Mortes violentas, inflexão na razão de sexo e impactos na esperança de vida da população: Argentina e Brasil (2001/2009) 1.

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Transcrição:

Mortes violentas, inflexão na razão de sexo e impactos na esperança de vida da população: Argentina e Brasil (21/29) 1. Resumo Alex Manetta 2 José Eustáquio Diniz Alves 3 Esse trabalho analisa a evolução dos óbitos violentos, suas influências na composição e na esperança de vida da população (por sexo e idade), em dois países latinoamericanos cujos padrões de mortalidade se apresentaram sobremaneira distintos no período avaliado (21/29): Argentina e Brasil. A análise da mortalidade por causas violentas - homicídios, acidentes de transporte e suicídios - ocorre com foco na sobremortalidade juvenil masculina, fato que tem contribuído com uma inflexão precoce da razão de sexo, passando-se de um superávit de homens para um superávit de mulheres, das coortes mais jovens às idades adultas. Dentre os objetivos específicos desse artigo, destacam-se: o estudo comparado da evolução da mortalidade violenta por sexo, idade e grupos de causas, nos dois países em questão; o reconhecimento dos segmentos populacionais mais afetados por cada grupo de causas de morte violenta; o reconhecimento da importância dos óbitos violentos na inflexão precoce da razão de sexo; e a mensuração dos impactos da mortalidade violenta através dos índices 'esperança de vida ao nascer' (e) e 'anos de vida perdidos' (AVP), por sexo, grupos de idade e grupos de causas, no Brasil e na Argentina (21/29). Como objetivo geral, pretende-se contribuir com as discussões a respeito da incidência diferencial da mortalidade violenta na América Latina e Caribe e suas consequências nas condições de vida e na dinâmica da população. 1 Trabajo presentado en el VI Congreso de la Asociación Latinoamericana de Población, realizado en Lima- Perú, del 12 al 15 de agosto de 214. 2 Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE). alexmanetta@hotmail.com. 3 Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE). jed_alves@yahoo.com.br 1

Introdução: caracterização da dinâmica demográfica recente na América Latina e Caribe A região da América Latina e Caribe (ALC) passou por significativas transformações sociais e demográficas durante o Século XX, especialmente nos últimos 6 anos, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Nesse período a ALC apresentou crescimento econômico e melhorias relativas aos indicadores sociais, em um contexto, porém, de reconhecidas desigualdades. Na região, registrou-se um intenso processo de urbanização e uma importante mudança na composição do emprego, com crescimento nos setores industrial e de serviços e redução no setor agropecuário. Notaram-se melhorias nos índices educacionais, na cobertura dos serviços de saúde, na diminuição da privação extrema de renda, além da diversificação e da ampliação do consumo. Esse conjunto de mudanças, estruturais e institucionais, foi acompanhado pelo avanço de um processo amplamente conhecido como 'transição demográfica', resultado de transições tanto na mortalidade quanto na fecundidade da população. Na ALC a transição demográfica tem sido orientada por um processo de envelhecimento no qual coortes, relativamente volumosas, são seguidas por coortes menos volumosas, como resultados da transição da fecundidade. A queda nas taxas de mortalidade infantil, e em outros grupos etários, contribuem para a maior longevidade da população, tendo como conseqüência o aumento da esperança de vida ao nascer. Como resultados dessa dinâmica observam-se: uma diminuição relativa da população infantil (-14 anos) e um aumento relativo da população idosa (65 anos e mais), com uma elevação proporcional da população em idade ativa (15-64 anos) (Wong e Moreira, 2). A transição na estrutura etária da população tende a ocorrer em consonância com uma transição previsível em contextos de envelhecimento populacional, caracterizada tanto pela diminuição efetiva dos óbitos por doenças infecciosas e parasitárias (DIP) quanto pelo aumento relativo da mortalidade por causas externas, por doenças cardíacas e por neoplasias. Há, pois, uma estreita relação entre a transição da estrutura etária e a 'transição epidemiológica', descrita por Orman (1971). Em princípio, o declínio da mortalidade tende a concentrar-se seletivamente entre as DIP, e a beneficiar grupos etários mais jovens da população. Na medida em que aumenta a esperança de vida, e cresce o volume e o percentual de idosos, as doenças não transmissíveis e as causas externas acabam por tornarem-se as causas principais de morte (Chaimowicz,1997). Para além das características previstas durante o avanço da transição epidemiológica, uma análise dos perfis de mortalidade na ALC revela uma elevação sem precedentes dos óbitos por causas violentas 4. Em acordo com Waiselfisz (28:111) a América Latina e o Caribe apresentaram, durante a primeira metade dos anos 2, as mais elevadas taxas de óbitos por causas violentas, quando referentes à população juvenil (15 a 24 anos) e comparadas às outras regiões do planeta. Comparando a mortalidade violenta de 83 países, verificou-se que dentre os dez países com as maiores taxas para a população juvenil, oito eram da ALC: El Salvador (1º), Colômbia (2º), Venezuela (3º), Brasil (4º), Guiana (6º), Guatemala (7º), Sta. Lúcia (8º) e Equador (1º). Em todos esses países as taxas de homicídio foram elevadas (entre 21,6 e 92,1 óbitos para cada 4 Denomina-se 'causas violentas' o grupo de causas de morte que inclui os homicídios, os suicídios e as mortes por acidentes de transporte. 2

