EVOLUÇÃO DO PERFIL DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS EM ÁREAS PROTEGIDAS NO BRASIL, DE 1983 A 2002.

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EVOLUÇÃO DO PERFIL DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS EM ÁREAS PROTEGIDAS NO BRASIL, DE 1983 A 2002. Ronaldo Viana Soares 1 Antonio Carlos Batista 2 Juliana Ferreira Santos 3 RESUMO O conhecimento do perfil dos incêndios florestais é muito importante para o planejamento do controle dos mesmos. O objetivo deste trabalho foi comparar o perfil dos incêndios florestais no país através de dados coletados, em áreas protegidas, em três períodos: 1983 a 1987, 1994 a 1997 e 1998 a 2002. A base de dados foi constituída por formulários preenchidos por empresas e instituições florestais. Foram registrados e informados 1.754, 1.957 e 19.377 incêndios nos três períodos analisados, respectivamente. Apesar deste número não representar a totalidade dos incêndios ocorridos nesses períodos, a amostragem constituiu-se numa boa base para se conhecer as principais características dos incêndios. Os resultados mostraram que a área média atingida por incêndio aumentou de 76 ha no período de 1983 a 1987 para mais de 135 ha, no período de 1994 a 1997, diminuindo para 4,4 ha no período de 1998 a 2002. Minas Gerais foi o estado líder em todos os períodos analisados, tanto em número de incêndios informados (25,3; 62,7 e 50,3%, respectivamente) como em área queimada (43,5 e 25,2 e 64,7%, respectivamente). Houve uma inversão nos dois principais grupos de causas de incêndios nos dois primeiros períodos, que se manteve no terceiro. No primeiro a principal causa foi Queimas para limpeza, com 33,6%, vindo em seguida Incendiários, com 29,8%; no período seguinte o grupo Incendiários, com 56,6% das ocorrências, passou para o primeiro lugar, ficando as Queimas para limpeza em segundo lugar, com 22,1%; no terceiro período Incendiários continuou liderando as causas, com 69,1%, ficando Queimas para limpeza em segundo, com 13,1%. Com relação à área queimada o grupo Queimas para limpeza, com 63,7 e 74,1% da superfície atingida, no primeiro e segundo períodos, respectivamente, foi a principal causa, ficando o grupo Incendiários em segundo lugar com 14,7% (1983 a 1987) e 19,8% (1994 a 1997); no terceiro período Incendiários foi o principal grupo, com 65,3%, ficando Queimas para limpeza em segundo lugar com 23,6%. A principal estação de incêndios no país se estendeu de junho a novembro, quando ocorreram 80,4; 85,2 e 71,2% dos incêndios, correspondendo a 91,2; 98,7 e 92,3% da área atingida, nos três períodos analisados, respectivamente. No primeiro período o maior número de incêndios (50,0% das ocorrências) foi registrado em plantações de Eucalyptus sp, enquanto no segundo e no terceiro os incêndios em eucaliptos foram superados pelos registrados em Outro tipo de vegetação (39,7 e 53,5%, respectivamente), que inclui cerrado, capoeira e campo. Com relação à área queimada, entretanto, no primeiro período o grupo Outro tipo de vegetação ficou em primeiro lugar com 58,2%, no segundo 92,5% da área atingida foi registrada em Florestas nativas e no terceiro novamente o grupo Outro tipo de vegetação liderou as estatísticas com 51,2%. Com relação à distribuição dos incêndios através das classes de tamanho houve um progressivo e significativo avanço em termos de eficiência no combate do primeiro período, que registrou 10,5% das ocorrências na classe I (área menor do que 0,1 ha), para o segundo, com 23,9% e para o terceiro, com 57,1%. É importante ressaltar que quanto maior a eficiência no combate aos incêndios, maior deve ser a concentração dos mesmos na classe I. Palavras-chave: Incêndio florestal, Estatística de incêndios, Incêndios no Brasil, Proteção florestal. 1 Engenheiro florestal, Ph. D. Prof. Titular do Departamento de Ciências Florestais da UFPR. (rvsoares@floresta.ufpr.br). 2 Engenheiro Florestal, Dr., Prof. Adjunto do Departamento de Ciências Florestais da UFPR. (batista@floresta.ufpr.br). 3 Engenheira Florestal, M. Sc., Pesquisadora do Laboratório de Incêndios Florestais da UFPR

