AVALIAÇÃO POR ANÁLISE TÉRMICA DE RESÍDUO DE DESTILAÇÃO DE PETRÓLEO E CATALISADOR USADOS NA UNIDADE DE CRAQUEAMENTO CATALÍTICO EM LEITO FLUIDIZADO

Documentos relacionados
ESTUDOS POR ANÁLISE TÉRMICA DA INFLUÊNCIA DOS ASFALTENOS NO CRAQUEAMENTO DE RESÍDUO DE DESTILAÇÃO ATMOSFÉRICA DE PETRÓLEOS BRASILEIROS

ANÁLISE DE AMOSTRAS DE PETRÓLEO POR TERMOGRAVIMETRIA

DESTILAÇÃO CATALÍTICA DE RESÍDUO ATMOSFÉRICO DE PETRÓLEO (RAT) UTILIZANDO ZEÓLITAS HZSM-5 E HY

PROMOVE PROCESSOS QUÍMICOS DA REFINARIA CRAQUEAMENTO CATALÍTICO (FCC)

DETERMINAÇÃO DA ENERGIA DE ATIVAÇÃO PARA A PIRÓLISE TÉRMICA E CATALÍTICA DO RESÍDUO ATMOSFÉRICO DE PETRÓLEO

AVALIAÇÃO DA DESATIVAÇÃO DAS ZEÓLITAS HY E HZSM-5 POR GASÓLEO DE VÁCUO LEVE USANDO TESTE DE MICROATIVIDADE E TERMOGRAVIMETRIA

ESTUDO TÉRMICO E CARACTERIZAÇÃO DE CARGAS DE FUNDO DAS TORRES DE DESTILAÇÃO A VÁCUO E ATMOSFÉRICA

AVALIAÇÃO TÉRMICA DE FRAÇÕES PESADAS DE UM PETRÓLEO BRASILEIRO POR TERMOGRAVIMETRIA

Química Aplicada. QAP0001 Licenciatura em Química Prof a. Dr a. Carla Dalmolin

ANÁLISE TÉRMICA Sumário

FUVEST ª Fase (Questões 1 a 7)

5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

PROMOVE PROCESSOS DE CONVERSÃO

2 o CONGRESSO BRASILEIRO DE P&D EM PETRÓLEO & GÁS

O PROCESSO DE REFORMA Fluxograma de uma unidade Chevron Rheiniforming (semi-regenerativo)

DEGRADAÇÃO TÉRMICA E CATALITICA DE POLIETILENO DE ALTA DENSIDADE SOBRE ZEÓLITAS PARA OBTENÇÃO DE FRAÇÕES COMBUSTÍVEIS

INFLUÊNCIA DA REDUÇÃO DO TEOR DE ENXOFRE SOBRE AS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS E NA ESTABILIDADE OXIDATIVA DO ÓLEO DIESEL

Desempenho da destilação simulada de alta temperatura usando o cromatógrafo gasoso Agilent 8890

PROMOVE NOÇÕES DA CADEIA DE PETRÓLEO 1 - INTRODUÇÃO AO PETRÓLEO

PROMOVE NOÇÕES DA CADEIA DE PETRÓLEO

PROMOVE PROCESSOS TÉRMICOS

PROMOVE NOÇÕES DA CADEIA DE PETRÓLEO

PETRÓLEO Métodos Analíticos empregados em PETRÓLEO

Combustíveis Derivados do Petróleo

DA ESTABILIDADE TÉRMICA DE ÓLEOS VEGETAIS

ADSORÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS LIVRES PRESENTES EM BIOCOMBUSTÍVEIS EMPREGANDO LAMA VERMELHA ATIVADA TERMICAMENTE COMO ADSORVENTE

DETERMINAÇÃO DAS CONDIÇÕES IDEAIS DE ATIVAÇÃO DO ÓXIDO DE CÉRIO VISANDO A SUA UTILIZAÇÃO COMO PROMOTOR EM CATALISADORES DE FISCHER-TROPSCH

INTRODUÇÃO À INDÚSTRIA DO PETRÓLEO UNIDADE IV REFINO DE PETRÓLEO

AVALIAÇÃO DE REAÇÕES MODELO PARA INDEXAÇÃO DE SELETIVIDADE PARA TRANSFERÊNCIA DE HIDROGÊNIO EM CRAQUEAMENTO CATALÍTICO DE DERIVADOS DE PETRÓLEO

2 o CONGRESSO BRASILEIRO DE P&D EM PETRÓLEO & GÁS

ESTUDO DE REGENERAÇÃO DE CATALISADOR Cu-Co-Al PARA A PRODUÇÃO DE HIDROGÊNIO A PARTIR DO GÁS NATURAL

Introdução. Os compostos que não são classificados como hidrocarbonetos concentram-se nas frações mais pesadas do petróleo.