1 mil habitantes) e superiores às taxas de mortalidade por acidentes de transporte e por suicídio, com exceção da Guiana 5. Desses sete países com taxas de homicídio mais elevadas, dentre as causas de óbito violento, seis apresentaram taxas de mortalidade por acidentes de transportes mais elevadas do que as taxas de suicídio, com exceção da Guatemala 6, sendo, portanto, que nos países com mais elevadas taxas de mortalidade violenta entre jovens, predominaram os óbitos por homicídio e, depois, por acidentes de transportes (Waiselfisz, 28, Tabelas 6.1.1; 6.1.2; 6.1.3; 6.1.4 e 6.1.5). A ALC destaca-se claramente como uma região violenta, com elevadíssimos índices de vitimização juvenil masculina, especialmente por homicídio. No entanto, há países da região com taxas 'moderadas' de mortalidade violenta para a população jovem, como o Chile, o Uruguai e a Argentina (posicionados, respectivamente, entre a 26a. e 28a. posições do ranking que compara 83 países), fato que revela estruturas diferenciadas da mortalidade violenta entre jovens da ALC, com taxas mais elevadas de óbitos por acidentes de transporte e por suicídio, em relação às taxas de homicídio (Waiselfisz, 28, Tabelas 6.1.1; 6.1.2; 6.1.3; 6.1.4 e 6.1.5). As diferenças entre as principais cidades latino-americanas são também significativas 7. Cardona et al. (28) avaliaram as características da mortalidade por causas violentas em três cidades latino americanas: Medelín (Colômbia), Campinas (Brasil) e Córdoba (Argentina), nos anos 199 e 2. Os resultados demonstraram que os níveis de Medelín superaram notavelmente os níveis de Campinas e de Córdoba, em todas as causas estudadas, e em todas elas foram os homens jovens (15-24 anos) que apresentaram as maiores taxas. Os níveis de mortalidade juvenil por causas violentas de Campinas, por sua vez, duplicaram os níveis de Córdoba, sobretudo em relação aos homicídios e aos acidentes de transporte, que chegaram a quintuplicar as cifras cordobesas. Isso, no entanto, não ocorreu em relação aos suicídios, causa de morte cujos níveis de Córdoba duplicaram os níveis de Campinas. Não obstante a heterogeneidade interna à ALC, a mortalidade juvenil violenta mostra-se como uma problemática em expansão (Cardona et al., 28). Em determinados países e localidades da região, os ganhos potenciais em anos de vida, obtidos a partir das quedas nas taxas de mortalidade infantil, estariam sendo parcialmente anulados, especialmente porque esse tipo de óbito tende a concentrar-se nas idades juvenis, o que acarreta perdas significativas na esperança de vida ao nascer 8, sobretudo entre os homens. Ressalta-se, portanto, a relevância em estudar a mortalidade violenta, tanto com relação às suas influências na inflexão precoce da razão de sexo quanto no que diz respeito aos impactos diferenciais na esperança de vida da população, em dois países com tendências distintas, como Argentina e Brasil, no contexto de suas respectivas transições demográfica e epidemiológica. 5 Na Guiana, segundo Waiselfisz (28), as taxas de suicídio e de óbitos por acidentes de transportes foram mais elevadas do que as taxas de homicídio, entre jovens. 6 Na Guatemala, as taxas de suicídio foram maiores do que as taxas de óbito por acidente de transportes, entre jovens (Waiselfisz, 28). 7 Durante os anos 2, as maiores taxas de homicídio da América Latina foram observadas nas cidades de Recife (Brasil), Medellín e Cali (Colômbia), Guatemala (Guatemala) e São Salvador (El Salvador), com mais de 9 mortes por cada 1 mil habitantes. No mesmo período, os menores índices de homicídio foram observados na Cidade do México (México), Quito (Equador), Panamá (Panamá) e Santiago do Chile (Chile), com taxas menores que 2 mortes por cada 1 mil habitantes, e em Buenos Aires e Córdoba (Argentina), com cerca de 5 homicídios por cada 1 mil habitantes (Cardona et al., 28). 8 Quanto ao caso específico de alguns estados brasileiros, Cerqueira e Moura (213: 13-15) demonstram o ganho potencial em anos de vida caso as mortes violentas, especialmente de jovens, fossem eliminadas. 3

Alterações demográficas e epidemiológicas na Argentina e na Brasil Como demonstraram Chackiel e Schkolnik (24), a transição demográfica ocorre de maneira diferenciada entre os países, mas, em maior ou menor medida, poder-se-ia dizer que todos os países da ALC estão já com baixas taxas brutas de mortalidade e de natalidade, alcançando seus menores níveis históricos. O Gráfico 1 mostra as taxas brutas de natalidade (TBN) e as taxas brutas de mortalidade (TBM) para a ALC, Argentina e Brasil. Nota-se que tanto a ALC quanto o Brasil mantinham, em meados do século passado, TBN e TBM elevadas, quando passaram a um rápido declínio. A Argentina apresentava, já na década de 195, TBN e TBM bem mais baixas do que a média da região, no entanto, demonstrou uma tendência de queda bem mais lenta, de modo que em relação ao quinquênio 21/215, esperam-se para o Brasil TBN e TBM abaixo daquelas apresentadas pela argentina. Nota-se que a transição demográfica no Brasil apresentou um comportamento muito próximo à média da ALC, enquanto que a transição Argentina apresentou um comportamento diferenciado. Gráfico 1. ALC, Brasil e Argentina - taxas brutas de natalidade (TBN linhas cheias) e taxas brutas de mortalidade (TBM linhas pontilhadas) por períodos quinquenais (195/215). 5 45 4 TBN e TBM (por mil) 35 3 25 2 15 1 5 Argentina Brasil ALC Argentina Brasil 195-1955 1955-196 196-1965 1965-197 197-1975 1975-198 198-1985 1985-199 199-1995 1995-2 2-25 25-21 21-215 ALC Fonte: World Population Prospects: The 212 Revision, http://esa.un.org/unpd/wpp/index.htm. Apesar das diferenças de trajetória de suas respectivas transições, poder-se-ia dizer que, tanto no Brasil quanto na Argentina, observam-se tendências atuais de crescimento baixo ou mesmo decrescimento da população jovem, desaceleração do crescimento da população em idade ativa e crescimento do contingente de idosos, vivenciando processos semelhantes, porém, em patamares e ritmos diferenciados. A Figura 1 contém as pirâmides etárias da população do Brasil e da Argentina (198/21), segundo as quais pode-se observar uma tendência de envelhecimento populacional para ambos os países, com diminuição da base e aumento do topo. Apesar do envelhecimento populacional ser um processo atual nos dois países, ocorreu de forma mais tardia, porém mais intensa, no caso brasileiro. 4

Figura 1. Brasil e Argentina - pirâmides etárias (198/21). Fonte: World Population Prospects: The 212 Revision, http://esa.un.org/unpd/wpp/index.htm. Como mencionado, o processo de transição demográfica mantém relações com alterações na estrutura da mortalidade da população, tanto por grupos de causas quanto por grupos de idade, sendo um fator fundamental no entendimento da transição epidemiológica. Entretanto, a elevação das taxas de mortalidade por causas violentas, e sua concentração na população juvenil masculina, aparece como traço marcante e não previsto na ALC. No Brasil, a mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias declinou fortemente desde a década de 194, crescendo em relevância os óbitos por doenças crônicas não transmissíveis e 5

