Palavras-chave: Propriedades mecânicas, Propriedades de corrosão, Implantes Ortopédicos, Biomateriais.

Documentos relacionados
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 33201

INFLUÊNCIA DO TEMPO E DA TEMPERATURA DE ENVELHECIMENTO NA DUREZA E NA TENACIDADE À FRATURA DO AÇO INOXIDÁVEL DE ALTO TEOR DE NITROGÊNIO

Influência da temperatura de recozimento dos aços inoxidáveis ASTM F-138 e ASTM F-1586 sobre sua resistência à corrosão

8º CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ENGENHARIA MECANICA Cusco, 23 a 25 de Outubro de 2007

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S32101: INVESTIGAÇÃO DE REAGENTES 1

Aço Inoxidável Ferrítico ACE P444A

Keywords: AISI 316 steel, Electrochemical corrosion, Electrochemical polarization spectroscopy

3 Material e Procedimento Experimental

AVALIAÇÃO DA CORROSÃO POR PITE EM AÇOS INOXIDÁVEIS FERRÍTICOS UNS S44400 TRATADOS TERMICAMENTE E ANALISADOS EM ENSAIO DE POLARIZAÇÃO POTENCIODINÂMICA

Influência das condições de tratamento isotérmico sobre a precipitação de fases secundárias em aço inox superduplex

EFEITO DOS ELEMENTOS DE LIGA NOS AÇOS RSCP/ LABATS/DEMEC/UFPR

longitudinal para refrigeração, limpeza e remoção de fragmentos de solos provenientes da perfuração, Figura 10.

ASPECTOS DA CORROSÃO INTERGRANULAR DOS AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS AISI 304L, AISI 316L, AISI 321 E AISI 347, USADOS EM REFINARIAS

Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento de Engenharia de Materiais/Ponta Grossa, PR. Engenharias, Engenharia de Materiais e Metalúrgica

Rem: Revista Escola de Minas ISSN: Escola de Minas Brasil

Propriedades Mecânicas e de Cor rosão de dois Aços Inoxidáveis Austeníticos Utilizados na Fabricação de Implantes Ortopédicos

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E DE CORROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX. Moisés Alves Marcelino Neto e Ana Vládia Cabral Sobral

AVALIAÇÃO DO EFEITO DE MEMÓRIA DE FORMA E DA RESISTÊNCIA À CORROSÃO DE LIGA Fe-Mn-Si-Cr-Ni COM BAIXO TEOR DE Mn

GMEC7301-Materiais de Construção Mecânica Introdução. Módulo II Ensaios Mecânicos

AVALIAÇÃO DA DUREZA DO AÇO INOXIDÁVEL ISO EM FUNÇÃO DA VARIAÇÃO DA TEMPERATURA DE ENVELHECIMENTO

AÇOS INOXIDÁVEIS (Fe-Cr-(Ni))

Introdução Conteúdo que vai ser abordado:

Corrosão por Pite - Características

CORROSÃO POR PITES DE AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS 316L E 317L SOLDADOS PELO PROCESSO GTAW E SOLUBILIZADOS A 1080 C

Corrosão por Cloreto em Aços Inoxidáveis Duplex (AID s)

Efeito dos elementos de liga nos aços

PROPRIEDADES FÍSICAS DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO AISI 348 L* RESUMO 1. INTRODUÇÃO

Aços Inoxidáveis. A.S.D Oliveira

Titânio e suas ligas. André Paulo Tschiptschin

INFLUÊNCIA DO GRAU DE DEFORMAÇÃO A FRIO NA MICROESTRUTURA E NA DUREZA DE AÇOS DUPLEX DO TIPO 2205

A composição química das amostras de metal solda, soldadas a 10 m de profundidade, está listada na Tabela 2.

TÍTULO: ESTUDO E AVALIAÇÃO DA SUSCETIBILIDADE À CORROSÃO DE AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS EM AMBIENTE INDUSTRIAL

3 Material e Procedimento Experimental

Estudo do Processo de Eletropolimento de Tubos de Aço Inoxidável AISI 348L

Ensaio de Fluência. aplicação de uma carga/tensão constante em função do tempo e à temperaturas elevadas (para metais T > 0,4 T fusão)

4.3. Ensaios de polarização potenciodinâmica Otimização da Flat Cell para ensaios potenciodinâmicos

ENSAIO DE TRAÇÃO EM-641

ESTUDO DA SENSITIZA ÇÃO EM AÇOS INOXIDÁVEIS AISI 321 QUE OPERAM EM REFINARIA DE PETRÓLEO EM TEMPERATURAS ENTRE 500 E C.

