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TV Tarobá em Londrina: um olhar sobre a formação histórica e a programação regional 1 Adriana Nakamura GALLASSI 2 Florentina das Neves SOUZA 3 Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR RESUMO O objetivo dessa pesquisa é apresentar a história da TV Tarobá em Londrina, desde a sua fundação, ainda com o nome TV Londrina, e destacar o perfil de programação regional que orientou o jornalismo da emissora e influenciou emissoras locais. Para o estudo, além de pesquisa bibliográfica, a memória do veículo foi recuperada por meio de entrevistas, utilizando os recursos da metodologia da história oral. A pesquisa faz parte dos estudos sobre telejornalismo desenvolvidos no projeto Construção Simbólica e Agendamento por meio de Imagem e das Linguagens na Produção Telejornalística. PALAVRAS-CHAVE: comunicação, TV Tarobá de Londrina, história, programação regional INTRODUÇÃO Esse estudo apresenta o desenvolvimento da TV Tarobá em Londrina, que começou como TV Londrina em 1996. O objetivo foi pesquisar a história da emissora considerada uma das precursoras na estruturação de uma programação regional no Paraná. A pesquisa se justifica pela importância da regionalização nas emissoras de TV. O projeto de lei 4 de iniciativa da deputada Jandira Feghali defende a necessidade de estabelecer percentuais mínimos de veiculação de programas produzidos no local da sede da emissora de rádio e televisão. A Constituição Federal, no incisivo III, do artigo 221, reconhece que a regionalização da produção cultural, artística e jornalística, deve ser estabelecida em lei. Por isso, existe a necessidade de recuperar a história de emissoras regionais, principalmente daquelas com a preocupação de produzir conteúdos locais, nesse 1 Trabalho apresentado no DT 1 Jornalismo do XV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul, realizado de 8 a 10 de maio de 2014. 2 Graduanda do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina, email: adrianagallassi@hotmail.com 3 Orientador do trabalho. Docente do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo do Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina, email: flora@uel.br 4 Projeto de lei 256, de 1991, que regulamenta o disposto no inciso III do artigo 221 da Constituição Federal, referente à regionalização da programação artística, cultural e jornalística das emissoras de rádio e TV e dá outras providências. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesweb/fichadetramitacao?idproposicao=15222>. 1

momento em que a programação regional está sendo discutida e implantada em Londrina. Dados da pesquisa desenvolvida pelo Ibope em 2013 5 constataram que os brasileiros permanecem em média 5 horas e 45 minutos por dia assistindo à programação televisiva. Isso significa um aumento de 13 minutos em comparação a mesma pesquisa de 2012 e de 36 minutos se comparado com o resultado de 2008. A Pesquisa Brasileira de Mídia 6, apesar de atestar o crescimento do hábito de busca de informação pela internet, 47%, comprova também que a televisão continua sendo o meio de comunicação mais utilizado pelos brasileiros para esse fim, segundo a pesquisa 97% dos brasileiros assistem a televisão. Segundo a pesquisa este é um hábito que une os brasileiros, independente de gênero, idade, renda, nível educacional ou localização geográfica. Esse artigo pretende registrar a trajetória da TV Tarobá em Londrina, por meio de revisão bibliográfica e depoimentos, apoiando-se na metodologia da história oral. Segundo Paul Thompson (2002), a credibilidade da história oral pode estar não no apego aos fatos e ao depoimento fidedigno a realidade por parte dos entrevistados, mas também em sua divergência com eles. A realidade é complexa e multifacetada; e um mérito principal da história oral é que, em muito maior amplitude do que a maioria das fontes, permite que se recrie a multiplicidade original de pontos de vista (THOMPSON, 2002, p.25). A subjetividade do entrevistado, para