SUMMARY Forest fire statistics knowledge is an important tool for fire control planning. The objective of this research was to compare the results from three periods of fire occurrence statistics: 1983 to 1987, 1994 to 1997, and 1998 to 2002. The analyzed variables were the number of fires and burned areas per state of the federation, the monthly distribution, the probable causes, the affected vegetation, the size class distribution, and the average burned area per fire. Results showed that the average burned area per fire increased from 76 ha in the first period (1983 to 1987) to 135 ha in the second period (1994 to 1997) and decreased to 4,4 ha in the third period (1998 to 2002). Minas Gerais was the leading state in the three analyzed periods, both in number of registered fires (25.3; 62.7 and 50.3%, respectively) and in burned surface (43.5; 25.2 and 64.7%, respectively). There was an inversion of positions between the two leading fire causes in the two initial periods that continued in the third one. In the first period, Debris burning (33.6%) was the leading cause, seconded by Incendiary (29.8%); in the second, Incendiary (56.6%) became the leading cause, followed by Debris burning (22.1%); in the third, Incendiary continued in the first place (69.1%), followed by Debris burning ((13.1%). However, as for the burning surface, Debris burning was the leading cause in the first and the second periods (63.7 and 74.1%, respectively), followed by Incendiary (14.7 and 19.8%); in the third one, Incendiary took the lead (65.3%) with Debris burning in the second place (23.6%). The fire season extended from June to November, when 80.4; 85.2 and 71.2% of the fires, in the three analyzed periods occurred, corresponding to 91.2; 98.7 and 92.3% of the burned surface, respectively. In the first period the higher number of fires were registered in Eucalyptus sp plantations (50%), whereas in the second and the third ones eucalyptuses fires were outnumbered by Miscellaneous (39.7 and 53.5%, respectively), that includes savanna, secondary growth forest, and grassland. In relation to the burned surface, Miscellaneous (58.2%) ranked first in the first period, Native forest (92.5%) in the second, and again Miscellaneous (51.2%) in the third. The distribution of the registered fires through the size classes showed a progressive and significant increase of the number of fires in the Class I (less than 0.1 ha), from 10.5% in the first period to 23.9% in the second and to 57.1% in the third. The increase of recorded fires in the size class I indicates an improvement in the fire control systems. Keywords: Forest fire, Fire statistics, Fire behavior, Brazilian fires, Forest protection. INTRODUÇÃO O fogo é o agente que provoca os maiores danos às florestas de todo o mundo, exceto os ecossistemas de florestas tropicais úmidas. Florestas, plantações florestais e outros tipos de vegetação estão constantemente expostos à ocorrência de incêndios de diferentes intensidades. Em muitos países a situação tem se agravado devido ao aumento da população, acúmulo de material combustível e incêndios de causas humanas. O Brasil, há algum tempo, tem sido alvo periódico de críticas de organizações conservacionistas e mesmo instituições governamentais de outros países, com relação à falta de proteção de suas florestas contra o fogo. É comum se ouvir, ver e ler notícias informando da existência de milhares de focos de incêndios no país, principalmente durante a estação mais crítica, geralmente de julho a outubro. No entanto, quando se pergunta o número de incêndios e a superfície queimada anualmente no país ninguém é capaz de informar, pela simples razão de não haver estatísticas confiáveis sobre ocorrências de incêndios florestais no país. Apesar da falta de informações precisas, sabe-se que o fogo é um problema sério para florestas nativas e plantadas em várias regiões brasileiras. Portanto, é necessário se tomar providências para reduzir o impacto do fogo sobre as florestas e outras formas de vegetação.

