Sistemas de Aterramentos Elétricos

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Transcrição:

Sistemas de Aterramentos Elétricos Prof. Dr. Silvério Visacro F. LRC Lightning Research Center UFMG Universidade Federal de Minas Gerais - Brasil Texto adaptado para o curso "Sistemas de Puestas a Tierra", a partir do artigo "EMC: Aspectos Fundamentais da Influência do Aterramento Elétrico", do mesmo autor Resumo: Neste trabalho o autor apresenta uma abordagem básica do tema Aterramentos Elétricos, bem como considerações fundamentais acerca da influência dos aterramentos elétricos em sistemas elétricos e eletrônicos, durante a ocorrência de distúrbios eletromagnéticos. Tais avaliações são realizadas na perspectiva de se promover uma discussão sobre as práticas que devem ser adotadas para minimização dos efeitos desses distúrbios. Denota-se que certas práticas, usualmente empregadas, não são efetivas para cumprir os objetivos almejados. 1. Introdução Consoante as características da interferência eletromagnética, o aterramento pode influenciar significativamente o desempenho dos sistemas. Nesse contexto, existem basicamente duas questões principais a serem consideradas: o comportamento do aterramento nas condições impostas pelos fenômenos solicitantes e o desempenho global do sistema. Ambas as questões apresentam considerável complexidade. A solução da primeira está relacionada à disponibilidade de modelos apropriados para o aterramento, capazes de representar todos os aspectos fundamentais envolvidos em seu comportamento, nas condições determinadas pelo fenômeno solicitante. Para avaliar a segunda questão, é preciso considerar o caráter ambíguo da influência do aterramento. Por um lado, a adoção de práticas adequadas de aterramento pode minimizar os efeitos de interferência às quais o sistema é submetido. Por outro lado, os eletrodos de aterramento podem constituir-se num meio de introdução de interferências no sistema. ocorrência são injetadas nos eletrodos de aterramento e (b) a compreensão do fenômeno físico associado à propagação de ondas eletromagnéticas guiadas pelos eletrodos de aterramento no solo. A abordagem de ambos os aspectos para a formulação de um modelo consistente pode ser resumida nas considerações básicas: composição de corrente no solo; dependência em relação à freqüência dos parâmetros do solo (resistividade e permissividade); efeitos da propagação; efeito da intensidade da corrente (comportamento não-linear do solo devido a processo de ionização). Todos esses aspectos são extensivamente considerados em publicações anteriores do autor [1,2,3,4,5,6] e não são detalhados no presente texto. O autor desenvolveu um modelo computacional [2,3], que inclui todos os efeitos e gera dois resultados principais: a impedância do aterramento (vista do ponto de injeção de corrente) e a distribuição de potenciais na superfície do solo. Os resultados (em ambos os domínios: do tempo e da frequência) são expressos em curvas similares àquelas apresentadas nas figuras 1 e 2, para cada configuração de eletrodos. 2. Modelos de Aterramentos Elétricos 2.1 Aspectos Gerais O domínio das ocorrências cobertas no contexto de EMC se estende numa ampla faixa. De acordo com o fenômeno específico em consideração, o modelo a ser empregado pelo aterramento pode assumir configurações muito diferentes. Isto determina uma dificuldade considerável para se estabelecer a representação do mesmo por meio de circuitos equivalentes. Numa abordagem geral, todos os aspectos que realmente influenciam no comportamento do aterramento devem ser considerados, para fins de determinação do modelo adequado. Pela análise dos mesmos, para as condições particulares impostas pelo fenômeno solicitante, é possível promover as devidas simplificações, para se estabelecer o modelo efetivo do aterramento. Os aspectos fundamentais mencionados referem-se basicamente a duas questões: (a) a caracterização do comportamento do meio solo nas condições reais a que o mesmo fica submetido, quando as correntes associadas à (a) Dependência da frequência de ρ e ε computada (b) Valores constantes para os parâmetros do solo Figura 1 - Ondas de corrente e tensão no aterramento Figura 2 - Distribuição de potencial na supefície do solo