por causas externas, com destaque para a mortalidade violenta (a partir da década de 198), sobretudo no caso mais específico dos homens jovens (Marangone e Frias, 21). No Brasil a evolução dos anos de vida perdidos (AVP) por causas violentas (198/25) teve como traço marcante a concentração nos grupos juvenis masculinos, em particular por homicídio. Homens com idades entre 15 e 24 anos apresentaram um crescimento significativo e persistente de AVP por essa causa específica, comportamento observado em todas as grandes regiões brasileiras, com exceção da região sudeste, onde foi verificado um declínio no final do período, embora a concentração permaneça ainda no segmento juvenil masculino (Beltrão e Dellasoppa, 211). Cerqueira e Moura (213:7-8) acrescentam que a maioria das vítimas de homicídio no Brasil, além de homens jovens, tende a ser de cor parda e com baixa escolaridade, correspondendo em grande parte a moradores de periferias urbanas. Minayo (29) identificou seis características da mortalidade violenta no Brasil, dentre as quais destacamos duas: 1) elevadas e crescentes taxas nos últimos 25 anos e 2) a concentração das mortes por gênero, idade e local de residência (periferias urbanas). De forma geral, pode-se dizer que o jovem que morre precocemente por causas violentas, na ALC, sobretudo por homicídio, guarda as mesmas características sócio-demográficas da criança que outrora morria antes de completar um ano de vida: pobre, não branco e residente em áreas com infra-estrutura urbana precária (Vieira e Aidar, 214:96). Na Argentina a queda da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias teve inicio já no final do Século XIX, sendo que por volta de 1916 a mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis começou a aumentar, em um processo que durou até 1982, quando os óbitos por causas externas passaram a registrar alta. Os acidentes de transporte se transformaram na principal causa de morte entre jovens, que passaram a sofrer também com a elevação da incidência de suicídios e de homicídios (Curto et al., 29). As taxas de mortalidade entre homens jovens argentinos aumentaram no período entre 199 e 21, devido ao aumento dos óbitos por causas violentas. Os acidentes de transporte se mantiveram como a principal causa de morte entre jovens, sendo o homicídio um problema crescente, assim como o suicídio, que apresentaram aumentos significativos, sobretudo entre a população masculina (Serfaty et al, 23 e Alvarez, 22 apud Cardona et al., 28). Entre os anos 2 e 21, a mortalidade por acidentes de transporte seguiu como a principal causa de morte violenta na Argentina, e os homens jovens (2 a 24 anos) seguiram como o segmento mais comprometido. Com relação às mulheres, o grupo mais afetado correspondeu também às idades entre 2 e 24 anos (Escanés, 213). No caso específico da Argentina, apesar da mortalidade violenta não alcançar os mesmos níveis registrados no Brasil, pode-se observar também a importância adquirida na perda prematura de vidas, na queda da esperança de vida e na consolidação de um hiato de gênero, já que tende a ocorrer principalmente entre homens jovens. Por isso segue uma discussão a respeito da sobremortalidade masculina e de suas influências na inflexão precoce da razão de sexo, tendo como consequência um reforço ao superávit de mulheres (a partir das idades adultas) e a manutenção de um diferencial (por sexo) na esperança de vida ao nascer, tanto no Brasil quanto na Argentina. 6

Inflexão precoce na razão de sexo e superávit da população feminina Historicamente, a ALC possuía um superávit de homens na população, devido ao tipo de colonização e em decorrência das desigualdades de gênero (Alves e Martine, 21), mas essa situação mudou completamente a partir da segunda metade do Século XX, conforme mostra o Gráfico 2. Quantidade de homens por cada 1 mulheres 18 16 14 12 1 98 96 94 92 Gráfico 2. Argentina, Brasil e ALC -razão de sexo por períodos quinquenais (195/215). Argentina Brasil ALC 9 195 1955 196 1965 197 1975 198 1985 199 1995 2 25 21 215 Fonte: World Population Prospects: The 212 Revision, http://esa.un.org/unpd/wpp/index.htm. Na ALC existiu um equilíbrio entre o número de homens e de mulheres no período entre 195 e 197. O Brasil apresentou superávit de mulheres em todo o período (195/215), sendo que por volta de 197 quase que alcançou um equilíbrio, quando a razão de sexo 9 passou a registrar novas quedas, até o final do período. Na Argentina a razão de sexo registrada era de 16 homens para cada 1 mulheres em 195 e caiu para cerca de 1 homens para cada 1 mulheres na década de 197, seguindo um rápido declínio na década de 199 (96 homens para cada 1 mulheres), mantendo-se estável nesse patamar até o final do período (21-15) (Gráfico 2). Com a queda da razão de sexo a ALC tem se tornado um dos continentes mais femininos do mundo. Na ALC, embora a razão de sexo ao nascer esteja atualmente entre 14 e 15 meninos para cada 1 meninas, nota-se uma inversão precoce, com um crescente superávit de mulheres, dos grupos etários adultos aos idosos, fato que tende a ser explicado, sobretudo, pelos diferenciais nas taxas de mortalidade violenta, como veremos para os casos específicos de Argentina e Brasil. Desequilíbrios na razão de sexo em idades jovens ocorreram em outras regiões e em outros momentos da história, normalmente em decorrência de conflitos armados, no entanto, no continente latino-americano, esse fato não tem acontecido de modo episódico, ao contrário, 9 As razões de sexo ilustradas no Gráfico 2 são representadas pelo número de homens por cada 1 mulheres. Ou seja, razões acima de 1 representam mais homens do que mulheres, enquanto que razões abaixo de 1 representam menos homens do que mulheres, em uma população. A razão igual a 1 representa um número equivalente de homens e de mulheres. 7

tem se fixado como um padrão sistematicamente registrado durante as últimas décadas (Vieira e Aidar, 214:99). O Gráfico 3 mostra importantes quedas na mortalidade infantil e significativos ganhos na esperança de vida, tanto na Argentina quanto no Brasil (195/215). Nota-se que as mulheres morrem em menor proporção e por isso possuem maiores taxas de sobrevivência. Em meados do século passado a Argentina possuía uma taxa de mortalidade infantil (-1 ano) de 64 óbitos, enquanto o Brasil mantinha uma taxa de 135 óbitos (por cada mil crianças nascidas vivas). No quinquênio 21-15 as taxas caíram para 11 e 19, respectivamente, para Argentina e Brasil. Em todo o período, e para os dois países, a mortalidade infantil das meninas sempre foi menor do que a dos meninos. Os diferenciais por sexo na esperança de vida ao nascer se mantiveram nos últimos 6 anos e houve até um aumento absoluto nos valores da esperança de vida ao nascer de mulheres e de homens latino-americanos. No quinquênio 195-55 a esperança de vida ao nascer na Argentina era de 6,4 anos para os homens e 65,1 anos para as mulheres (diferença de 4,7 anos), enquanto no Brasil era de 49,3 anos para os homens e 52,8 anos para as mulheres (diferença de 3,5 anos). No quinquênio 21-15 houve uma convergência entre os dois países, com a esperança de vida ao nascer na Argentina, para ambos os sexos, chegando a 76,2 anos e no Brasil a 73,8 com uma diferença entre homens e mulheres de 7,3 anos, para ambos os países (Gráfico 3). Gráfico 3. Argentina e Brasil - esperança de vida ao nascer (Eo linhas cheias) e taxas de mortalidade infantil (TMI linhas pontilhadas) (cada mil nascidos vivos) por sexo e períodos quinquenais (195-215). 9 16 Esperança de vida ao nascer (anos) 8 7 6 5 4 3 2 1 195-1955 1955-196 196-1965 1965-197 197-1975 1975-198 198-1985 1985-199 199-1995 1995-2 2-25 25-21 21-215 14 12 1 8 6 4 2 Taxas de mortalidade infantil (por mil) Argentina (M) Argentina (H) Brasil (M) Brasil (H) Argentina (M) Argentina (H) Brasil (M) Brasil (H) Fonte: World Population Prospects: The 212 Revision, http://esa.un.org/unpd/wpp/index.htm. O Gráfico 4 permite observar os excedentes entre homens e mulheres para cada grupo etário quinquenal. Além dos dados de Argentina e Brasil, foram acrescentados dados da China, país cuja composição da população contrasta bastante com a da população latino americana, já que possui um importante superávit de homens, além de uma uma razão de sexo ao nascer de 116 meninos para cada 1 meninas (2/215) (Fonte: World Population Prospects: the 212 revision). 8

