LIÇÃO 12 - A VOLTA DE JESUS Texto bíblico: Apocalipse 19.11-16 Motivação Quando uma pessoa amada precisa se ausentar por um longo tempo, a ansiedade por sua volta é muito grande. Contamos os dias para que ela regresse logo. O feliz dia do retorno é cheio de emoção. Alguns vão até a rodoviária ou aeroporto para receber o ente querido. No caminho para casa, fazemos o possível para atualizar a conversa e matar a saudade. É possível usar essa experiência muito humana da separação para aplicar à volta de Jesus. Ele retornou para o céu, com a promessa de que um dia desceria para nos buscar. O coração dos crentes aguarda com ansiedade a volta do nosso Senhor. Exposição bíblica A VOLTA DE JESUS Finalmente, o Apocalipse se detém a narrar a volta de Jesus. Este é o assunto do capítulo 19. Nos versículos iniciais, o texto apresenta um hino cantado para celebrar a derrota da Babilônia, sede da oposição ao povo de Deus. Somente a partir do versículo 11 é que Jesus aparece nos ares. Ele é descrito como um cavaleiro sobre um cavalo branco. Certamente é uma descrição simbólica. Outros traços são vinculados ao cavaleiro para acentuar a natureza de sua volta: Olhos de fogo e diademas na cabeça são traços que já apareceram antes, especialmente na descrição do Filho do Homem que ditou para João as sete cartas para as sete igrejas (Ap 1.9-16). O fato de Ele ter um nome que ninguém conhece não é sinal de anonimato, mas de independência. No mundo antigo, saber o nome de alguém era ter controle sobre a pessoa. Dizer que ninguém conhece o nome de Jesus, no seu retorno, indica que ninguém é mais poderoso do que Ele. Assim, pode
agir como quer, de forma completamente independente. Ele não precisa de ajuda para cumprir seus propósitos. Seu poder é suficiente para promover a consumação do seu Reino. A descrição de suas roupas como já manchadas de sangue é um elemento significativo. Alguns comentaristas entendem que é uma referência ao sangue dos adversários que Ele derrotou. Mas, como acaba de apontar nos ares, isso não faz sentido. É melhor entender que o sangue que lhe mancha as roupas é uma referência ao seu próprio sangue. No capítulo 5, Jesus foi descrito como um Cordeiro como tendo sido morto, ou seja, ensanguentado, ou com marcas de feridas (Ap 5.6). As manchas representam, então, sua morte, instrumento pelo qual "comprou para Deus pessoas de todos os povos, raças e línguas" (Ap 5.9). Tanto seu nome como Verbo de Deus, como a espada que sai de sua boca se referem à Palavra divina. Pela Palavra, Deus criou todas as coisas. É pela Palavra que Ele fará a intervenção do final dos tempos. O exército que acompanha Jesus tanto pode ser formado por anjos como por cristãos mortos, que retornam com Ele. As duas leituras são possíveis. A descrição do apóstolo Paulo de que a volta de Jesus será acompanhada do toque de trombeta angelical e o retorno dos irmãos pode nos ajudar a compreender o Apocalipse (1Ts 4.13,14). Finalmente, chega a fase final do conflito escatológico. Jesus, como um grande Guerreiro Exaltado, aparece no céu em todo o seu esplendor e alcança fácil vitória sobre as bestas. Ele surge em um cavalo branco, com seu nome enaltecido, comandando um exército celestial. Ele julga e vence o conflito. Entretanto, há ainda algumas particularidades. Primeiro, seu nome é a Palavra de Deus (Ap 19.13). Segundo, nenhuma guerra é narrada. A história se move do seu aparecimento, da descrição do ajuntamento para a guerra, para a declaração de que as bestas foram capturadas. Terceiro, os demais seguidores da besta foram mortos não por espadas, mas pela palavra que sai da boca de Jesus (Ap 19.15). Mas já que as bestas e os seus seguidores foram vencidos e mortos, o que vem agora? AS EXPECTATIVAS JUDAICAS QUANTO À INTERVENÇÃO DE DEUS