A disponibilidade de tais modelos e a prática desenvolvida pelo autor durante vários anos tornaram possível acumular-se uma experiência considerável na área. Através do desenvolvimento de uma extensa e sistemática análise de sensibilidade, pôde ser verificada a influência dos aspectos envolvidos no comportamento do aterramento, na perspectiva dos parâmetros de projeto que devem ser satisfeitos pelo projetista: o desempenho do aterramento e as questões de segurança. Tal desempenho está associado à maneira que o sistema é influenciado pelo comportamento do aterramento e pode ser, de certa forma, traduzido através da impedância de aterramento. Neste ponto, deve ser destacado que, apesar do "conceito de impedância" ser estritamente definido no domínio da freqüência, a referência ao mesmo como o resultado da relação entre os valores de pico de ondas de tensão e corrente é uma prática usual, na área de aterramentos. Com respeito à segurança, a questão a ser avaliada se relaciona às condições de risco impostas pela distribuição de potencial na superfície do solo, durante a injeção de correntes nos eletrodos. Uma consideração física fundamental para o entendimento do comportamento do aterramento referese à forma como a corrente é dissipada no solo. Se uma porção limitada do eletrodo é considerada, verifica-se que tal corrente é composta por quatro componentes, representadas na figura seguinte. A corrente que é injetada no eletrodo é parcialmente dissipada para o solo e parcialmente transferida para o comprimento restante do condutor. Verifica-se a ocorrência de perdas internas ao condutor e o estabelecimento de um campo magnético na região que circunda os caminhos de corrente. O cômputo das energias associadas pode ser efetuado respectivamente por meio de resistências e indutâncias colocadas em série no circuito equivalente. R L L R Figura 3 - Componentes de corrente no solo O campo elétrico no solo (um meio de resistividade ρ e permissividade ε) determina o fluxo de correntes de condução e capacitiva. A relação entre tais correntes não depende da geometria dos eletrodos, mas tão somente da relação "σ/ωε", onde σ refere-se à condutividade do solo e ω à freqüência angular. A energia associada aos campos estabelecidos por tais correntes pode ser computada através de condutâncias e capacitâncias conectadas em paralelo no circuito. Adicionalmente, os efeitos mútuos entre cada um dos elementos que compõem os eletrodos (segmentos condutores) devem ser considerados (indutância, capacitância e condutância mútuas). A determinação de cada elemento (próprio ou mútuo) é detalhada na referência [4]. As condições ditadas pelo fenômeno solicitante podem determinar representações muito diferentes para uma mesma configuração de aterramento, em termos de circuitos equivalentes. Por exemplo, em condições de baixa freqüência, que são representativas para fenômenos lentos (como aqueles associados a curtoscircuitos ou operação com desbalanço de carga em sistemas de alimentação polifásicos), a impedância longitudinal e também a corrente capacitiva no solo (cujo valor é proporcional à freqüência) podem ser desprezadas, na maioria das aplicações. Nesses casos, a representação do aterramento pode ser feita por meio de uma condutância (ou resistência equivalente). Entretanto, para freqüências superiores a alguns quilohertz, o efeito indutivo torna-se importante. A partir de algumas dezenas de quilohertz, o efeito capacitivo torna-se significativo e, próximo à faixa dos megahertz, este último efeito começa a predominar sobre os demais. Então, para ocorrências rápidas, o circuito equivalente pode assumir configurações complexas. Assim, certas práticas de aterramento, que são consistentes para determinadas condições, podem não ter sentido, em condições diferentes. 