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Transcrição:

A Santa Sé PAPA JOÃO PAULO II AUDIÊNCIA GERAL Quarta-feira, 19 de Janeiro de 1983 Nas palavras do consentimento matrimonial o sinal do "profetismo do corpo" Caros Irmãos e Irmãs! Esta Audiência realiza-se no segundo dia da Semana de Orações para a recomposição da unidade entre os que crêem em Jesus Cristo e esperam d'ele a salvação. É um momento, este, de grande importância eclesial: quereria que fosse profundamente compartilhado por todos os fiéis da Igreja católica e pelos cristãos das Igrejas e Comunhões ainda separadas de nós, aos quais envio a minha afectuosa e confiante saudação. Inspirando-nos no tema proposto para a reflexão deste ano: "Jesus Cristo, vida do mundo" (cf. 1 Jo. 1, 1-4), rezamos para que Ele vivifique e unifique cada vez mais aqueles que n'ele crêem. Com a sua graça, secundada por um esforço perseverante, feito de humildade, de caridade e de boa vontade queremos chegar um dia àquela tão desejada meta, pela qual o mesmo, Senhor rogou: "Que sejam um" (Jo. 17, 11).' 1. Os textos dos Profetas têm grande importância para compreender o matrimónio como aliança de pessoas (à imagem da Aliança de Javé com Israel) e, em particular, para compreender a aliança sacramental do homem, e da mulher na dimensão de sinal! A "linguagem do corpo" entra como já anteriormente foi considerado na estrutura integral do sinal sacramental, cujo sujeito precípuo é o homem, varão e mulher. As palavras do consentimento matrimonial constituem este sinal, porque nelas encontra expressão o significado esponsal do corpo na Sua masculinidade e feminilidade. Tal significado é expresso sobretudo com as palavras: "Eu... recebo-te... como minha esposa... meu esposo". Além disso com estas palavras é confirmada a

2 essencial "verdade" da linguagem do corpo e é também (pelo menos indirectamente, implícite) excluída a essencial "não-verdade", a falsidade da linguagem do corpo. O corpo, de facto, diz a verdade através do amor, da.fidelidade, da honestidade conjugais, assim como a não-verdade, ou seja a falsidade, é expressa através de tudo o que é negação do amor, da fidelidade, da honestidade conjugais. Pode-se pois dizer que, no momento de proferir as palavras do consentimento matrimonial, os novos esposos se põem na linha do mesmo "profetismo do corpo", cujos porta-vozes foram os antigos Profetas. A "linguagem do corpo", expressa pelos lábios dos ministros do matrimónio como sacramento da Igreja, institui o mesmo sinal visível da Aliança e da graça, que remontando com a sua origem ao mistério da criação se alimenta continuamente com a força da "redenção do corpo", oferecida por Cristo à Igreja. 2. Segundo os textos proféticos o corpo humano fala uma "linguagem", de que ele não é o autor. O seu autor é o homem que, como varão e mulher, esposo e esposa, relê correctamente o significado desta "linguagem". Relê portanto aquele significado esponsal do corpo como integralmente inscrito na estrutura da masculinidade ou feminilidade do sujeito pessoal..uma correcta releitura "na verdade" é condição indispensável para proclamar tal verdade, ou seja, para instituir o sinal visível do matrimónio como sacramento. Os esposos proclamam precisamente esta "linguagem do corpo", relida na verdade, como conteúdo e princípio da sua nova vida em Cristo e na Igreja. Com base no "profetismo do corpo", os ministros do sacramento do matrimónio realizam um acto de carácter profético. Confirmam deste modo a sua participação na missão profética da Igreja, recebida de Cristo. "Profeta" é aquele que exprime com palavras humanas a verdade proveniente de Deus, aquele que profere tal verdade em lugar de Deus, no seu nome e, em certo sentido, com a sua autoridade. 3. Tudo isto se refere aos novos esposos, os quais, como ministros do sacramento do matrimónio, instituem com as palavras do consentimento matrimonial o sinal visível, proclamando a "linguagem do corpo"; relida na verdade, como conteúdo e princípio da sua nova vida em Cristo e na Igreja. Esta proclamação "profética" tem um carácter complexo. O consentimento matrimonial é ao mesmo tempo anúncio e causa do facto que, dali por diante, ambos serão perante a Igreja e a sociedade marido e mulher. (Entendamos este anúncio como "indicação" no sentido comum do termo). Todavia, o consentimento matrimonial tem sobretudo o carácter de uma recíproca profissão dos novos esposos, feita diante de Deus. Basta determo-nos com atenção sobre o texto, para nos convencermos que aquela proclamação profética da linguagem do corpo, relida na verdade, é imediata e directamente dirigida pelo "eu" ao "tu": pelo homem à mulher e por ela a ele. Lugar central no consentimento matrimonial têm precisamente as palavras que indicam o sujeito pessoal, os pronomes "eu" e "tu". A "linguagem do corpo", relida na verdade do seu significado esponsal, constitui mediante as palavras dos novos esposos a uniãocomunhão das pessoas. Se o consentimento matrimonial tem carácter profético, se é a proclamação da verdade proveniente de Deus, e em certo sentido a enunciação desta verdade no nome de Deus, isto realiza-se sobretudo na dimensão da comunhão interpessoal, e apenas indirectamente "diante" dos outros, e "para" os outros.

