História Contemporanea II. Valéria Maria Santana Oliveira

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Transcrição:

História Contemporanea II Valéria Maria Santana Oliveira São Cristóvão/SE 2014

História Conteporânea II Elaboração de Conteúdo Valéria Maria Santana Oliveira Projeto Gráfico Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo Capa Hermeson Alves de Menezes Diagramação Marcio Roberto de Oliveira Mendonça Revisor Flávia Ferreira da Silva Rocha Copyright 2014, Universidade Federal de Sergipe / CESAD. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização por escrito da UFS. FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE S237h Santos, Lenalda Andrade. História Medieval I/ Lenalda Andrade Santos, Bruno Gonçalves Alvaro -- São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2012. 1. Idade Média - História. 2. Igreja e Estado. 3. Islamismo. 4. Ciência política. I. Alvaro. Bruno Gonçalves. II Título. CDU 94(4)" 0375/1492"

Presidente da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Renato Janine Ribeiro Diretor de Educação a Distância João Carlos Teatini Souza Clímaco Reitor Angelo Roberto Antoniolli Chefe de Gabinete Marcionilo de Melo Lopes Neto Coordenador Geral da UAB/UFS Diretor do CESAD Antônio Ponciano Bezerra Coordenadora-adjunta da UAB/UFS Vice-diretora do CESAD Djalma Andrade Vice-Reitor André Maurício Conceição de Souza Diretoria Pedagógica Clotildes Farias de Sousa Diretoria Administrativa e Financeira Pedro Henrique Dantas Dias Coordenação de Cursos Djalma Andrade Coordenação de Formação Continuada Rosemeire Marcedo Costa Coordenação Geral de Tutoria Ana Rosimere Soares Coordenação de Avaliação Hérica dos Santos Matos Coordenação de Tecnologia da Informação Hermeson Menezes Assessoria de Comunicação Guilherme Borba Gouy Coordenadores de Curso Denis Menezes (Letras Português) Eduardo Farias (Administração) Elaine Cristina N. L. de Lima (Química) Paulo Souza Rabelo (Matemática) Hélio Mario Araújo (Geografia) Lourival Santana (História) Marcelo Macedo (Física) Silmara Pantaleão (Ciências Biológicas) Maria Augusta Rocha Porto (Letras Inglês) Coordenadores de Tutoria Mônica Maria Soares (Letras Português) Ayslan Jorge Santos da Araujo (Administração) Viviane Costa Felicíssimo (Química) Danielle de Carvalho Soares (Matemática) Givaldo dos Santos Bezerra (Geografi a) Carolina Nunes Goes (História) Frederico Guilherme de Carvalho Cunha (Física) Luzia Cristina de M. S. Galvão (Ciências Biológicas) Ana Lúcia Simões Borges Fonseca (Letras Inglês) COORDENAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO Hermeson Menezes (Coordenador) Marcio Roberto de Oliveira Mendonça Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze CEP 49100-000 - São Cristóvão - SE Fone(79) 2105-6600 - Fax(79) 2105-6474

Sumário AULA 1 A Revolução Russa... 07 AULA 2 A primeira Guerra Mundial... 15 AULA 3 O mundo Entreguerras... 23 AULA 4 Regimes Totalitários......31 AULA 5 A segunda Guera Mundial... 39 AULA 6 Descolonização da África e Ásia... 47 AULA 7 A Guerra Fria... 53 AULA 8 A desagregação da URSS... 59 AULA 9 O Oriente Médio...65 AULA 10 Introdução ao Século XXI... 73

Aula1 A REVOLUÇÃO RUSSA META Apresentar o contexto em que se encontrava a Rússia pré-revolucionária, os aspectos que desencadearam a revolução, seu desenvolvimento e consequências. OBJETIVOS Ao final da aula o(a) aluno(a) deverá: analisar a conjuntura que possibilitou a eclosão do processo revolucionário russo, associando-o aos efeitos da Primeira Guerra Mundial. PRERREQUISITOS Ter cursado a disciplina História Contemporânea I. Valéria Maria Santana Oliveira