Para se estabelecer uma política adequada de prevenção de incêndios é necessário conhecer as estatísticas referentes aos mesmos, isto é, saber onde, quando, e por que eles ocorrem. A falta dessas informações pode levar a um dos seguintes extremos: gastos muito altos, acima do potencial de danos ou gastos muito pequenos, colocando em risco a sobrevivência das florestas. É fundamental saber onde ocorrem os incêndios para se definir as regiões de maior risco e estabelecer programas intensivos de prevenção para essas regiões. É necessário saber quando ocorrem para se estruturar os serviços de prevenção e combate dentro de limites economicamente viáveis, ativando o sistema durante os períodos críticos e desativando-o nos meses de menor risco. Finalmente, é preciso conhecer as principais causas dos incêndios para se fazer um trabalho objetivo de prevenção, visando à redução daquelas causas mais freqüentes. É importante também conhecer outros aspectos dos incêndios, como o tipo de vegetação atingida, superfícies queimadas, tempo de ataque e recursos utilizados no combate. Essas informações são essenciais para se avaliar a eficiência do controle dos incêndios florestais, tanto em uma determinada região como no total do país. Apesar da importância do assunto, não existem dados estatísticos atualizados que permitam conhecer o perfil dos incêndios florestais no Brasil. Apenas algumas empresas florestais têm mantido registro confiável das ocorrências ao longo dos anos (Soares 1992). As poucas informações existentes referem-se aos anos de 1983 a 1987, coletadas através de um projeto conjunto FUPEF/IBAMA (Soares 1984; 1988 e 1989), de 1994 a 1997 (Soares e Santos 2002) e mais recentemente de 1998 a 2002 (Santos 2004). O objetivo principal deste trabalho foi comparar os resultados das estatísticas de ocorrências de incêndios florestais obtidos em três períodos: 1983 a 1987, 1994 a 1997 e 1998 a 2002. MATERIAL E MÉTODOS A base de dados para o desenvolvimento da pesquisa foi o conteúdo dos questionários recebidos de empresas e outras instituições florestais, contendo as informações relativas aos incêndios florestais ocorridos no país. Os questionários, acompanhados de cartas explicando a finalidade e importância do projeto, haviam sido encaminhados a empresas florestais, associações de reflorestadores, diretores de parques e florestas nacionais, estaduais e municipais, superintendências do IBAMA, institutos (ou entidades equivalentes) estaduais de florestas e outras organizações afins, no sentido de cobrir o maior universo possível de entidades geradoras de informações. As informações contidas nos questionários eram as seguintes: a) nome da empresa ou instituição onde ocorreu o incêndio; b) local e data; c) área queimada; d) tipo de vegetação atingida; e) hora de detecção do fogo; f) hora do início do combate; g) pessoal e equipamentos empregados no combate; h) hora em que o fogo foi controlado; i) causa provável do incêndio; j) observações complementares; k) identificação do responsável pelas informações. Os dados extraídos dos questionários foram tabulados de diversas maneiras a fim de proporcionar a maior quantidade possível de informações sobre a ocorrência de incêndios no país e em cada estado. Além das estatísticas fundamentais de número de incêndios e respectivas áreas queimadas, foi feita a distribuição pelos meses do ano, a identificação da causa provável e a classificação segundo o tamanho da área queimada. Distribuição dos incêndios através dos estados Os dados referentes ao número de incêndios e as respectivas áreas queimadas foram tabulados por estado para se observar as diferenças regionais. Foram relacionados nominalmente apenas os estados que apresentaram maior consistência nas informações nos três períodos analisados; os demais foram englobados na categoria outros estados. Os nomes das empresas e instituições onde ocorreram os incêndios foram omitidos para garantir-lhes o anonimato.