2.2 Considerações de Ordem Prática Embora a determinação de modelos para o aterramento envolva certas complexidades, as possíveis práticas de engenharia, capazes de assegurar o comportamento adequado do aterramento, restringem-se a um número limitado de ações. O que tais modelos efetivamente oferecem é a possibilidade de se quantificar a extensão ou intensidade de tais práticas. Assim, na maioria dos casos, é possível recomendar ações eficientes de projeto, a partir da simples compreensão dos aspectos fundamentais envolvidos e de acordo com os objetivos da aplicação. Como já fora destacado anteriormente, a referência ao aterramento como uma resistência só pode ser efetuada para condições bem específicas. Numa abordagem geral, o mesmo deve ser referido como uma impedância. Entretanto, usualmente as normas referem-se a valores limites de resistência de aterramento. A prática de se estabelecer as condições de aceitação do aterramento por meio desse valor parece razoável. Inicialmente deve se considerar que a medição precisa da impedância de aterramento, nas condições de aplicação em engenharia, só é possível na faixa de baixa freqüência e, nesse caso, a impedância se aproxima da resistência de aterramento. A relação entre a resistência e a impedância de aterramento não é linear e depende significativamente do solo e da configuração dos eletrodos, mas, geralmente, tal relação pode ser estimada na perspectiva de avaliação da ordem de grandeza de seus valores. Contudo, é recomendável prudência em aplicações associadas a ocorrências cujas freqüências representativas apresentem valores elevados. Em tais casos, se um baixo valor de resistência é obtido na medição e a dimensão do sistema de aterramento é elevada, o valor da impedância pode ser consideravelmente superior, já que, para ocorrências rápidas, a extensão do sistema que efetivamente contribui para a dissipação de corrente é reduzida. Como um princípio, é sempre desejável obter valores reduzidos para a impedância de aterramento. Apenas em aplicações muito específicas, que envolvem a distribuição de correntes elevadas (como aquelas associadas a descargas atmosféricas) impostas a um sistema com várias terminações conectadas ao solo, pode existir interesse em se aumentar a impedância de uma dessas terminações. Esta pode ser uma alternativa para influenciar na distribuição da corrente através do sistema. Efeitos indesejáveis de interferência eletromagnética, associados a tais correntes, podem ser minimizados na região próxima a uma determinada terminação, através

de tal prática. Evidentemente, nesse tipo de aplicação, são necessários cuidados particulares com relação às questões de segurança, uma vez que a elevação total de potencial no solo é determinada através do produto da corrente pela impedância de aterramento. O principal fator que influencia na diminuição do valor da impedância de aterramento é a extensão da área coberta pelos eletrodos do sistema de aterramento. Contudo, para fenômenos rápidos, a atenuação do campo eletromagnético ao longo da extensão dos eletrodos torna o aumento dessa área, além de determinada extensão, não efetivo para fins de redução da impedância de aterramento (conceito de comprimento efetivo do aterramento). No caso, a ação deve ser concentrada na região próxima ao ponto de injeção de corrente, com o objetivo de se aumentar as correntes de condução e capacitiva nessa região. Para a situação específica de um solo estratificado, cuja segunda camada tenha valor de resistividade bem inferior àquele da camada superficial, o emprego de hastes para se atingir a segunda camada pode apresentar uma influência significativa. Por outro lado, dois importantes aspectos devem ser ressaltados com relação ao valor da impedância de aterramento. Primeiro, a recomendação de valor muito reduzido de impedância de aterramento (ou resistência), usualmente exigida na maioria das aplicações, não tem sentido em muitas condições. Como um exemplo ilustrativo, pode se referir à usual recomendação de valor máximo de 5Ω para a resistência do aterramento de computadores e equipamentos eletrônicos. Para as condições brasileiras, onde os valores médios de resistividade são geralmente superiores a 1 kω.m, em muitas situações, é praticamente impossível se alcançar tal valor de resistência, com as usuais restrições de disponibilidade de área para as instalações. Assumindo-se que um aterramento deva ser construído com hastes de 2,5m de comprimento, colocadas num solo de tal valor de resistividade e, considerando-se que a resistência própria de cada haste nessa condição se aproxima de 360Ω, seriam necessárias cerca de 72 hastes conectadas em paralelo para se alcançar o valor recomendado, na hipótese favorável de desprezar-se o efeito mútuo entre as hastes ( o que não é uma hipótese razoável). Devido à necessidade de minimizar tais efeitos, a necessária distância entre as hastes