História Contemporânea II INTRODUÇÃO Vamos começar uma série de aulas sobre a História Contemporânea, tendo como ponto de partida a Revolução Russa. Veremos nesta aula como se encontrava a Rússia antes da Revolução de 1917, para entendermos o contexto que resultou na inauguração do primeiro estado socialista da história. Entenderemos também, como este fato histórico impulsionou a formação de partidos comunistas em diversas partes do mundo. A partir da década de 1860, como veremos, uma revolução russa não era apenas uma possibilidade mas uma probabilidade, talvez mesmo uma certeza. (HOBSBAWN, 1992, p. 171) Antes da revolução eclodir, a Rússia era um país onde um verdadeiro mosaico de povos vivia sob o domínio de um czar (imperador), que reinava com o apoio da Igreja Ortodoxa, da polícia política (Okrana) e do exército. A maior parte da população vivia no campo, onde a vida era precária e a produtividade bastante baixa. A maior parte das terras pertencia à Igreja e à nobreza, e os camponeses (mujiks) trabalhavam na condição de servos. Diante disto, o czar Alexandre II aboliu gradualmente a servidão, concedendo terras aos mujiks, porém, em quantidade insuficiente. A exploração do operariado, decorrente da industrialização, contribuiu para a disseminação das ideias socialistas e a formação de organizações de esquerda. Exemplo disto foi a criação, em 1898, do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR). No interior do partido, as divergências ideológicas quanto à forma de se chegar ao socialismo, resultaram na formação de duas correntes: os mencheviques e os bolcheviques. Os mencheviques, liderados por Yuly Martov e Georgy Plekanov, defendiam uma transição gradual e pacífica, liderada pela burguesia. Esta deveria instaurar uma república que proporcionasse reformas sociais e econômicas e favorecessem o desenvolvimento do capitalismo. Já os bolcheviques, sob o comando de Vladimir Ilitch Ulianov, mais conhecido como Lênin, defendiam a revolução proletária, conduzida por um partido revolucionário, cuja liderança seria centralizada, constituída por militantes profissionais. Estes seriam submetidos a rigorosas disciplinas. 8

A Revolução Russa Aula 1 Vladimir IlitchUlianov, mais conhecido como Lênin. (Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8d/lenin_cl_colour.jpg) A industrialização tardia, iniciada na segunda metade do século XIX, ocorreu graças à injeção de capital estrangeiro (principalmente franceses e ingleses). A partir daí observou-se o crescimento das cidades e as políticas de desenvolvimento. Apesar dessas medidas, as condições de vida precárias, enfrentadas pela maioria da população, pioraram no início do século XX. A derrota na Guerra Russo-Japonesa (1905), conflito decorrente da disputa expansionista da Rússia e do Japão, fez com que vários setores da sociedade reagissem. Durante uma manifestação popular, centenas de pessoas, entre elas muitos operários, marcharam rumo ao Palácio de Inverno, onde entregariam uma petição ao czar reivindicando reformas políticas, sociais, religiosas e fiscais. Além disso, os participantes da manifestação exigiam a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte. A resposta do imperador não poderia ter sido pior: centenas de trabalhadores foram metralhados pelo exército imperial. Foi o chamado Domingo Sangrento, episódio que serviu de estopim para desencadear uma onda de manifestações e greves no campo e na cidade, conhecida como Revolução de 1905, também chamada de Ensaio Geral para a posterior Revolução de 1917. 9

História Contemporânea II Após o massacre do Domingo Sangrento, os marinheiros do encouraçado Potemkin, o maior navio de guerra do império, rebelaram-se contra os abusos praticados por seus superiores. Em decorrência da incisiva repressão imposta pelo czar, a população passou a organizar-se por vias alternativas, surgindo, assim, os sovietes (conselhos de representantes do povo). O encouraçado Potemkin, de Sergei Eisenstein (1925). (Fonte: http://www.midiorama.com.br/wp-content/gallery/o-encouracado-potemkin-2013/fotopotemkin-04.jpg) Ver glossário no final da Aula A crescente instabilidade social e política forçou o czar Nicolau II a convocar eleições para a Duma, prometendo realizar reforma agrária e respeitar as liberdades civis. No entanto, o czar chegou a dissolver a Duma mais de uma vez. Após a quarta Duma, o governo proibiu todos os debates. Tal postura repressiva, somando-se aos prejuízos causados pela participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial, contribuiu para o crescimento do descontentamento popular, que teve seu ápice na Revolução de 1917. O governo russo, ao integrar a Tríplice Entente durante a Primeira Guerra, aliando-se à Grã-Bretanha e à França, tinha por objetivo expandir suas fronteiras. No entanto, a participação na guerra foi desastrosa, pois causou derrotas e perdas de territórios, paralisação da economia e desemprego. 10