ANÁLISE DA SENSITIZAÇÃO DE JUNTAS SOLDADAS DE AÇO INOXIDÁVEL FERRÍTICO E AÇO CARBONO COM SOLDA DE ARAME TUBULAR MONOESTABILIZADO E BIESTABILIZADO

ESTUDO DA OCORRÊNCIA DA CORROSÃO EM AÇOS INOXIDÁVEIS AISI 316L E 444 UTILIZADOS NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA

Propriedades dos Aços e sua Classificação

Avaliação das propriedades mecânicas em ligas ferríticas com 5% de Mo e diferentes teores de Cr

Metalurgia da Soldagem Particularidades Inerentes aos Aços Carbono


Keywords: stainless steel, pitting corrosion, ph, chloride ion, electrochemical tests

Ensaios de polarização cíclica em solução 0,3 M NaCl + 0,3 M NaBr com. de potencial por densidade de corrente mostradas nas Figuras 37 a 39.

4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS. Após a preparação metalográfica das amostras, foi realizado o ataque Behara

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO METAL-MECÂNICO APÓS CONFORMAÇÃO A QUENTE

ESTUDO DOS MECANISMOS DE NUCLEAÇÃO DE TRINCAS POR FADIGA E FADIGA-CORROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL ASTM F 138 UTILIZADO COMO BIOMATERIAL

ESTUDO DO COMPORTAMENTO EM CORROSÃO DOS BIOMATERIAIS TITÂNIO, LIGA Ti-6Al-4V E AÇO INOX 316L PARA USO EM IMPLANTE ORTOPÉDICO

3- Materiais e Métodos

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO METAL-MECÂNICO APÓS CONFORMAÇÃO A QUENTE

INFLUÊNCIA DO GRAU DE ENCRUAMENTO NA RESISTÊNCIA À CORROSÃO POR PITE DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO UNS S30100

PROBLEMAS DE MATERIAIS NA ÁREA NUCLEAR

5 Resultados Caracterização Microestrutural

3 MATERIAIS E MÉTODOS


Graduanda em Engenharia Metalúrgica, Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste, Coronel Fabriciano, Minas Gerais, Brasil.

INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE VARREDURA NOS PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA A CORROSÃO POR PITE DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO UNS S31600

TECNOLOGIA DOS MATERIAIS

Capítulo 3: Propriedades mecânicas dos materiais

PRECIPITAÇÃO DA AUSTENITA SECUNDÁRIA DURANTE A SOLDAGEM DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX S. A. Pires, M. Flavio, C. R. Xavier, C. J.

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA DEFORMAÇÃO A FRIO NA RESISTÊNCIA A CORROSÃO E NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX 2205

12ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos

Aços de alta liga resistentes a corrosão II

4 Resultados (Parte 01)

Figura Micrografias MEV dos aços ensaiados ao longo da espessura em meio 3,56% NaCl. (a) P430E 4 mm; (b) P430A 4 mm; (c) P430E 3,6 mm; (d)

Ednilton Alves Pereira

CAPÍTULO V CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E DE MICRODUREZA

Tratamentos térmicos de aços inoxidáveis

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E RESISTÊNCIA À CORROSÃO DE JUNTAS SOLDADAS DE LIGAS DE ALUMÍNIO

5.3. ANÁLISE QUÍMICA 5.4. ENSAIO DE DUREZA

Correlação entre Microestrutura, Resistência à Tração e Resistência à Corrosão. Campinas, 2010.

Figura 49 Dispositivo utilizado no ensaio Jominy e detalhe do corpo-de-prova (adaptado de Reed-Hill, 1991).

Estudo da Temperatura Crítica de Pite do Aço UNS S31803 em solução 0,6M NaCl.

ANÁLISE MECÂNICA E MICROESTRUTURAL DE UM AÇO BAIXO CARBONO (ABNT 1015), SUBMETIDO À RECRISTALIZAÇÃO TÉRMICA PÓS-DOBRAMENTO.

