Equipamentos de menor potencial ofensivo Todos os artefatos, excluindo armas e munições, desenvolvidos e empregados com a finalidade de conter, debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas, preservar vidas e minimizar danos a sua integridade. A Portaria traz na sua Diretriz 19 o seguinte texto: Deverá ser estimulado e priorizado, sempre que possível, o uso de técnicas e instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes de segurança pública, de acordo com a especificidade da função operacional e sem se restringir às unidades especializadas. Voltaremos a discutir a utilização das técnicas e tecnologias não letais por parte das forças especiais das instituições na próxima aula. Os legisladores preocuparam-se com o treinamento para a utilização do equipamento não letal, como constatamos na Diretriz 20: Deverão ser incluídos nos currículos dos cursos de formação e programas de educação continuada conteúdos sobre técnicas e instrumentos de menor potencial ofensivo. O documento reforça a ideia de que armas e equipamentos não letais devem ser usados de acordo com as exigências que se apresentarem. Leia a Diretriz 21: As armas de menor potencial ofensivo deverão ser separadas e identificadas de forma diferenciada, conforme a necessidade operacional. A Diretriz 22 determina que o uso de técnicas de menor potencial ofensivo deve ser constantemente avaliado. Este contínuo estudo poderia ser feito cumprindo-se o regulado na Diretriz 24. Quando se usa a arma de fogo e/ou instrumentos de menor potencial ofensivo, tendo havido lesões ou mortes, deverá ser elaborado relatório que contenha, no mínimo, as seguintes informações: circunstâncias e justificativa que levaram o uso da força ou de arma de fogo por parte do agente de segurança pública;
medidas adotadas antes de efetuar os disparos/usar instrumentos de menor potencial ofensivo, ou as razões pelas quais elas não puderam ser contempladas; tipo de arma e de munição, quantidade de disparos efetuados, distância e pessoa contra a qual foi disparada a arma; instrumento(s) de menor potencial ofensivo utilizado(s), especificando a frequência, a distância e a pessoa contra a qual foi utilizado o instrumento; quantidade de agentes de segurança pública feridos ou mortos na ocorrência, meio e natureza da lesão; quantidade de feridos e/ou mortos atingidos pelos disparos efetuados pelo(s) agente(s) de segurança pública; número de feridos e/ou mortos atingidos pelos instrumentos de menor potencial ofensivo utilizados pelo(s) agente(s) de segurança pública; número total de feridos e/ou mortos durante a missão; quantidade de projéteis disparados que atingiram pessoas e as respectivas regiões corporais atingidas; quantidade de pessoas atingidas pelos instrumentos de menor potencial ofensivo e as respectivas regiões corporais atingidas; ações realizadas para facilitar a assistência e/ou auxílio médico, quando for o caso; e se houve preservação do local e, em caso negativo, apresentar justificativa. Um relatório tão detalhado nos daria subsídio para detectar onde se deu a falha que resultou na lesão ou na morte da pessoa abordada e contra a qual foi utilizada arma não letal. O uso das armas não letais pelos integrantes das organizações de Segurança Pública Vamos começar a analisar a utilização do armamento não letal pelas forças de Segurança Pública, pautando-nos pela Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003 (disponível para leitura no endereço http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.826.htm). Esta lei dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas Sinarm -, definindo crimes e dando outras providências.
O seu artigo 23 apresenta a seguinte redação: A classificação legal, técnica e geral bem como a definição das armas de fogo e demais produtos controlados, de usos proibidos, restritos, permitidos ou obsoletos e de valor histórico serão disciplinadas em ato do chefe do Poder Executivo Federal, mediante proposta do Comando do Exército. A lei não aprecia o armamento ou equipamento não letal, mas concede ao Exército a atribuição para designar o que seriam armas de uso restrito. Frequentemente escutamos falar que armas não letais seriam classificadas como de uso restrito. Assim, o cidadão que fosse abordado portando este tipo de armamento, poderia ser preso com base no artigo 16 da referida Lei: Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena reclusão, de 3 a 6 anos, e multa. Este é um entendimento equivocado, errado. Como pudemos verificar no decorrer desta aula, armas não letais não são acessórios de armas de fogo, muito menos munição para elas. A tentativa de prender alguém com base neste artigo seria errada, pois não há nele a tipicidade exigida para caracterização do ato como crime. Continuemos. O Decreto 3.665 de 20 de novembro de 2000 (disponível para leitura no endereço http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3665.htm) regulamenta a fiscalização de produtos controlados. O seu artigo 4º incumbe o Exército de baixar as normas de regulamentação técnica e administrativa para a fiscalização dos produtos controlados.
