Sacerdotes e Monarcas, enfrentamentos pelo poder na. Prof. Marcio Sant Anna dos Santos

Documentos relacionados
As Civilizações Antigas e do Oriente

HISTORIA GERAL CIVILIZAÇÕES DO ORIENTE. Aula 3 Ellen e Natan

Priscila Morais Petrônio Gomes TEOR/HIST ARQ/URB-ARQ/URB II

Galeria Arte do Egito. Prof. Fábio San Juan Curso História da Arte em 28 dias 01 a 28 de fevereiro de

HISTÓRIA GERAL AULA 2

EXTENSÃO CURRICULAR: RELIGIÃO, ARTE, FILOSOFIA, HISTÓRIA, GEOGRAFIA, LINGUAGEM, EXPRESSÃO ORAL E ESCRITA.

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA O Egito está situado no Nordeste da África em meio a dois imensos desertos: o da Líbia e o da Arábia.

Componente: História Série: 1º Ano / Ensino Médio Professor: Otto Terra

HISTÓRIA DAS ARTES E ESTÉTICA ARTE EGÍPCIA. Uniaraxá Arquitetura e Urbanismo 2015/2 Prof. M.Sc. Karen Keles

Civilizações Hidráulicas

RELIGIÃO E MAGIA NO ANTIGO EGITO

Egito Antigo Prof. Edmar Silva Fundamental II - 6 ano

EGITO ANTIGO PROF. MARCOS ROBERTO

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO EGITO ANTIGO

A ÁFRICA NA ANTIGUIDADE: EGITO E NÚBIA

Profeta ou revolucionário o que foi ele na realidade? Tratemos de desvendar a questão conhecendo melhor sua história.

4. Egito PÁGINAS 42 À 54.

Principais características da arte egípcia

Região: Área longa e estreita seguindo o curso do rio Nilo. Mais de 1.000km de extensão e cerca de 30 quilômetros de largura máxima

EGITO. Rio Nilo. Fonte de vida para o surgimento de uma civilização

Nas sociedades hidráulicas apenas as categorias sacerdotais, militares e burocratas têm controle dos saberes letrados. Os textos em geral sacralizam

Ações restauradoras de Tutankhamon: a retomada de Tebas como principal centro religioso do Egito após a reforma amarniana

PRINCIPAIS CONSTRUÇÕES E MONUMENTOS DO ANTIGO EGITO Durante cerca de anos a civilização Egípcia construiu alguns dos maiores monumentos já

Técnico Design Interior

Aulas Multimídias Santa Cecília. Profº Alexandre Santiago

Sociedade. Rigidamente linear; Impossibilidade de ascensão; Valorização da mulher; Família monogâmica; Incesto na família real era permitido.

Paleolítico VENUS 11/8/2010 PALEOLÍTICO I NFERIOR

A ARTE NO EGITO UMA ARTE DEDICADA À VIDA DEPOIS DA MORTE

COMPREENDER A FORMA DE UTILIZAÇÃO DA ARTE NO EGITO E SUA INFLUNÊNCIA NAS CIÊNCIAS MODERNAS.

Antiguidade Oriental. Egito e Mesopotâmia

ANTIGUIDADE ORIENTAL. Modo de Produção Asiá9co Aulas 03/04. hbp://historiaonline.com.br

O Pequeno Hino ao Aton: uma perspectiva metodológica. The Little Hymn to Aten: A Methodological Perspective

AS CIDADES ANTIGAS EGITO. Kaled Ahmad Barakat

Localização geográfica

Egito Antigo ( ac)

A T E N Ç Ã O Você vai começar a assistir uma aula sobre o Antigo

Babilônia (Reconstituição: 2000 ac) IMPÉRIO BABILÔNICO

MAPA DO ANTIGO EGITO. Em verde, as margens férteis do rio Nilo. Uma região desértica. No nordesre da África. Egito uma dádiva do Nilo.

DURAÇÃO: 50 EXTENSÃO CURRICULAR: HISTÓRIA, GEOGRAFIA, CIÊNCIAS POLÍTICAS, LINGUAGEM, EXPRESSÃO ORAL E ESCRITA.

1º bimestre_1ª série 6 - Primeiras Civilizações - Antiguidade Oriental Cap /3/4 Cap Roberson de Oliveira

Civilizações do Oriente Médio Antigo. O Egito antigo

O tempo resiste a tudo, mas as Pirâmides, resistem ao tempo. (provérbio árabe).