Identificação das Condições de Sensitização em um Aço Inoxidável Austenítico AISI 304 Através da Análise Microestrutural

9.1 Medição do hidrogênio difusível pela técnica de cromatografia gasosa

Aula 1: Aços e Ferros Fundidos Produção Feito de Elementos de Liga Ferros Fundidos. CEPEP - Escola Técnica Prof.: Kaio Hemerson Dutra

4 Resultados e Discussão

Principais propriedades mecânicas

MÓDULO 2: Propriedades mecânicas dos metais. Deformação elástica, Deformação plástica

A Tabela 2 apresenta a composição química do depósito do eletrodo puro fornecida pelo fabricante CONARCO. ELETRODO P S C Si Ni Cr Mo Mn

4 Apresentação e discussão dos resultados

Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia Civil Departamento de Estruturas. Aços para concreto armado

3 Materiais e Métodos

INFLUÊNCIA DA MICROESTRUTURA NAS PROPRIEDADES ELÉTRICAS DE LIGAS Al-Mg-Th E Al-Mg-Nb

ALEXANDER HINCAPIÉ RAMÍREZ

CORROSÃO POR CLORETOS EM SOLDAS DE COSTURA EM TUBOS DE RESFRIADOR A AR

Análise de Falha de Tubulação de Soda Sulfídica

RELAÇÃO ENTRE A ENERGIA CHARPY E A DUTILIDADE ATRAVÉS DA ESPESSURA DO AÇO API 5L X80

Identificação das fases e evolução da microdureza durante a formação de fase sigma em aço inoxidável dúplex SAF 2205

NOÇÕES DE SOLDAGEM. aula 2 soldabilidade. Curso Debret / 2007 Annelise Zeemann. procedimento de soldagem LIGAS NÃO FERROSAS AÇOS.

PMT CORROSÃO E PROTEÇÃO DOS MATERIAIS

Aços Ligados (Aço Inoxidável e Aço Ferramenta)

Brasil 2017 SOLUÇÕES INTEGRADAS EM ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS

Propriedades dos Materiais ENGENHARIA DOS MATERIAIS PROF. KARLA NUNES 2017

CARACTERIZAÇÃO DE CAMADAS OXIDADAS CICLICAMENTE EM ALTAS TEMPERATURAS EM LIGAS Fe-5Si-5Cr E LIGAS Fe-Mn-Si-Cr-Ni.

Ensaios Mecânicos dos Materiais

Transcrição:

PROPRIEDADES MECÂNICAS E DE CORROSÃO DE DOIS AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS UTILIZADOS NA FABRICAÇÃO DE IMPLANTES ORTOPÉDICOS Enrico José Giordani Vagner Alves Guimarães Itamar Ferreira Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Mecânica, Departamento de Engenharia de Materiais, 13.083-970, Campinas, SP, Brasil. E-mail: enrico@fem.unicamp.br Resumo O aço inoxidável austenítico ASTM F 138 é amplamente utilizado na fabricação de implantes ortopédicos devido principalmente às suas boas propriedades mecânicas, razoável resistência à corrosão, boa usinabilidade e conformabilidade, além do baixo custo. Entretanto, este aço é suscetível à corrosão localizada quando em contato com fluido corpóreo, sendo indicado geralmente para aplicações temporárias. Assim sendo, tornou-se eminente a necessidade de se desenvolver novos materiais com boas propriedades mecânicas, conformabilidade e usinabilidade, mas com melhor resistência à corrosão localizada, a um custo similar ao do aço ASTM F 138. Diante desta necessidade, o aço inoxidável austenítico, com alto teor de nitrogênio (entre 0,25 e 0,50% N), de classificação ISO 5832-9, parece promissor devido à alta resistência à corrosão associado às boas propriedades mecânicas. Este trabalho tem como objetivo avaliar comparativamente as propriedades mecânicas básicas e propriedades de corrosão localizada dos aços inoxidável ASTM F 138 e ISO 5832-9. Este último apresentou melhores valores de limite de resistência à tração (σ t ) e alongamento. A partir do ensaio de polarização cíclica potenciodinâmica, verificou-se que o aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 mostrou-se menos suscetível à corrosão localizada quando comparado com o aço austenítico ASTM F 138. Palavras-chave: Propriedades mecânicas, Propriedades de corrosão, Implantes Ortopédicos, Biomateriais. 1. INTRODUÇÃO Por mais de meio século os aços inoxidáveis têm sido usados como material de implantes ortopédicos para substituição de articulações e fixação de fraturas. Todavia, os primeiros aços inoxidáveis austeníticos eram bastante suscetíveis à chamada corrosão intergranular, causada pela precipitação preferencial de carbonetos de cromo nos contornos de grãos e conseqüente sensitização das regiões adjacentes. Uma abordagem para resolver o problema da corrosão intergranular é a redução do teor de carbono, o que deu origem aos aços do tipo L, Low Carbon, produzidos pelo processo de fusão à vácuo com baixíssimos níveis de inclusões. Nessa categoria se enquadram os aços do tipo ASTM F 138 (classe especial do AISI 316 L para aplicações cirúrgicas). Outra forma de controlar a corrosão intergranular é a adição de elementos estabilizadores, ou seja, elementos que possuem maior afinidade pelo

