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Transcrição:

Trocando em Miúdos Informativo Socioeconômico Trocando em Miúdos: informativo socioeconômico Negros Metalúrgicos do ABC: perfil e espaços reservados no mercado de trabalho - SMABC/DIEESE v. 01, n. 01 São Bernardo do Campo: Subseção DIEESE, 2015. Periodicidade irregular ISSN Continuação da Revista impressa do n. 1 (08/1987) ao n. 11 (10/1991). 1 Sindicato 2 Negros 3 Metalúrgicos 4 Perfil I. Sindicato dos Metalúrgicos do ABC II. Subseção DIEESE CDU 331.105.44: 33

ISSN Trocando em Miúdos São Bernardo do Campo v. 01 p. 1-17 2015 Conselho da Executiva - SMABC: Rafael Marques da Silva Junior Wagner Firmino de Santana Moisés Selerges Junior Ana Nice Martins de Carvalho Aroaldo Oliveira da Silva Nelsi Rodrigues da Silva José David Lima Carvalho José Roberto Nogueira da Silva Amarildo Sesário de Araújo Daniel Bispo Calazans Alexandre Aparecido Colombo Valter Sanches Claudionor Vieira do Nascimento Genildo Dias Pereira Rogério Medeiros Fernandes Antonio Cludiano da Silva Cícera Michelle Silva Marques Marcos Paulo Lourenço Angelo Máximo Oliveira Pinho Gilberto da Rocha Maria Gilsa Conceição Macedo Sebastião Curi José Caitano de Lima José Quixabeira de Anchieta Solange Helena Pereira Antenor de Souza Paulo Marcio Nogueira Sebastião Gomes de Lima Simone Aparecida Vieira Vanio da Silva Guedes Ivonildo Batista Costa Valderez Dias Amorim Valter Saturnino Pereira Expediente: Equipe técnica: Fausto Augusto Junior, Zeíra Mara Camargo de Santana e Warley Batista Soares Revisão: Silvana Martins de Miranda Capa: José Luiz Lei Endereço para correspondência: R. João Basso, nº 231, Centro, São Bernardo do Campo, SP, CEP: 09721-100 1

Negros Metalúrgicos do ABC: Perfil e espaços reservados no mercado de trabalho Introdução No Brasil, apesar da rica diversidade racial, ainda persistem as marcas da desigualdade entre negros e brancos nos espaços da sociedade (educação, trabalho, acesso a bens e serviços, entre outros). Essas diferenças estão fortemente relacionadas aos fenômenos de exclusão social que reproduziram a pobreza por várias décadas. Trata-se de um grande empecilho à efetivação do respeito à pessoa humana e impede o desenvolvimento pessoal, socioeconômico e cultural. No entanto, importantes medidas têm surgido buscando corrigir distorções e igualar condições entre negros e brancos. São políticas públicas e ações afirmativas que nascem no início dos anos 2000, em resultado à militância dos movimentos sociais nos anos anteriores, para promover o desenvolvimento humano, a igualdade de oportunidades, a redução da injustiça social e a solidificação da democracia. Não obstante, no campo do trabalho e no âmbito raça/cor, também podemos observar amplas diferenças, embora os negros tenham ganhado importante espaço nesta esfera com o passar dos anos. Assim sendo, o presente estudo visa apresentar um perfil dos trabalhadores na base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC - SMABC, com recorte para as populações negra e não negra, com a finalidade de que ele auxilie na criação de políticas específicas para o conjunto da categoria. Os dados utilizados para o perfil dos metalúrgicos têm origem no mais recente registro da Relação Anual de Informações Sociais RAIS, de 2013, assim como os de rendimentos, nas estimativas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados CAGED, de janeiro de 2015, ambos registros do Ministério do Trabalho e Emprego MTE. a. Raça / Cor A identificação do trabalhador por raça/cor é feita pelo próprio trabalhador somente no período mais recente da história de nosso país. No mercado de trabalho formal, por décadas esta identificação sempre foi determinada pelo empregador. A decisão de se utilizar raça/cor e não etnia deve-se ao fato de que nas literaturas os conceitos não são sinônimos, uma vez que raça/cor está voltado a descrever agrupamento de 2