Distribuição dos incêndios através dos meses do ano Tanto os dados das ocorrências, assim como as respectivas áreas queimadas, foram classificados de acordo com os meses do ano para se identificar a extensão da estação de incêndios no país. Causas prováveis dos incêndios Os incêndios que tiveram as prováveis causas identificadas foram classificados segundo os seguintes grupos: a) Raios; b) Queimas para limpeza; c) Incendiários; d) Fumantes; e) Fogos de recreação; f) Operações florestais; g) Estradas de ferro; h) Diversos. Os incêndios cujas causas não foram identificadas não fizeram parte das estatísticas porque não é aconselhável incluir o grupo de causa "desconhecido" a fim de forçar as pessoas a investigarem as causas. Tipos de vegetação atingidos As informações retiradas dos questionários foram agrupadas de acordo com os seguintes tipos de vegetação: a) Eucalipto; b) Pinus; c) Outras espécies plantadas; d) Floresta nativa; e) Outro tipo de vegetação, incluindo cerrado, capoeira e campo. Classes de tamanho Os incêndios foram também ordenados de acordo com as classes de tamanho (baseadas nas áreas queimadas) propostas por RAMSEY & HIGGINS (1981) e usadas internacionalmente: I) até 0,1 ha; II) de 0,1 a 4,0 ha; III) de 4,1 a 40,0 ha; IV) de 40,1 a 200,0 ha; V) mais de 200,0 ha. Esta informação é importante na avaliação da eficiência de combate no país. Comparação dos resultados dos períodos analisados Os resultados obtidos nos três períodos analisados foram comparados com a finalidade de verificar a evolução do perfil dos incêndios florestais em áreas protegidas no Brasil nas últimas décadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO O número de incêndios registrados e analisados neste trabalho não corresponde ao total de incêndios ocorridos no país. Primeiro, porque somente se trabalhou com incêndios ocorridos em áreas protegidas, isto é, empresas florestais e unidades de conservação onde são feitos registros das ocorrências. Segundo, porque sendo uma pesquisa baseada em questionários, nunca se podem esperar respostas de todas as instituições consultadas. Entretanto, o nível de resposta foi muito bom e os resultados obtidos permitiram estabelecer com bastante propriedade o perfil dos incêndios florestais no país. Distribuição dos incêndios através dos estados As Tabelas 1 e 2 mostram a distribuição dos incêndios e respectivas áreas queimadas através dos estados brasileiros nos períodos analisados. Minas Gerais ocupou o primeiro lugar, tanto em número de incêndios como em área queimada, em todos os períodos. Isto se explica porque o estado tem a maior área reflorestada do país e apresenta, na maior parte do seu território, uma estação seca prolongada, que aumenta o risco de ocorrência e propagação dos incêndios. Não foi possível obter informações completas dos estados do Amapá, Espírito Santo e Bahia no período de 1994 a 1997 e do Distrito Federal e Mato Grosso do Sul de 1998 a 2002. A alta porcentagem de área queimada em outros estados no período de 1994 a 1997 se deveu principalmente a dois incêndios ocorridos no Piauí, que atingiram cerca de 120.000ha.