Sônia Maria de Freitas é um dado presente em todas as fontes históricas. O que interessa na história oral é saber por que o entrevistado foi seletivo ou omisso, pois essa seletividade com certeza tem o seu significado (FREITAS apud THOMPSON, 2002, p. 18) O desenvolvimento desse método não é aleatório, de acordo com José Carlos Sebe B. Meihy (2010) precisa da elaboração de projeto, gravação de entrevistas, transcrição, análise, arquivamento e devolução social. A partir desses passos é que se utiliza o material para registrar a história que anteriormente estava na memória de seus protagonistas. 5 Pesquisa do Ibope Media realizada em 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/ptbr/noticias/paginas/brasileiros-passam-mais-tempo-em-frente-a-tv.aspx>. 6 Pesquisa de 2014. Disponível em: <http://blog.planalto.gov.br/quase-metade-dos-brasileiros-se-informa-pelainternet-afirma-ministro-da-comunicacao-social>. 2

A CONCESSÃO A TV Tarobá de Cascavel, Canal 6, foi a primeira emissora do grupo e também a que influenciou a estruturação da TV Londrina. O canal cascavelense teve sua concessão conquistada em junho de 1975 pelo empresário João Milanez, então proprietário de outras empresas de comunicação como a Folha de Londrina e as emissoras de rádio Folha FM e Cruzeiro FM, em Londrina, norte do Paraná. Ele conseguiu a concessão em decreto assinado pelo presidente da República Ernesto Geisel, quarto presidente da ditadura militar no Brasil. Segundo Darci Machado 7 (2014), Milanez tinha o sonho de ter um canal de televisão em Londrina, cidade sede da Folha de Londrina e onde ele desenvolveu seus principais negócios em comunicação. Em 1988, no governo de José Sarney, houve uma tentativa de obter a concessão de um canal na cidade. No entanto, o ministro das comunicações, na época, Antônio Carlos Magalhães, acabou convencendo o presidente Sarney a não outorgar o canal para o grupo da Folha de Londrina, e sim para o Grupo Paulo Pimentel. Este canal, desde então, é a TV Cidade em Londrina, afiliada ao Sistema Brasileiro de Televisão (MACHADO, 2014). Na época o pessoal da Folha ficou muito frustrado, mas isso aconteceu porque o jornal (Folha de Londrina) tinha uma linha de muita oposição ao governo Sarney, que era um desastre realmente político, e o Paulo (Pimentel), astutamente, fez um dossiê e levou para o ministro das comunicações, o Antônio Carlos Magalhães, da Bahia, que era seu correligionário, mesmo partido, (...) conhecido e disse: olha, tá aqui pra quem vocês querem dar a televisão. Ai o ministro levou ao presidente e disse: esse pessoal não pode ganhar porque é um jornal que nos ataca sistematicamente (MACHADO, 2014). No início dos anos 90, João Milanez conseguiu a outorga do canal 13 de Londrina em nome da Empresa Jornalística Folha de Londrina. Mesmo depois de obter um canal, a emissora não foi montada, venderam a participação para o Zé Eduardo 8, este, logo em seguida virou sócio majoritário, ai ficou com o canal parado, não montou também e acabou depois, vendendo para o pessoal da Tarobá (MACHADO, 2014). O interesse era que a TV Londrina retransmitisse o sinal da Rede Bandeirantes, no entanto, a TV Tropical, em Londrina, já era afiliada a Band. Quando, 7 Darci Machado foi o primeiro Diretor de Jornalismo da TV Londrina. Também apresentou o telejornal da noite, participou de programas locais como comentarista e hoje é comentarista de esporte da Central Nacional de Televisão (CNT) de Londrina. 8 José Eduardo Andrade Vieira 3

