EFEITO DO MILHO Bt EM VARIÁVEIS BIOLÓGICAS E COMPORTAMENTAIS DO PERCEVEJO PREDADOR Orius insidious (SAY, 1832)

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Transcrição:

EFEITO DO MILHO Bt EM VARIÁVEIS BIOLÓGICAS E COMPORTAMENTAIS DO PERCEVEJO PREDADOR Orius insidious (SAY, 1832) Simone Martins Mendes 1 ; Katia Gisele Brasil Boregas 2 ; Talita Costa Fermino 3 ; Marcos Evangelista Lopes 4 ; Mateus Waquil 5 ; Thaís M. Frutuoso de Carvalho 6, José Magid Waquil 1 1. Introdução O cultivo do milho transgênico tem despertado uma série de questionamentos relacionados à possibilidade da toxina Bt, produzida pela planta geneticamente modificada (GM), afetar de alguma forma organismos não-alvo, presentes do agroecossistema do milho. Parte dessa preocupação se concentra em insetos benéficos presentes no cultivo, como os inimigos naturais, que tem importante papel como reguladores da população de insetos praga. Em termos ecológicos, essa hierarquia é chamada de interação tritrófica, em que a planta representa o primeiro nível trófico, o inseto praga, herbívoro ou presa, o segundo nível e os inimigos naturais, o terceiro nível. Sendo assim, como muitos inseticidas convencionais, esta nova tecnologia tem o potencial de alterar o controle biológico natural por meio de efeitos diretos e indiretos das plantas geneticamente modificadas no custo adaptativo comportamental ou 1 Pesquisadores Embrapa Milho e Sorgo Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo, C. postal 151, 35.701-970 Sete Lagoas, MG; (31) 3027 1136 simone@cnpms.embrapa.br 2 Doutoranda UFMG, 3 Acadêmica Eng. Ambiental (UNIFEMM ), 4 Acadêmico Agronomia (FEAD), 5 Acadêmico Agronomia (UFV) 6 Acadêmica Ciências Biológicas (UNIFEMM) 386

ecológico dos inimigos naturais (Schuler et al., 1999). Como os predadores são importantes agentes de controle natural, especial atenção tem sido dada aos possíveis efeitos das plantas geneticamente modificadas sobre estes insetos (Frizzas & Oliveira, 2006). De acordo com Gonzalez- Zamorra et al (2007) a importância de se estudar espécies de antocorídeos e outros heterópteros predadores é que, além da presa, esses insetos se alimentam diretamente do tecido da planta ou ingerem pólen, podendo ter duas vias de ingestão da toxina Bt. O percevejo predador Orius insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera: Anthocoridae) é freqüentemente relacionado dentro do contexto de inimigos naturais na cultura do milho (Waquil e Viana, 2004; Bortoli et al, 2006; Fiqueiredo, 2006). Sendo capaz de completar todo seu ciclo se alimentando apenas de Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797) (Mendes et al 2008), principal praga da cultura. Assim, com o objetivo de avaliar o efeito do milho Bt, contendo a toxina Cry 1Ab, em variáveis comportamentais e biológicas de sobrevivência desenvolvimento e do percevejo predador O. insidiosus, o presente estudo foi conduzido. 2. Metodologia Os bioensaios foram conduzidos no laboratório de ecotoxicologia e manejo de insetos da Embrapa Milho e Sorgo, em sala climatizada a 24 ± 2 C. As ninfas do predador e as larvas recém-eclodidas de S. frugiperda foram obtidas de criações de manutenção, mantidas nesse laboratório. Todos os materiais de milho Bt utilizado no presente estudo possuíam o mesmo evento transgênico, contendo a toxina Cry 1Ab. O plantio dos materiais Bt s e dos isogênicos não Bt s foi feito em campo, sendo utilizado para a criação de lagartas em laboratório, folhas do cartucho da planta, de plantas com estádio vegetativo variando entre V5 e V9. 1- Aspectos biológicos de O. insidiosus alimentados em S. frugiperda mantidas em milho Bt ou não Bt. Foram estudadas as variáveis biológicas de O. insidiosus alimentados com larvas de primeiro ínstar de S. frugiperda, com dois dias de alimentação no milho Bt e em seu isogênico não Bt. O ensaio foi mantido em câmaras climatizadas a 25ºC ± 1 ºC e 12 h. de fotofase. Foram utilizados, os dois híbridos Bt s contendo o mesmo evento (Cry 1 Ab) e seus isogênicosnão Bt s. Os ensaios foram conduzidos em placas de Petri (5 cm diâmetro) contendo algodão umedecido e pedaço de folha de milho (aprox. 1 cm 2 ), juntamente com cinco lagartas de S. frugiperda de acordo com tratamento relacionado (Bt ou não). As variáveis avaliadas foram: sobrevivência 48h após a emergência 387