Tabela 1. Ocorrência de incêndios florestais nos estados brasileiros nos períodos analisados. Table 1. Forest fire occurrence in several Brazilian States in the analyzed period. Estado Nº % Nº % Nº % Amapá 213 12,2 - - 31 0,2 Bahia 107 6,1 71 3,6 1951 10,1 Distrito Federal 4 0,2 6 0,3 - - Espírito Santo 322 18,4 1 0,0 4798 24,8 Mato Grosso do Sul 20 1,2 19 1,0 - - Minas Gerais 444 25,3 1228 62,7 9750 50,3 Pará 162 9,2 1 0,0 16 0,1 Paraná 116 6,6 187 9,6 389 2,0 Rio Grande do Sul 25 1,4 77 3,9 106 0,5 Santa Catarina 36 2,1 53 2,7 22 0,1 São Paulo 195 11,1 277 14,3 2314 11,9 Subtotal 1644 93,8 1920 98,1 19377 100,0 Outros estados 110 6,2 37 1,9 - - Total 1754 100,0 1957 100,0 19377 100,0 Tabela 2. Área queimada pelos incêndios florestais nos estados brasileiros nos períodos analisados. Table 2. Burned areas distribution areas through the Brazilian States in the analyzed period. Estado ha % ha % ha % Amapá 22424,1 16,8 - - 261,9 0,3 Bahia 6849,5 5,1 2022,6 0,8 4279,2 5,0 Distrito Federal 24400,0 18,2 17020,0 6,4 - - Espírito Santo 2710,1 2,0 50,0 0,0 3110,4 3,6 Mato Grosso do Sul 5066,8 3,8 1247,9 0,5 - - Minas Gerais 58255,1 43,5 67140,0 25,2 55506,6 64,7 Pará 2985,3 2,2 10,0 0,0 11,1 0,0 Paraná 1925,3 1,4 671,7 0,3 299,3 0,4 Rio Grande do Sul 63,6 0,0 4800,1 1,8 430,0 0,5 Santa Catarina 676,1 0,5 173,1 0,1 37,4 0,1 São Paulo 3706,8 2,8 4518,3 1,7 21799,3 25,4 Subtotal 129062,7 96,3 97653,7 36,7 85735,2 100,0 Outros estados 5044,6 3,7 168292,3 63,3 - - Total 134107,3 100,0 265946,0 100,0 85735,2 100,0 Distribuição dos incêndios através dos meses do ano As Tabelas 3 e 4 apresentam a distribuição dos incêndios e respectivas áreas queimadas através dos meses do ano. Praticamente não houve diferenças entre os períodos analisados, razão pela qual se pode dizer que a estação de incêndios no Brasil se estende de junho a novembro, quando foram registradas 80,4; 85,2 e 71,2% das ocorrências nos períodos de 1983 a 1987, 1994 a 1997 e 1998 a 2002, respectivamente. Com relação à área queimada isto fica ainda mais evidente, pois 91,2; 98,7 e

92.3% das superfícies atingidas pelo fogo, nos três períodos analisados, foram registradas entre junho e novembro. Tabela 3. Distribuição das ocorrências de incêndios através dos meses do ano nos períodos analisados. Table 4. Monthly fire occurrence distribution in the analyzed period. Mês Nº % Nº % Nº % Janeiro 62 3,5 56 2,9 875 4,5 Fevereiro 62 3,5 34 1,7 1343 6,9 Março 55 3,1 39 2,0 692 3,6 Abril 35 2,0 41 2,1 901 4,7 Maio 30 1,7 69 3,5 1166 6,0 Junho 60 3,4 118 6,0 1893 9,8 Julho 134 7,7 298 15,2 2698 13,9 Agosto 339 19,3 520 26,6 4222 21,8 Setembro 308 17,6 463 23,7 2230 11,5 Outubro 341 19,5 213 10,9 2311 11,9 Novembro 226 12,9 54 2,8 444 2,3 Dezembro 102 5,8 52 2,7 602 3,1 Total 1754 100,0 1957 100,0 19377 100,00 Tabela 4. Distribuição das áreas queimadas através dos meses do ano nos períodos analisados. Table 4. Monthly distribution of burned areas in the analyzed period. Mês ha % ha % ha % Janeiro 327,1 0,3 1033,4 0,4 1101,0 1,3 Fevereiro 1612,1 1,2 185,0 0,1 1407,7 1,6 Março 312,1 0,2 147,6 0,1 666,3 0,8 Abril 427,8 0,3 1234,2 0,5 