PQI 3103 Conservação de Massa e Energia

SIMCRAQ OT UM SISTEMA AVANÇADO PARA A SIMULAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE FCC.

RECUPERAÇÃO DE CÉRIO, LANTÂNIO E VANÁDIO CONTIDOS EM CATALISADOR EXAURIDO DO CRAQUEAMENTO CATALÍTICO DE PETRÓLEO

2 Procedimento experimental

COMPOSIÇÃO PETRÓLEO BRUTO

4 Resultados Experimentais

ESTUDO CINÉTICO DA DECOMPOSIÇÃO TÉRMICA DOS ÁCIDOS MIRÍSTICO E OLÉICO E DO ÓLEO DE PINHÃO MANSO VIA ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA

ESTUDO DA PIRÓLISE DO BAGAÇO DE CANA DE AÇÚCAR E PAPEL JORNAL

Escola Secundária de Lagoa. Ficha de Trabalho 4. Química 12º Ano Paula Melo Silva. Conteúdos e Metas

ESTIMATIVA DA CAPACIDADE CALORÍFICA DE ÓLEOS LUBRIFICANTES AUTOMOTIVOS POR DSC

COMPÓSITOS PP/NANO-ZrPoct: EFEITO DA CARGA NAS PROPRIEDADES TÉRMICAS DO PP

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DA CURVA PEV NA SENSIBILIDADE DA SIMULAÇÃO DO REFINO DE PETRÓLEO

EFEITO DA DEGRADAÇÃO EM MOTOR AUTOMOTIVO NAS PROPRIEDADES TERMOGRAVIMÉTRICAS DE ÓLEOS LUBRIFICANTES MINERAIS E SINTÉTICOS.

PROGRAMA DE DISCIPLINA

VIABILIDADE DO METODO TERMOGRAVIMETRICO PROPOSTO POR STAWSKI PARA A DETERMINACAO DA RAZÃO AMILOSE:AMILOPECTINA EM AMIDO DE MANDIOCA

Capítulo 31 Skoog (Princípios de Analise Instrumental)

- Ili. i o 1. .s: (21) BR A2. (51) lnt.ci.: B01J 23/02 B01J 37/04 B01J 37/02

ANEXO D. %CO 2 Sines %CO 2 Porto %CO 2 Global. Fontes de Combustão 41,32% 42,98% 41,79%

MODELAGEM E SIMULAÇÃO DO PROCESSO DE CRAQUEAMENTO CATALÍTICO DO GASÓLEO APLICANDO CÁLCULO VARIACIONAL PARA DETERMINAÇÃO DO PERFIL ÓTIMO DE TEMPERATURA

2. Descrição do Problema O Refino de Petróleo

2 o CONGRESSO BRASILEIRO DE P&D EM PETRÓLEO & GÁS

ASFÁLTICOS EM TANQUES COM AGITADORES

SIMULAÇÃO DO PROCESSO DE DESASFALTAÇÃO A PROPANO

PQI 3211 Engenharia de Produção e Processos Químicos O setor de Indústrias Químicas no Brasil

ATMOSFÉRICA E A VÁCUO DE PETRÓLEO

QUÍMICA 12.º ANO UNIDADE 2 COMBUSTÍVEIS, ENERGIA E AMBIENTE 12.º A

Ministério da Educação Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro

Termogravimetria. Duncan Price IPTME, Loughborough University

AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO DE PETRÓLEO PESADO VIA ROTA SOLVOTÉRMICA COM A UTILIZAÇÃO DE SURFACTANTE E ARGILOMINERAIS

Estudo e Simulação do Processo de Adoçamento de Gás Natural

MODELAGEM MATEMÁTICA E SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DO FORNO DE UMA UNIDADE DE COQUEAMENTO RETARDADO

PROCESSOS QUÍMICOS DE SEPARAÇÃO

Análises Térmicas. Sandra Maria da Luz

Fluido térmico orgânico NSF HT1, para transferência de calor é uma opção vantajosa para indústria alimentícia.