A China apresenta um significativo excedente de homens já nos primeiros grupos etários, fato devido a práticas culturais que incluem a preferência por filhos do sexo masculino e o infanticídio de filhas indesejadas. Esse excedente masculino diminui um pouco com o avançar da idade, devido à sobremortalidade masculina, mas só se inverte para um excedente feminino após o grupo com 7-75 anos de idade, em proporções bastante elevadas, fato que contrasta com os excedentes femininos notados no Brasil e na Argentina. Na Argentina o excedente de homens é bem menor nos primeiros grupos etários e só se inverte após os 35 anos, quando passa a haver um excedente de mulheres. O Brasil apresenta uma distribuição parecida com a da Argentina, mas o excedente feminino aparece mais precocemente, a partir dos 25 anos. Na faixa etária entre 25 e 64 anos, o superávit feminino é maior no Brasil, porém, a partir dos 65 anos o superávit feminino na Argentina é bem maior, fato que demonstra a maior longevidade das mulheres argentinas (Gráfico 4). Gráfico 4. Argentina, Brasil e China - superávit de homens (à esquerda) e de mulheres (à direita) (%), por grupos etários (21). 1+ 95-99 9-94 85-89 8-84 75-79 7-74 65-69 6-64 55-59 5-54 45-49 4-44 35-39 3-34 25-29 2-24 15-19 1-14 5-9 -4 15 1 5 5 1 15 2 25 3 35 4 45 5 55 Percentagem do excedente por sexo sobre o total do grupo etário Fonte: World Population Prospects: The 212 Revision, http://esa,un,org/unpd/wpp/index,htm. A sobremortalidade de homens jovens e adultos tende a representar um grande impacto nas famílias. Um desequilíbrio entre homens e mulheres no mercado de casamentos pode levar a uma situação de compressão do mercado matrimonial (marriage sequeezes) que influi na quantidade e no tipo das uniões (Greene e Rao, 1995), além de acirrar o fenômeno da chamada 'pirâmide da solidão', com um grande volume de mulheres vivendo sozinhas nas idades mais avançadas. A mortalidade juvenil masculina deve ser considerada um problema crônico, em razão da quantidade e da regularidade de vidas precocemente interrompidas por causas violentas na América Latina (Vieira e Aidar, 214). Para além das tragédias pessoais e familiares que essas mortes representam, a vitimização de significativos volumes de homens jovens por causas violentas constitui um grave problema econômico, ao influir nas condições de desenvolvimento das sociedades, representando um elevado custo monetário, além dos mencionados custos em termos de bem estar social e de expectativa de vida ao nascer (Cerqueira e Moura, 213). 9 China Brasil Argentina 6 65 7

Evidentemente a migração internacional poderia ter uma contribuição na formação do excedente feminino na ALC, desde que houvesse uma seletividade no processo migratório, com uma saída mais acentuada de homens. Mas segundo a dados da Divisão de População das Nações Unidas, esse fato não ocorre, pois o percentual de mulheres migrantes no total dos migrantes internacionais da ALC variou de 49,7% a 5,1%, entre 199 e 21. De acordo com Canales (29), por volta do ano 2, havia 19,2 milhões de latinoamericanos residindo em um país fora da ALC, enquanto havia 2 milhões de imigrantes vindos de países fora da ALC. Os principais destinos da emigração da ALC são os Estados Unidos da América (EUA) e a Espanha. Para o primeiro país predomina uma imigração latinoamericana masculina e para o segundo predomina uma imigração feminina. Embora não se tenham estatísticas completas da emigração latinoamericana, a situação varia conforme os países de origem e de destino, mas existe um certo equilíbrio na razão de sexo da migração da ALC. A principal explicação para a inflexão precoce na razão de sexo da ALC estaria, portanto, na sobremortalidade masculina, notada já na taxa de mortalidade infantil e nos diferenciais da esperança de vida ao nascer. Os diferenciais na mortalidade, por sexo, se acentuam enormente nas idades entre 15 e 39 anos, devido principalmente às causas violentas. Tal fato motivou a análise descritiva dos dados e indicadores da mortalidade violenta - por sexo, grupos de idades e grupos de causas - no Brasil e na Argentina. São analisados também a evolução da esperança de vida e dos anos vida perdidos por óbitos violentos - por sexo, grupos de idade e grupos de causas - como indicadores do impacto desse tipo de mortalidade na composição da população argentina e brasileira (21/29). Materiais e métodos A análise detalhada da violência encontra limites nas bases de dados disponíveis, que dizem respeito, sobretudo, às fatalidades. No entanto, os dados disponíveis podem fornecer indicativos capazes de auxiliar na identificação das principais tendências e dos grupos populacionais sob mais elevados riscos de vitimização (Yunes, 21). Vários índices são habitualmente utilizados para o cálculo da mortalidade, pois cada um deles pode medir aspectos específicos do mesmo fenômeno. Nesse artigo são utilizadas taxas brutas de mortalidade (TBM) 1 por causas violentas e grupos de causas, padronizadas pelo método direto, para a população total e por sexo (21/29), assim como taxas específicas de mortalidade (TEM) 11, calculadas por grupos de causas, grupos quinquenais de idade e sexo (21 e 29), para Brasil e Argentina. As bases de dados utilizadas são os registros oficiais de óbitos disponibilizados pelo SIM/MS (Brasil) e pela PAHO (Argentina), ambos classificados segundo a décima revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-1). As causas violentas de mortalidade e os 1 As taxas brutas de mortalidade (TBM) podem ser calculadas pela mortalidade total ou por grupos de causas, no entanto, a composição por idade da população tende a ter efeitos no resultado final, o que compromete a comparação entre populações com estruturas etárias diferentes. Nesses casos, recomenda-se a utilização de algum método de padronização, no sentido de eliminar os efeitos da composição etária das populações comparadas. As taxas brutas padronizadas indicam em qual população o nível de mortalidade pelas causas mensuradas é maior, não indicando, porém, os reais níveis de mortalidade (Arriaga,1996). 11 As taxas específicas de mortalidade (TEM) são calculadas por grupos de idade e por isso não são afetadas pela composição etária da população, desde que os grupos etários não abarquem muitas idades. A comparação entre taxas específicas de mortalidade por idade permite inferir em qual população é mais alto o nível de mortalidade, para cada grupo etário, e freqüentemente são calculadas por cada 1. pessoas (Arriaga,1996). 1