determinaria que a área da instalação excedesse os 2000 m 2. Mesmo com o emprego de práticas alternativas, como o tratamento do solo, a dimensão da área correspondente seria certamente excessiva. O segundo ponto refere-se ao fato de que o fator que realmente importa nas aplicações não é o valor da resistência de aterramento, mas a diferença de potencial à qual pessoas ou equipamentos ficam submetidos durante a ocorrência. A disseminação desse conceito e de suas conseqüentes aplicações é muito importante. Assim, as práticas de equipotencialização podem ser muito eficientes, mesmo em condições de valor muito elevado de impedância de aterramento, se sua aplicação é concebida através de uma filosofia de proteção consistente. Com respeito à segurança, as condições de risco são estabelecidas pela distribuição de potenciais na superfície do solo (gradientes de potencial). A forma mais eficiente de reduzir tais gradientes é o aumento da densidade de eletrodos na malha. Em muitas das aplicações, o projeto é desenvolvido prioritariamente para atender às solicitações de baixa freqüência, tais como curtoscircuitos. A distribuição de potenciais no solo para este tipo de ocorrência é muito diferente daquela que ocorre para fenômenos rápidos [3]. Nesse último caso, a elevação do potencial é bem mais pronunciada na região próxima ao ponto de injeção de corrente. O efeito é mais concentrado. Assim, se, nos referidos projetos, existem pontos de conexão de cabos pára-raios ao aterramento, é importante se promover o aumento da densidade de condutores (eletrodos) na região do solo próxima a tais pontos de conexão. As mesmas sugestões são válidas para condições específicas de aplicação associadas a ocorrências cujas freqüências representativas sejam elevadas, como aquelas relacionadas a telecomunicações ou a sistemas de proteção contra descargas atmosféricas. O limite de tal prática seria a colocação de uma folha condutora no solo, junto aos pontos de conexão. Outra recomendação prática refere-se ao emprego de uma camada de material isolante sobre o solo (como, por exemplo, brita), para fins de se limitar os valores de corrente que possam percorrer o corpo de seres vivos, eventualmente submetidos a uma diferença de potencial na superfície do solo. O último aspecto a destacar nesta seção refere-se à necessidade de se perceber que, a despeito da significativa influência do aterramento, o mesmo se constitui apenas em um importante componente a ser considerado numa filosofia mais abrangente de proteção. 3. Influência do Aterramento no Sistema 3.1 Modelagem do Sistema A interferência eletromagnética em sistemas elétricos e eletrônicos é usualmente derivada do acoplamento através de efeitos induzido, capacitivo, condutivo ou irradiado. A predominância de um desses efeitos é determinada pela natureza do distúrbio, mas, freqüentemente, o acoplamento resulta de mais de um dos efeitos. Tal quadro torna a modelagem dos sistemas uma tarefa bastante complexa, no contexto de EMC. Apesar desse tópico não estar aqui detalhado, existe interesse prático em se comentar a importância do cômputo das correntes capacitivas entre componentes do sistema e a terra, no caso de ocorrências muito rápidas. Usualmente, mesmo para as ligações condutivas dos componentes do sistema aos eletrodos de aterramento, apenas o efeito indutivo é considerado. Se o efeito capacitivo for levado em conta (o que corresponde a uma aproximação física mais realística para aplicações associadas a fenômenos rápidos ou de alta freqüência), a impedância entre o componente em consideração e a terminação para terra fica significativamente reduzida e, da mesma forma, a queda de tensão ao longo do circuito de conexão. Neste texto, o interesse maior reside na consideração da influência do aterramento sobre o sistema. Com respeito a este aspecto, primeiramente, é importante notar o caráter ambíguo de tal influência. Por um lado, o aterramento pode atuar como um componente essencial para minimização dos efeitos de interferência no sistema. Por outro lado, o mesmo pode servir justamente como agente de introdução de tais interferências no sistema, através do acoplamento condutivo, indutivo e capacitivo de seus eletrodos. Estes estão posicionados no solo e,

