EUA-CUBA: Fatores que impulsionaram a reaproximação política e histórica, por Paulo Henrique da Silva Uma das últimas nações a se tornarem independentes no continente americano, o Estado Cubano proclama, em 1902, sua independência sob o auxílio dos EUA. A inserção dos Estados Unidos nesse processo marcou a criação de um laço político que pretendia garantir os interesses do governo norte-americano na ilha centro-americana. Uma prova dessa intervenção foi à criação da Emenda Platt, que assegurava o direito de intervenção dos EUA no país. Dessa maneira, Cuba se transformou no quintal de grandes empresas norte-americanas. (JUNIOR, 2011) Já na década de 1950, o general Fulgêncio Batista instaura um regime ditatorial apoiado pelos EUA. Mas, sob a liderança de Fidel Castro e Ernesto Che Guevara, um grupo de guerrilheiros lutaram contra as forças do governo e, em 1959, conseguem derrubar o governo ditatorial de Fulgêncio Batista. Entre outras propostas, o novo governo cubano, defendia a realização de uma ampla reforma agrária e o controle governamental sob as indústrias do país. Tais proposições contrariavam diretamente os interesses dos EUA, que respondeu com a suspensão das importações do principal produto cubano, o açúcar. (DOMINGUES, 2008) Como retaliação, o governo de Fidel se aproxima com bloco soviético e se declara estado comunista. Ao se tornar um estado comunista e abrir aliança com a União Soviética, o presidente John F. Kennedy, em 1962 expande o embargo, proibindo todas as importações de Cuba. É neste ano também que acontece um dos períodos mais tensos dentro da Guerra Fria, a
Crise dos Mísseis de Cuba, confronto entre os Estados Unidos e a União Soviética, que durou 13 dias, depois dos soviéticos implantarem armamentos na ilha cubana. (DOMINGOS, 2013) Desde então, a relação EUA-CUBA vem apresentando tensões ao longo dos anos: (i) Em 1998, cinco agentes cubanos são detidos nos Estados Unidos, sendo condenados e presos. (ii) Em 2002, John Bolton, subsecretário do governo de George W. Bush, acrescenta Cuba na lista do Eixo do Mal, após o atentado de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas. (iii) A base militar americana na Baía de Guantánamo, de Cuba, passa a ser usada como uma prisão para suspeitos de terrorismo. (iv) Em 2009, o americano Alan Gross é preso em Havana, o que gera novas tensões. Os governos de Raul e Obama já começavam a demonstrar interesse de diálogo. Mas em 2013, alguns fatores começam a apresentar cautelosas mudanças na relação política e histórica entre os EUA e Cuba: Em seu segundo mandato, Barack Obama começa a demonstrar interesse de normatizar relações com antigos adversários, em particular a Cuba e o Irã. Em conversa com John Kerry, Secretário de Estado Americano, Obama discute a insatisfação da relação política dos EUA com Cuba e a situação da prisão do norte-americano Alan Gross, detido em Cuba desde 2009 sob acusações de espionagem (KAPPER & LEE, 2014). Ben Rhodes, vice-conselheiro de Segurança Nacional Americano, e Ricardo Zuniga, Assessor da Casa Branca para as Américas, viajaram ao Canadá para a primeira de nove reuniões com contrapartes cubanas. O governo canadense não estava diretamente envolvido nas negociações, mas serviu de facilitador (KAPPER & LEE, 2014). Outro mediador ingressou no processo de reaproximação dos EUA com Cuba, o Papa Francisco. Em uma visita oficial ao pontífice em março deste ano, Obama discute a relação dos EUA com Cuba e sobre a situação delicada de