O artigo 5º determina que na execução das atividades de fiscalização de produtos controlados, deverão ser obedecidos os atos normativos emanados do Exército, que constituirão jurisprudência administrativa sobre a matéria. Não restam dúvidas quanto à competência do Exército na leitura do artigo 6º: A fiscalização de produtos controlados de que trata este Regulamento é de responsabilidade do Exército, que a executará por intermédio de seus órgãos subordinados ou vinculados, podendo, no entanto, tais atividades serem descentralizadas por delegação de competência ou mediante convênios. Nos artigos subsequentes é validado que o Exército controlará a fabricação, a utilização, a importação, a exportação, o tráfego e o comércio dos produtos controlados. No anexo I do Decreto, temos a relação com os produtos que sofrem o controle por aquela Força Armada. O anexo III pretende esclarecer quais são as reações provocadas pelos produtos controlados. É possível observar com destaque o gás lacrimogênio. O artigo 113 do Decreto positiva que As armas, munições, acessórios e equipamentos de uso restrito não podem ser vendidas no comércio. O capítulo VIII do Decreto trata da aquisição de armamento não letal pelas instituições de segurança pública. O artigo 145 traz a seguinte redação: A aquisição, na indústria, de armas, munições, acessórios, equipamentos e demais produtos controlados de uso restrito, por parte de órgãos de Governo no âmbito federal, estadual ou municipal, não integrantes das Forças Armadas, para uso dessas organizações, dependerá de autorização do D Log. O D Log é o Departamento Logístico do Exército Brasileiro. Quando o órgão interessado na aquisição for uma corporação militar estadual, a regulação vai ser encontrada no parágrafo 9º do artigo 145:
A aquisição de armas, munições, viaturas blindadas, coletes a prova de balas e demais produtos controlados, pelas Forças Auxiliares, obedecerá às disposições do Anexo XXVI a este Regulamento. Seria possível que uma pessoa física comprasse armamento não letal? Cremos que sim, tendo em vista o que se depreende da leitura do artigo 146, do Decreto: O Comandante do Exército poderá autorizar a aquisição, na indústria, de armas, munições e demais produtos controlados de uso restrito, por pessoas físicas de categorias profissionais, para uso próprio, que comprovem sua necessidade. Apesar de não se explicitar as quais categorias profissionais o artigo estaria referindo-se, podemos inferir que se trata daqueles que atuam na área de Segurança Pública. Em 27 de dezembro de 2006, o Exército emitiu a Portaria nº 20 (acessível no endereço http://www.dfpc.eb.mil.br/institucional/legislacao/armafogo_muni_naoletais/portaria_ 20_nao_letais%20- %20REVOGADA%20pela%20Portaria%2001%20DLOG,%20DE%2005%20JAN%202009.pdf). O artigo 1º classifica explicitamente como armamento e munição não letais, de uso restrito, os seguintes itens: I - borrifador (spray) de gás pimenta; II - arma de choque elétrico (air taser); III - granadas lacrimogêneas (OC ou CS) e fumígenas; IV - munições lacrimogêneas (OC ou CS) e fumígenas; V - munições calibre 12 com balins de borracha ou plástico; VI - cartucho calibre 12 para lançamento de munição não letal; VII - lançador de munição não letal no calibre 12; e VIII - máscara contra gases lacrimogêneos (OC ou CS) e fumígenos. Em 29 de novembro de 2007, o Exército emitiu a Portaria de número 6, regulando as condições para a fabricação, a importação, a exportação e o comércio de armas de pressão por ação de gás comprimido, por ação de mola e arma de choque elétrico.
A Portaria definiu arma de choque elétrico como sendo uma arma que emite pulsos elétricos com efeito paralisante mediante o lançamento de contatos (eletrodos) a distância. O artigo 18 é explícito ao afirmar que as armas de choque elétrico e suas munições não podem ser vendidas no comércio especializado.