O PETRÓLEO COMO FONTE DE ENERGIA

Combustíveis e Redutores ENERGIA PARA METALURGIA

Análise Preliminar de Risco

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 92

6 Viscosidade de frações pesadas de petróleo

AVALIAÇÃO DOS CATALISADORES HEXALUMINATOS LaMnAl 11 O 19 e La 0,7 Sr 0,3 MnAl 11 O 19 NA REAÇÃO DE COMBUSTÃO DO METANO

CATALISADOR DE VANÁDIO-POTÁSSIO-ALUMINA: UMA FORMA DE PROMOVER A REAÇÃO DE CO 2 E COQUE NA PRESENÇA DE O 2 DURANTE A REGENERAÇÃO DO CATALISADOR DE FCC

6º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

Sumário. Apresentação... IX Prefácio... XI Minicurrículo do Autor... XIII

10. Referências Bibliográficas

3 Materiais e Métodos

COMBUSTÍVEIS E REDUTORES

Otimização de extração de aditivos de óleo lubrificante a partir de solventes polares

ANÁLISE DAS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS E ESTUDO DA ESTABILIDADE TÉRMICA DO ÓLEO, BIODIESEL E DA MISTURA B10 DE DIESEL COM BIODIESEL DE ALGODÃO 1

5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

07/03/ ) Origem. Purogas Excelência em Aerossóis. Índice

PORTARIA Nº 130, DE 30 DE JULHO DE 1999

Do crude ao GPL e aos fuéis: destilação fraccionada e cracking do petróleo O Petróleo

Prof: Francisco Sallas

ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA DA BIOESPUMA POLIURETANA DO PROJETO DE PRODUTO GASOLIMP COMO AGENTE COGERADOR DE ENERGIA

PROMOVE PROCESSOS QUÍMICOS DA REFINARIA HIDROCRAQUEAMENTO CATALÍTICO (HCC)

Química Professora: Raquel Malta 3ª série Ensino Médio FONTE DE HIDROCARBONETOS

Aula 03 Solar, marés, goetérmica e fontes fósseis

EXTRAÇÃO LÍQUIDO-LÍQUIDO APLICADA A REDUÇÃO DA ACIDEZ DE BIOCOMBUSTÍVEIS EFEITO DE VARIÁVEIS DE PROCESSO

Denardin, E.L.G. (1), Janissek, P.R (2)., Samios, D. (1)

4 Produtos do Petróleo

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA VAZÃO DE INJEÇÃO DE VAPOR NO PROCESSO ES-SAGD SEM E COM PERDA DE CARGA E CALOR NO POÇO INJETOR

RECUPERAÇÃO SEMESTRAL (RS) PROJETO DE RECUPERAÇÃO

Lista de Cálculo de reatores não isotérmicos

ELABORAÇÃO DE MODELO DE INFERÊNCIA PARA CONTROLE DE UNIDADE DE DESTILAÇÃO ATMOSFÉRICA DE PETRÓLEO

Curso Engenharia de Energia

Transcrição:

Copyright 2004, Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás - IBP Este Trabalho Técnico Científico foi preparado para apresentação no 3 Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás, a ser realizado no período de 2 a 5 de outubro de 2005, em Salvador. Este Trabalho Técnico Científico foi selecionado e/ou revisado pela Comissão Científica, para apresentação no Evento. O conteúdo do Trabalho, como apresentado, não foi revisado pelo IBP. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, Sócios e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho será publicado nos Anais do 3 Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás AVALIAÇÃO POR ANÁLISE TÉRMICA DE RESÍDUO DE DESTILAÇÃO DE PETRÓLEO E CATALISADOR USADOS NA UNIDADE DE CRAQUEAMENTO CATALÍTICO EM LEITO FLUIDIZADO Deusa Angélica Pinto da Mota 1, Ana Maria Rangel de Figueiredo Teixeira 1, Maria Luisa Aleixo Gonçalves 2, Wildson Vieira Cerqueira 2,Marco Antonio Gomes Teixeira 3 1 Universidade Federal Fluminense, Programa de Pós-Graduação em Química, Outeiro de São João Batista s/n, cep 24020-150, Centro, Niterói, RJ, deusangelica@yahoo.com 2 Universidade Federal Fluminense, IQ/GQA/CNPq/PROSET, Outeiro de São João Batista s/n, cep 24020-150, Centro, Niterói, RJ, wildson@vm.uff.br 2 Petrobras/CENPES, Av. Hum, Quadra 7, Cidade Universitária, cep 21949-900, Rio de Janeiro, RJ, marcoa@petrobras.com.br Resumo - As técnicas de análise térmica, termogravimetria (TG) e calorimetria diferencial de varredura (DSC), foram utilizadas como ferramentas na avaliação de resíduos da destilação atmosférica de petróleo e do catalisador usado na unidade de craqueamento catalítico em leito fluidizado (FCC). Foi determinado o teor de coque formado pelos resíduos atmosféricos (RAT) de diferentes gravidades API na presença e ausência de catalisador. O catalisador foi avaliado, também, antes e após uma simulação de um ciclo nas temperaturas aplicadas na unidade de FCC. A avaliação do catalisador foi feita pela medida da energia de colapso da estrutura zeolítica nele presente. Os resultados de TG indicaram maior formação de coque em presença de catalisador. Os resultados de DSC apresentaram potencialidade da técnica como ferramenta de avaliação de catalisadores. Palavras-Chave: catalisador, análise térmica, resíduos de petróleo. Abstract -Thermal analysis techniques, thermogravimetry and differential scanning calorimetry, were applied as an evaluation tool of thermal behavior of petroleum atmospheric distillation residues and catalyst used in fluid catalytic cracking refinery units. It was determined the content of coke formation during the cracking of residues with different gravity API with and without catalyst. The catalytic was available before and after simulation of one cycle in the temperatures applied on FCC unit. The zeolite structure collapse energy was measured by differential scanning calorimetry. The TG results indicated that higher amount of coke was formed in catalyst presence. It was presented DSC as a potential technique to catalysts evaluation. 1. Introdução Keywords: catalyst, thermal analysis, heavy residue O craqueamento catalítico em leito fluidizado (FCC) é um dos principais processos da industria de refino de petróleo, por converter frações de petróleo de baixo valor, como o gasóleo pesado (GOP) e o resíduo da destilação atmosférica (RAT) em produtos de alto valor e demanda no mercado, como gasolina automotiva e gás liquefeito de petróleo (GLP). O processamento de cargas cada vez mais pesadas trás uma preocupação constante com a otimização dos custos de produção e isso têm incentivado as indústrias de refino de petróleo a projetar unidades de craqueamento destinadas ao processamento de cargas com maiores participações de resíduos atmosféricos pesados, segundo Oliveira et al. (2003). Desta maneira, o maior conhecimento do comportamento térmico de resíduos da destilação atmosférica de petróleo e também do catalisador utilizado no processo podem trazer melhorias para a otimização da unidade de FCC.