portanto, esta passou a ter rede própria e liberou o sinal da rede, o Grupo da TV Tarobá teve oportunidade de assumir essa retransmissão, pois já era afiliado a Bandeirantes em Cascavel (NEGRÃO, 2014). DE TV LONDRINA A TV TAROBÁ A filial londrinense, da TV Tarobá de Cascavel, entrou no ar, em 1996. De acordo com Negrão (2014) a emissora era para se chamar TV Folha de Londrina, por ser uma concessão outorgada a João Milanez, proprietário do jornal de mesmo nome. No entanto, o canal 13 foi inaugurado como TV Londrina, nome que a identificou por algum tempo. No primeiro momento, não havia uma estrutura fixa e uma equipe definitiva em Londrina, eventualmente jornalistas e cinegrafistas da TV Tarobá de Cascavel eram enviados a Londrina para produzir matérias. Eu nesse começo vinha muito a Londrina para poder fazer material, mas ficou um bom tempo só repetindo o sinal da Tarobá de Cascavel (NEGRÃO, 2014). Algumas entradas ao vivo, segundo Machado (2014), foram feitas da própria redação da Folha de Londrina. Eu fui convidado para fazer um flash, um boletim, que era feito da redação da Folha (de Londrina) ao meio dia, meio dia e trinta, no Jornal da Tarobá, na hora do almoço, de Cascavel. Então, entrava daqui ao vivo, via Telepar na época, (...) e eu fazia essa participação, mostrando uma ou duas matérias de Londrina, cidades vizinhas, enfim. Essa foi a primeira etapa (MACHADO, 2014). A TV Londrina começou de forma improvisada, utilizando equipamentos cedidos pela televisão de Cascavel, sem elevados investimentos em tecnologia. Consoante Negrão (2014) a TV Londrina foi o resultado muito mais da circunstância da necessidade de manter a transmissão do sinal da Rede Bandeirantes em Londrina do que de um planejamento. O primeiro endereço da emissora foi a Rua Belo Horizonte, número 228, no centro da cidade. Ali era a casa na frente e nós ocupávamos outro dois imóveis nos fundos. Tanto é que tinha uma rampa, a gente construiu uma rampa pra poder acessar os apartamentos que ficavam nos fundos, todos do mesmo proprietário. E ai, de uma maneira muito improvisada lá em cima funcionava a redação, funcionava a produção, ilhas de edição, aquela coisa toda. Embaixo a parte financeira, o comercial e o estúdio (NEGRÃO, 2014). 4

A nova emissora londrinense tinha apenas duas equipes de jornalismo. Havia um grupo que produzia conteúdo de manhã para o telejornal local transmitido na hora do almoço e a outra ficava encarregada da elaboração do telejornal local da noite. A programação elaborada em Londrina, no início, era basicamente um jornal na hora do almoço, um jornal à noite, gravado, e depois o programa feminino, o programa de música regional (MACHADO, 2014). Os canais de Londrina e de Cascavel sempre tiveram uma relação bem próxima: a direção era a mesma, aqui a gente tinha só um gerente geral e eu no jornalismo e todos nós nos reportávamos ao Jorge (Guirado) lá em Cascavel, quem realmente comandava (MACHADO, 2014). De acordo com Machado (2014), no início da TV Londrina, Jorge Guirado orientou-o a contratar somente profissionais novos no mercado, pessoas que não estivessem empregadas em nenhuma empresa de comunicação, com o intuito de não ter problemas com as empresas locais. Cerca de dois anos depois da inauguração em 1996, a TV Londrina passou a se chamar TV Tarobá. A alteração não implicou em nenhuma mudança na programação ou na equipe, foi uma medida administrativa e de unificação da marca Tarobá (MACHADO, 2014). Consoante Negrão (2014), como a TV Londrina era do mesmo grupo, dos mesmos acionistas, além de possuir a mesma cultura televisiva, mesma linha editorial, e retransmitir parte da programação da TV Tarobá de Cascavel a alteração do nome foi inevitável: não fazia sentido ter uma emissora em Londrina que se chamava Londrina e não Tarobá (NEGRÃO, 2014). João Milanez foi sócio da Tarobá em Cascavel e em Londrina até o início dos anos 2000. Segundo Machado (2014), o empresário vendeu a sua parte nas duas emissoras em 2005. Ele participava muito pouco, o seu João (Milanez) era uma pessoa muito querida, não incomodava em nada, não interferia em nada, cuidava da sua Folha de Londrina, que era o seu grande amor (MACHADO, 2014). A PROGRAMAÇÃO REGIONAL A programação local foi uma exigência desde o início da TV Londrina e continuou sendo depois da mudança de nome, segundo Machado (2014). A relação entre a emissora de Cascavel e a de Londrina dizia respeito também à estruturação da programação local, mas considerando-se as características e as peculiaridades de cada região: Praticamente é a mesma linha de programação: Você pode bota (...) o programa 5