portanto, expostos a vários fenômenos, que eventualmente ocorrem nesse meio, ou mesmo no ar. Assim os eletrodos podem transmitir esses efeitos para o sistema, no qual o aterramento deveria desempenhar uma função de proteção. O segundo aspecto refere-se à ampla variedade de funções, que se espera que um aterramento desempenhe no sistema, consoante a aplicação em questão. Para fins de se explicitar este aspecto, é possível considerar as aplicações mais características do aterramento e suas correspondentes funções no sistema. Aterramento para o sistema de alimentação (subestação) - O objetivo fundamental é a proteção do pessoal contra os efeitos da corrente de curto-circuito. Quando o condutor neutro está presente, ele coleta a maior parte da corrente. Nesse caso, a corrente injetada no solo é reduzida e, assim, a resistência do aterramento influencia pouco na elevação de potencial. Na ausência desse condutor, a elevação de potencial é praticamente proporcional ao valor da resistência, apesar de ser necessário deduzir o efeito das correntes que retornam através da blindagem de cabos ou outras partes condutoras. Aterramento de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas - Sua função é prover um caminho de baixa impedância para a corrente de descarga, no seu percurso preferencial em direção ao solo (constituído pelos cabos do sistema de proteção). Aterramento de alta freqüência - Sistema de eletrodos usualmente constituído por reticulados de área reduzida, cujo objetivo é minimizar os efeitos de interferência associados à irradiação na faixa de alta frequência, como aqueles oriundos de sistemas de telecomunicações ou da ocorrência de fenômenos rápidos, como descargas atmosféricas. Aterramento para descargas eletrostáticas - Procura evitar o acúmulo de cargas nos componentes condutivos do sistema. Esse tipo de aplicação é muito importante, no contexto de EMC. As descargas eletrostáticas constituem-se numa importante fonte de distúrbios, pois os pulsos resultantes são extremamente rápidos, e o sinal induzido depende fundamentalmente da taxa "di/dt". O valor da impedância de aterramento não é importante para a eliminação da acumulação de carga. A questão essencial refere-se a se assegurar a continuidade das conexões metálicas entre os pontos onde as cargas são eventualmente geradas e os eletrodos de aterramento. Condutor de terra de segurança - Seu objetivo é assegurar a ligação para terra de todas as partes metálicas do sistema, expostas ao contato do pessoal. Eventualmente, em caso de falha, essas partes podem se tornar energizadas. Condutor de terra - Conecta os corpos metálicos do sistema (que podem ser energizados em caso de falha) com o ponto que fecha o "loop" do circuito que alimenta essa eventual falta. Diferentemente do condutor neutro, o condutor de terra deve conduzir apenas durante a ocorrência da falta. O condutor neutro fecha o circuito que alimenta os equipamentos e, portanto, se destina a carregar a corrente nominal (de retorno) em sistemas monofásicos ou a soma de tais correntes em sistemas polifásicos. Terra de referência - Destina-se a constituir-se numa referência de potencial para equipamentos sensíveis, sendo, portanto, posicionado no potencial nulo (terra remoto). O principal problema relativo a tais funções é que as usuais restrições de projeto demandam que um único sistema de aterramento deva desempenhar várias dessas funções, simultaneamente. Apesar dessa união ser tecnicamente recomendável na maioria das aplicações, a complexidade e a dificuldade de análise do comportamento do sistema (quanto às possíveis ocorrências a que os mesmo pode ser submetido) são usualmente ampliadas por tal prática. Algumas vezes, não é possível ao aterramento desempenhar todas estas funções, pois algumas delas são conflitantes, em determinadas situações. Para o desempenho destas funções, três filosofias principais foram concebidas e são usualmente implementadas na perspectiva de aplicação em engenharia. aterramento isolado aterramento em ponto único aterramento com equipotencialização 3.2 Filosofias de Aterramento Os conceitos básicos associados a cada filosofia são considerados a seguir. (a) Aterramento isolado Esta prática tem por finalidade evitar que distúrbios originados em equipamentos de potência interfiram no aterramento de equipamentos sensíveis. A presença de ruídos é reportada na literatura, com