Carta Por Pontos: como reagir? Por Gonçalo Vaz Osório gvo@ace.pt PALAVRAS-CHAVE: carta de condução; carta de condução por pontos; condutor; contra-ordenação grave; contra-ordenação muito grave; subtracção de pontos; defesa escrita; direito de audição; impugnação judicial; prescrição; ANSR A Lei 116/2015, de 28 de Agosto ( L 116/2015 ), que entrou em vigor no passado dia 01 de Junho de 2016, alterou o Código da Estrada, instituindo o sistema de pontos a cada automobilista e a possibilidade de cassação do título de condução, com a prática de contra ordenações graves e muito graves, vindo tornar ainda mais premente a necessidade dos condutores estarem alertas para o exercício do direito de apresentar a sua defesa e posterior impugnação judicial em relação às infracções que entendam não serem justificadas. Se até à entrada em vigor do referido diploma - 01 de Junho de 2016- a apresentação da defesa ou do direito de audição era muito importante sobretudo para quem utilizava o veículo no exercício da sua actividade profissional, procurando, assim, evitar a sanção acessória de inibição de conduzir, a partir da entrada em vigor da Lei 116/2015, o exercício daquele direito tornou-se, em nosso entender, mais do que uma mera faculdade, uma verdadeira necessidade, em virtude das consequências gravosas que a prática das referidas contra-ordenações agora acarretam. Com efeito, para além das conhecidas multas ou coimas e da aplicação das também já conhecidas sanções acessórias de inibição de conduzir, por um período de tempo
limitado, o legislador instituiu agora a subtracção de pontos após existir uma decisão condenatória definitiva, o que, no limite, leva à cassação do título de condução do condutor infractor, sempre que se encontrem subtraídos todos os pontos, ficando o mesmo sujeito nesse caso e dois anos após a decisão definitiva de cassação, a um novo processo de atribuição de título de condução. Efectivamente, com a entrada em vigor do referido diploma, a todos os automobilistas são atribuídos 12 pontos, podendo acrescer mais 3 pontos, caso o condutor não tenha nenhuma contra-ordenação grave ou muito grave no final de cada período de 3 anos, com um limite máximo de 15 pontos. Como se opera, então, a perda de pontos? A prática de contra-ordenação grave ou muito grave, prevista e punida nos termos do Código da Estrada e legislação complementar, determina a subtracção de pontos ao condutor na data do carácter definitivo da decisão condenatória ou do trânsito em julgado da sentença, nos seguintes termos: a) A prática de contra-ordenação grave implica a subtracção de 3 pontos, se esta se referir a condução sob influência do álcool, excesso de velocidade dentro das zonas de coexistência ou ultrapassagem efectuada imediatamente antes e nas passagens assinaladas para a travessia de peões ou velocípedes, e de 2 pontos nas demais contraordenações graves; b) A prática de contra-ordenação muito grave implica a subtração de 5 pontos, se esta se referir a condução sob influência do álcool, condução sob influência de substâncias psicotrópicas ou excesso de velocidade dentro das zonas de coexistência, e de 4 pontos nas demais contra-ordenações muito graves. Sem se pretender ser exaustivo nesta matéria, mas tendo em conta as infracções mais comuns, podemos, nomeadamente elencar como contra-ordenações graves:
a) a) O trânsito de veículos em sentido oposto ao estabelecido; b) O excesso de velocidade praticado fora das localidades superior a 30 km/h sobre os limites legalmente impostos, quando praticado pelo condutor de motociclo ou de automóvel ligeiro, ou superior a 20 km/h, quando praticado por condutor de outro c) O excesso de velocidade praticado dentro das localidades superior a 20 km/h sobre os limites legalmente impostos, quando praticado pelo condutor de motociclo ou de automóvel ligeiro, ou superior a 10 km/h, quando praticado por condutor de outro d) A não cedência de passagem aos peões pelo condutor que mudou de direcção dentro das localidades, bem como o desrespeito pelo trânsito dos mesmos nas passagens para o efeito assinaladas; e) O trânsito de veículos sem utilização das luzes de presença, de cruzamento ou de estrada, quando as condições condições meteorológicas ou ambientais que tornem a visibilidade insuficiente, bem como o trânsito de