p=0,003) had higher scores in high competitive level athletes. It was concluded that athletic university atlhetes had high intrinsic motivation level, wherein, high competitive level athletes had higher scores of intrinsic motivation and low amotivation scores. Key words: sport; motivation; athletics. REFERÊNCIAS BALBINOTTI, M. A. A; JUCHEM, L.; BARBOSA, M. L. L.; SALDANHA, R. P.; BALBINOTTI, C. A. A. Qual é o perfil motivacional característico de tenistas infanto-juvenis brasileiros? Motriz. V.18, n. 4, p.728-734, 2012. BARROSO, M. L. C. Motivos de prática de esportes coletivos universitários em Santa Catarina. 2007. TCC (Graduação) - Curso de Educação Física, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. BOMFIM, A. Fatores motivacionais dos triplistas participantes do XXVII Troféu Brasil de Atletismo 2008. 2008. TCC (Graduação) Curso de Educação Física, Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí, Paranavaí, 2008. DECI, E. L.; RYAN, R. M. Intrinsic motivation and self-determinations in human behavior. Nova Iorque: Plenum, 1985. FRANCO, K. N. Comparação de Fatores Motivacionais entre Corredores de rua de equipes e individuais. 2010. Monografia (Especialização) - Curso de Educação Física, Departamento de Escola Superior de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. SERPA, S.; ALVES, P.; BARREIROS, A. Versão portuguesa da Sport Motivational Scale (SMS) e da Sport Academic Scale (AMS): processos de tradução, adaptação e fiabilidade. 2004. Tese (Doutorado) - Faculdade de Motricidade Humana, Laboratório de Psicologia do Desporto, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, Portugal, 2004. SILVA, L. L.; MACHADO, R. P. T.; DIAS, P. S. Fatores motivacionais para a prática do desporto universitário: Factores motivacionales para la práctica del deporte universitario. Efdeportes.com. n. 191, 2014. STAREPRAVO, F. A.; REIS, L.J.A.; MEZZADRI, F. M.; MARCHI JUNIOR, W. O esporte universitário no Brasil: Uma interpretação a partir da legislação esportiva. Esporte e Sociedade. n.14, 2010.
TOLEDO, R. Gestão do Esporte Universitário: Uma importante estratégia de marketing para as universidades. São Paulo: Aleph, 2006.