potenciais de magnitude entre 5V e 100V, para o aterramento de sistemas de alimentação de dimensões médias. O fluxo de correntes desbalanceadas ou parasitas (capacitivas ou indutivas) é a causa mais freqüente desse ruído. A idéia geral associada a este conceito corresponde ao isolamento entre diferentes sistemas de aterramento. No passado, tal conceito era largamente empregado, quando o aterramento de computadores e equipamentos eletrônicos era posicionado separadamente dos demais, para fins de se obter um terra de referência. Contudo, com as usuais restrições de dimensão para as áreas das instalações, é praticamente impossível evitar-se um significativo acoplamento condutivo entre os diferentes aterramentos e, assim, algumas ocorrências (como curtos-circuitos) podem originar valores de potencial apreciáveis nessa "referência de potencial". Nos casos em que é possível se posicionar tal aterramento a grandes distâncias dos demais, com uma real aproximação do terra remoto, os efeitos de eventuais descargas atmosféricas próximas ao aterramento ou ao equipamento devem ser avaliados. Nessas eventualidades, o equipamento sensível pode ser submetido a valores muito elevados de diferença de potencial. O mesmo raciocínio se aplica no caso de elevação de potencial devido a transitórios nos sistemas de alta tensão próximos. Por outro lado, nas configurações constituídas por vários equipamentos sensíveis, conectados e distribuídos pela instalação, a prática de simples conexão direta dos mesmos aos terras locais pode originar "loops" de terra. Em caso de existência de

diferenças de potencial entre as regiões onde tais aterramentos estão instalados, como aqueles referidos anteriormente, pode ocorrer o fluxo de correntes significativas nas blindagens dos cabos que conectam tais equipamentos, e que não são projetadas para suportar tais correntes. Atualmente, esta filosofia é raramente empregada. Entretanto, não é difícil se encontrar aplicações em que as terminações de terra do sistema de proteção contra descargas atmosféricas são isoladas do sistema de aterramento restante. Nesses casos, uma prática possível é conexão dos aterramentos por meio de um conjunto de centelhadores ("gaps"). Para valores de tensão entre os aterramentos superiores a um determinado limite, ocorre a disrupção e os aterramentos tornam-se eletricamente conectados. (b) Aterramento por ponto único Este conceito se refere à ligação de todo o sistema através de uma única conexão à terra ou ao sistema de equipotencialização, sempre designado "Ponto Central de Aterramento". A filosofia deste conceito corresponde a se evitar o acoplamento de tensões causadas por interferências eletromagnéticas e que originam o fluxo de corrente através das blindagens dos cabos ou dos "loops" (elos) estabelecidos em relação às referências de terra. Os condutores de ligação ao aterramento são isolados e colocados numa configuração radial. A partir do ponto central de aterramento (usualmente o aterramento da subestação de força é a escolha preferida) deriva-se um condutor único isolado. Alguns ramos se originam desse condutor. Cada um deles dá origem a novos ramos isolados e assim por diante. Nenhum dos ramos pode ser conectado, para se assegurar a implementação de uma configuração radial sem a presença de nenhum "loop". Teoricamente, este tipo de sistema apresenta um desempenho muito satisfatório com respeito à ocorrência de descargas atmosféricas, curtos-circuitos e transitórios nos equipamentos de alta tensão. As interferências associadas aos ruídos de baixa freqüência são, também, praticamente eliminadas. Devido ao aterramento em ponto único e à ligação radial do cabo de aterramento, em caso de elevação de potencial associada a tais ocorrências, todo o sistema é submetido à mesma condição (flutua no mesmo potencial) e as diferenças de potencial são desprezíveis. Contudo, nas condições práticas de aplicação, alguns problemas podem ser detectados. Primeiramente, é extremamente difícil se assegurar a integridade da filosofia, que demanda a completa isolação das partes metálicas do sistema. Principalmente para sistemas elétricos ou eletrônicos de maior extensão, é muito comum se encontrar conexões não propositais para a terra, como resultado de falha no isolamento, tanto com valores elevados ou baixos de