O catalisador na refinaria é submetido a temperaturas em torno de 550 C durante o craqueamento e desse processo ocorre a formação tanto de produtos nobres como depósito de coque na superfície do catalisador. Esse depósito promove a desativação do catalisador uma vez que obstrui os sítios catalíticos. Essa desativação, no entanto, é revertida por meio de queima, sendo denominada de desativação reversível. O catalisador coqueado é queimado em um regenerador a 700 C retomando parte da atividade. É necessário, porém, um descarte e reposição periódica de até 5% do catalisador para manutenção da atividade catalítica do inventário. Isso se deve à desativação irreversível que ocorre nesses catalisadores. Uma das causas da desativação irreversível é a deposição de metais, principalmente o vanádio, metal presente em níveis de parte por milhão no óleo e mais concentrado nos resíduos de destilação. O modelo desenvolvido por Pan Huifang et al (1996) mostra que o pentóxido de vanádio, gerado pela oxidação do vanádio, destrói a estrutura da zeólita presente nos catalisadores da FCC. O conhecimento da diminuição da atividade do catalisador devido ao colapso da estrutura zeolítica é assunto de interesse, uma vez que esta estrutura é responsável pelo efeito de seletividade e produtividade no processo catalítico (Baugis & Tan, 2003). Sabe-se que essa estrutura colapsa totalmente em torno de 950 e 1200 C (Zi et al., 1989). A determinação da energia de colapso da estrutura zeolítica é de interesse para o conhecimento sobre a integridade do catalisador. As técnicas de análise térmica (Dolimore,1992) são ideais para estudos de comportamento térmico de materiais. Neste trabalho, uma delas, a termogravimetria (Wendlant, 1986) foi utilizada para determinação do teor de coque formado durante o craqueamento catalítico das amostras de RAT que foi comparado com o gerado durante o craqueamento térmico das mesmas amostras. Esta avaliação foi feita em três situações distintas: RAT somente, RAT em presença de agente dispersante (alumina) e também em presença de catalisador. A comparação do comportamento térmico da carga nas três situações é interessante porque permite a verificação da influência de um agente dispersante na promoção da saída dos gases, além de demonstrar diferenças térmicas nos processos de craqueamento catalítico e térmico do resíduo atmosférico. Ainda pela termogravimetria, foi obtido o teor de coque gerado no craqueamento de resíduos atmosféricos RAT de diferentes gravidades API, na ausência e presença de catalisador. O catalisador usado na unidade de FCC também pode ser avaliado por análise térmica. A técnica escolhida foi a calorimetria diferencial de varredura DSC (Wendlant, 1986) que permite avaliar a energia dos eventos entálpicos ocorridos em uma substância, durante a variação de temperatura. A mistura do catalisador, com o resíduo atmosférico, foi avaliada por TG em condições de temperatura de um ciclo de craqueamento da carga e regeneração do catalisador, como na unidade de FCC. Foram medidas as energias de colapso da estrutura zeolítica, por DSC, antes e após esta simulação. Embora se saiba que a simulação de apenas um ciclo na unidade de FCC não seria suficiente para perda total da atividade catalítica do inventário, essa avaliação é importante para verificar se a técnica de DSC é sensível a medida da energia envolvida no colapso da estrutura zeolítica. 2. Experimental 2.1. Amostras As amostras utilizadas foram resíduos da destilação atmosférica de diferentes petróleos brasileiros cujas características estão descritas na Tabela 1. Tabela1. Características principais das amostras de resíduos de destilação atmosférica Resíduos da destilação atmosférica Densidade 20 C API Resíduo de carbono (%p)* C/H** ATR 13 0,9751 13,0 9,7 0,57 ATR 16 0,9574 15,7 7,3 0,57 ATR 19 0,9391 18,6 8,0 0,55 RAT 28 0,8840 28,0 1,9 0,53 *ASTM 524 ** Análise elementar Perkin Elmer 240C Foi utilizado um catalisador do tipo Conquest. O catalisador foi ativado em mufla a 550 C por duas horas. A alumina neutra foi tratada a 1000 C em mufla por uma hora para retirada de água presente em sua estrutura antes da mistura com o resíduo. As misturas de resíduos atmosféricos com catalisador (RAT+CAT) foram preparadas em diclorometano grau HPLC e este, evaporado em rota-vapor a temperatura de 40 C sob vácuo. 2.2.Equipamento e condições experimentais O equipamento de Análise Térmica utilizado foi o analisador simultâneo TG-DSC da Netzsch STA-409 Luxx.

