CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E AMBIENTE NA FORMAÇÃO INICIAL DE ALUNOS DE LICENCIATUIRA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICA

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Transcrição:

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E AMBIENTE NA FORMAÇÃO INICIAL DE ALUNOS DE LICENCIATUIRA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICA Araújo, M. I. miaraujo@usp.br Universidade Federal de Sergipe Cantiello, A.C. cantiell@uol.com.br Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Resumo A pesquisa teve como finalidade verificar a concepção de educação ambiental (EA) e a correlação com a concepção de ambiente de futuros professores de Biologia. Setenta e três alunos do último ano do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas responderam um questionário, que abordou os conceitos de ambiente, educação ambiental, sustentabilidade e interdisciplinaridade. Dezenove alunos apresentaram a visão preservacionista, quarenta a visão sócio-naturalista, nove a visão tomada o ambiente com fenômenos complexos, quatro a visão disciplinar e um aluno não apresentou concepção. Os dados mostram a não correlação biunívoca entre a concepção de educação ambiental e ambiente e aponta a necessidade de inserção da concepção de educação para um ambiente com fenômenos complexos, que vise a transformação social, na formação inicial. INTRODUÇÃO No âmbito da educação escolar, a educação ambiental ainda não se elevou a um patamar no qual diferentes autores reconheçam princípios ou critérios claros a partir dos quais pudessem ser estabelecidos projetos de implementação de uma prática de ensino consensual. Mauro Grün (1996) argumenta sobre a inexistência de linhas teóricas claramente definidas que possam subsidiar a reflexão necessária sobre a educação ambiental, capazes de buscar elementos para pensar a dimensão ética e complexa presente nas relações ambientais, sejam elas políticas, sociais ou ecológicas. Esta forma de pensar a educação em contexto escolar exige mudança no pensamento dos professores. A educação ambiental deve ser compreendida como processo educativo, que deve considerar o ambiente como uma rede de relações. Vários autores argumentam que a forma como a educação ambiental é compreendida está sempre associada à visão de mundo, à concepção de ambiente, à história de vida, aos princípios e valores que fundamentam o comportamento social de onde a educação ambiental está sendo introduzida. Desta forma, a percepção que o sujeito/agente da ação educativa tem a respeito do ambiente, geralmente, revela a sua concepção de educação ambiental. Na realidade, pensar educação ambiental é, em outras palavras, inserir no processo educativo a dimensão ambiental, pois, por um lado, se a dimensão dada ao ambiente é sinônimo de ecossistema, espera-se que a educação ambiental seja compreendida com a finalidade implícita de preservar os bens naturais. Por outro lado, se o ambiente é entendido em sua complexidade, a educação ambiental passa a ser um processo de transformação de mentalidade social que visa à qualidade de vida, uma compreensão do mundo que resgate valores éticos, morais e humanistas, sem excluir a conservação dos bens naturais. Segundo Aramburu Ordozgoiti (2000), o meio passa a ser considerado meio ambiente quando se toma consciência das relações de interdependência que existem entre o homem e os componentes biofísicos, econômicos, sociais e culturais e da fragilidade dos equilíbrios surgidos destas 1 de 6