Trabalho de Regulação 2 bimestre. 1 - Por que os sítios arqueológicos são considerados patrimônio histórico e cultural?

Arquitetura Egípcia. Discentes: Bárbara Pellegrini Bruno Marques Bruno Luiz Mayla Miranda João Arthur

Antigo Egito O E G I T O É U M A D Á D I V A D O N I L O. H E R Ó D O T O.

O Egito Antigo Aula I. Professor Leopoldo Gollner

ARTE NO EGITO ANTIGO. Prof. Hudson Oliveira

A escultura é uma das mais importantes manifestações da arte egípcia no Antigo Império, pois possuía uma função de representação política e

1º ANO ENSINO MÉDIO PROF: EMERSON. Aluno: nº: Turma: Arte Egípcia

O império foi criado no norte da África, no deserto do Saara Com as cheias do rio nilo que deixava o solo fértil, era possível o cultivo de: cereais

2 Amora-Setúbla-Portugal. Mitologia Egipcia

Religion and Magic in Ancient Egypt

Sociedades da Antiguidade Oriental. Profª. Maria Auxiliadora

O SENHOR DA AÇÃO RITUAL: UM ESTUDO DA RELAÇÃO FARAÓ- OFERENDA DIVINA DURANTE A REFORMA DE AMARNA ( A.C) Gisela Chapot *

Egito Uma das civilizações mais importantes do Crescente Fértil Atraiu muitos grupos humanos no passado estabelecidos nas proximidades do Rio Nilo

URI: /24125

ANTIGUIDADE ORIENTAL PROFESSOR OTÁVIO

O DISCO SOLAR EM AMARNA: A RELAÇÃO DO FARAÓ AKHENATON COM O DEMIURGO DEUS ATON (c a.c.)

GRUPO RÉVEILLON NO EGITO 2018

Persas, fenícios e hebreus. Objetivos - Identificar aspectos políticos, sociais e culturais dos povos: - persas - fenícios - hebreus

Tradução de Julia da Rosa Simões

HISTÓRIA. Nas vias do tempo, a trajetória humana. Prof. Alan Carlos Ghedini

História MARCOS ROBERTO

História Antiga Aula VI

Tema/conteúdo: Arte Antiga Parte 1 Data: 12/03/2018

GRUPO CARNAVAL NO EGITO 2019

UNIDADE 1 ANTIGUIDADE ORIENTAL

1 - O CRESCENTE FÉRTIL: Berço das primeiras civilizações; Atual Iraque até Egito; Grandes rios; Terras férteis.

Uma reflexão sobre a importância da transcendência e dos mitos para as religiões a partir do episódio da reforma de Amarna, no antigo Egito

Aula 2 Egito e Mesopotâmia

ALESSIA FASSONE e ENRICO FERRARIS, L Égypte: L Époque Pharaonique, Paris: Éditions Hazan, 2008, 384 pp., profusamente ilustrado.

Arte na antiguidade: Egito e Grécia. Prof. Arlindo F. Gonçalves Jr.

Antigo Egito. Prof. Nilton Ururahy

EGITO CLÁSSICO com Cruzeiro no Rio Nilo, Alexandria, Monte Sinai e Sharm El Sheikh

O EGITO É UMA DÁDIVA DO NILO

As Religiões que o Mundo Esqueceu Como Egípcios, Gregos, Celtas, Astecas e Outros Povos Cultuavam seus Deuses

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA/UFRN ARTHUR RODRIGUES FABRÍCIO. Antigo Império (c a.c.

Arte Egípcia. 1º Ano 1º Bmestre 2015 Artes Professor Juventino

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA DO EGITO ANTIGO PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA/UFRN ARTHUR RODRIGUES FABRÍCIO

A primeira praga, a transformação do Nilo e de todas as águas do Egito em sangue, causou desonra ao deus-nilo, Hápi.

