Palavras-chave: Acesso à Justiça. Constituição Federal. Direitos Humanos.

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Transcrição:

O PAPEL DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS NA CONCREÇÃO DO DIREITO AO ACESSO À JUSTIÇA Guilherme Rodrigues Martins 1, Roberta Silva Benarrósh 2, Tatiane Alves Macedo 3. 1 Graduando do curso de Direito. UNIFIMES, Rua 22 s/n Setor Aeroporto, CEP 75 830-000, Mineiros, Goiás; 2 Graduanda do curso de Direito. UNIFIMES, Rua 22 s/n Setor Aeroporto, CEP 75 830-000, Mineiros, Goiás, 3 Docente do curso de Direito. UNIFIMES, Rua 22 s/n Setor Aeroporto, CEP 75 830-000, Mineiros, Goiás; Resumo Ao longo dos anos até o momento presente, houve expansão na ocupação de novos espaços constituidores do Sistema de Garantia de Direitos, principalmente a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, que acena para a efetivação do Direito, necessário à materialização do acesso à Justiça. Um espaço, por excelência, de afirmação e garantia de Direitos Humanos se refere aos Núcleos de Prática Jurídica, vinculados às Universidades e demais Instituições de Ensino Superior que, com a complexificação da vida social e com a cotidiana violação de direitos, tem sido chamado a responder às mais diversas demandas, requisitado para contribuir com outras áreas do conhecimento, além da área do Direito. A partir disso, a presente dissertação se propõe a investigar a contribuição do Núcleo de Prática Jurídica do Centro Universitário de Mineiros no Estado de Goiás na concreção do acesso à justiça, na perspectiva da Justiça Social. Encontrou-se o resultado esperado, apontando os problemas e concluiu-se que na ausência de Defensoria Pública e da inexpressiva atuação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a título bro bono ou por meio de contraprestação do Estado, o Núcleo de Prática Jurídica da UNIFIMES atende à expressiva demanda economicamente vulnerável, atuando nas diversas áreas do Direito. Palavras-chave: Acesso à Justiça. Constituição Federal. Direitos Humanos. Introdução A preocupação com os direitos humanos sempre foi uma realidade em vista das desigualdades sociais, levando a sociedade a procurar meios de proteger os desafortunados. O objetivo da presente pesquisa é refletir sobre o direito ao acesso à justiça e os mecanismos criados para efetivação desse direito, com especial atenção para a atuação dos Núcleos de Prática Jurídica dos cursos de Direito como instrumento de defesa dos economicamente vulneráveis. Para tanto, formulou-se a seguinte problemática: Qual a contribuição do Núcleo de Prática Jurídica da UNIFIMES, no período de fevereiro de 2012 a abril de 2015, para a efetivação do direito ao acesso à Justiça, na perspectiva de Justiça Social? Para responder a essa problemática são formuladas as seguintes hipóteses: a) Na ausência de Defensoria Pública nos municípios que compõem a Comarca de Mineiros, Estado de Goiás, bem como de outro órgão Estatal com atribuição de garantir o direto do acesso à Justiça, os

2 Núcleos de Prática Jurídica atendem expressiva demanda economicamente vulnerável, atuando nas diversas áreas do Direito. b) O Núcleo de Prática Jurídica constitui um polo agregador de atividades de ensino, pesquisa e extensão, pois o aluno deve cursar disciplinas e, ao fazê-lo, estará trabalhando também a extensão universitária. Como referencial teórico, o trabalho está ancorado nas ideias lançadas por Mauro Cappelletti e Brian Garth na obra intitulada "Acesso à Justiça". Material e método Concernente ao tipo de pesquisa, quanto aos objetivos, será utilizada a pesquisa exploratória ao longo desse trabalho, pois como ensina Gil (1996), [...] tem por objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses, e como escopo principal, [...] o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições (GIL, 1996, p.45). Quanto aos procedimentos técnicos serão utilizadas a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. Optou-se por um perfil mais descritivo do que analítico buscando, dessa forma, cumprir os objetivos traçados inicialmente. O método de abordagem utilizado será o dialético, porque o problema possibilita a discussão de vários argumentos para se chegar a uma concretização acerca do assunto. E os métodos de procedimentos utilizados serão o histórico e o comparativo, os quais possibilitarão a real abordagem dos assuntos pertinentes que, certamente, alcançarão o objetivo pleiteado. O método histórico será utilizado em razão da abordagem do direito ao acesso à justiça ao longo da história. Com o objetivo de, por um lado, contemplar os elementos teóricos presentes no processo de reflexão acerca do tema da pesquisa e, por outro, dar visibilidade ao estudo realizado, dividiu-se a pesquisa em três etapas: a primeira aborda a temática do acesso à justiça em uma concepção ampliada, revisando seu processo de construção histórica no contexto mundial e brasileiro, contemplando de forma imbricada e orgânica, a afirmação e a garantia de direitos; a segunda investiga os diferentes modelos de estruturação dos serviços de assistência jurídica para os pobres, analisando cada um dos modelos adotados no Brasil; a terceira e última etapa descreve o surgimento e a construção histórica dos Núcleos de Prática Jurídica, seus preceitos legais e paradigmáticos, bem como a legislação atual que os fundamenta, além do contexto de criação dos Núcleos participantes da pesquisa e de uma reflexão sobre a função social dos Núcleos de Prática Jurídica. Por fim, dedica-se à apresentação e discussão dos dados apreendidos no processo de investigação. Resultados e discussão A primeira parte desse trabalho tem como fundamento central os escritos publicados durante as décadas de 60 e 70 do século XX, quando o mundo ocidental experimentou o chamado movimento mundial de Acesso à Justiça. As ideias lançadas por Mauro Cappelletti e Brian Garth há mais de trinta anos, conhecidas como as ondas renovatórias do Direito Processual Civil, propagadas a partir da pesquisa pioneira realizada pelos

