USO DE FITOTERÁPICOS NO COMBATE AO CARRAPATO BOVINO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1 SCHMITT, Clederson Idenio; JORGENS, Elbio Nallen 2 ; Palavras Chaves: Bovinos, Carrapato, Neem Indiano, Cinamomo Introdução A infestação de bovinos pelo carrapato Rhipicephalus microplus é um dos principais entraves à pecuária no Brasil, onde as características climáticas favorecem o desenvolvimento desses parasitas na maioria dos meses do ano (EVANS, 1992). O controle das parasitoses, basicamente, tem sido feito com produtos químicos que também acarretam malefícios aos organismos parasitados, ao homem, que consome os produtos de origem animal, e ao animal (CHAGAS et al., 2003). Mas esse controle na bovinocultura leiteira, maioria dos casos apresentam resíduos no leite, consequentemente ocorre um descarte do leite e isso leva a prejuízos ao produtor. Agrega-se a esses problemas o desenvolvimento de resistência aos produtos químicos utilizados, especialmente em rebanhos de bovinos leiteiros (OLIVEIRA & AZEVEDO, 2002). Analisando nesse aspecto do resíduo do produto químico, hoje se busca novas alternativas que sejam eficazes no controle do carrapato, e uma delas que está ganhando destaque é o uso de fitoterápicos produzidos a partir de plantas medicinais. Ressalta-se também que o uso de fitoterápicos em sistemas convencionais de produção, como parte da estratégia de controle de parasitas, pode elevar a vida útil dos produtos químicos (VIEIRA et al., 1999). Além disso, observa-se no Brasil e no mundo um aumento na produção de alimentos orgânicos, modelo este que não permite o uso de pesticidas (VIEIRA 1999). Esta revisão busca mostrar os principais fitoterápicos já testados em pesquisas para o controle do carrapato em bovinos. O Uso de Fitoterápicos Dentre as plantas indicadas para o controle de insetos, destaca-se a citronela (Cymbopogon nardus L. Rendle), cultivada em regiões tropicais e subtropicais, o Neem Indiano (Azadirachta Indica), Cinamomo (Melia Azedarach) que já possuem pesquisas nessa 1 Méd.Vet., Profissional autônomo schmittproducoes@gmail.com 2 Med. Vet., Esp., Professor do Curso de Medicina Veterinária da Unicruz- elbio.jorgens@yahoo.com.br
área. Em relação a citronela, sabe-se que o óleo extraído de suas folhas secas é usado com repelente a mosquito, pois apresenta presença de substâncias voláteis em suas folhas, como citronelal, eugenol, geramiol e limoneno, entre outras, denominadas de um modo geral como monoterpenos (SHASANY et al., 2000) e pesquisar mostraram ela eficaz de inseticida e repelente a moscas e mosquitos (RAJA et al.; 2001), já em relação ao carrapato sua eficácia foi comprovada a ação carrapaticida, por Chungsamarnyart & Jiwajinda (1992) usando óleo puro e níveis altos de óleo de etanol na proporção 1:4 se mostrou eficaz no combate das larvas quanto as fêmeas adultas. Porém Olivo et al (2008) observaram no experimento in vitro com o óleo de citronela nas concentrações de 1, 10,25, 50, 100% que a medida que aumenta a concentração do óleo, ocorrendo uma inibição de postura de ovos pelas fêmeas ingurgitadas e também o maior controle dos carrapatos a medida da ascensão da concentração do óleo. Eles ainda apontam um detalhe importante que é o produto concentrado demais é absorvido, porém depois forma um filme apassivador, fazendo barrar a passagem do óleo. Isso vem ao encontro do que foi observado por Chagas et al (2003) o qual descreve que o produto penetra melhor nos carrapatos é quando ele está diluído, pois assim não está ocorrendo a formação desse filme e além do que ele apresenta uma maneira mais devastadora comparado ao produto mais concentrado. Para que o produto bioativo seja absorvido, ele precisa ser hidrofílico e ipolítico, pois os artrópodes possuem esses meios de absorção (ODHIAMBO, 1982). O óleo puro é