pessoas que compartilham certas características morfológicas, ou seja, está relacionado com a esfera biológica (cor da pele, traços do rosto, tipo de cabelo etc.). Por outro lado, etnia designa o conjunto de pessoas que possuem as mesmas afinidades linguísticas, aquelas que possuem identidade cultural; em suma, refere-se aos costumes e ao modo de viver de um determinado grupo. Assim, de acordo com a mais ampla desagregação disponibilizada pelo MTE no âmbito raça/cor, os 101.115 metalúrgicos na base do SMABC, em dezembro de 2013, estavam distribuídos em 69.080 (68,3%) brancos, 21.900 (21,7%) pretos ou pardos, 667 (0,7%) amarelos e 68 (0,1%) indígenas. Outros 9.400 trabalhadores (9,3% do total) da categoria não puderam ter identificadas sua raça/cor em razão da ausência de informações no registro administrativo. Em relação ao gênero, o gráfico 1 detalha a distribuição dos metalúrgicos do ABC por raça/cor: GRÁFICO 1 Metalúrgicos do ABC, por Raça/Cor e Gênero (números absolutos) 3

b. Negro / Não Negro Para facilitar a análise que este estudo se propõe, que é a de identificar desigualdades existentes entre os trabalhadores por sua raça/cor, a partir de agora separaremos esta população de metalúrgicos do ABC em negros e não negros. Deste modo, considerando os trabalhadores identificados por raça/cor, e excluindo-se os não identificados, observamos que um total de 69.815 (76,1%) trabalhadores são não negros e 21.900 (23,9%) são negros. Na comparação do gênero, dentre as mulheres metalúrgicas somente 21,4% são negras (2.971 trabalhadoras), e, entre os homens, os negros somam 24,3% (18.929), como apresenta o gráfico 2: GRÁFICO 2 Metalúrgicos do ABC: negro e não negro (números absolutos) c. Os metalúrgicos nos municípios da base sindical O total de metalúrgicos negros está distribuído da seguinte forma: 11.934 (54,5%) em São Bernardo do Campo, 8.047 (36,7%) em Diadema, 1.783 (8,1%) em Ribeirão Pires e 136 (0,6%) em Rio Grande da Serra. 4

Veja gráfico 3, a seguir: GRÁFICO 3 Metalúrgicos do ABC, por raça/cor nos municípios da base sindical (números absolutos) Em relação ao peso do emprego dos negros, no interior de cada município, nota-se que Ribeirão Pires possui a maior quantidade de negros no total de metalúrgicos (33,6%) e a menor participação desta população encontra-se em São Bernardo do Campo (20%). GRÁFICO 4 Metalúrgicos do ABC, por raça/cor e participação nos municípios da base sindical (%) 5

As mulheres negras têm pesos distintos no conjunto de trabalhadores no município. Em Diadema elas representam 5,3% do total, em Ribeirão Pires, 4,9%, em Rio Grande da Serra, 2,3% e em São Bernardo do Campo, 2,2%. d. Idade dos metalúrgicos A maior parcela de trabalhadores negros encontra-se na faixa de 30 a 39 anos de idade (31,4%). Na sequência, outros 30,1% são jovens com até 29 anos, 25,8% tem entre 40 e 49 anos e 12,8%, têm 50 anos ou mais. Entre os trabalhadores com 50 anos ou mais, a maior presença é de metalúrgicos não negros, como pode ser comprovado com o gráfico 5: GRÁFICO 5 Metalúrgicos do ABC, por raça/cor e representação nos grupos de idade (%) Em números absolutos, o maior contingente de trabalhadores negros possui entre 30 e 39 anos (6.868 pessoas), entre 40 e 49 anos (5.646) e entre 25 e 29 anos (3.627 trabalhadores). Já entre os trabalhadores não negros, as presenças mais significativas se encontram nas faixas de 30 a 39 anos (21.892), entre 40 e 49 anos (18.955) e entre 50 a 64 anos (10.552). Entre os negros estão 997 trabalhadores (4,6% do total desta população) com até 6