grupos de causas - homicídios, acidentes de transporte e suicídios - foram classificados por capítulos, em acordo com o conteúdo do Diagrama 1. Diagrama 1. Sub-grupos de causas violentas de mortalidade segundo categorias CID-1. Fonte: DATASUS/MS. Quanto à cobertura e qualidade dos registros sobre a mortalidade violenta no Brasil, considera-se uma tendência de melhoria, especialmente a partir dos anos 2 e nas regiões onde havia, em décadas anteriores, maiores problemas (Paes, 25), embora haja evidências de que uma parcela significativa dos homicídios, em algumas localidades (como o município do Rio de Janeiro), tenha sido classificada como 'óbitos cuja intenção é indeterminada' (Cerqueira, 212). Apesar dos prováveis problemas de registro e de classificação dos óbitos que persistem no Brasil, considera-se sua utilidade e relativa confiabilidade na observação das principais tendências da mortalidade violenta no período avaliado (21/29), sendo considerado o mesmo para o caso do registro de óbitos violentos na Argentina. Os dados sobre o volume e a composição da população são disponibilizados pela Fundação IBGE (Censos Demográficos 2 e 21), pelo INDEC (Censos Demográficos 21 e 21) e ESA/ONU, sendo que os volumes de população utilizados para o calculo de taxas nos períodos intercensitários foram estimados por interpolação. Os impactos da mortalidade violenta na dinâmica demográfica do Brasil e da Argentina foram mensurados através dos indicadores 'esperança de vida ao nascer', 'anos de vida perdidos' (AVP) 12 por óbitos violentos, e 'taxas de variação dos AVP' por óbitos violentos (21 e 29). OBS: alguns dos gráficos que compõem esse artigo são apresentados em escalas diferentes, para Brasil e Argentina, para uma melhor visualização dos dados. Resultados e discussão Causas violentas = Suicídios Acidentes de transporte Homicídios + + X85 a Y9 / X6 a X84 V1 a V99 Y35 e Y36 Os volumes de óbitos violentos por grupos de causas e sua evolução entre os anos 21 e 29, para Brasil e Argentina, podem ser visualizados no Gráficos 5. Em primeiro lugar, notase o diferencial do volume de óbitos violentos entre os dois países, por um lado pelas dimensões diferentes de cada população, e por outro lado, como veremos mais adiante, pelo diferencial das taxas de óbitos violentos registradas nos dois países. 12 A diferença entre as esperanças de vida ao nascer e a esperança de vida sem contabilizar os óbitos violentos representa - em anos-pessoa - o benefício médio que uma população receberia caso não ocorresse esse tipo específico de mortalidade (Arriaga, 1996). 11

No Brasil, o maior volume de mortes violentas é devido aos homicídios 13, mantendo-se os acidentes de transporte e os suicídios em segundo e terceiro planos, respectivamente. Já na Argentina, o volume de óbitos violentos é composto principalmente pelos acidentes de transporte, pelos suicídios e, depois, pelos homicídios, configurando-se composições diferenciadas da mortalidade violenta entre os dois países analisados. É interessante notar que a causa de morte violenta que menos mata no Brasil, e portanto, chama menos a atenção (o suicídio), é responsável por um volume anual de óbitos maior do que o volume causado pelos acidentes de transporte, a causa violenta pela qual mais se morre na Argentina. Gráfico 5. Brasil e Argentina - volume de óbitos violentos por ano e por grupos de causas (21/29). 6, 5, 21 22 4, 23 3, 2, 1, 24 25 26 27 Ac. Transp. Homicídios Suicídios Ac. Transp. Homicídios Suicídios Brasil Argentina 28 29 Fonte: DATASUS/MS e PAHO/WHO. No Brasil, houve um aumento significativo dos óbitos por causas violentas, passando de quase 87 mil em 21 para quase 1 mil em 29, mantendo-se o homicídio como a principal causa. No período (21/29), o volume de óbitos violentos cresceu a um ritmo de 1,8 (% a.a.), enquanto que o volume de homicídios cresceu a 1, (% a.a.), os suicídios cresceram a 2,4 (% a.a.) e os óbitos por acidentes de transporte cresceram a 2,7 (% a.a.) (Fonte: SIM/DATASUS). Na Argentina, os óbitos violentos diminuíram no mesmo período (21/29), sendo que o volume registrado no ano de 29 (9.23 óbitos) foi menor do que o volume registrado no ano de 21 (9.738 óbitos), representando uma taxa de decrescimento de -,9 (% a.a.). Dentre as causas de morte violenta na Argentina, a que mais decresceu foi o homicídio (-4,9% a.a.), o suicídio decresceu um poucoo menos (-1,% a.a.) e os óbitos por acidentes de transporte aumentaram (1,% a.a.) (21/29) (Fonte: PAHO/WHO). No Brasil, o homicídio seguee como a principal causa de morte violenta, seu registro passou por um aumento no início do período (21/23), oscilou no meio (24/26) e voltou a registrar alta no final (27/29). Já as outras causas de óbito violento (acidentes de transporte e suicídios) mostram uma tendência mais clara de elevação no registro, com 13 Vários estudos mencionam o excepcional volume de homens assassinados no Brasil, durante as últimas décadas. Em acordo com Alves e Correa (21), por exemplo, entre os anos 2 e 27, 355.612 homens foram vítimas de homicídio no Brasil, correspondendo a uma média de 13 homens mortos por dia, ou 11 homens mortos por hora. 12