Expectativa messiânica é o nome que os estudiosos dão para a esperança judaica na intervenção de Deus na direção de um Reino de paz e felicidade. Em linhas gerais, essa expectativa pode ser dividida em três grupos: a) um grupo de judeus entendia que Deus iria intervir para trazer o seu Reino, e que essa intervenção poria fim à história e ao mundo material. Depois da intervenção de Deus, toda a realidade seria transcendente; b) um segundo grupo entendia que Deus iria intervir para trazer o seu Reino, que se materializaria dentro da história. O mundo material seria transformado para dar origem a um novo paraíso na terra. Em outras palavras, estes acreditavam que o destino do povo de Deus não seria no céu, mas aqui mesmo, numa terra transformada para sempre; c) um terceiro grupo afirmava as duas expectativas. Segundo este, a intervenção de Deus iria inaugurar o seu governo de paz na terra durante certo tempo. Após um período de felicidade na terra, o mundo e a história passariam para dar origem a uma realidade exclusivamente transcendente. Essas descrições acabam indicando a expectativa que aparece em Apocalipse 20. A visão de João se insere no terceiro grupo, ao afirmar um governo na terra de mil anos, seguido do juízo final e da Nova Jerusalém (realidade transcendente). AS CORRENTES EM TORNO DO MILÊNIO Afirmar o tipo de expectativa compartilhada em Apocalipse 20, entretanto, não basta para interpretar o texto. As várias estratégias hermenêuticas acabaram produzindo três tipos de correntes milenistas. Faço uma síntese delas abaixo, a fim de indicar para os leitores que não há uma maneira única de entender esse texto. Isso pede de nós humildade para compreendermos que não temos a última palavra a respeito de sua interpretação, e que há outros crentes sinceros que pensam de forma diferente. a) Pré-milenismo: faz uma leitura da volta de Jesus esperando a historicidade do milênio. Entende que o milênio compreende um período histórico em que Jesus governará a terra, marcando-o com paz e felicidade. O termo indica que Jesus voltará antes do milênio, e que sua volta é efetivamente
sua inauguração. Esta é a perspectiva mais antiga de leitura do Apocalipse. Os primeiros leitores do livro entenderam-no desta forma, que se tornou a leitura majoritária até o séc. IV. b) Amilenismo: compreende o milênio de forma simbólica como o período de tempo entre a primeira e a segunda vinda de Jesus. A volta de Jesus trará o juízo final e o fim do mundo. Não há governo de Jesus na terra. Essa forma de leitura começou com Ticônio (séc. IV) e se tornou majoritária após Agostinho de Hipona (séc. V). c) Pós-milenismo: entende que o período do milênio se dará na história, e começará após o avanço da pregação do Evangelho. Em algum momento, a humanidade experimentará um longo período de paz em função do sucesso do cristianismo. Após este período de paz, Jesus retorna para trazer o juízo final e o fim do mundo. Essa corrente parece ter nascido no séc. XII. Após essas palavras, estamos prontos para nos determos na interpretação específica dos acontecimentos de Apocalipse 20 em diante. Mas este é o assunto da próxima lição. Relação com a vida Apocalipse usa a bela imagem de um casamento para descrever o encontro entre Jesus e seus seguidores. Estes são descritos como "noiva" do Cordeiro. Tal figura é usada em outras partes do Novo Testamento (Mt 25.1-13; Mc 2.19-20; 2Co 11.2; Ef 5.25-27). Há um contraste evidente entre a noiva (Igreja) e a prostituta (seguidora do Dragão). Aqueles que não se deixaram levar pela sedução da besta, mas mantiveram-se fiéis a Jesus, constituem a Igreja pura, sem mácula, noiva do Senhor. Esses serão recebidos com amor pelo noivo e viverão com Ele. São bem-aventurados (Ap 19.9). Por outro lado, aqueles que têm se deixado levar pela besta estarão com ela no lago de fogo para sempre. Para pensar e agir Os debates sobre a volta de Jesus costumam dividir os estudiosos. Em alguns momentos, as discussões são acirradas e pouco amistosas. Acredito,
entretanto, que não deveriam ser assim. É verdade que não há consenso em torno do milênio, mas isso é natural em função da complexidade do tema. Vamos respeitar quem é de outra corrente escatológica. No final, estaremos todos juntos, e para onde vamos não haverá qualquer divisão. Leituras diárias: 1 - Apocalipse 19.1-10 2 - Apocalipse 19.17-21 3 - Apocalipse 20.1-6 4 - Apocalipse 20.7-10 5-1Tessalonicenses 4.13-18 6-2Tessalonicenses 2.7-12 7 - Lucas 21.25-36