carbono que o cromo, tais como o nióbio, titânio, vanádio e tungstênio. Um dos objetivos desses elementos é a formação de carbonetos mais estáveis que os carbonetos de cromo (Lopez, 1993). O meio fisiológico com sua alta concentração de eletrólitos é um ambiente altamente agressivo em termos de corrosão, tanto generalizada quanto as mais diversas formas de corrosão localizada que, isoladamente ou associada a esforços mecânicos, são geralmente responsáveis por falhas em implantes ortopédicos (Giordani, 1999; Sivakumar & Rajeswari, 1995). Infelizmente, um dos maiores causadores da destruição da passividade é o íon cloreto, abundantemente disponível em fluídos do corpo. Contudo, competindo com esses processos de destruição existe o processo de reparo, a repassivação. Desta forma, as ligas mais eficientes para aplicações em implantes são aquelas cujas superfícies, não somente formem filmes passivos, ou seja, que resistam aos processos iniciais de destruição, mas também sejam capazes de repassivação a uma taxa suficientemente alta (Gentil, 1982; Lopez, 1993). Os aços do tipo ASTM F 138 apresentam uma performance satisfatória no corpo humano, especialmente quando empregados como implantes temporários para fixação de fraturas. A questão que se apresenta para os pesquisadores é o desenvolvimento de novos materiais e processos de fabricação que permitam a produção de próteses permanentes com bom desempenho e custo mais acessível que as ligas de titânio e cromo-cobalto. A International Organization for Standardization, através da norma ISO 5832-9 de 1992, fixou limites de composição, bem como, características e métodos de ensaios dos aços inoxidáveis austeníticos para implantes, com alto teor de nitrogênio. Esses aços constituem-se, atualmente, nos materiais de baixo custo mais promissores para a fabricação de implantes ortopédicos. Todavia, a substituição do aço ASTM F 138 pelo ISO 5832-9 requer um estudo comparativo das propriedades mecânicas e resistência à corrosão dos dois materiais. Esse trabalho tem por objetivo avaliar a viabilidade da substituição do aço inoxidável ASTM F 138 pelo ISO 5832-9, no que diz respeito à propriedades mecânicas básicas, obtidas no ensaio de dureza Brinell e ensaio de tração, em meio neutro, e propriedades de corrosão, obtidas no ensaio de polarização cíclica potenciodinâmica, em meio fisiológico artificial. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Os materiais utilizados neste trabalho foram dois aços inoxidáveis austeníticos, sendo um de classificação ASTM F 138 (ISO 5832-1) e outro ISO 5832-9 (ASTM F 1586), produzidos pela VILLARES S/A. Ambos foram recebidos na forma de barras laminadas com diâmetro de 15,87 mm. A tabela 1 apresenta a composição química em porcentagem de peso dos principais elementos presentes nestes aços. Tabela 1. Composição química dos principais elementos dos aços inoxidáveis ASTM F 138 e ISO 5832-9 produzidos pela Villares S/A. Composição C Si Mn Ni Cr Mo S P Cu N Nb Fe química (% peso) ASTM F 138 0,019 0,51 1,73 14,1 17,5 2,04 0,0014 0,022 0,06 0,046 balanço ISO 5832-9 0,032 0,03 3,83 11,0 22,6 2,41 0,0026 0,023 0,05 0,291 0,42 balanço Para a realização do estudo comparativo entre os dois materiais foram determinadas as propriedades mecânicas básicas, obtidas em ensaio de tração monotônico e ensaio de dureza Brinell, e a suscetibilidade a corrosão localizada pelo ensaio de polarização cíclica potenciodinâmica.