impedância. Estas podem originar distúrbios quando se verificam as ocorrências citadas. A eliminação desses caminhos de fuga de corrente para a terra requer uma atividade periódica de busca e se constitui em tarefa técnica complicada. Outro ponto refere-se ao fato de que a configuração radial, usualmente implica uma longa extensão de condutores e, assim, torna o sistema mais susceptível à interferência eletromagnética. Diferenças de potencial significativas podem ocorrer entre o sistema e outras instalações elétricas e metálicas, principalmente o sistema de equipotencialização. Esta filosofia tenta oferecer, para cada parte do sistema, um caminho em paralelo e de impedância desprezível em direção à terra, por meio de ligações metálicas (com valor muito reduzido de resistência elétrica) ao ponto central de aterramento. Essas partes são também conectadas à terra por algum tipo de acoplamento parasita (usualmente condutivo ou capacitivo). Para ocorrências cujas freqüências representativas têm valor reduzido, a impedância associada a tal acoplamento é usualmente muito elevada em comparação com a impedância dos condutores de ligação ao aterramento, e a filosofia funciona com muita efetividade. Mas, para ocorrências cujas freqüências representativas são elevadas (como descargas atmosféricas), a filosofia não é efetiva. Nesses casos, deve se considerar que a impedância associada ao acoplamento capacitivo para a terra é consideravelmente diminuída, e que a impedância dos condutores de ligação ao aterramento cresce substancialmente, pois esta se torna predominantemente indutiva. Apesar desta prática ser amplamente empregada em substituição ao aterramento isolado, a aplicação da filosofia de aterramento com equipotencialização tem sido preferida, atualmente. (c) Aterramento com equipotencialização A idéia básica associada a esta filosofia é que cada parte metálica e não energizada do sistema esteja ligada diretamente ao sistema de equipotencialização através de um condutor, com o menor percurso possível. Procura-se, assim, se obter valores muito reduzidos para a indutância e resistência existentes nessa ligação. Assim, é possível evitar o aparecimento de diferenças de potencial significativas entre as partes elétricas do sistema, quando estas estão sujeitas a interferência eletromagnética. Isto determina a composição de uma configuração para o sistema de aterramento, geralmente constituída por vários aterramentos locais, sendo todos conectados. Quando equipamentos sensíveis estão presentes, a configuração dos aterramentos locais é usualmente projetada com malhas de reticulados de área reduzida. Os condutores de terra de todos esses equipamentos (bem como os seus dispositivos de proteção) são conectados ao reticulado, que atua como uma malha de terra de referência. Na aplicação dessa filosofia, cada componente metálico (e não energizado) do sistema é conectado à terminação de terra mais próxima. Mesmo as blindagens dos cabos são ligadas nas duas terminações aos terras locais. Através desta prática, os valores elevados das capacitâncias do sistema bem como os valores reduzidos das resistências e indutâncias asseguram que os níveis de tensão induzida (por efeitos capacitivo, indutivo e condutivo) fiquem limitados a patamares aceitáveis. Adicionalmente, a prática generalizada de conectar todas as partes metálicas e instalações elétricas à terra, usualmente, resulta em valores reduzidos para a impedância de aterramento. As elevações de potencial originadas da injeção de correntes no solo associadas a ocorrências internas, como curtos-circuitos, não alcançam valor elevado, devido ao valor reduzido da impedância de aterramento. O potencial se estende por todo o sistema, cujos aterramentos contribuem, dessa forma, para dissipação da corrente. O mesmo se aplica a correntes originadas no