802,7 0,9 Maio 158,3 0,2 154,7 0,1 1061,3 1,2 Junho 659,1 0,5 247,0 0,1 1969,0 2,3 Julho 22733,1 17,0 113394,8 42,6 5084,3 5,9 Agosto 26416,5 19,7 23853,8 9,0 24228,6 28,3 Setembro 31309,2 23,3 70008,8 26,3 14881,9 17,4 Outubro 27393,6 20,4 12813,7 4,8 31643,2 36,9 Novembro 13732,8 10,3 42358,0 15,9 1296,3 1,5 Dezembro 8888,6 6,6 515,0 0,2 1592,9 1,9 Total 134107,3 100,0 265946,0 100,0 85735,2 100,00 Causas prováveis dos incêndios As Tabelas 5 e 6 indicam, respectivamente, o número de incêndios e as superfícies afetadas, por grupo de causa. A principal mudança observada nos períodos analisados foi a inversão nas posições dos dois principais grupos de causa. De 1983 a 1987 o principal grupo de causa foi Queimas para limpeza, seguida de Incendiários. Nos períodos seguintes houve uma inversão, com os Incendiários ocupando o primeiro lugar e as Queimas para limpeza o segundo. Esta tendência pode ser explicada pelos problemas sociais, como desemprego, pelas disputas de posse da terra e pela

pressão urbana e não está ocorrendo somente no Brasil. Em várias partes do mundo, como na Europa, por exemplo, observa-se a mesma tendência (SOARES 1997). Com relação à área queimada os dois primeiros períodos apresentaram resultados semelhantes, com o grupo Queimas para limpeza ocupando o primeiro lugar, seguido pelos Incendiários. No terceiro período o grupo Incendiários passou a ocupar a primeira posição também em superfície atingida pelo fogo. Nos dois primeiros períodos isto pode ser explicado pelo fato das queimadas para limpeza de terreno ou pastagens serem feitas principalmente no inverno e início da primavera, que corresponde à estação seca, onde o risco de propagação dos incêndios é maior. Os incendiários, por sua vez, atuam durante todo o ano, mesmo quando as condições não estão muito favoráveis à propagação do fogo. Deste modo, apesar do significativo aumento do número de incêndios causados pelos incendiários, não houve um crescimento proporcional das superfícies atingidas pelo fogo. No caso do terceiro período, talvez o grande número de incêndios que não tiveram as causas determinadas tenha influído nas porcentagens de áreas queimadas. Tabela 5. Causas prováveis dos incêndios florestais nos períodos analisados. Table 5. Probable fire causes in the analyzed period. Causas Nº % Nº % Nº % Diversos 104 8,0 42 6,0 730 11,0 Estradas de Ferro 12 0,9 11 1,6 7 0,1 Fogos de Recreação 141 10,9 23 3,3 19 0,3 Fumantes 104 8,0 43 6,1 109 1,7 Incendiários 386 29,8 396 56,6 4579 69,1 Operações Florestais 87 6,7 21 3,0 205 3,1 Queimas para Limpeza 435 33,6 155 22,1 870 13,1 Raios 27 2,1 9 1,3 103 1,6 Subtotal 1296 100,0 700 100,0 6622 100,00 Não determinada 458-1257 - 12755 - Total 1754-1957 - 19377 - Tabela 6. Distribuição das áreas queimadas através dos grupos de causas nos períodos analisados. Table 6. Burned areas by fire cause group in the analyzed period. Causa ha % ha % ha % Diversos 4052,0 4,4 7930,1 3,7 1594,1 8,5 Estradas de Ferro 496,2 0,5 20,9 0,0 13,8 0,1 Fogos de Recreação 10778,2 11,6 2244,3 1,0 14,6 0,1 Fumantes 2648,8 2,9 1987,6 0,9 218,5 1,2 Incendiários 13589,1 14,7 42623,9 19,8 12240,5 65,3 Operações Florestais 1875,2 2,0 467,7 0,2 148,5 0,8 Queimas para Limpeza 59064,1 63,7 159633,3 74,1 4434,3 23,6 Raios 175,4 0,2 592,4 0,3 70,5 0,4 Subtotal 92679,0 100,0 215500,1 100,0 18738,8 100,0 Não determinada 41428,3-50445,8-67000,4 - Total 134107,3-265946,0-85735,2 -