e período de desenvolvimento de ninfas do 4º e 5º ínstares. Delineamento experimental inteiramente casualizado. Os dados coletados foram submetidos ao teste t. 2- Avaliação da não-preferência de O. insidiosus por S. frugiperda em folhas de milho Bt e não Bt Utilizou-se para esse bioensaio ninfas de 4º e 5º ínstar de O. insidiosus. Esseas ninfas foram mantidas em inanição por 24 horas antes do teste. Para obtenção de lagartas que se alimentaram de milho Bt e não-bt, utilizou-se larvas recém-eclodidas que foram mantidas alimentando-se dois dias em milho Bt e não Bt. Para o teste de não-preferência, foram utilizados os olfatômetros construídos de acordo com metodologia utilizada no Laboratório de Grãos Armazenados (LPGA) da Embrapa de Milho e Sorgo. Os tratamentos foram seis híbridos de milho Bt e seus respectivos isogênicos não-bt. Utilizando-se duas entradas de cada vez e em cada entrada foi colocada dez lagartas, protegidas em chumaço de folha de milho com cada material testado (milho Bt e não Bt). Foram liberados de cinco a sete predadores no centro do olfatômetro, deixando o mesmo com fluxo de ar por 6 horas. As avaliações foram realizadas 24 horas após a liberação. O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, sendo as médias comparadas por teste t. 3. Resultados e Discussão 1- Aspectos biológicos de O. insidiosus alimentados com larvas de S. Frugiperda mantidas em folhas de milho Bt e não Bt A sobrevivência do predador 48 horas após a eclosão não foi influenciada pelo tipo de alimentação da presa, ou seja, em milho Bt ou não-bt, sendo abaixo de 60% (Figura 1). Esses resultados estão de acordo com Mendes et al (2008), que verificaram que nessa fase o predador apresenta maior sensibilidade e consequentemente menor sobrevivência. Nos últimos ínstares de O. insidiosus, quando ele é menos sensível a fatores bióticos e abióticos, não se observou diferença significativa nos híbridos Bt e não-bt (Figura 2). Esses dados corroboram com os encontrados por Al Deeb et al (2001), que não verificaram diferença na mortalidade de ninfas desse espécie alimentadas com larvas de Helicoverpa zea (Boddie) infectadas ou não com a toxina Bt. Assim, a ingestão indireta da toxina Bt, via presas que tiveram contato com o milho GM, não altera a sobrevivência desse predador. 388

Figura 1. Média do percentual (± IC, p=0,95) de sobrevivência 48 horas após a eclosão de ninfas de Orius insidiosus (Say), quando alimentadas com larvas de primeiro ínstar de S. frugiperda mantidas em milho Bt e não Bt. Sete Lagoas-MG, 2009. Figura 2. Média do percentual (± IC, P=0,05) de sobrevivência de ninfas e quarto e quinto ínstares de Orius insidiosus (Say), quando alimentadas com LCM mantidas em milho-bt e não-bt. Sete Lagoas-MG, 2009. 389

O período de desenvolvimento das ninfas do 4º e 5º ínstares de O. insidiosus, também não foram influenciados pela alimentação da presa no milho Bt, sendo esse em torno de 5,7 dias. Esses dados são semelhantes aos encontrados por Mendes et al (2005), que encontraram 5,8 dias em média para esse período, quando o predador foi alimentado com ovos de Anagasta kuehniella (Zeller). Essa dieta é considerada ideal para o desenvolvimento do predador, assim pode-se concluir que não existe influência da alimentação da presa em milho Bt nessa variável (sem parágrafo). Também Gonzales-Zamorra et al (2007) não encontraram diferença para o período de desenvolvimento, consumo, sobrevivência da fase ninfal e fecundidade dos adultos de Orius albidipennis submetidos à concentrações crescentes da toxina Cry 1 Ab. Esses dados indicam a inexistência de efeito negativo da toxina Bt para predadores desse gênero, por via indireta de ingestão. 2 - Não-preferência de O. insidiosus por S. frugiperda em folhas de milho Bt e não Bt Verificou-se um maior percentual de O. insidiosus nos tratamentos com lagartas em folhas de milho Bt, que naqueles no isogênico não Bt exceto para o híbrido número dois (Figura 4). Possivelmente, tal preferência tenha ocorrido pelo tamanho reduzido das lagartas que se alimentaram do milho Bt em relação ao não-bt, o que facilitou a predação, indicando uma maior capacidade de busca do predador nessas. Outro aspecto que deve ser observado é que a LCM é naturalmente muito agressiva e as lagartas que ingeriram o milho-bt, podem apresentar seu desenvolvimento e reações ao ataque do predador comprometido, o que facilitaria a predação. Figura 3. Média do período (± IC, p=0,95) de desenvolvimento do quarto e quinto ínstares de Orius insidiosus (Say), quando alimentadas com LCM mantidas em milho-bt e não-bt. Sete Lagoas-MG, 2009. 390

Figura 4. Média da porcentagem (± IC, p=0,95) de Orius insidiosus em folhas de milho-bt e não-bt no teste de olfatômetro. Sete Lagoas- MG, maio de 2009. As larvas de S. frugiperda apresentaram, de maneira geral, comportamento menos agressivo quando alimentadas em folhas-se de milho Bt, quando comparadas aquelas alimentadas em milho não Bt. Isso pode acontecer em função da atividade da toxina-bt no organismo do inseto, onde as lagartas sobreviventes se alimentam menos e apresentam o desenvolvimento reduzido. Nesse caso, a planta de milho Bt pode oferecer abrigo mais adequado para o predador, sendo favorável ao seu estabelecimento na planta. Assim a preferência do predador para o milho Bt pode estar associada interação tritrófica oferecida pela planta GM. 4. Conclusões A lagarta de S. frugiperda alimentada com o milho Bt é preferencialmente escolhida pelo O. insidiosus e não apresenta efeito negativo sobre a sobrevivência e período de desenvolvimento do predador. Dessa forma, o aproveitamento e potencialização dessas características podem ser úteis dentro do manejo, uma vez que o predador poderá auxiliar no controle das lagartas sobreviventes, reduzindo a geração de adultos resistentes à toxina-bt. 391

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