CULTURAS URBANAS HISTÓRICAS

O NASCIMENTO DA CULTURA

A O R I G E M D A C I D A D E N O O R I E N T E P R Ó X I M O

Sociedades urbanas e primeiros Estados. Profª Ms. Ariane Pereira

Fenícios e Persas IDADE ANTIGA

O Desespero dos Egípcios

Tesouros do Egito de Maio 2017, 11 dias. Valor por pessoa em duplo US$ Valor por pessoa em single US$ 1.550

Quatro ratos à sombra da Esfinge

ANTIGUIDADE ORIENTAL 1 -O CRESCENTE FÉRTIL:

Para Satisfazer Deus As práticas sexuais das Esposas de Amon durante o Império Novo

HISTÓRIA DA ARTE I Arte do Próximo e Médio Oriente Antigo

EMENTA ESCOLAR II Trimestre Ano 2017

Egipto com Cruzeiro no Nilo

A era dos patriarcas

Império Romano e outros impérios de sua época. Profª Ms. Ariane Pereira

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

Introdução. Sem qualquer sombra de dúvida, a civilização do Egito antigo atiça a nossa imaginação pela aura de mistério que a envolve.

b) Qual a melhor condição para que o egípcio comece a semear a terra? R.:

Transcrição:

Sacerdotes e Monarcas, enfrentamentos pelo poder na XVIII dinastia egípcia Prof. Marcio Sant Anna dos Santos

Linha temporal do Egito antigo Período dinástico inicial (c. 3150-2868 a.c.) Menés primeiro rei do Egito, unificou o país. Antigo Império (c. 2686-2181 a.c.) Construção das pirâmides de Gizé. 1º Período Intermediário (c. 2181-2040 a.c.) Período de desintegração, anarquia a caos. Médio Império (c. 2040-1780 a.c.) Restabelecimento da ordem no país. 2º Período Intermediário (c. 1780-1570 a.c.) Governantes fracos permitem a invasão dos hicsos. Imhotep, o sábio arquiteto da primeira pirâmide As pirâmides de Gizé Quéfren, Quéops e Miquerinos

Linha temporal do Egito antigo Novo Império (c. 1570-1070 a.c.) Expulsão dos hicsos; Crescimento do poder e da riqueza do Egito; Akhenaton impõe Aton como divindade única no Império; Tutankhamon e o retorno à antiga religião; Ramsés II, último grande faraó do Egito. 3º Período Intermediário (c. 1070-525 a.c.) Enfraquecimento do poder dos faraós. Período Tardio (c. 525-332 a.c.) Invasão dos persas. Período Greco-romano (c. 332-30 a.c.) Alexandre conquista o Egito; Cleópatra VII; O Egito torna-se uma província do Império Romano. Cleópatra VII Múmia de Ramsés II

O Império egípcio na XVIII dinastia Busto de Tutmósis III, o faráo que expandiu as fronteiras do Império egípcio até a Ásia. Fonte: Museu egípcio do Cairo.

O Egito da XVIII dinastia Expulsão dos invasores hicsos; Supremacia da cidade de Tebas; Crescimento do culto a Amon; Expansão territorial. Cabeça de estátua do faraó Amósis, fundador da XVIII dinastia. Fonte: Museu egípcio do Cairo

A religião egípcia Enéada de Heliópolis Atun o criador do universo (uma das formas de Rá) Shu (o ar) e Tefnut (a umidade) Nut (o céu) e Geb (a terra) Néftis (senhora do palácio), Seth (senhor do caos), Ísis (senhora do trono) e Osíris (senhor dos mortos)

A religião egípcia a tríade de Tebas Aspectos masculino (Amon), feminino (Mut) e o resultado deste casamento simbólico (Khonsu); Necessidade de transformar Amon em um deus que ultrapassasse os limites de um deus local e o transformasse em um deus dinástico; Processo de solarização Amon recebe atributos de Rá (da Enéada) e passa a ser uma divindade criadora. Amon, Mut e Khonsu a tríade tebana

Culto a Amon Expandiu-se com a expulsão dos hicsos; Recebeu favorecimento dos faraós seguintes como forma de legitimação do poder; Divindade expansionista, tornou-se a principal do império egípcio. Amon, deus principal da cidade de Tebas

O poderio do clero de Amon Devido ao constante favorecimento dos soberanos da XVIII dinastia, o clero de Amon se tornou extremamente poderoso e praticamente auto-suficiente, ameaçando o poder real. Templo Terrenos em km² Dependentes Cabeças de gado Ptah, em Mênfis 28 3.079 10.047 Rá, em Heliópolis 441 12.963 45.554 Amon, em Tebas 2.393 86.496 421.362 Fonte: MELLA, Federico A. Arborio. O Egito dos faraós: história, civilização, cultura. São Paulo: Hemus, 1998.