exceção de uma leve queda no final do período (28/29) no caso particular dos acidentes de transporte (Gráfico 5). Na Argentina, o volume de óbitos por acidentes de transporte apresentou uma leva queda no início do período (21/22) e um crescimento persistente entre 22 e 29, firmando-se como a principal causa de óbito violento. O homicídio apresentou uma elevação no seu registro entre os anos 21 e 22 e uma queda persistente entre 22 e 29, mantendo-se como a causa de morte violenta menos intensa. Já o registro de suicídios manteve uma relativa estabilidade no período, estabilizando-se como a segunda causa de morte violenta na Argentina (Gráfico 5). A mortalidade violenta, tanto no Brasil quanto Argentina, tem vitimizado sobretudo homens, fato ilustrado pelas elevadas razões de sexo dos óbitos violentos, mensurada através da razão entre óbitos masculinos e femininos, sendo que: valores maiores que 1 indicam predominância de óbitos masculinos; valores menores que 1 indicam predominância de óbitos femininos e; valores iguais a 1 representam uma equivalência entre o volume de homens e de mulheres. Nos dois casos estudados, se destacaram as razões de sexo dos homicídios, que alcançaram valores significativos (mais de doze no Brasil no ano de 23 e próximo a sete na Argentina no ano de 22). Os outros grupos de causas apresentaram razões de sexo sempre maiores que três, durante todo o período, fato que demonstra a sobremortalidade masculina por óbitos violentos, mais intensa no Brasil. No caso da Argentina, vale notar que justamente nos anos que ocorreram maiores volumes de homicídio (21, 22 e 23) foram os anos de mais elevadas razões de sexo dessa causa específica de morte, fato que reforça a percepção do homicídio como a causa de morte violenta com maiores disparidades por sexo (21/29) (Gráfico 6). Gráfico 6. Brasil e Argentina -razão de sexo dos óbitos violentos por ano e grupos de causas (21/29). 13 12 11 1 9 8 7 6 5 4 3 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Óbtios mascuinos / Óbitos femininos Ar Ac. trânsito Ar Homicídios Ar Suicídios Br Ac. de transporte Br Homicídios Br Suicídios Fonte: PAHO/WHO e DATASUS/MS. No que diz respeito às taxas brutas padronizadas de mortalidade violenta - para ambos os sexos - pode-se notar os mais elevados valores para a população brasileira em relação à população argentina, para todos os grupos de causa, com exceção do suicídio, mais elevado no caso da população argentina (Gráfico 7). 13

TBM -para cada mil habitantes 3 25 2 15 1 5 Gráfico 7. Brasil e Argentina -taxas brutas de mortalidade por causas violentas -ambos os sexos -por ano e grupos de causas (21/29). 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Br Ac. Transp. Br Suicídios Br Homicídios Ar Ac. Transp. Ar Suicídios Ar Homicídios Fonte: DATASUS/MS; PAHO/WHO; Censos Demográficos IBGE (2 e 21) e INDEC (21/21). Mensurando as TBM por causas violentas por sexo, nota-se como as taxas da população total são influenciadas pelas taxas da população masculina, vista a semelhança entre o formato das curvas, para cada grupo de causas, com diferença marcante, porém, no que diz respeito aos níveis, bem mais elevados para os homens do que para a população total, tanto na Argentina quanto no Brasil (Gráficos 7 e 8). TBM -para cada mil habitantes 6 5 4 3 2 1 21 Gráfico 8. Brasil e Argentina -taxas brutas de mortalidade masculina por causas violentas por ano e grupos de causas (21/29). 22 23 24 25 26 27 28 29 Br Ac. Transp. Br Suicídios Br Homicídios Ar Ac. Transp. Ar Suicídios Ar Homicídios Fonte: DATASUS/MS; PAHO/WHO; Censos Demográficos IBGE (2 e 21) e INDEC (21/21). No caso masculino brasileiro, as TBM por homicídio se mantiveram em elevadíssimos níveis. Embora suas taxas tenham oscilado, com crescimento entre 21 e 23, apresentaram uma leve queda entre 23 e 27, e voltaram a subir no final do período (27/29), alcançando um valor no ano de 29 próximo ao valor observado no ano de 21 (5,1 e 49,5 homicídios para cada 1 mil habitantes, em 21 e 29, respectivamente). As TBM por acidentes de transporte também se mostraram em níveis elevados para os homens brasileiros, com 14

crescimento persistente entre 21 e 27 e uma leve queda entre 27 e 29, mantendo-se, porém, em níveis elevados (32,7 óbitos para cada 1 mil habitantes em 29). Já as TBM por suicídio se mostraram praticamente estáveis, chegando ao final do período em um nível levemente superior ao registrado no início do período, sendo 7,6 e 7,8 óbitos para cada 1 mil habitantes, em 21 e 29, respectivamente (Gráfico 8). Com relação à mortalidade violenta da população masculina da Argentina, o destaque fica para as TBM por acidentes de transporte. Embora seu registro seja bem menos intenso do que no caso brasileiro, suas taxas superam as TBM por homicídio e por suicídio. As TBM por acidentes de transporte registraram oscilação no período, com queda entre os anos 21 e 24 e aumento entre os anos 25 e 28, chegando em 29 em um nível equivalente ao registrado no início do período, sendo 17,8 e 17,7 para os anos 21 e 29, respectivamente. Já as TBM por suicídio, segundo grupo de causas de morte violenta entre homens na Argentina, apesar das oscilações, apresentou queda no período, chegando a 29 em um nível inferior ao registrado em 21, sendo 13,3 e 11,5 óbitos por cada 1 mil habitantes, em 21 e 29, respectivamente (Gráfico 8). No que diz respeito às TBM por óbitos violentos da população feminina brasileira, apesar das oscilações, nota-se uma tendência de crescimento no período entre 21 e 28, para todas as causas, principalmente para as TBM por acidentes de transporte, mais elevadas em relação às TBM por homicídio e por suicídio. Já no final do período (28/29), nota-se uma leve queda nas TBM por acidentes de transporte e por suicídio, sendo que a TBM por homicídio aumentou, mantendo-se os acidentes de transporte como a principal causa de morte violenta entre as mulheres brasileiras. Interessante notar que, apesar das oscilações, as TBM por acidentes de transporte e por suicídio chegaram ao final do período em níveis levemente superiores àqueles registrados no início do período, enquanto que o homicídio registrou taxas equivalentes em 21 e 29 (Gráfico 9). TBM -para cada mil habitantes 8 7 6 5 4 3 2 1 Gráfico 9. Brasil e Argentina -taxas brutas de mortalidade feminina por causas violentas por ano e grupos de causas (21/29). 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Br Ac. Transp. Br Suicídios Br Homicídios Ar Ac. Transp. Ar Suicídios Ar Homicídios Fonte: DATASUS/MS; PAHO/WHO; Censos Demográficos IBGE (2 e 21) e INDEC (21/21). Quanto à mortalidade por causas violentas da população feminina da Argentina, nota-se um decrescimento persistente das TBM por homicídio e por suicídio no período, ao passo que as TBM por acidentes de transporte, após uma série de oscilações, chega ao final do período em um nível inferior àquele registrado no início do período (5,2 e 4,7 óbitos para cada 1 mil 15