20 anos de idade e 13 (0,1%) com 70 anos ou mais. Por outro lado, entre os trabalhadores não negros somam 2.524 (3,6%) aqueles com até 20 anos de idade e 127 (0,2%) os que possuem 70 anos ou mais. Observem o detalhamento dos dados em números absolutos, e por faixa etária, no gráfico 6: GRÁFICO 6 Metalúrgicos do ABC, por raça/cor e faixa etária (números absolutos) e. Escolarização Embora os metalúrgicos do ABC apresentem níveis de escolarização mais elevados do que importante parcela de trabalhadores da indústria, assim como de outros setores de atividade econômica, ao comparar os trabalhadores negros e não negros nota-se que há certa disparidade também no conjunto da categoria. Os níveis inferiores de escolarização dos trabalhadores negros podem ser consequência de diversos fatores, dentre eles o da entrada antecipada dos negros no mercado de trabalho com o respectivo afastamento da sala de aula, da qualidade e localização do equipamento escolar ou ainda de outros fatores que propiciaram a evasão ou a não conclusão de percursos escolares. A história mais antiga aponta outras deprimentes questões que envolvia o conceito de inutilidade da leitura e da escrita para esta população ou a proibição para que frequentassem os recintos 7

escolares. Assim sendo, na base SMABC os dados mostram que 19,5% dos trabalhadores não negros não chegaram a concluir o ensino médio. Dentre os negros esta parcela é maior, pois há ainda ¼ dos metalúrgicos, ou seja, 25,2% que não finalizou o ensino médio. No plano mais elevado de escolarização esta diferença é ainda maior. Entre os metalúrgicos não negros um total de 22% já completou o nível superior, enquanto que entre os negros somente 8% atingiu idêntico patamar. O gráfico 7 expõe a distribuição dos trabalhadores por níveis de escolarização: GRÁFICO 7 Metalúrgicos do ABC, por raça/cor e escolarização (%) f. Tipo de deficiência Um total de 97,7% dos metalúrgicos negros não possui qualquer tipo de deficiência, segundo os dados da RAIS/MTE. Assim como exposto no gráfico 8, abaixo, outros 2,3% de negros aparecem com alguma deficiência, dentre os quais 0,1%, que possui mais de um tipo. 8

GRÁFICO 8 Metalúrgicos Negros do ABC, por tipo de deficiência (%) g. Tamanho de estabelecimento Ao contrário dos metalúrgicos não negros, em que a maioria (51,1%) trabalha em empresas de grande porte (acima de 500 trabalhadores), os metalúrgicos negros estão reunidos em estabelecimentos de pequeno e médio porte (54,7%). Além disso, há 8,9% de metalúrgicos negros em empresas de micro porte. Nas empresas com 1.000 trabalhadores ou mais, se concentram 28.446 metalúrgicos não negros (40,7%) e 6.192 negros (28,3%). Um detalhamento mais apurado a respeito da quantidade de trabalhadores nos estabelecimentos metalúrgicos, por tamanho, está colocado no gráfico 9: 9

GRÁFICO 9 Metalúrgicos do ABC, por raça/cor e tamanho de estabelecimento (%) h. Horas contratadas A grande maioria dos metalúrgicos negros (74,6%) possui jornadas de trabalho entre 41 e 44 horas e somente 25,4% trabalham até 40 horas na semana, conforme gráfico 10: GRÁFICO 10 Metalúrgicos do ABC, por raça/cor e tamanho de estabelecimento (%) 10

Os trabalhadores não negros, por sua vez, detêm parcela maior que a dos negros em empresas cuja jornada de trabalho não excede as 40 horas semanais, como também pode ser comprovado pelo gráfico 10. Se forem considerados tão somente os trabalhadores com jornadas parciais, ou seja, aqueles que trabalham no máximo até 30 horas na semana, o indicador é muito semelhante. Dos metalúrgicos negros apenas 0,4% (86 pessoas) trabalham até 30 horas, e, dos não negros, 0,5% (346). i. Tempo de trabalho na mesma empresa Os dados do MTE apontam que dentre os metalúrgicos da base do SMABC, os trabalhadores não negros, em sua maioria (52,8%), têm mais de 5 anos de trabalho na mesma empresa. Os negros são 42,8%. Com até 3 anos de trabalho na mesma empresa os negros se destacam, pois sua participação (42,9%) é superior a dos não negros (33,5%), para esta faixa de tempo de trabalho. Para os trabalhadores com 3 até 6 anos a participação é semelhante, como pode ser observado no gráfico 11, a seguir: GRÁFICO 11 Metalúrgicos do ABC, por tempo de trabalho na empresa (%) 11