A Revolução Russa Aula 1 O termo revolução apareceu durante o período do Renascimento (entre os séculos XIV e XVI). A palavra teve origem nas ciências naturais, sendo empregada como uma referência ao movimento lento, regular e cíclico dos astros.] A partir da Revolução de fevereiro de 1917, ocorreu a queda do czar e o ressurgimento dos sovietes. Foi formado um governo provisório liderado pelos kadetes, que durou apenas alguns meses. Sob a liderança de Lênin, os bolcheviques faziam oposição ao governo com as seguintes palavras de ordem: paz, pão e terra. Estas palavras resumiam as chamadas Teses de Abril, de Lênin. Nesta proposta, havia o clamor pela paz imediata (saída da Rússia da Guerra), a dissolução do Governo Provisório e todo poder aos sovietes, entre outras reivindicações. Em resposta, o governo decretou a ilegalidade do partido Bolchevique. Em dezembro de 1917, a Rússia se retira da Primeira Guerra ao assinar um armistício com a Alemanha (Tratado de Brest-Litovski), com um saldo negativo, entre soldados mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros de guerra, de 5,5 milhões de pessoas. Mas este ato não proporcionou a paz que a Rússia ansiava. Entre 1918 e 1920, uma violenta Guerra Civil confrontou o Exército Branco (liderado pelos generais czaristas) e o Exército Vermelho, organizado e fundado pelo dirigente bolchevique Leon Trotsky, na busca de conquistar o poder central. Porém, suas forças encontravam-se praticamente estagnadas. Em 1919, foi fundada em Moscou a chamada Internacional Comunista, com o objetivo de propagar a Revolução Russa, como exemplo para os trabalhadores de outros países. Somente no final de 1920 o Exército Vermelho chegou à vitória. Lênin em discurso para a população russa. (Fonte:http://marxismo.org.br/sites/default/files/pictures/articles/lenin_0.jpg) 11

História Contemporânea II O bolchevique assumiu o poder como partido único, principalmente após Joseph Stalin ser nomeado secretário-geral em 1922. Naquele mesmo ano, consolidou-se a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A União Soviética não foi afetada pela crise de 1929, pois, desde 1927, vigorava no país a Nova Política Econômica (NEP), que admitia, dentro de certos limites, o lucro individual e a propriedade privada. Ou seja, eram combinados princípios capitalistas e socialistas. O NEP incentivou o comércio, a pequena e a média manufatura, proporcionado o surgimento de uma nova categoria social, os nepmen (empresários que colaboravam com o regime socialista). Esta política econômica estimulou a entrada de capital estrangeiro no país e permitiu a venda de excedentes da colheita no mercado interno. Estas medidas estimularam a produção e garantiram o abastecimento. CONCLUSÃO Retomando o pensamento de Eric Hobsbawm, a Revolução de março de 1917 nada teve de surpreendente ou inesperada. Ao derrubar a monarquia russa, o processo revolucionário foi saudado pela opinião pública ocidental. A Rússia tornou-se modelo para o movimento socialista internacional, impulsionando a criação dos partidos comunistas de diversos países. RESUMO Vimos nesta primeira aula como se encontrava a Rússia às vésperas da revolução. Percebemos como ocorreu a difusão das ideias marxistas e o surgimento do Partido Operário Social-Democrata Russo, contendo em si os bolcheviques que chegaram ao poder a partir da Revolução de 1917. Em 1922, foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e, em 1927, para salvar a economia russa de um colapso, Lênin adotou a Nova Política Econômica (NEP). 12

A Revolução Russa Aula 1 ATIVIDADES Realize uma pesquisa sobre o MST nacional e, em no máximo 3 páginas, aborde os seguintes aspectos: Identifique influências do ideário socialista no MST; Aborde em sua pesquisa as questões relacionadas à luta pela terra dos quilombolas e indígenas, em torno da reforma agrária; Analise a relação entre a reforma agrária e a resolução dos conflitos de terra no Brasil. Esta pesquisa visa identificar a influência das ideias socialistas na atualidade. COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES A partir do impulso ocorrido na Rússia, o socialismo difundiu-se pelo mundo, estando presente até os dias de hoje. Entender a história e atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra é compreender como estas ideias repercutem até a atualidade. AUTO-AVALIAÇÃO Após o estudo desta aula, reflita a partir do seguinte questionamento: - Sou capaz de compreender a conjuntura que possibilitou a eclosão do processo revolucionário russo, e sua relação com a Primeira Guerra Mundial? PRÓXIMA AULA Na próxima aula estudaremos sobre a Primeira Guerra Mundial. 13

História Contemporânea II REFERÊNCIAS FERRO, Marc. A Revolução Russa de 1917. São Paulo: Perspectiva, 1988. HOBSBAWM, E. Sobre história. Tradução de Cid Knipel Moreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.. A era do capital. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982..A era dos extremos: o breve século XX. 2. ed. 9. reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. GLOSSÁRIO Duma: Assembleia de representantes da sociedade russa, composta, em sua maioria, de nobres e burgueses ricos. Tinha papel consultivo e poderia ser dissolvida a qualquer momento. 14