habitantes, em 21 e 29, respectivamente), mantendo-se como a principal causa de morte violenta entre mulheres argentinas, seguida pelo suicídio e pelo homicídio, cujas taxas registradas foram de 2,8 e 1,2 para cada 1 mil habitantes em 29, respectivamente (Gráfico 9). Através da comparação entre as TBM por óbitos violentos - por ano, sexo e grupos de causas - para Brasil e Argentina (21/29), notam-se: mais intensa mortalidade no Brasil em relação à Argentina; mais intensa mortalidade de homens em relação às mulheres (ambos os países); além da diferenciação da composição da mortalidade violenta, sendo predominantes os homicídios no caso dos homens brasileiros, e predominantes os acidentes de transportes nos demais casos (homens e mulheres na Argentinas e mulheres no Brasil), com o suicídio sendo a segunda causas de morte violenta para homens e mulheres da Argentina e o homicídio no caso das mulheres brasileiras. O homicídio aparece como a última causa de morte violenta na Argentina (ambos os sexos) enquanto que no Brasil é suicídio que ocupa esse posto, também para ambos os sexos. A essa análise mais geral, possibilitada pelas TBM, acrescenta-se uma avaliação à partir das taxas específicas de mortalidade (TEM), por sexo, grupos quinquenais de idade e grupos de causas, para Brasil e Argentina (21 e 29). As taxas específicas de mortalidade (TEM) da população masculina brasileira (21 e 29) revelam que os óbitos violentos têm início já em elevada intensidade a partir do grupo etário de 15 a 19 anos, sobretudo por homicídio, com pico no grupo etário de 2 a 24 anos. As TEM por causas violentas dos homens com idade entre 2 e 24 anos chegaram a 174,3 (para cada 1 mil habitantes) no ano de 21 e a 187,3 (por cada 1 mil habitantes) em 29, demonstrando significativo crescimento entre o início e o final do período (Gráficos 1 e 11). TEM -para cada 1 mil habitantes 2 18 16 14 12 1 8 6 4 2 Gráfico 1. Brasil -taxas específicas de mortalidade masculina por grupos de idade e grupos de causas (21). -4 5-9 1-14 15-19 2-24 25-29 3-34 35-39 4-44 45-49 5-54 55-59 6-64 65-69 7-74 75-79 Óbitos violentos Acid. Transp. Suicídios Homicídios Fonte: DATASUS/MS e Censos Demográficos - IBGE (2 e 21). 16

TEM -para cada 1 mil habitantes 2 18 16 14 12 1 8 6 4 2 Gráfico 11. Brasil -taxas específicas de mortalidade masculina por grupos de idade e grupos e causas (29). -4 5-9 1-14 15-19 2-24 25-29 3-34 35-39 4-44 45-49 5-54 55-59 6-64 65-69 7-74 75-79 Óbitos violentos Acid. Transp. Suicídios Homicídios Fonte: DATASUS/MS e Censos Demográficos - IBGE (2 e 21). Depois do pico das TEM da população masculina brasileira (2 a 24 anos), os valores tendem a um decréscimo em direção às idades mais avançadas, mantendo-se em taxas elevadas, até registrarem um novo aumento a partir dos grupos com 65-69 anos (21) e 6-64 anos (29), devido à elevação dos óbitos por acidentes de transporte. Entre os dois anos analisados (21 e 29) a estrutura por idade e por grupos de causas da mortalidade violenta masculina no Brasil não se alterou substancialmente, apesar das TEM por acidentes transporte demonstrarem um crescimento mais acentuado, especialmente para os grupos etários jovens (15-29 anos), em relação aos suicídios e homicídios, que se mantiveram em taxas relativamente estáveis (Gráficos 1 e 11). As TEM da população feminina brasileira revelam uma mortalidade violenta mais acentuada entre mulheres idosas, em relação aos outros grupos etários, sobretudo por acidentes de transporte, tanto em 21 quanto em 29, apesar dos óbitos violentos entre mulheres jovens (15-29 anos) representarem um volume mais expressivo. Nota-se, entretanto, entre 21 e 29, um acréscimo na incidência de óbitos violentos entre mulheres jovens, especificamente nas idades entre 2 e 29 anos, grupos etários que experimentam as maiores taxas de homicídio entre as mulheres e que registraram elevação nas TEM por acidentes de transporte no período (21/29) (Gráficos 12 e 13). Os Gráficos 14 e 15 revelam que as TEM por causas violentas se apresentaram relativamente elevadas para a população juvenil masculina na Argentina, sobretudo nas idades entre 15 e 29 anos, especialmente devido aos acidentes de transporte (21 e 29) e aos homicídios (21). Depois da elevação das taxas para os grupos jovens, as TEM tendem a decrescer até os grupos etários de 4-44 anos (21) e de 35-39 anos (29), para depois aumentarem de novo em direção aos grupos mais idosos, sobretudo por causa dos suicídios (21) e dos acidentes de transporte (29). Apesar das TEM por causas violentas da população masculina da Argentina apresentarem um comportamento até certo ponto parecido, em 21 e 29, nota-se que as taxas para 29 são mais baixas para todos grupos etários, fato que confirma a queda na incidência da mortalidade violenta masculina na Argentina no período (21/29), sobretudo por causa das quedas nas TEM por homicídio. No ano de 21 observam-se TEM por suicídio relativamente elevadas 17

entre os grupos etários mais idosos, fato não observado com tanta intensidade no ano de 29. No entanto, no ano de 29, nota-se uma elevação das TEM por acidentes de transporte, principalmente entre homens jovens e adultos jovens (15-34 anos), mantendo-se elevadas também entre homens idosos (6-79 anos) (Gráficos 14 e 15). TEM -para cada 1 mil habitantes 3 25 2 15 1 5 Gráfico 12. Brasil -taxas específicas de mortalidade feminina por grupos de idade e grupos de causas (21). -4 5-9 1-14 15-19 2-24 25-29 3-34 35-39 4-44 45-49 5-54 55-59 6-64 65-69 7-74 75-79 Óbitos violentos Acid. Transp. Suicídios Homicídios Fonte: DATASUS/MS e Censos Demográficos - IBGE (2 e 21). TEM -para cada 1 mil habitantes 3 25 2 15 1 5 Gráfico 13. Brasil -taxas específicas de mortalidade feminina por grupos de idade e grupos de causas (29). -4 5-9 1-14 15-19 2-24 25-29 3-34 35-39 4-44 45-49 5-54 55-59 6-64 65-69 7-74 75-79 Óbitos violentos Acid. Transp. Suicídios Homicídios Fonte: DATASUS/MS e Censos Demográficos - IBGE (2 e 21). 18