Tipos de vegetação atingidos As Tabelas 7 e 8 apresentam os principais tipos de vegetação atingidos pelo fogo nos três períodos. Os resultados mostram uma progressiva redução tanto no número de incêndios como na área queimada pelos incêndios em plantações florestais. Isto provavelmente se deve ao maior cuidado que as empresas florestais têm dedicado ao problema do fogo, tanto através de campanhas educativas para prevenir os incêndios como na melhoria da infra-estrutura de controle, para combatê-los quando ainda estejam pequenos e com baixa a média intensidade. O maior número de incêndios, em todos os períodos, ocorreu em outro tipo de vegetação (cerrado, campo e capoeira). Entretanto, no segundo período (1994 a 1997), a área queimada em florestas nativas foi significativamente maior do que em todos os demais tipos de vegetação, devido principalmente a dois grandes incêndios ocorridos neste tipo de vegetação. Tabela 7. Ocorrência de incêndios por tipo de vegetação nos períodos analisados. Table 8. Fire occurrence by vegetation type in the analyzed period. Tipo de vegetação Nº % Nº % Nº % Pinus spp 204 11,9 115 6,1 203 1,1 Eucalyptus spp 857 50,0 591 31,6 5832 30,1 Outras florestas plantadas 49 2,9 13 0,7 15 0,1 Florestas nativas 54 3,1 410 21,9 2907 15,0 Outro tipo de vegetação 550 32,1 744 39,7 10420 53,7 Subtotal 1714 100,0 1873 100,0 19377 100,0 Não determinado 40-84 - - - Total 1754-1957 - 19377 - Tabela 8. Distribuição das áreas queimadas por tipo de vegetação nos períodos analisados. Table 8. Burned areas by vegetation type in the analyzed period. Tipo de vegetação ha % ha % ha % Pinus spp 5380,0 4,0 1153,6 0,4 267,5 0,3 Eucalyptus spp 44918,7 33,8 14729,7 5,6 13561,6 15,8 Outras florestas plantadas 224,7 0,2 182,4 0,1 11,1 0,0 Florestas Nativas 5107,0 3,8 243124,8 92,5 28030,5 32,7 Outro tipo de vegetação 77337,5 58,2 3519,2 1,3 43864,5 51,2 Subtotal 132967,9 100,0 262709,7 100,0 85735,2 100,0 Não determinado 1139,4-3236,3 - - - Total 134107,3-265946,0-85735,2 - A Tabela 9 apresenta a distribuição do número de incêndios através das classes de tamanho. Observou-se um progressivo aumento na porcentagem de incêndios da classe I, o que indica uma melhoria nos sistemas de controle dos incêndios, pois quanto maior a concentração na classe I, maior a eficiência no combate. No primeiro período analisado apenas 10,5% dos incêndios queimaram menos de 0,1 ha, enquanto que no segundo este número subiu para 23,9% e no terceiro para 57,1%. Quando comparados com outros países, estes resultados mostram que a evolução foi significativa. Na África do Sul, por exemplo, 39% dos incêndios ocorridos entre 1985 e 1989 se enquadraram na classe I (KROMHOUT 1990), enquanto no Canadá, onde a eficiência é maior, 49% dos incêndios ocorridos de 1969 a 1978 pertenciam à classe I (RAMSEY & HIGGINS 1981).