regional de música, aqui num estilo nosso, do Paraná, de São Paulo, do Sul de Minas, lá uma coisa mais gauchesca, enfim (MACHADO, 2014). A limitação técnica também contribuiu para a necessidade de a emissora se voltar para o mercado regional. A filial londrinense se estruturou para cobrir Londrina e as cidades em seu entorno como Cambé, Ibiporã, Jataizinho e Rolândia. Em função da grande demanda jornalística em Londrina segunda maior cidade do estado do Paraná e terceira maior da região sul do Brasil (NEGRÃO, 2014). Segundo Negrão (2014), a Tarobá é uma referência na implantação do Jornalismo Regional em Londrina. Até o início de 2009, a produção local do telejornalismo da RPCTV, afiliada da Rede Globo, principal concorrente da TV Tarobá de Londrina, tinha nove minutos 9 enquanto o telejornal da Tarobá ocupava em torno de trinta minutos da programação, de acordo com Negrão (2014). Isso permitiu que a TV Tarobá produzisse matérias sobre um maior número de assuntos que costumavam ficar a margem do telejornalismo de Londrina até então (NEGRÃO, 2014). O que faltava era gente pra fazer, (...) e faltava espaço (nas emissoras). Gente nós fomos embarcando, espaço a Rede Bandeirantes nos permitia. O know-how de televisão regional nós já tínhamos da Tarobá (de Cascavel), então nós nos fechamos em torno da comunidade e a proposta era falar da cidade de Londrina. Vai mostrar mais a cidade, as pessoas vão aparecer mais na sua televisão, e ai começou a construir um vínculo muito forte com a comunidade, (...) a gente começou a mensurar a importância que a Tarobá tinha para as pessoas na cidade, porque a gente passou a ser uma referência. Ah, vou chamar a Tarobá, hein. Vou chamar o Camargo 10!, exemplifica (NEGRÃO, 2014). Essa preocupação com a produção local e regional pode ser percebida até hoje, tanto na programação da TV Tarobá de Cascavel, quanto na de Londrina. A primeira possui, hoje, 19 programas produzidos em Cascavel, entre programas jornalísticos e de entretenimento, enquanto a segunda tem 15 programas locais, todos produzidos em Londrina. Não há mais repetição de sinal entre as emissoras, exceto pelo programa de entretenimento Game Over, que é produzido em Londrina e transmitido 9 Matéria sobre o aumento de um bloco dedicado a notícias de Londrina e região no Paraná TV 1 Edição, da RPCTV. Disponívl em: <http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/conteudo.phtml?id=862192>. 10 Carlos Camargo é conhecido por seus programas policiais na televisão. O apresentador começou na televisão na TV Tarobá de Londrina, onde comandou programas como Tempo Quente e Brasil Urgente. Desde 2010, Camargo tem um programa policial na TV Cidade, da Rede Massa, afiliada do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), chamado Tribuna da Massa. 6

em Cascavel e pela programação de rede. Pode-se afirmar que cada uma se especializou sua programação local ao seu público. TABELA 1 Produção de programação local: comparativo RPCTV 11 e TV Tarobá RPCTV CURITIBA (Sede da emissora) LONDRINA Bom Dia Paraná Paraná TV 1 Edição* Caminhos do Campo Paraná TV 2 Edição* Globo Esporte Meu Paraná Paraná TV 1 Edição* Paraná TV 2 Edição* Revista RPC TAROBÁ CASCAVEL (Sede da emissora) LONDRINA Atualidades Brasil Urgente* Brasil Urgente* Canção e Viola Canta Paraná Entretendo Canal Geral Game Over Construshow Guest Gente Que Faz Jogo Aberto* Jogo Aberto* Jornal Tarobá 1 Edição* Jornal Tarobá 1 Edição* Jornal Tarobá 2 Edição* Jornal Tarobá 2 Edição* Onda Gospel Mercado & Cia. Primeira Hora* Ponto de Vista Tarobá Automóvel* Primeira Hora* Tarobá Cidade Raízes do Paraná Tarobá Esporte* Tarobá Automóvel* Tempo Quente* Tarobá Circulando Vitrine Revista Tarobá Esporte* Tarobá Rural Tempo Quente* Vitrine Revista *Programas com mesmo nome, mas que a produção é feita separadamente em cada cidade 11 A Rede Paranaense de Comunicação (RPCTV) é afiliada a Rede Globo. 7