3 4. No fundo das palavras pronunciadas pelos ministros do sacramento do matrimónio está a perene "linguagem do corpo", a que Deus "deu início" criando o homem como varão e mulher: linguagem, que foi renovada por Cristo. Esta perene "linguagem do corpo" traz em si toda a riqueza e a profundidade do mistério: da criação antes, e da redenção depois. Os esposos, realizando o sinal visível do sacramento mediante as palavras do seu consentimento matrimonial, exprimem nele "a linguagem do corpo", com toda a profundidade do mistério da criação e da redenção (a liturgia do sacramento do matrimónio oferece a este propósito um rico contexto). Relendo de tal modo "a linguagem do corpo", os esposos não só encerram nas palavras do consentimento matrimonial a subjectiva plenitude da profissão, indispensável para realizar o sinal próprio deste sacramento, mas chegam até, em certo sentido, às fontes mesmas, das quais aquele sinal haure todas as vezes a sua eloquência profética e a sua força sacramental. Não é licito esquecer que "a linguagem do corpo", antes de ser pronunciada pelos lábios dos esposos, ministros do matrimónio como sacramento da Igreja, foi pronunciada pela palavra do Deus vivo, iniciando com o Livro do Génesis, passando pelos Profetas da Antiga Aliança, até ao Autor da Epístola aos Efésios. 5. Usamos aqui diversas vezes a expressão "linguagem do corpo", referindo-nos aos textos proféticos. Nestes textos, como já dissemos, o corpo humano fala uma "linguagem", de que ele não é o autor no sentido próprio do termo. O autor é o homem varão e mulher que relê o verdadeiro sentido daquela "linguagem", trazendo à luz o significado esponsal do corpo como integralmente inscrito na estrutura da masculinidade e da feminilidade do sujeito pessoal. Tal releitura "na verdade" da linguagem do corpo já de per si confere um carácter profético às palavras do consentimento matrimonial, por meio das quais o homem e a mulher realizam o sinal visível do matrimónio como sacramento da Igreja. Estas palavras contêm todavia algo mais do que uma simples releitura na verdade daquela linguagem, de que fala a feminilidade e a masculinidade dos novos esposos na sua relação recíproca; "Eu recebo-te como minha esposa como meu esposo". Nas palavras do consentimento matrimonial estão contidos: o propósito, a decisão é a escolha. Ambos os esposos decidem agir em conformidade com a linguagem do corpo, relida na verdade. Se o homem, varão e mulher, é o autor daquela linguagem, é-o sobretudo enquanto quer conferir, e efectivamente confere ao seu comportamento e às suas acções o significado conforme à eloquência relida da verdade da masculinidade e da feminilidade na recíproca relação conjugal. 6. Neste âmbito o homem é artífice das acções que têm de per si significados definidos. É portanto artífice das acções e ao mesmo tempo autor do seu significado. A totalidade daqueles significados constitui, em certo sentido, o conjunto da "linguagem do corpo", com que os esposos decidem falar entre eles como ministros do sacramento do matrimónio! O sinal que eles realizam com as palavras do consentimento matrimonial não é um simples, sinal imediato e passageiro, mas um sinal prospectivo, que reproduz um. efeito duradouro, isto é o vínculo matrimonial, único e indissolúvel ("todos os dias da minha vida", isto é, até à morte). Nesta perspectiva eles devem completar aquele sinal com o multíplice conteúdo oferecido pela comunhão conjugal e familiar

4 das pessoas, e também com aquele conteúdo que, originado pela linguagem do corpo é continuamente relido na verdade. Deste modo a "verdade" essencial do sinal permanecerá organicamente ligada ao ethos do comportamento conjugal. Nesta verdade do sinal e, em seguida, no ethos do comportamento conjugal; insere-se prospectivamente o significado procriativo do corpo, isto é, a paternidade e a maternidade, de que tratámos precedentemente. À pergunta: "Estais dispostos a acolher com responsabilidade e amor os filhos que Deus vos quiser dar, educando-os segundo a lei de Cristo e da sua Igreja?" o homem a mulher, respondem: "Sim"! E agora deixamos para outros encontros aprofundamentos ulteriores, do tema. * * * Saudação Está presente nesta Audiência uma Delegação dos Transportes Aéreos Portugueses - TAP-AIR - num avião da qual tive o gosto de viajar, no regresso da peregrinação a Fátima e visita pastoral a Portugal. Relembrando gratamente essas jornadas inesquecíveis, vão para os presentes e todos aqueles que aqui representam as minhas cordiais saudações e o meu renovado agradecimento. E peço a Deus, por intercessão de Nossa Senhora de Fátima, que derrame sobre eles e sobre Portugal as suas bênçãos, desejando prosperidades e que a paz de Cristo, Redentor do homem, ilumine sempre o amor fraterno na Terra de Santa Maria! * * * Oração à Rainha da Polónia / 46 Senhora de Jasna Góra! Na Tua presença espiritual volto a ler as seguintes palavras do Comunicado da última (189ª) Assembleia Plenária da Conferência do Episcopado Polaco. "... as palavras de São Maximiliano: a Imaculada quer que a Polónia se renove moralmente. É o nosso renovamento moral na Nação de São Maximiliano, que ofereceu a sua vida para salvar uma família,

é sobretudo solicitude para salvar a família polaca, é também solicitude para amar contra todas as manifestações do ódio 5 é solicitude para salvar toda a vida humana desde a concepção até à morte!" é solicitude para a solidariedade, a honestidade, a verdade na vida doméstica e social". Juntamente com toda a Igreja na Polónia suplico-te, Senhora de Jasna Góra e Mãe da minha Nação, que as palavras de São Maximiliano, Padroeiro do nosso difícil século, se realizem na vida da minha amada Pátria segundo o programa acima delineado. O Comunicado do Episcopado-proclama: "O programa pastoral é dedicado este ano à esperança cristã". Precisamente no espírito desta esperança elevo a minha súplica a Ti, Senhora de Jasna Góra, juntamente com os meus Irmãos no Episcopado e com toda a Igreja na Polónia. Copyright 1983 - Libreria Editrice Vaticana Copyright - Libreria Editrice Vaticana