As condições de TG para avaliação do teor de coque formado durante o aquecimento das amostras de RAT e misturas foram: 20mg de amostra, vazão de gás de 50mLmin -1 N 2 e ar, taxa de aquecimento 20 Cmin -1 e a faixa de aquecimento de 35-600 C em N 2 e 600-1000 C em ar. Para avaliação do catalisador por TG/DSC nas condições de simulação das temperaturas de um ciclo de craqueamento da carga e regeneração do catalisador foram as seguintes: 45 mg de amostra, vazão de gás de 50mLmin -1 N 2 e ar, taxa de aquecimento 10 Cmin -1 e a faixa de aquecimento de 35 a 600 C em N 2 (craqueamento do RAT); 35 a 700 C em ar (regeneração do catalisador e conseqüentemente queima do coque nele depositado); e de 35 a 1200 C (observação e determinação da energia de colapso da zeólita presente na composição do catalisador). 3. Resultados e Discussões 2.1. Avaliação do teor de coque formado durante o craqueamento do RAT A amostra de RAT 28 foi submetida à termogravimetria nas condições de análise descritas anteriormente. A Figura 1 apresenta a curva de TG resultante. Observou-se que o RAT 28 perde 97% de massa, o que indica a liberação de hidrocarbonetos leves durante o seu craqueamento térmico e forma um conteúdo de 3% de resíduo carbonáceo coque a 600 C. Figura 1. Curva de TG e DTG do RAT (28 API): 20mg, 20 Cmin -1, 50mLmin-1 N 2 A mistura da amostra de RAT 28 com alumina na relação de 1:4 foi submetida às mesmas condições da amostra de RAT puro. E o percentual de coque formado durante o craqueamento foi de 0,5 % (Figura 2). Como a mistura RAT:CAT está na proporção de 1:4, o conteúdo de 0,5% de coque corresponde a 20 % do RAT presente na mistura, o que significa formação de 2,5% de coque, se a mistura fosse 100% de RAT. O valor está coerente com o conteúudo de coque encontrado para o RAT puro (Figura 1). Isso significa dizer que a presença da alumina não acarreta maior formação de coque durante o craqueamento térmico do RAT. Figura 2. Curva de TG e DTG do RAT 28+alumina (1:4): 20mg, 20 Cmin -1, 50mLmin-1 de N 2

A mistura de RAT 28 com catalisador na relação de 1:4 foi submetida às mesmas condições das amostras anteriores. A curva de TG (Figura 3) apresentou um percentual de coque, admitindo-se a mesma correção feita para a mistura com alumina, de 15,5%. Um percentual bem maior do que aquele observado para o craqueamento do RAT puro. Figura 3. Curva de TG e DTG do RAT 28+ Catalisador (1:4): 20mg, 20 Cmin -1, 50mLmin -1 de N 2. Por esses resultados é possível concluir que a alumina não promove efeito catalítico e o efeito dispersante não é um fator de relevância para a liberação de material volátil procedente do craqueamento térmico do RAT. As temperaturas iniciais de craqueamento são praticamente iguais para o RAT puro e o misturado com alumina (200 C). No entanto, o percentual de coque gerado na presença de catalisador é superior aquele observado no craqueamento do RAT puro. Isso se deve a eficiência do catalisador durante o craqueamento, uma vez que privilegia a formação de produtos de cadeias menores e favorece a aromatização das cadeias lineares. A aromatização é que promove formação de maior quantidade de coque. 2.2. Determinação do material carbonáceo formado a partir de diferentes resíduos atmosféricos Outros resíduos atmosféricos procedentes da destilação de diferentes petróleos brasileiros foram analisados por TG nas mesmas condições que o RAT 28. Foi quantificado o teor de coque formado durante o craqueamento térmico. A Tabela 2 apresenta os percentuais de coque obtidos nas curvas de TG de cada uma das amostras. Foi verificado que amostras de maior grau API apresentam menor formação de coque. Esse fato observado já era esperado, uma vez que quanto maior a gravidade API (Tabela 1) mais leve é a amostra e menor a quantidade de hidrocarbonetos pesados que propiciam a formação de coque. Tabela2. Conteúdo de coque formado no craqueamento térmico das amostras de RAT Amostras Resíduo a 600 C (%) RAT 13 8.5 RAT 16 7.3 RAT 19 7.3 RAT 28 3.4 Em seguida cada amostra de resíduo foi misturada ao catalisador tipo Conquest nas proporções de 1:4 e 1:8 e as misturas também analisadas por TG. Os resultados obtidos das curvas de TG de cada uma das amostras são apresentados na Tabela 3. Foi observado que, em presença de catalisador, os resíduos atmosféricos de diferentes gravidades API geram maior formação de coque durante o craqueamento quando comparados com o craqueamento térmico das amostras puras. Interessante foi que os percentuais de coque formados nas amostras de gravidade API entre 13 e 19 estão na mesma ordem de grandeza, independente da proporção RAT+CAT. A única amostra que apresentou percentual um pouco menor foi à mistura RAT 28+CAT, cujo RAT tem maior gravidade API. Tabela 3: Resultados percentuais de coque gerado após craqueamento do RAT presente nas misturas Misturas Coque observado na curva de TG Coque calculado para 100% de RAT (%) (%) RAT13+cat 1:4 1:8 5,0 3,9 30,0 33,0