AS ESPECIFICIDADES DA TV TAROBÁ interferência Uma das características da TV Tarobá de Londrina é a utilização de muita ao vivo em seus telejornais. Consoante Negrão (2014), no início não havia profissionais em número suficiente para produzir em torno duas horas de programação de jornalismo diário. Dessa forma, para otimizar o tempo, a Tarobá recorria ao recurso da inserção de repórteres em tempo real. As reportagens também são diferentes e não seguem o padrão tradicional de tempo, cerca de um minuto e meio para cada matéria. A TV Tarobá produz reportagens mais longas, também como um recurso para cobrir o tempo da programação local dedicado ao jornalismo, de acordo com Negrão (2014), para isso, eles precisam inserir mais informações nas histórias narradas nas reportagens para que estas fiquem maiores. Outra especificidade, que antes diferenciava a TV Tarobá de outras emissoras, consiste na separação de funções. A divisão de tarefas não era clara e organizada. A produção da TV Tarobá, passou por uma fase de menos rigidez e mais improviso na produção. Quando Gelson Negrão começou na Tarobá de Cascavel como repórter ele e os outros jornalistas desempenhavam diversas funções: reportagem, editava, apresentava, fazia de tudo, não necessariamente ganhando por tudo isso, a remuneração não era ruim, mas era uma coisa muito mais de paixão (NEGRÃO, 2014). No entanto, com o passar do tempo, a necessidade de aprimorar o conteúdo levou a TV Tarobá a uma maior organização de sua produção. Para Negrão (2014) isso aconteceu em 1997, quando ele voltou a Londrina, depois de passar uma temporada trabalhando na TV Tarobá de Cascavel, e começou a estruturar a produção jornalística. Foi ai que nós conseguimos criar a estrutura de editor de imagem, editor de texto, pauteiro, criamos o padrão das equipes, repórter, cinegrafista, auxiliar, as escalas de plantão, editor é editor, apresentador é apresentador, repórter é repórter, pauteiro é pauteiro NEGRÃO (2014). TELEJORNALISMO COM OPINIÃO O Jornal Tarobá 2ª edição foi lançado em 2003 como uma forma de fortalecer o jornalismo na TV Tarobá de Londrina em uma época que o programa policial de Carlos Camargo ocupava grande parte da grade de produção local (NEGRÃO, 2014). 8

A intenção de fortalecer o jornalismo, era reforçar o vínculo, o nosso compromisso de cobertura local. (...) Porque o programa do Camargo estava focado na cobertura policial, mas o programa não alcançava tudo. Não alcançava política, não alcançava economia, não alcançava as artes, a cultura, o esporte, (...). Nós já tínhamos um modelo de referência na área de segurança pública, mas nós precisávamos avançar nas outras frentes. Para ampliar o nosso escopo, para ampliar a nossa atuação, para reforçar o nosso vínculo com a comunidade. Não tinha alternativa, tinha que ser o jornalismo (NEGRÃO, 2014). Nessa fase de fortalecimento do jornalismo, a TV Tarobá fez algumas mudanças. Foram contratados mais profissionais. Além disso, os programas receberam uma modernização plástica para se adequar ao telejornalismo que estava cada vez mais estruturado, além do empenho em produzir matérias sobre temas locais, buscando mostrar as demandas da comunidade londrinense. O modelo opinativo foi outro aspecto explorado no Jornal da Tarobá 2ª edição. Segundo Negrão (2014), quando ele dividia a bancada com Júlio Oliveira, os dois perceberam que os telespectadores se interessavam em conhecer a opinião do jornalista. Isso porque, na época a TV Tropical, atual CNT, havia o Jornal do Meio Dia, um programa que fazia sucesso e que ficou conhecido como Os três patetas, apresentado por Oswaldo Militão, Moysés Lêonidas e Roberto Coutinho, no qual a cada matéria apresentada os três tinham um momento de debate sobre a informação da reportagem. Esse foi um modelo que inspirou a opinião no telejornalismo da Tarobá (NEGRÃO, 2014). A raiz da opinião enunciada no telejornal deveria seguir a linha editorial da emissora. De acordo com Negrão (2014) o compromisso da TV Tarobá sempre foi com a audiência, com os interesses da comunidade e, portanto, a linha editorial caminhava nesse sentido. Esse modelo de telejornal levou o Jornal da Tarobá 2ª edição, de quarto ao segundo lugar na audiência em Londrina (NEGRÃO, 2014). CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir desse estudo, pôde-se conhecer os bastidores da busca pela concessão para constituir uma emissora do grupo da Folha de Londrina de João Milanez e as formas com que o canal foi utilizado como um retransmissor da TV Tarobá de Cascavel e da programação da Rede Bandeirantes até realmente se organizar uma 9