TEM -para cada 1 mil habitantes 1 9 8 7 6 5 4 3 2 1 Gráfico 14. Argentina -taxas específicas de mortalidade masculina por grupos de idade e grupos de causas (21). -4 5-9 1-14 15-19 2-24 25-29 3-34 35-39 4-44 45-49 5-54 55-59 6-64 65-69 7-74 75-79 Óbitos violentos Acid. Transp. Suicídios Homicídios Fonte: PAHO/WHO e Censos Demográficos - INDEC (21/21). TEM -para cada 1 mil habitantes 1 9 8 7 6 5 4 3 2 1 Gráfico 15. Argentina -taxas específicas de mortalidade masculina por grupos de idade e grupos de causas (29). -4 5-9 1-14 15-19 2-24 25-29 3-34 35-39 4-44 45-49 5-54 55-59 6-64 65-69 7-74 75-79 Óbitos violentos Acid. Transp. Suicídios Homicídios Fonte: PAHO/WHO e Censos Demográficos - INDEC (21/21). Com relação à população feminina da Argentina nota-se que as TEM por causas violentas são mais influenciadas pelos acidentes de transporte e pelos suicídios, como causas principais de morte violenta, sendo o homicídio uma causa menos intensa de óbito, tanto em 21 quanto em 29. No ano de 21 as TEM por causas violentas das mulheres argentinas não se concentraram entre os grupos jovens, pois se apresentaram relativamente elevadas entre grupos etários maduros (5-54, 6-64 e 75-79 anos), além do grupo com idades entre 15 e 19 anos, grupo etário cujas taxas são relativamente 'moderadas'. Pela própria composição da população argentina (o grupo das mulheres jovens é mais volumoso que o grupo das mulheres idosas), as moderadas TEM da população jovem representam maiores volumes de óbitos femininos, em relação ao volume de óbitos de mulheres idosas. No ano de 29, as TEM também não se concentraram entre mulheres jovens (15 a 24 anos), pois se apresentaram 19

elevadas também entre mulheres idosas (7 a 79 anos), porém, em patamares menos elevados do que os observados em 21, para todos os grupos de idade (Gráficos 16 e 17). TEM -para cada 1 mil habitantes 2 15 1 5 Gráfico 16. Argentina -taxas específicas de mortalidade feminina por grupos de idade e grupos de causas (21). -4 5-9 1-14 15-19 2-24 25-29 3-34 35-39 4-44 45-49 5-54 55-59 6-64 65-69 7-74 75-79 Óbitos violentos Acid. Transp. Suicídios Homicídios Fonte: PAHO/WHO e Censos Demográficos - INDEC (21/21). TEM -para cada 1 mil habitantes 2 15 1 5 Gráfico 17. Argentina -taxas específicas de mortalidade feminina por grupos de idade e grupos de causa (29). -4 5-9 1-14 15-19 2-24 25-29 3-34 35-39 4-44 45-49 5-54 55-59 6-64 65-69 7-74 75-79 Óbitos violentos Acid. Transp. Suicídios Homicídios Fonte: PAHO/WHO e Censos Demográficos - INDEC (21/21). Pode-se dizer que a análise das TBM padronizadas e das TEM por causas violentas da população, por sexo, no Brasil e na Argentina (21/29), em linhas gerais revelam: 1) a maior incidência da mortalidade violenta no Brasil em relação à Argentina; 2) a maior incidência da mortalidade violenta entre homens, nos dois países; 3) o maior volume de óbitos de jovens, para ambos os sexos e países, pois, mesmo que as TEM da população jovem não sejam as mais elevadas (como nos casos da população feminina e masculina da Argentina em 21), pela própria composição da população, representam maiores volumes de óbitos; 4) predominância de óbitos masculinos em todos os sub-grupos de causas, sendo as razões de sexo dos homicídios significativamente mais elevadas, sobretudo no Brasil; 5) tendência de 2

aumento da mortalidade violenta no Brasil e de decrescimento na Argentina, para ambos os sexos (21/29); 6) concentração da mortalidade violenta nos segmentos juvenis e masculinos, sobretudo entre as idades de 2 a 24 anos, mantendo-se o homicídio como a principal causa no Brasil e os acidentes de transporte como a principal causa na Argentina; 7) a concentração do volume de óbitos femininos por causas violentas nos segmentos juvenis, embora apresente TEM relativamente elevadas para o segmento idoso feminino, mantendo-se os acidentes de transportes como a principal causa e 8) até a causa de morte violenta menos intensa, e também menos comentada, no Brasil, representa hoje um volume significativo de óbitos, mais expressivo que o volume de óbitos por acidentes de transporte, a causa de morte violenta da qual mais se morre na Argentina. Feitas essas considerações e, sobretudo pela concentração da mortalidade violenta entre homens jovens no Brasil, esperam-se impactos mais significativos desse tipo de mortalidade na esperança de vida da população brasileira, embora sejam esperados impactos também, em menor intensidade, na Argentina. O diferencial entre a esperança de vida ao nascer, considerando todos os óbitos registrados, e a esperança de vida ao nascer, sem que sejam considerados os óbitos violentos, permite uma primeira aproximação em relação aos impactos distintos da mortalidade violenta na população de Brasil e Argentina, por sexo, em anos de vida perdidos (AVP) 14 (21 e 29). Com era de se esperar, a população masculina brasileira apresentou os maiores valores em AVP por causas violentas, tanto em 21 (1,87) quanto em 29 (1,95). Já a população masculina argentina apresentou AVP por causas violentas em valores inferiores:,9 e,79 respectivamente, em 21 e 29. Para a população feminina brasileira, foram registrados,29 (21) e,3 (29) AVP, mais elevados do que os observados para a população feminina da Argentina, que apresentou,24 (21) e,21 (29) AVP (Tabela 1). Tabela 1. Brasil e Argentina - esperança de vida ao nascer (e), esperança de vida sem óbitos violentos (e sem O.V.) e anos de vida perdidos (AVP - anos-pessoa) por causas violentas, por ano e sexo (21/29). Brasil Argentina Homens Mulheres Homens Mulheres Ano e e sem O.V. AVP 21 64,92 66,79 1,87 29 65,99 67,94 1,95 21 69,44 69,72,29 29 7,17 7,47,3 21 66,54 67,44,9 29 67,59 68,39,79 21 7,23 7,47,24 29 7,53 7,74,21 Fonte: SIM/DATASUS; PAHO/WHO; Censos Demográfios IBGE (2/21) e INEC (21/21). Os óbitos por causas violentas têm acarretado maiores perdas (em anos/pessoa) para a população brasileira, especialmente para os homens, sendo verficada uma tendência de aumento dessas perdas para ambos os sexos no período. No caso argentino foram também registrados maiores valores em AVP por causas violentas para os homens, embora em menor intensidade, e uma tendência de decrescimento das perdas para ambos os sexos (21/29). 14 O índice anos de vida perdidos (AVP) representa o valor em 'anos' que cada pessoa sobrevivente, em média, teria em ganho (na esperança de vida) caso essas mortes por causas violentas não acontecessem. 21