O Aton Inicialmente era uma divindade menor da cidade de Heliópolis, representado pelo disco solar; Foi elevado a deus dinástico pelo faraó Akhenaton (Amenhotep IV) em uma tentativa de diminuir o poder excessivo dos sacerdotes de Amon; Além disso, Akhenaton proclamou-se como a única encarnação de Aton na Terra, o único humano que podia adorar e comunicar diretamente com deus. Akhenaton, Nefertiti e suas filhas realizando oferendas a Aton. Fonte: Museu egípcio do Cairo.

Akhenaton: Aquele que agrada a Aton Amenhotep IV, rei da XVIII dinastia declarou luta direta contra os poderosos sacerdotes de Amon; Proclamou Aton o deus dinástico e, gradativamente, baniu o culto às outras divindades mas sempre focado no clero tebano; Mudou a capital para Akhetaton (Tell-el- Amarna), cidade projetada por ele, onde pôde ficar longe da influência dos sacerdotes de Amon; Trocou seu nome Amenhotep ( Amon está satisfeito ) para Akhenaton ( Aquele que agrada a Aton ); Seu lema de governo era: Viver na verdade. Verdade esta que era encontrada no Aton. Detalhe de um baixo relevo proveniente de uma tumba real de Amarna representando Akhenaton realizando uma oferenda a Aton. Fonte: Museu egípcio do Cairo

A tríade de Amarna Estela onde aparecem Akhenaton, Nefertiti e suas filhas sob a proteção de Aton. Fonte: Museu egípcio do Cairo De acordo com a teologia amarniana, somente se chagaria à divindade celeste, o Aton, através do culto às suas contrapartes terrenas, ou seja, o rei Akhenaton e a rainha Nefertiti.

As tríades de Amon x Aton Amon - Mut - Aton Khonsu Akhenaton - Nefertiti - Notamos que a tríade de Aton era inversa à tríade de Amon e às demais tríades da religião tradicional egípcia.

Os templos tradicionais e os templos de Aton (À esquerda) Templo de Philae dedicado a deusa Ísis. (Acima) Reconstituição de um templo de Aton.

Problemática da religião de Amarna Importância de Amon na reorganização do reino no Novo Império. Tal divindade era muito próxima dos homens comuns e somente um longo processo poderia substituí-la; Religião abstrata e pobre de mitos; Pacifismo pregado pela nova crença que levou à perda de territórios e desestruturação do Império.

Retorno à ortodoxia Após o reinado de Akhenaton, seu sucessor Tutankhaton (Imagem viva de Aton), muda seu nome para Tutankhamon (Imagem viva de Amon) e retorna a religião aos cânones tradicionais; Os templos dedicados a Aton foram posteriormente desmantelados e seus blocos usados na construção de outros templos; A cidade de Akhetaton foi esvaziada e tornou-se uma cidade-fantasma, posteriormente seus blocos foram usados na construção da cidade de Hermópolis- Magna; Os nomes de Akhenaton e Tutankhamon não constam na listagem dos reis egípcios no templo do faraó Séthi I em Ábidos.

Referências Bibliográficas CARDOSO, Ciro Flamarion Santana. Considerações funcionais acerca das Cidades Egípcias do Reino Novo (XVIIIª - XXª Dinastias). PHOÎNIX, Rio de Janeiro, n. 2, p. 71-82, 1996.. De Amarna aos Ramsés. PHOÎNIX, Rio de Janeiro, n. 7, p. 115-141, 2001.. Deuses, múmias e ziguratts: uma comparação das religiões antigas do Egito e da Mesopotâmia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999.. O Egito antigo. São Paulo: Brasiliense, 2004.. Sociedades do antigo Oriente Próximo. São Paulo: Ática, 2002. CARTER, HOWARD. A descoberta da tumba de Tutankhamon. São Paulo: Planeta, 2004. GRALHA, Júlio. Deuses, faraós e o poder: legitimidade e imagem do deus dinástico e do monarca no antigo Egito. Rio de Janeiro: Barroso Produções Editoriais, 2002. JOHNSON, Paul. História ilustrada do Egito antigo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. MELLA, Federico A. Arborio. O Egito dos faraós: história, civilização, cultura. São Paulo: Hemus, 1998. PERNIGOTTI, Sérgio. O sacerdote. In: DONADONI, Sergio. O homem egípcio. Lisboa: Presença, 1994. SILVERMAN, David P. O Divino e as Divindades no Antigo Egito. In: SHAFER, Byron E. As religiões no Egito antigo deuses, mitos e rituais domésticos. São Paulo: Nova Alexandria, 2002.