inter-relações. Desta forma, o homem deixa de olhar o ambiente com neutralidade e passa a considerá-lo como algo vivido, pensado e ativo. Acreditando que as concepções sobre educação ambiental possam estar associadas ao conceito de ambiente, o trabalho teve como finalidade investigar a concepção que os alunos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e da Universidade de São Paulo (USP) têm sobre educação ambiental e cotejá-la às suas concepções de ambiente. Sobre os conceitos envolvidos Como ecossistema o ambiente é compreendido como espaço natural, ou seja, físicobiológico. A concepção do ambiente como sendo o ecossistema com o elemento humano nele inserido acrescenta a dimensão sociocultural ao conceito naturalista. Esta concepção pode ser apresentada como ambiente natural e humano. O Plano das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) o define como sistema físico e biológico em cujo seio vivem o homem e os outros organismos (Aramburu Ordozgoiti, 2000). A concepção de ambiente político ou tomado como fenômeno complexo tem sido definida como um movimento dinâmico de interação entre diferentes componentes naturais e socioculturais, em sua dimensão histórica. Por exemplo, Marcos Reigota o define como o lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído (REIGOTA. 1995). Para analisarmos as concepções dos alunos sobre educação ambiental, buscamos na literatura as principais maneiras pelas quais a educação ambiental é entendida, como, por exemplo: Marcos Sorrentino propõe quatro correntes conservacionista, educação ao ar livre, gestão ambiental e economia ecológica (Sorrentino, 1995). Eliane Simões (apud Mello, 2000) classifica a educação ambiental em três grupos: conservacionista, discursos ambientais e ecologia política. Mello (2000) propõe uma tipologia que agrega as características e relações dos agrupamentos encontradas em diversos trabalhos em três grupos: conservador, ecologia social e ecologia política. Corcoran e Sievers (1996) (re)classificam a educação ambiental por meio de cinco conceitos: ecologia profunda, conservação biológica, biorregionalismo, ecologia feminina e crítico-social. Partindo do quadro apresentado, buscamos sintetizar as correspondências entre a teorização utilizada, elegendo três categorias: conservacionista, sócio-naturalista e crítico-social. A visão conservacionista é a mais antiga. Surgiu com o movimento ambientalista e enfatiza a relação ser humano ambiente e busca alertar para o perigo de extinção dos bens naturais, necessários à nossa existência e das gerações futuras. Propõe ações que visem à preservação do bem natural comum a todos os habitantes do planeta. A visão sócio-naturalista compartilha os princípios do ambientalismo, mas acrescentalhe o ser humano inserido no ambiente e responsável por seu destino. Propõe ações que visam à conservação dos bens naturais por meio da relação ser humano ambiente, enfatizando os aspectos ecológicos e sociais. Desta forma, a prática educativa vislumbra o entendimento das questões e problemas ecológicos e sociais, apontando para a necessidade de uma mudança na relação ser humano ambiente. A visão crítico-social aborda relações ecológicas, sociais, culturais, políticas e econômicas. Essa visão pressupõe ações sob enfoque político que visem à transformação social e à construção de uma mentalidade ambiental, que reconheça o ambiente em toda as 2 de 6

suas dimensões, inclusive política, econômica, social e ecológica. Pressupõe, ainda, uma rede de relações complexas e propõe transformação em todos os níveis, que se inicia pela transformação dos meios de produção. Trata-se de uma abordagem crítica, que aponta para uma revolução/movimento em todos os cenários ambientais e que ocorram ao mesmo tempo METODOLOGIA DE PESQUISA Elaboramos um questionário com perguntas abertas e objetivas, abordando os conceitos de ambiente, educação ambiental e outros conceitos relevantes para o entendimento da educação ambiental, como interdisciplinaridade e sustentabilidade. Também foram feitas perguntas mais subjetivas, a fim de provocar a reflexão sobre a prática de ensino. O questionário foi respondido por 26 alunos da Universidade Federal de Sergipe e 47 da Universidade de São Paulo, matriculados nos últimos períodos do curso, alguns professores da Rede Particular e da Rede Municipal e outros alunos que ainda não ingressaram no mercado de trabalho. O curso de Ciências Biologólica da UFS é anual e oferece 20 vagas para licenciatura. O Curso de Ciências Biologia da USP é semestral e oferece 120 vagas para a licenciatura. Para estudar as respostas dos alunos sobre ambiente, elegemos três categorias para análise: ambiente compreendido como ecossistema, ambiente compreendido como ecossistema com ser humano nele inserido e o ambiente político. Categorias de análise: Conceito de ambiente: 1-ecossistema; 2-ecossistema mais o homem; 3-ambiente com fenômenos complexos. Conceito de Educação ambiental: 1-preservacionista; 2-sócionaturalista; 3- abordagem crítica. 3 de 6

ALUNO AMBIENTE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1 2 3 1 2 3 1 X X 2 X X 3 X X 4 X X 5 X X 6 X X 7 X X 8 X X 9 X X 10 X X 11 X X 12 X NÃO RESPONDEU 13 X X 14 X DISCIPLINA 15 X X 16 X X 17 X X 18 X X 19 X X 20 X X 21 X X 22 X X 23 X X 24 X X 25 X X 26 X X 27 X X 28 X X 29 X X 30 X X 31 X X 32 X X 33 X X 34 X X 35 X X 36 X X 37 X X 38 X X 39 X X 40 X X 41 X X 42 X X 43 X X 44 X X 45 X X 46 X X 47 X X TOTAL 38 9 0 10 29 6