j. Por grupos de negociação na campanha salarial De todos os grupos de negociação da campanha salarial da base FEM/CUT/SP, os metalúrgicos negros têm maior representação em empresas do Grupo 3, que reúne os segmentos de autopeças e forjarias. Neste grupo estão 24,3% dos trabalhadores. Em seguida, 22,3% dos metalúrgicos negros trabalham em montadoras, 19,9% nas empresas do Grupo 2 (eletroeletrônicos, máquinas e equipamentos), 16,9% em empresas do Grupo 8 (produção de laminados de aço, usinagem, equipamentos de medidas, fabricação de fios e cabos etc.), 12,2% em empresas do Grupo 10 (metalurgia básica, lâmpadas, indústria mecânica, entre outras), 3,3% em Estamparia e 1,0% no grupo de Fundição, como mostra o gráfico 12: GRÁFICO 12 Metalúrgicos Negros do ABC, por grupos de negociação coletiva (%) Por outro lado, os metalúrgicos não negros estão em sua grande maioria nas montadoras (34,5%). Nas empresas do Grupo 3 há 22,4% dos trabalhadores não negros, nas empresas do Grupo 2 eles são 18,1%, nas do Grupo 8, um total de 14,1%, e nas empresas do Grupo 10, somam 7,7%. Os outros 3,3% de trabalhadores não negros são contratados por empresas de fundição, estamparia e aeroespacial. 12

k. Por Ocupação (CBO Classificação Brasileira de Ocupações) De um total de 654 ocupações distintas na base do SMABC, em apenas 20 delas estão 56% dos trabalhadores negros da categoria. São elas: Alimentador de Linha de Produção (10,2%), Soldador (5%), Operador de Máquinas Ferramentas Convencionais (4,5%), Montador de Veículos Linha de Produção (4,1%), Operador de Máquinas Fixas (3,6%), Operador de Máquinas Operatrizes (3,4%), Montadores de Máquinas, Motores e Acessórios (2,8%), Almoxarife (2,5%), Prensista (2,3%), Inspetor de Qualidade (2,3%), Auxiliar de Escritório (2,1%), Mecânico de Manutenção de Máquinas (2%), Pinto de Veículos (1,9%), Ferramenteiro (1,7%), Preparador de Máquinas Ferramenta (1,6%), Operador de Empilhadeira (1,3%), Operador de Centro de Usinagem com Comando Numérico (1,3%), Assistente Administrativo (1,2%), Eletricista de Manutenção Eletrônica (1,2%) e Mecânico de Manutenção de Automóveis (1,1%). Ressalte-se que nas sete primeiras ocupações aqui listadas estão 33% dos trabalhadores. l. Por Áreas de Atividade Profissional A distribuição dos trabalhadores por áreas de atividade profissional é distinta quando se compara metalúrgicos negros e não negros. Nas áreas de produção, por exemplo, os negros estão inseridos em 45,8% das ocupações, enquanto que os não negros somam 36,9%. Nas áreas administrativas (geral) os negros são 8,1% e os não negros, 11,6%. Em áreas técnicas, os trabalhadores não negros detêm a maioria das ocupações, sendo que na administrativa são 2,8%, contra 1,1% dos negros, e naquelas ligadas à produção os não negros respondem por 5,8% dos postos de trabalho e os negros, por 3,8%. Destaca-se também a diferença nas presenças em cargos de liderança. Do total de postos de trabalho de negros, somente 3,7% são de cargos de liderança (chefias, supervisão, direção, gerência, coordenação, entre outros); dos postos de trabalho de não negros, os cargos de liderança totalizam 8,2%. O gráfico 13 apresenta a distribuição dos trabalhadores por áreas de atividade profissional: 13

GRÁFICO 13 Metalúrgicos do ABC, por raça/cor e áreas de atividade profissional (%) m. Por faixa de rendimentos As disparidades nos rendimentos de trabalhadores na base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC não se limitam à questão de gênero. Quando desagregamos estas populações em negros e não negros notamos condições ainda mais desiguais. Estimando-se os rendimentos médios para janeiro de 2015 nota-se que, dentre as mulheres, a diferença de renda chega a 40,2%. As mulheres negras recebem salários de R$ 2.272,05 e as não negras, de R$ 3.798,98. Este dado reflete os pesos das ocupações em que as mulheres estão mais inseridas, que marcam concentração em dois extremos: numa ponta está o abastecimento das linhas de produção, por exemplo, e, na outra, as diversas atividades das áreas administrativas. Em relação aos homens, embora a diferença se situe em patamar um pouco inferior, as estatísticas mostram que os metalúrgicos negros têm rendimentos um terço inferior aos dos não negros. 14