A maioria dos incêndios, nos dois primeiros períodos, ficou na classe II, porém no terceiro a maioria se concentrou na classe I, o que é altamente desejável, pois para que a eficiência no controle aos incêndios florestais possa ser considerada de bom nível é necessário que a maior concentração das ocorrências seja na classe I o que foi finalmente observado no período de 1998 a 2002. Prova disto é que a área média queimada por incêndio foi de apenas 4,4 ha entre 1998 e 2002, contra 76,0 e 135,0 ha nos períodos anteriores, respectivamente. Tabela 9. Distribuição das ocorrências de incêndios por classe de tamanho nos períodos analisados. Table 9. Size class distribution of fire occurrences in the analyzed period. Classe de tamanho (ha) Nº % Nº % Nº % I ( 0,1) 184 10,5 468 23,9 11073 57,1 II (0,11 a 4,0) 725 41,4 961 49,1 6428 33,2 III (4,1 a 40,0) 511 29,1 334 17,1 1568 8,1 IV (40,1 a 200,0) 216 12,3 147 7,5 261 1,4 V (> 200,0) 118 6,7 47 2,4 47 0,2 Total 1754 100,0 1957 100,0 19377 100,00 Finalmente, não é demais reafirmar que os resultados apresentados se referem à ocorrência de incêndios florestais em áreas protegidas e não de queimadas, conceitos às vezes confundidos não apenas pela imprensa, mas também por pesquisadores de outras áreas. Por incêndio florestal se entende a propagação livre ou descontrolada do fogo em florestas e outras formas de vegetação. Queimada é a utilização do fogo, de maneira prescrita ou controlada, com um objetivo definido. Uma queimada pode, e muitas vezes ocorre, fugir do controle e se transformar em um incêndio, que neste caso então é registrado como tal. Por isto, quando se lê na imprensa que, baseado em imagens de satélites, existem milhares de focos de incêndios no país, isto tecnicamente não é verdade, pois a grande maioria desses focos de calor é queimada e não incêndio. CONCLUSÕES Os resultados obtidos neste trabalho permitem concluir que: 1) Minas Gerais foi o estado com o maior número de ocorrências e a mais extensa área atingida pelos incêndios florestais. 2) A estação de incêndios se estendeu de junho a novembro, com maior número de ocorrências em agosto e setembro. 3) Nos dois últimos períodos analisados a principal causa dos incêndios foi o grupo Incendiários, seguida de queimas para limpeza, invertendo-se as posições observadas no primeiro período. 4) Entre as espécies plantadas, o eucalipto, por apresentar maior área reflorestada, foi também a mais atingida pelo fogo; entretanto, as florestas nativas no segundo período e outros tipos de vegetação, no primeiro e terceiro, apresentaram as maiores superfícies atingidas pelo fogo. 5) A distribuição das ocorrências pelas classes de tamanho melhorou progressivamente, do primeiro até o terceiro período.

6) A superfície média afetada por incêndio aumentou de 76 para 135 ha do primeiro para o segundo período, em função da grande área de florestas nativas atingida, diminuindo para 4,4 ha no terceiro período. 7) A área queimada de florestas plantadas diminuiu progressivamente do primeiro até o terceiro período. LITERATURA CITADA KROMHOUT, C. 1990. Analysis of fire in privately-owned plantations in Republic of South Africa: 0¼85 to 31/03/89. South African Forestry Journal, nº. 154: 74-87. RAMSEY, G.S. & HIGGINS, D.G. 1981. Canadian forest fire statistics. Ontario, Canadian Forestry Service, Information Report PI-X-9. 71 p. SANTOS, J.F. 2004. Estatísticas de incêndios florestais no Brasil no período de 1998 a 2002. Curitiba, Universidade Federal do Paraná, Dissertação de Mestrado. 125p. SOARES, R.V. 1984. Perfil dos incêndios florestais no Brasil em 1983. Brasil Florestal 58: 31-42. SOARES, R.V. 1988. Perfil dos incêndios florestais no Brasil de 1984 a 1987. Floresta 18(1/2): 94-121. SOARES, R.V. 1989. Forest fires in Brazilian plantations and other protected public land. Freiburg, Germany, Proceedings of the III Symposium on Fire Ecology, Vol.1: 5-6. SOARES, R.V. 1992. Ocorrência de incêndios em povoamentos florestais. Floresta 22(1/2): 39-53. SOARES, R.V. 1997. Arson: a major cause of forest fires. Vancouver, Canada, Proceedings of the 2 nd International Wildland Fire Conference Social Perspectives Section. SOARES, R.V. e SANTOS, J.F. 2002. Perfil dos incêndios florestais no Brasil de 1994 a 1997. Floresta 32(2): 219-232.