O ensaio de tração foi conduzido segundo a norma ASTM E 8M, utilizando-se uma máquina de ensaios MTS modelo 810 com capacidade de 10 toneladas. A velocidade de deslocamento do pistão foi de 0,02 mm/s. Os corpos de prova foram retirados de barras de 15,87 mm de diâmetro para os dois aços e suas dimensões estão mostradas na figura 1. 40 30 40 10 R 5 5 ±0,1 Figura 1. Corpo de prova de tração. Dimensões em milímetro. O ensaio de dureza Brinell foi realizado segundo a norma ASTM E 10, utilizando-se um durômetro da marca HECKERT WPM, modelo HPO 250, com um penetrador esférico de aço de 2,5 mm de diâmetro. A carga utilizada no ensaio foi de 187,5 kgf (1839 N) com um tempo de aplicação de 10 a 15 segundos. Foram realizadas medidas de dureza na seção transversal e na superfície externa de corpos de prova retirados das barras laminadas. O ensaio de polarização cíclica potenciodinâmica foi conduzido com base na norma ASTM G 61. Este tipo de ensaio é realizado com a finalidade de se verificar comparativamente a suscetibilidade à corrosão localizada (por pite e por fresta) de materiais metálicos passivos. O ensaio consiste na realização de um ciclo de varredura de potencial, observando-se a corrente de corrosão desenvolvida durante esta varredura. Essa corrente indica a intensidade de corrosão que o material está sofrendo. Os principais parâmetro determinados a partir deste ensaio são: E pite potencial de pite, é o potencial, a partir do qual a corrente de corrosão anódica cresce rapidamente. Quanto maior (mais nobre) o valor deste potencial, menor a suscetibilidade à corrosão localizada do material; E rep potencial de repassivação, é dado pelo potencial em que o laço de histerese é completado. Quanto menor o valor deste potencial, maior a suscetibilidade à corrosão localizada do material. O ensaio foi conduzido a temperatura ambiente (22 ± 2 o C), em um potenciostato da marca EG&G PRINCETON APPLIED RESEARCH, modelo 273A. O eletrólito utilizado foi um fluido fisiológico artificial naturalmente aerado que consistia de uma solução de 9 gramas de NaCl em água destilada e deionizada até completar 1 litro (NaCl 0,9%). O eletrodo de referência utilizado foi do tipo calomelano saturado (SCE) e o contra eletrodo utilizado foi de platina. O potencial de varredura iniciou-se em 750 mv com uma taxa constante durante todo o ensaio de 1200 mv/hora. O potencial de reversão não foi estipulado, sendo que esta reversão ocorria quando a densidade de corrente de corrosão atingia 100 µa/cm 2. O ensaio era interrompido logo após o potencial de repassivação (E rep ) ter sido atingido. Os corpos de prova foram cortados a partir das barras nas condições de recebimento, lixados e polidos com pasta de diamante de 1 µm em sua seção transversal. A célula continha uma tampa lateral de teflon com um furo passante de 12 mm de raio que delimitava o contato do eletrólito com a superfície polida do material.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Análise Microestrutural A figura 2 mostra as microestruturas das seções transversais e longitudinais dos aços inoxidáveis ASTM F 138 e ISO 5832-9 produzidos pela Villares S/A, nas condições de recebimento, observadas por microscopia ótica, utilizando-se um microscópio Neophot-32. Seção transversal Seção longitudinal ASTM F 138 ISO 5832-9 Figura 2. Microestruturas das seções transversal e longitudinal dos aços ASTM F 138 e ISO 5832-9 observadas por microscopia ótica. Ataque: 60% HNO 3 (Voort, 1989). Observa-se que os dois materiais apresentam microestrutura composta basicamente de grãos austeníticos, sendo que o aço ASTM F 138 apresenta grãos preferencialmente alongados na direção de laminação, quando observada a microestrutura da seção longitudinal. Esta orientação evidencia uma condição encruada ou deformada, proveniente do processo de laminação a que foi submetido este material. Já o aço ISO 5832-9 apresenta grãos equiaxiais tanto na seção transversal como na seção longitudinal, que por sua vez evidencia uma condição recristalizada. A microestrutura deste aço também revela a presença de partículas de precipitados primários, de forma geralmente alongadas e alinhados na direção de laminação, como pode ser visto na seção longitudinal. Uma análise semi-quantitativa por EDS (Energy Dispesive Spectroscopy) realizada no microscópio eletrônico de varredura JEOL, modelo JXA 840 A, mostrou que estes precipitados são ricos em nióbio e são mencionados na literatura técnica como fase Z (Örnhagen, et al., 1996). Acredita-se que esta fase Z tem pouca influência sobre as propriedades de corrosão do material.