Observe gráfico 14 que apresenta a distinção entre os rendimentos dos trabalhadores negros e não negros de igual gênero na categoria metalúrgica do ABC. GRÁFICO 14 Metalúrgicos do ABC, por raça/cor, gênero e rendimento médio (R$) Grande ABC - 2015 Ressalte-se que, ao se comparar a renda da mulher negra com a do homem não negro na base sindical, a diferença é ainda mais gritante, pois atinge 139,7%. Ainda que as pesquisas oficiais tenham demonstrado melhorias nos indicadores que medem a desigualdade no país, em razão das políticas afirmativas implementadas pelo Governo Federal - e que envolveu a políticas de cotas para o ingresso nas universidades, que é talvez a que mais impacta os metalúrgicos -, há um caminho ainda muito árduo a trilhar a fim de superar estas diferenças. O ingresso no mercado de trabalho, a qualidade do posto de trabalho e o acesso em cargos compatíveis com os trabalhadores não negros são desafios que estão colocados aos negros no dia a dia. Porém, somente com a equiparação da renda é que se eliminará a pobreza e a privação relegada à população negra por várias décadas. Na comparação nacional, nota-se também significativa disparidade nos rendimentos dos metalúrgicos. O levantamento apontou que os trabalhadores negros nos diversos municípios brasileiros (excetuando-se a base deste Sindicato), recebem rendimentos 35,7% menores ao aplicado no ABC. No caso dos não negros, a diferença chega a 41,3%, resultado que pode estar refletindo o peso dos salários e do emprego nas montadoras, que possui maior concentração no ABC. Nota: Rendimentos estimados para janeiro/2015 15

O gráfico 15 apresenta os referidos valores: GRÁFICO 15 Rendimento Médio dos Metalúrgicos ABC X Brasil (R$) Grande ABC - 2015 Nota: Rendimentos estimados para janeiro/2015 Nos municípios do Brasil, os metalúrgicos homens e mulheres negros recebem, em média, 27,7% menos que os trabalhadores não negros. Na base SMABC esta diferença é de 34%. Conclusão Os negros representam mais de um terço da população economicamente ativa no Grande ABC e possuem uma taxa de desemprego superior a dos não negros. Como identificou a mais recente pesquisa do DIEESE/SEADE, divulgada em novembro de 2014, na região do ABC, a taxa de desemprego dos negros é de 11,3% e a dos não negros, de 9,7%. Na base dos Metalúrgicos do ABC, a presença de trabalhadores negros é inferior a dos não negros, seguindo a realidade observada no conjunto da sociedade. Nas fábricas, os negros detêm 23,9% dos postos de trabalho e os não negros, 76,1%. Os dados revelam que o trabalhador negro ainda não atingiu o patamar de escolarização do não negro. Na base, 25,2% dos negros ainda não concluíram o ensino médio, contra 19,5% 16

dos não negros. Por outro lado, 22% dos não negros concluíram o curso superior; os negros são 8% com esta escolarização. Os trabalhadores negros estão em quantidade reduzida nas grandes empresas, assim como são minoria no grupo que possui jornadas de trabalho de até 40 horas semanais. As áreas administrativas e técnicas das fábricas, bem como as funções de liderança, são compostas na sua maioria por trabalhadores não negros. Os negros são mais representativos nas ocupações voltadas à produção, logística e serviços diversos. Os rendimentos dos metalúrgicos negros são 34% inferior ao dos não negros, o que consolida e mantém estes trabalhadores negros em condições desfavoráveis aos demais. O distanciamento se eleva ainda mais quando se cruzam as variáveis gênero e raça. Os resultados apresentados demonstram que persiste a desigualdade entre negros e não negros nos diversos ambientes da sociedade, mas de forma especial, no campo do trabalho. Entretanto, é importante continuar a reflexão sobre as condições em que cada população está exposta, assim como a organização e a mobilização dos negros em busca da ampliação de seus direitos e de mecanismos de eliminação do preconceito, da discriminação, da marginalização e de outros tratamentos diferenciados motivados por questões raciais. Somente assim será possível reduzir as disparidades socioeconômicas e promover novas oportunidades e a igualdade entre os indivíduos independente da cor de sua pele. 17