RAT16+cat 1:4 4,9 25,5 1:8 3,6 28,0 RAT19+cat 1:4 4,2 23,0 1:8 3,3 28,8 RAT28+cat 1:4 3,0 15,8 2.3. Avaliação do catalisador utilizado no craqueamento de resíduos de destilação O catalisador virgem após ser submetido ao tratamento em mufla a 550 C para retirada de toda água de sua estrutura, foi avaliado da temperatura ambiente até 1200 C no DSC. O colapso de sua estrutura zeolítica se evidenciou em torno de 1000 C (Figura 4). A energia desse evento exotérmico foi determinada entre 51 a 58 J/g de catalisador virgem. Figura 4. Curvas de DSC de 45 mg do catalisador: 10 Cmin -1 em N 2 a 50mLmin -1. A simulação de um ciclo de craqueamento do resíduo atmosférico e regeneração do catalisador exausto com o coque foi realizada no equipamento de TG/DSC (Figura 5). A mistura RAT 28+CAT foi submetida à temperatura de craqueamento utilizada na unidade de FCC, em seguida, o coque depositado sobre o catalisador foi queimado à 700 C em presença de ar. Ao final dessa simulação, o catalisador foi submetido a uma rampa de aquecimento até a temperatura de colapso da estrutura zeolítica com o objetivo de perceber possíveis diferença de energia após um ciclo de craqueamento. CAT + Carga CAT+Coque CAT 35 C gases gases 600 C N2 AR 700 C CAT com colapso da zeólita 1200 C Figura 5. Esquema da simulação da unidade de FCC realizada no analisador térmico A mistura RAT28+CAT foi submetida a cinco replicatas nas condições acima descritas. E as energias do colapso da zeólita variaram entre 41 a 48 J/g de catalisador (Figura 6). Nessa avaliação preliminar, foi possível evidenciar uma diminuição na energia de colapso da estrutura zeolítica do catalisador utilizado em condições de um ciclo simulando condições de temperatura da unidade de FCC. Essa observação já é uma indicação de que mesmo em apenas um ciclo ocorre uma variação na energia de colapso da estrutura cristalina do catalisador. O resultado é promissor e mostra que é possível acompanhar o colapso da estrutura cristalina da zeólita pela técnica de DSC. O potencial da técnica ainda não foi explorado para esta avaliação. Outros testes deverão ser realizados para que essa hipótese venha a ser verdadeira.

Figura 6. Curvas de DSC de 45 mg do catalisador após um ciclo de craqueamento-regeneração: taxa de aquecimento 10 Cmin -1 e vazão de N 2 a 50mLmin -1. 7. Conclusões Foi observado, por TG, que a carga (resíduo da destilação atmosférica) em presença de catalisador apresenta maior formação de coque do que durante o craqueamento térmico do mesmo resíduo nas mesmas condições analíticas. Neste estudo preliminar, ficou evidenciado, por calorimetria diferencial de varredura, que ocorre uma diminuição na energia de colapso da estrutura zeolítica presente no catalisador após um ciclo de condições de FCC. O resultado dessa observação é uma indicação de que a técnica de DSC potencial para a avaliação da desativação de catalisadores. A afirmação ainda é incipiente, mas os estudos continuam no sentido de confirmar essa hipótese. 8.Agradecimentos Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor Petróleo e Gás Natural e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CT-PETRO/CNPq) e Petrobrás. 8. Referências BAUGIS, L.G. e Tan, M.H.Efeitos e moderação de contaminação metálica em catalisadores de U-FCC. 5 Encontro Sul-Americano de craqueamento catalítico. p. 188-193, 2003. DOLLIMOREE,D.Catalysts - Thermal Analysis Applications. In: Charsley, E. L. dp Warrington, S. B. Thermal Analysis- techniques & applications. Local: The Royal Society of Chemistry, 1992. GAO ZI, TANG YI and ZHU YUGIN, Effect of Dealumination Defects on the Properties of Zeolite Y. Appl. Cat., v.56 p.83-94, 1989 HUIFANG P. et al (1996). OLIVEIRA, H.M.T.,PEREIRA,M.M.,CERQUEIRA,H.S. Efeito do vanádio na desativação de uma zeólita USY. SB Cat., Anais do 12 Congresso Brasileiro de catálise. p.1073-1077, 2003. WENDLANDT, W. W. Thermal Analysis. 3nd edition. Wiley. New York. 1986.