Alan Gross. Em seguida, o pontífice envia uma carta aos dois líderes, Barack Obama e Raul Castro, solicitando que às duas partes encerrassem a relação hostil, convidando-os a resolver questões humanitárias de comum interesse, como a situação de alguns detidos. Além disso, o Vaticano acolheu em outubro de 2014, as delegações de ambos os Governos (ORDAZ, 2014). Do lado Cubano, a deterioração econômica da Venezuela, que tem sido o pilar mais importante da economia cubana, também contribuiu para a retomada da relação EUA-CUBA. A queda do preço do petróleo coloca o governo do presidente Nicolás Maduro e a chamada Revolução Bolivariana em alerta (CHIRINOS, 2014). Empresários e grupos econômicos norte-americanos têm pressionado o governo norte-americano para afrouxar o embargo que impede a realização de negócios em Cuba, fato que é aproveitado por outros países e empresas. Um abaixo-assinado com 50 assinaturas de grandes empresários chegou à Casa Branca (MURTA & MARREIRO, 2014). Exportadores e importadores norte-americanos estão de olho no Porto de Maciel em Cuba. O diretor da Câmara de Comércio Americana, Thomas Donohue, visitou o Porto de Mariel com um grupo de grandes empresários norteamericanos para propor parceria com o presidente Raúl Castro (MANZINNI, 2014). No entanto, as intenções de Obama e Castro de por fim devem enfrentar uma realidade política dura, particularmente em Washington. O fim de embargo ou norte-americano a Cuba depende de aprovação do Congresso Americano, o bloqueio econômico é regido por uma lei aprovada pelo Congresso. E, no Congresso Americano, qualquer iniciativa para revogar ou suavizar as leis do embargo promete ser uma batalha desgastante. Mas, de qualquer forma, esses cenários políticos e interesses de ambos os líderes, abrem caminho para uma reaproximação diplomática entre Estados Unidos e Cuba e põe
por fim um dos últimos capítulos da Guerra Fria. Referências CHIRINOS, Carlos. EUA-Cuba: por que agora? http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/12/141218_ cuba_eua_analise_hb. 2014. DOMINGUES, José Maurício. A Revolução Cubana entre o passado e o futuro. Publicado no Observatório Político Sul-Americano do Iuperj. Análise de Conjuntura n.3. 2008. [http://observatorio.iuperj.br/pdfs/44_analises_ac_n_3_m ar_2008.pdf]. DOMINGOS, Charles S. 50 anos da Crise dos Mísseis: horror nuclear em tempos presentes. Historias. Rio Grande. V.4. n.2. 79-90. 2013. FIORI, J.L. Cuba e EUA, aproximação improvável. Le Monde Diplomatique Brasil, fev.2008. GADDIS, Jhon Lewis. A história da Guerra Fria. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 2006. GOBIERNO DE LA REPUBLICA DE CUBA. Impacto Del Bloqueo en la actividad económica y social de Cuba. Disponível em: http://cubacontrabloqueo.cip.cu/impacto-del-bloqueo-en-l a-actividad-economica-y-social-de-cuba/. Acesso: 18 dez. 2014. KAPPER, Bradley; LEE, Matthew. Saiba como ocorreu a aproximação entre EUA e CUBA. 2014. Disponível: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/12/1564285-saiba -como-ocorreu-a-aproximacao-entre-eua-e-cuba.shtml. Acesso: 18 dez. 2014. MANZINNI. Leandro. Cuba oferece aos EUA Porto de Mariel, erguido pelo Brasil. Disponível: http://colunaesplanada.blogosfera.uol.com.br/2014/06/04/ cuba-oferece-aos-eua-porto-de-mariel-erguido-pelobrasil/. Acesso: 18 dez. 2014. MEUCCI, Isabella Duarte Pinto. Estados Unidos e América Latina: o caso de Cuba no pós-guerra Fria. Anais do V
Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina. Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro ISSN 2177-9503. 2013. MURTA, Andrea; MARREIRO, Flávia. EUA podem afrouxar parte das sanções. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1909201004.htm. 2010. Acesso: 18 dez. 2014. ORDAZ, Pablo. Papa Francisco foi crucial na mediação entre EUA e Cuba. http://brasil.elpais.com/brasil/2014/12/17/internacional /1418837510_239458.html. Acesso: 18 dez. 2014. SANTORO, Maurício. Cuba após a Guerra Fria: mudanças econômicas, nova agenda diplomática e o limitado diálogo com os EUA. Revista Brasileira de Política Internacional. vol.53. no.1 Brasília. Jan./Jul. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s 0034-73292010000100007. SIERRA, J. A. Economic Embargo Timeline. Disponível em:<http://www.historyofcuba.com/history/funfacts/embarg o.htm>. Acesso: 18 dez. 2014. JUNIOR, Antonio Battisti Bianchet. As relações EUA- América Latina: Cuba e as Guerra com a Espanha. III Encontro Nacional de Estudos. Maio, 2011. http://www.uel.br/eventos/eneimagem/anais2011/trabalhos/ pdf/antonio%20battisti%20bianchet%20junior.pdf Paulo Henrique da Silva Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba UEPB (paulo.henriquedasilva@hotmail.com)