somente lipolítico, possuindo assim menor absorção. Outro fitoterápico é o capim limão (Cymbopogon citratus), sendo da mesma família que o óleo de citronela. Os óleos essências de plantas do gênero Cymbopogon têm sido alvo de pesquisas devido à ação carrapaticida (Chagas et al., 2012). Em relação ao capim limão, seu óleo essencial é extraído das folhas que, quando jovens, e conforme Silva et al (2010) ele é composto na maior parte de citral, sendo que a este componente é atribuído a maioria das propriedades farmacológicas da planta. Na pesquisa desenvolvida por Santos et al (2012) usando o produtos químicos, e o óleo desse capim limão fornecido de forma pronta por uma empresa, observaram e mesma relação vista por Olivo et al (2008) que ao aumentar a concentração menor o efeito, sendo observado que a eficácia in vitro foi de 100% ao usar a concentração de 5%, e ao comparar esse resultado com o estudo in vitro do uso de substâncias químicas no controle do carrapato, eles destacam que o capim limão merece destaque no controle do carrapato pela sua maior eficácia em relação aos produtos químicos que foram resistentes a compostos amidínicos e piretróides sintéticos. Ainda em relação ao óleo de capim limão, outros autores apontam sua eficácia comprovada como antimicrobiano
(Onawunmi et al.,1984) e contra nematoides astrintestinais de caprinos em experimentos in vitro (Almeida et al., 2003), e no controle de fêmeas do carrapato (CHUNGSAMARNYART & JIWAJINDA 1992). Em relação ao uso do Cinamomo, Lino et al (2004) realizou um estudo in vivo comparando o Cinamomo, o Neem Indiano e a água como controle, realizando o tratamento através da pulverização dos animais. Foram realizados cinco contagens do número de carrapatos. Em relação ao uso da água foi observado o comportamento natural do carrapato. Já com o Cinamomo, eles observaram que a partir da terceira contagem ocorreu um aumento do número de carrapatos, ocorrendo uma reinfestação do ambiente, assim indicando uma baixa eficácia do produto quando comparado ao Neem Indiano. O qual apresentou resultado bastante satisfatório (60%) na diminuição do número de carrapatos em relação aos demais tratamentos, ainda observaram o efeito a partir da segunda contagem (cerca de 50%) e permanecendo constante ao longo das avaliações experimentais. Na quarta avaliação houve a queda natural das fêmeas de carrapatos (ciclo biológico) permanecendo em menor número até a quinta avaliação, demonstrando um maior poder residual do que a Melia azedarach, nas condições experimentais. Nessa mesma linha de pesquisa Rocha et al (2004) usando o Neem Indiano só que testes em vitro, também observou grande eficácia. Conclusão Hoje existem muitas pesquisas relacionadas ao uso de fitoterápicos no controle do carrapato em bovinos, principalmente bovinos leiteiros e notou-se que os experimentos são na maioria das vezes in vitro o que muitas vezes no animal essa eficácia comprovada não surja efeito, mas mesmo assim esses dados representam um avanço nas pesquisas e certamente irão influenciar em muitas outras pesquisas seja ela a campo ou não. Um dos trabalhos citados, foi feito in vivo ou seja, no animal através da aspersão da solução com o produto, e o grande destaque é o Neem Indiano que apresentou um alto índice de controle do carrapato. Podemos dizer sim, a fitoterapia é uma tendência e que apresenta resultados excelentes no controle do carrapato pelo uso alguns fitoterápicos como o Neem Indiano, Capim Limão e óleo de citronela, os quais são muito mais eficazes em relação aos produtos químicos usados normalmente no controle do carrapato como demonstrou uma das pesquisas. Mas problema está na falta de divulgação desses resultados para os produtores rurais, que são os maiores interessados.
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