Interpretação dos resultados Todos alunos entrevistados que apresentaram a concepção conservacionista, tanto os alunos da Universidade Federal de Sergipe (9 alunos) quanto os da Universidade de São Paulo (10 alunos), apresentaram a visão de ambiente relacionada com ecossistema. Dos alunos entrevistados 40 apresentaram esta concepção. Dentre esses alunos, 30 tinham uma visão de ambiente relacionada ao Ecossistema (sendo 6 alunos da UFS e 24 da USP); 11 tinham uma visão de ambiente relacionada ao ecossistema considerando a inserção humana (5 alunos da UFS e 6 da USP). Dentre esses alunos,7 tinham uma visão de ambiente relacionada ao Ecossistema (2 alunos da UFS e 5 da USP), um tinha uma visão de ambiente tomada como fenômeno complexo (UFS) e 1 apresentou a concepção de ambiente relacionada o ecossistema com o homem inserido. O estudo revelou, ainda, a presença de 4 alunos com uma visão disciplinar da educação ambiental (3 alunos da UFS e 1 da USP), a qual pressupõe o conjunto de conhecimentos, características próprias sobre o plano do ensino, da formação do mecanismo, dos métodos e das matérias de ensino. Dentre tais alunos, 3 tinham uma visão de ambiente relacionada ao Ecossistema (2 alunos da UFS e 1 da USP) e 1 não respondeu a questão sobre ambiente. Apenas 1 aluno da USP não respondeu a questão sobre educação ambiental, mas apresentou a concepção de ambiente relacionada ao ecossistema com o homem inserido. Considerações finais Os resultados mostram que a relação entre a visão de ambiente e a concepção de educação ambiental não tem a característica de relação biunívoca simples. Alunos que têm visão de ambiente relativamente simples (em nossa categorização, ecossistema) apresentam diferentes visões de educação ambiental. O aparecimento da quarta categoria de educação ambiental foi de certa maneira uma surpresa, uma vez que a discussão sobre a disciplinaridade da educação ambiental está superada, sendo ela encarada, essencialmente, como interdisciplinar. A grande ocorrência de uma visão sócio-naturalista de educação ambiental provavelmente está associada às campanhas que visam alertar para as constantes agressões do ambiente. A visão conservacionista, de educação ambiental talvez esteja relacionada à forma tradicional de se abordar a questão e as ações ambientais, a partir dos livros didáticos no ensino formal e médio. Deve-se levar em consideração que o uso cotidiano do termo ambiente nos remete a um substantivo que exprime tudo o que envolve os seres vivos e/ou as coisas (Houaiss, 2001). Assim sendo, a partir desse significado genérico, a educação escolar possivelmente o biologiza, ao mesmo tempo em que ressalta os desequilíbrios antrópicos nele introduzidos. Isso, de certa forma, permitiria compreender a prevalência das visões sócio-naturalista e conservacionista no grupo de alunos estudado. Os resultados demonstram ainda, a necessidade da introdução de um conceito mais amplo de ambiente e da inserção da concepção de educação ambiental sob a abordagem crítico-social na formação inicial. Essa iniciativa possibilitará, aos futuros professores, a aquisição de ferramentas necessárias ao desenvolvimento de uma consciência ambiental e assim, atender as exigências da educação atual e futura. 5 de 6

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAMBURU ORDOZGOITI, Francisco. Medio Ambiente y Educación. Madrid : Síntesis Educación, 2000. CASSINO, F. Educação Ambiental: princípios, história e formação de professores. São Paulo :Editora SENAC São Paulo, 1999. CORCORAN P. B.; SIEVERS, E. Reconceptualizing Enviroment Education: Five Possibilities. The Journal Enviroment Educacion. 1996. v. 28 nº 1. 4-8. GUIMARÃES, M. A Dimensão Ambiental na Educação. Campinas :Papirus. 1995. GRÜN, M.. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. Campinas :Papirus. 1996. MELLO, Celina M. de. Trilhando Diferentes Caminhos na Educação Ambiental: as concepções de educação ambiental do programa do Núcleo Santa Vírginia e agentes sociais envolvidos. Dissertação (Mestrado em Educação) Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2000. REIGOTA, M. Meio Ambiente e Representação Social. São Paulo :Cortez, 1995. 6 de 6