motociclos e de ciclomotores sem utilização das luzes de cruzamento; f) A condução sob influência de álcool, quando a taxa de álcool no sangue for igual ou superior a 0,5 g/l e inferior a 0,8 g/l. Seguindo o mesmo critério, como contra-ordenações muito graves, podemos enunciar, nomeadamente as seguintes: a. A não utilização do sinal de pré sinalização de perigo, bem como a falta de sinalização de veículo imobilizado por avaria ou acidente, em autoestradas ou vias equiparadas; b) ii)) A utilização dos máximos de modo a provocar encandeamento; c) iii) O excesso de velocidade praticado fora das localidades superior a 60 km/h sobre os limites legalmente imposto, quando praticado pelo condutor de motociclo ou de automóvel ligeiro, ou superior a 40 km/h, quando praticado por condutor de outro d) iv) O excesso de velocidade praticado dentro das localidades superior a 40 km/h sobre os limites legalmente impostos, quando praticado pelo condutor de motociclo ou de
automóvel ligeiro, ou superior a 20 km/h, quando praticado por condutor de outro e) v) A condução sob influência de álcool, quando a taxa de álcool no sangue for igual ou superior a 0,8 g/l e inferior a 1,2 g/l; f) vi) O desrespeito da obrigação de parar imposta por sinal regulamentar dos agentes fiscalizadores ou reguladores do trânsito ou pela luz vermelha de regulação do trânsito; g) vii)) A condução sob influência de substâncias psicotrópicas; h) viii) O desrespeito pelo sinal de paragem obrigatória nos cruzamentos, entroncamentos e rotundas. O que fazer para reagir à perda de pontos na carta de condução? Os condutores podem reagir às contra-ordenações através da apresentação do direito de defesa ou de audição, nos termos do disposto no artigo 50.º do Regime Geral das Contra-Ordenações, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de Outubro, no prazo de 15 dias úteis após a prática da infracção, sempre que o auto é elaborado pelas autoridades policiais no momento da infracção, ou dentro do mesmo prazo, após a notificação escrita do condutor da prática da referida contra-ordenação. Existe, ainda, possibilidade dos condutores que não exerceram a sua defesa nos termos acima referidos, apresentarem impugnação judicial no prazo de 20 dias após a decisão definitiva da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), sendo aquela apresentada junto desta, embora dirigida ao Tribunal da área territorial onde foi praticada a infracção. Em nosso entender, são várias as vantagens dos condutores exercerem o direito de defesa ou audição logo quando são notificados da infracção, não deixando decorrer os 15 dias úteis atrás referidos. Desde logo, sendo uma defesa apresentada e decidida pela autoridade administrativa, não acarreta o pagamento de quaisquer custas judiciais, ao contrário da impugnação judicial no âmbito da qual é devida taxa de justiça no valor de 102,00 no momento em que é distribuída no Tribunal competente, para além das custas em caso de improcedência.
Outra vantagem resulta do facto de, mesmo que haja uma decisão desfavorável da autoridade administrativa, o condutor poder sempre apresentar, no prazo de 20 dias úteis, a referida impugnação judicial, tendo assim mais uma instância para reagir à contra ordenação aplicável. É ainda relevante considerar que, com a utilização dos mecanismos de defesa referido direito de defesa ou de audição e/ou impugnação judicial, para além da possibilidade de serem invocadas causas justificativas ou atenuantes das penas que evitem a perda de pontos, existe também a possibilidade de ser invocada a prescrição do processo contra-ordenacional, o que ocorre sempre que, entre a prática da contra-ordenação e a data do carácter definitivo da decisão condenatória ou do trânsito em julgado da sentença, tenham decorridos mais de 2 anos (sem prejuízo, quanto à contagem do prazo de 2 anos, da aplicação do regime de suspensão e de interrupção da prescrição previsto na lei). Em conclusão, os automobilistas devem cada vez mais estar cientes do cumprimento do Código da Estrada para evitar a prática de infracções que levem à perda de pontos na carta de condução, mas devem estar também alertas para necessidade de apresentarem defesa ou impugnação judicial caso incorram na prática de contra-ordenações graves ou muito graves ao Código da Estrada. www.ace.pt