3 idealizadores do Projeto Florença (The Florence Acess-to-Justice Project), impulsionaram estudiosos de diversas partes do mundo a rever os conceitos dessa ciência jurídica para, segundo Bonicio (2005), torná-la acessível aos mais carentes (a primeira onda), para coletivizar a tutela jurisdicional (a segunda onda) e para desemperrar o mecanismo processual, tornando-o mais ágil e justo (a terceira onda) (BONICIO, 2005). Os fatos históricos e sociais foram determinantes para afastar a população mais pobre do acesso aos direitos básicos. É certo que o poder judiciário sempre esteve a serviço dos afortunados. Resta, então, aos Estados, garantir o acesso à parcela da população que, por uma série de motivos, está à margem da justiça. No Estado de Goiás, a Defensoria Pública ainda não está estruturada, de forma que a assistência jurídica integral e gratuita vem sendo prestada de forma subsidiária pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pelos Núcleos de Prática Jurídica das Faculdades de Direito. O Núcleo de Prática Jurídica, desde a sua criação em fevereiro de 2012 até o mês de abril de 2015, registrou mais de 1.600 (mil e seiscentos) atendimentos nas áreas cível e criminal. Grafico 1. UNIFIMES NPJ Atendimento à comunidade (01/02/2012 a 30/04/2015) Fonte: Elaborado pelos autores A diferença entre o número de pessoas atendidas 1.632 (mil seiscentos e trinta e duas) e o número de processos acompanhados 1.049 (mil e quarenta e nove), dá-se por dois motivos: primeiro, a realidade das informações prestadas na triagem nem sempre traduz a verdade; segundo, muitos casos podem ser resolvidos com a conciliação das partes envolvidas.

4 Dos 1.049 (mil e quarenta e nove) processos judiciais e extrajudiciais em que o Núcleo de Prática Jurídica da UNIFIMES atuou na defesa de interesses de pessoas economicamente vulneráveis, 604 (seiscentos e quatro) são processos cíveis, sendo que a natureza dos interesses em conflito quase sempre está no âmbito do Direito de Família, especialmente pedidos de alimentos e outras medidas para garantir o seu adimplemento: Grafico 2. UNIFIMES NPJ Processos Cíveis em andamento 30.04.2015 Fonte: Elaborado pelos autores Por outro lado, da análise dos processos judiciais e extrajudiciais ajuizados desde fevereiro de 2012, apenas 233 (duzentos e trinta e três) foram concluídos, o que evidencia acentuada demora na prestação da atividade jurisdicional. Em matéria penal, o Núcleo de Prática Jurídica atua nos processos em que os magistrados, constatando que o réu não possui advogado, nomeiam um dos advogados (professores-orientadores) do NPJ para promover sua defesa, trabalhando os estagiários em conjunto com o professor. O levantamento dos dados relativos à atuação do NPJ em processos criminais foi realizado por meio da catalogação de todas as peças criminais protocoladas desde fevereiro de 2013 (quando iniciou a primeira turma no estágio penal) até abril de 2015, perfazendo um total de 209 processos criminais. Como se pode observar, é expressiva a atuação do Núcleo de Prática Jurídica da UNIFIMES no atendimento àqueles que não possam pagar advogados particulares ou que estejam em outras situações de vulnerabilidade jurídica, podendo ver efetivados direitos individuais ou sociais que estejam sendo violados ou não atendidos pelo Estado. Esse trabalho desenvolvido se assemelha à tutela jurídica prestada pela Defensoria Pública, contudo, não a substitui, especialmente porque o NPJ não está legitimado a promover ações coletivas, prerrogativa assegurada à Defensória Pública. Desta feita, a atuação do NPJ se concentra na promoção de direitos individuais.

5 Conclusão Pode-se concluir que o Núcleo de Prática Jurídica, como modelo complementar de acesso à justiça, desempenha importante contribuição na concreção desse direito, na medida em que viabiliza o atendimento às pessoas de baixos rendimentos econômicos, além de propiciar o Estágio Curricular aos estagiários de Direito e a integração recíproca entre Universidade e Comunidade. Representa também uma forma de promover a emancipação social, a cidadania e a efetividade dos direitos humanos.

6 Referências bibliográficas BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O direito à assistência jurídica: evolução no ordenamento brasileiro de nosso tempo. Revista AJURIS, Porto Alegre, n.55, 1998. BONICIO, Marcelo José Magalhães. Breve análise comparativa entre a tutela dos interesses difusos no direito argentino e no direito brasileiro. 2005. Disponível em: <http://www.mundojuridico.adv.br>. Acesso em: 20 mar. 2015. CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1988. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1994.