3.2 Propriedades Mecânicas Básicas A partir das curvas tensão-deformação mostradas na figura 2 e das propriedades mecânicas obtidas no ensaio de tração (tabela 2), pode-se verificar que o aço ISO 5832-9 apresentou limite de resistência à tração (σ t ) e principalmente alongamento total consideravelmente superior ao do aço ASTM F 138. Essa combinação confere ao material maior tenacidade, quando esta propriedade é avaliada a partir da área sob a curva tensãodeformação. Uma consideração importante a ser feita é acerca do valor do limite de escoamento (σ e ) determinado para o aço ISO 5832-9 que apresenta-se sensivelmente inferior ao valor apresentado pelo aço ASTM F 138. Isto ocorre provavelmente devido ao fato deste último mostrar evidências de um certo grau de encruamento, caracterizado pela presença de grãos alongados em sua microestrutura (figura 1). 1000 Iso 5832-9 800 Tensão [MPa] 600 400 ASTM F 138 200 0 0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 Deformação [mm/mm] Figura 3. Curvas tensão-deformação para os aços inoxidáveis austeníticos ASTM F 138 e ISO 5832-9. Tabela 2. Propriedades mecânicas obtidas no ensaio de tração monotônico para os aços inoxidáveis ASTM F 138 e ISO 5832-9. MATERIAL Limite de Escoamento (MPa) Limite de Resistência à Tração (MPa) Redução de Área (%) Alongamento Total em 5d, (mm/mm) Módulo de Elasticidade (GPa) ASTM F 138 679,7 ± 6,1 802 ± 4,5 80,5 ± 2,2 39,0 ± 2,3 207,5 ± 5,0 ISO 5832-9 484,3 ± 8,4 882,3 ± 4,5 68,0 ± 1,3 48,4 ± 0,3 193,0 ± 7,9 A tabela 3 apresenta os resultados obtidos nos ensaios de dureza Brinell. Observa-se uma sensível diferença nos valores de dureza verificadas na seção transversal e longitudinal dos dois aços. Este fato é atribuído ao encruamento superficial gerado pelo processo de descascamento por usinagem a que os aços inoxidáveis foram submetidos. A diferenças mais acentuada no aço ISO 5832-9 é racionalizada pelo fato deste aço apresentar um coeficiente de encruamento consideravelmente superior, como observado na figura 3.

Tabela 3. Dureza Brinell determinada para os aços inoxidáveis austeníticos ASTM F 138 e ISO 5832-9. Material HBS 2,5/187,5, (seção transversal) HBS 2,5/187,5 (superfície externa) ASTM F 138 241 ± 3 304 ± 3 ISO 5832-9 231 ± 4 327 ± 5 3.3 Suscetibilidade à Corrosão Localizada O fator PRE (pitting resistance equivalent) dado por %Cr + 3,3 %Mo + 16 %N (Örnhagen, et al., 1969), que serve como uma indicativa da resistência à corrosão por pite em meios contendo cloretos, sugere uma considerável melhora desta propriedade para o aço ISO 5832-9 (PRE 35) quando comparado ao aço ASTM F 138 (PRE 25). A partir das curvas de polarização cíclica potenciodinâmica, como os exemplos mostrados na figura 4, e dos valores dos parâmetros determinados neste ensaio e mostrados na tabela 4, verifica-se que o aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 apresentara-se bem menos suscetíveis a corrosão localizada que o aço inoxidável austenítico ASTM F 138. Este fato pode ser constatado pela superioridade, tanto do potencial de pite (E pite ), como pela ausência do laço de histerese para este material. 1500 ISO 5832-9 1000 Potencial [m V (SCE)] 500 0 ASTM F 138-500 -1000 1E-10 1E-9 1E-8 1E-7 1E-6 1E-5 1E-4 1E-3 Densidade de Corrente [A/cm2] Figura 4. Curvas obtidos a partir de ensaios de polarização cíclica potenciodinâmica para os aços ASTM F 138 e ISO 5832-9. Tabela 4. Resultados obtidos a partir de ensaios de polarização cíclica potenciodinâmica para os aços ASTM F 138 e ISO 5832-9. MATERIAL E pite (mv) E rep (mv) ASTM F 138 543 ± 36 284 ± 202 ISO 5832-9 1049 ± 11 1053 ± 16