emissora com produção própria. Percebe-se que essa estruturação não aconteceu na direção de João Milanez, ele era somente um sócio nessa época. O telejornalismo local produzido pela emissora, apesar de não ser a pioneira nesse tipo de produção em Londrina, também contribuiu para a construção do que hoje as emissoras de rede buscam inserir nas suas filiais locais e que tem funcionado e agradado os telespectadores. A inserção de repórteres em tempo real ajudou a TV Tarobá não só a preencher o tempo que a Rede Bandeirantes disponibilizava para o jornalismo local, mas também acrescentou dinamicidade ao seu contéudo, outra característica muito utilizada em outros canais de televisão local. Uma evidência do quanto a Rede Bandeirantes foi decisiva para a consolidação da TV Tarobá é a presença da opinião em seu telejornalismo. Isso porque, esse modelo foi inspirado no programa Jornal do Meio Dia da CNT, o qual recebeu adaptações e até hoje figura no jornalismo da Tarobá. Nota-se, dessa maneira, que a TV Tarobá representou um estímulo a produção regional com o apoio de uma grande rede de televisão, a Rede Bandeirantes, que possibilitou o espaço na grade para o desenvolvimento das produções locais. Ter uma rede como suporte foi determinante, uma vez que a CNT outra emissora que tinha um significativo conteúdo local e que foi, em alguns momentos, referência para a TV Tarobá não conseguiu manter audiência devido a mudanças constantes na grade de programação. REFERÊNCIAS Teses: COSTA, Osmani Ferreira da. Rádio e política : a aventura eleitoral de rediatistas no século XX. Londrina: EDUEL, 2005. COSTA, Osmani Ferreira da. A televisão e o palácio: concessões e desenvolvimento das emissoras e redes televisivas no Paraná : (1954-1985). Assis, 2012. FERNANDES JUNIOR, Renon. TV Tarobá, a Debutande do Oeste. Londrina, 1994. MACHADO, Elza Rosa. Uma abordagem histórico-política da formação das Redes de Televisão no Brasil. Londrina, 1992. Livros: FREITAS, Sônia Maria de. Prefácio à edição brasileira. In: THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. p.14-19. MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2002. 248p. 10

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. História oral: como fazer, como pensar. 2. Ed. São Paulo: Contexto, 2010. 176p. THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. 385p. Entrevistas: MACHADO, DARCI. Entrevista concedida a Adriana Nakamura Gallassi. Londrina, 19 fev. 2014 NEGRÃO, GELSON. Entrevista concedida a Adriana Nakamura Gallassi. Londrina, 14 jan. 2014 Sites: Brasileiros passam mais tempo em frente à TV. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/paginas/brasileiros-passam-mais-tempo-emfrente-a-tv.aspx>. Acesso em: 22 mar. 2014 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 23 mar. 2014. GALEMBECK, Glória. ParanáTV 1ª Edição produzido em Londrina ganha mais um bloco. Gazeta do Povo, Londrina, 28 fev. 2009. Disponível em: < http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/conteudo.phtml?id=862192>. Acesso em: 18 mar. 2014. Hábitos de Consumo de Mídia da População Brasileira. Brasil, fev. 2014. Disponível em: <http://blog.planalto.gov.br/quase-metade-dos-brasileiros-se-informapela-internet-afirma-ministro-da-comunicacao-social>. Acesso em: 22 mar. 2014. Projeto de Lei 256/1991. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesweb/fichadetramitacao?idproposicao=1522>. Acesso em: 01 abr. 2014. 11