sistema devido a descargas atmosféricas, embora em outro patamar de valores. Por outro lado, os potenciais que estão presentes eventualmente no solo devido a ocorrências externas, como faltas em sistemas de alta tensão próximos ou descargas próximas, são transmitidos por todo o sistema de aterramento, impondo correntes elevadas aos condutores que conectam os terras locais. Nesse caso, se a filosofia foi aplicada corretamente, existirão tantas conexões elétricas entre os diferentes aterramentos locais, que a densidade de corrente resultante nos muitos caminhos correspondentes não será capaz de causar danos aos condutores que promovem essas ligações. Contudo, nas condições de aplicação, é comum encontrar-se falhas na aplicação desta filosofia. A filosofia de aterramento por ponto único apresenta vantagens com respeito aos aspectos de segurança contra os distúrbios causados por faltas em equipamentos de alta tensão. Contudo, a usual existência de falhas no isolamento dos condutores de aterramento, nas condições de aplicação, reduzem tal vantagem. O melhor desempenho da filosofia de aterramento com equipotencialização, em termos do nível de imunidade a interferências eletromagnéticas, tem determinado a superioridade deste conceito nas atuais aplicações associadas a EMC. 4. Conclusões A influência do aterramento elétrico nos sistemas, no contexto da compatibilidade eletromagnética, deve ser considerada em duas perspectivas diferentes. Primeiramente, o aterramento pode constituir-se num importante elemento para minimização de interferências. Por outro lado, este pode constituir-se em agente de introdução de interferências externas no sistema. Para fins de entendimento desta influência, foram considerados os aspectos básicos que determinam o comportamento do aterramento. A partir da abordagem das funções fundamentais que um aterramento deve desempenhar (consoante o tipo de aplicação) e das filosofias de aterramento atualmente em prática, foi, também, avaliada a influência do aterramento no desempenho do sistema. É fundamental destacar a necessidade de se abordar o aterramento numa perspectiva mais ampla de proteção do sistema, a qual deve incluir a possibilidade de aplicação de outros recursos, como fibras óticas, transformadores isoladores e protetores contra surtos. Devem, ainda, ser planejadas ações específicas para proteção contra transientes de modos diferencial e comum (estas não foram aqui consideradas por falta de espaço). Devido ao amplo espectro de ocorrências e aplicações associadas à interferência eletromagnética, não parece prudente estabelecer a definição de procedimentos padronizados para as práticas de aterramento. O entendimento dos conceitos envolvidos é a questão fundamental para capacitar o projetista na definição das práticas apropriadas de projeto, consoante as particularidades da aplicação. Referências 1. VISACRO F.,S., "Aterramentos Elétricos: Conceitos Básicos, Técnicas de Medição e Instrumentação, Filosofias de Aterramento", Livro, Belo Horizonte, 1997 Versão em espanhol: Aterrizamientos Electricos: Conceptos Básicos, Técnicas de Medicion e Instrumentacion, Filosofías de Aterrizamiento, Traducción de la edición de 1998 (Brasil): Carlos Romualdo Torres, pp.1-109, Libro en edición México, Oct. 2001 2. VISACRO F.,S., PORTELA,C..M., "Investigation of Earthing Systems Behavior on the Incidence of Atmospheric Discharges at Electrical Systems", 20th International Conference on Lightning Protection (ICLP) Proceedings, Interlaken, Switzerland, September 1990. 3. VISACRO F.,S., PORTELA,C.M., "Modeling of Earthing Systems for Lightning Protection Applications, Including Propagation Effects", 21st ICLP Proceedings, Berlin, Germany, September 1992. 4. VISACRO F.,S.; PORTELA,C.M.," Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Rápidos", Anais do XII SNPTEE - Seminário Nacional de Proteção e Transmissão de Energia Elétrica, Recife, Brasil, Outubro 1993 5. VISACRO F.,S., PORTELA,C.M., "Theoretical and Experimental Investigation of Lightning Current Intensity Effect in Grounding Behavior", 8th International Symposium on High Voltage Engineering (ISH) Proceedings, V.4, pp.273-276, Yokohama, Japan, August 1993. 6. VISACRO F.,S., SOARES,A.J., "Sensitivity Analysis for the Effect of Lightning Current Intensity on the Behavior of Earthing Systems", 21th ICLP Proceedings, Budapest, Hungary, September 1994. 7. BLANDON, J. A., "Puestas a Tierra de Computadores", Seminario Internacional: Sistema de Puestas a Tierra, Bogotá, Colombia, Abril de 1994. Prof. Dr. Silverio Visacro F. - Head LRC - Lightning Research Center (UFMG-CEMIG) UFMG - CPDEE - Federal University of Minas Gerais Av. Antonio Carlos 6.627 Pampulha CEP 31270.901 - Belo Horizonte - Brazil. Phone: 0055.31.34994872 Fax: 0055.31.34995455 e-mail: Lrc@cpdee.ufmg.br