A ausência do laço de histerese é uma indicativa de que não ocorreu corrosão localizada durante o ensaio do aço inoxidável ISO 5832-9 (Rondelli et al., 1997). Atribui-se principalmente ao nitrogênio em solução sólida, além do papel de estabilizador da austenita, o aumento tanto da resistência a corrosão localizada como da resistência mecânica do aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 (Nyström et al., 1997; Aidar et al., 1998). 4. CONCLUSÕES As propriedades mecânicas, no que diz respeito a resistência à tração, alongamento total e consequentemente tenacidade, apresentaram-se consideravelmente superiores para o aço ISO 5832-9 quando comparadas ao aço ASTM F 138. A resistência à corrosão localizada, avaliada pelo ensaio de polarização cíclica potenciodinâmica em meio fisiológico artificial naturalmente aerado, apresenta-se sensivelmente superior para o aço inoxidável ISO 5832-9 quando comparada ao aço inoxidável ASTM F 138. A despeito da constatação da superioridade do aço inoxidável ISO 5832-9, no tocante a propriedades mecânicas básicas e propriedades de corrosão localizada, é indiscutível a necessidade de se avaliar as propriedade mecânicas cíclicas (fadiga), principalmente em meio agressivo (fadiga-corrosão), para a substituição do aço ASTM F 138. Agradecimentos Os autores agradecem à Baumer S/A pelo fornecimento dos aços inoxidáveis abordados neste trabalho e ao CNPq pela concessão de bolsas de pesquisa. Referências Voort, G.F.V., 1989, The Metallography of Stainless Steel, JOM/Journal of Metals, March, pp.6-11. Örnhagen, C., Nilsson, J.-O.; and Vannevik, H., 1996, Characterization of a Nitrogen- Rich Austenitic Stainless Steel Used for Osteosynthesis Devices, Journal of Biomedical Materials Research, v.31, pp.97-103. Rondelli, G., Vincentini, B.; and Cigada, A., 1997 Localised Corrosion Tests on Austenitic Stainless Steel for Biomedical Applications, British Corrosion Journal, v.32, n.3, pp.193-196. Lopez, G.D., 1993, Biodeterioration and corrosion of metallic implants and prosthetic devices Medicina Buenos Aires, v.53, n.3, pp.260-274. Gentil, V., 1982, Corrosão, Ed. Guanabara S.A., Rio de Janeiro, Brasil, Cap.8. Giordani, E.J.; Guimarães, V.A.; and Ferreira, I., 1999, Failure analyze of two ASTM F 138 Stainless Steel Orthopedic Implants, Acta Microscópica, v.8 Supplement A, October, pp.255-256. Aidar, C.H.; Beneduce Neto, F.; Alonso, N.; and Tschiptschin, A.P., 1996, Aço inoxidável austenítico com elevado teor de nitrogênio para utilização em implantes cirúrgicos, Metalurgia & Materiais, Junho, pp.303-306. Sivakumar, M. and Rajeswari, S., 1995, Corrosion Induced Failure of a Stainless Steel Orthopaedic Implant Device, Steel Research, v.66, n.1, pp.35-38.

Nyström, M.; Lindstedt, U.; Karlsson, B.; and Nilsson, J.-O, 1997, Influence of Nitrogen on Deformation Behaviour of Austenitic Stainless Steel, Materials Science and Technology, v.13, n.7, pp.560-567.